Jesus em breve vem

Pregação ICS 26/02/2023Jesus em breve vem

Texto base: Apocalipse 22:6,7

Então o anjo me disse:

— Essas palavras são verdadeiras e merecem confiança. O Senhor Deus, que dá o seu Espírito aos profetas, enviou o seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que precisam acontecer logo.

— Escutem! — diz Jesus. — Eu venho logo! Felizes os que obedecem às palavras proféticas deste livro!

Introdução

Meus irmãos, antes de começar a mensagem propriamente dita, deixa-me fazer-lhes uma pergunta: para que serve o Evangelho, e a Bíblia como um todo?

A resposta para essa pergunta é: nos levar à fé em Jesus Cristo, por meio de quem alcançamos paz com Deus, somos reconciliados com o Pai, e, dessa forma, obtemos salvação de nossos pecados e de sua consequência, a morte eterna.

Isso ocorre quando lemos a Escritura inspirados pelo Espírito Santo, o próprio Deus. Esse processo se desenvolve basicamente em três etapas:

1) explicação, quando procuramos entender o contexto em que aquela passagem específica que lemos foi escrita: para quem foi escrita? Quem foi seu autor? Quando foi escrita ou quando ocorreria etc. Entretanto, não podemos permanecer apenas nesse estudo, senão aquilo que lemos fica resumido a um pedaço de papel com, talvez, algum valor histórico.

2) interpretação, quando procuramos retirar do texto aquilo que seu autor tencionou ensinar, ou mais especificamente, o que Deus procurou comunicar a seu povo inicialmente e, para isso, usamos das diversas ferramentas e ramos do conhecimento disponíveis. Mas, novamente, não podemos parar aqui, porque a nossa intenção, e a do Espírito que nos leva a ler a Palavra, não é simplesmente fazer teologia, por melhor que isso seja.

3) aplicação, quando trazemos para a nossa realidade pessoal, atual, aquele texto que foi escrito há tantos anos. É buscar a verdade revelada de Deus para nossas vidas hoje. Em que o Evangelho, as Escrituras, e o próprio Cristo impactam a minha e a sua vida neste século XXI, neste ano de 2023, ou seja, como esse texto aplicado de maneira prática em nossas vidas alcança aquele objetivo que falamos no início, que é nos levar à fé em Jesus Cristo e promover a nossa salvação.

Com isso em mente, o texto da nossa meditação hoje fala sobre a volta de Jesus, algo que está cada vez mais perto.

É a derradeira revelação de Jesus ao discípulo amado, João, escrita no final do século I a igrejas que estavam sofrendo perseguição cada vez mais intensa do império romano e que fala sobre coisas que sobreviriam àquelas comunidades de fé, num primeiro momento, mas também à Igreja do futuro.

Não temos a data precisa, apesar de, muitas vezes no decorrer da história, pessoas tenham se aventurado – em vão – a tentar adivinhar ou predizer o dia do retorno do Senhor. A Palavra de Deus, entretanto, nos entrega sinais de quando esse dia estaria se aproximando.

Antes mesmo de nos aprofundarmos no assunto, parece claro, pelas palavras do anjo e do próprio Jesus, o sentido de urgência que é dada à mensagem: “…coisas que precisam acontecer logo”, “Escutem! Eu venho logo!”, é o que ele diz e repete!

Ora, se era breve o seu retorno há pouco menos de dois mil anos, quando essa profecia foi dada, imaginem hoje depois de tanto tempo.

Sim, meus irmãos, porque infelizmente alguns, pela demora em seu cumprimento, não creem mais nas palavras de Jesus, em sua promessa de retorno, mas ocorre que Ele nunca mentiu, tudo que disse que faria, fez, exceto o que ainda está por fazer, como o texto que lemos hoje. É o que o apóstolo Pedro nos diz em sua 2ª carta, capítulo 3, verso 8 a 10:

Mas não se esqueçam disto, queridos amigos: Para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos são como um dia. Ele não está sendo vagaroso com a sua volta prometida, embora por vezes pareça assim. Mas ele está esperando com paciência, porque não quer que ninguém pereça, e está dando mais tempo para os pecadores se arrependerem. O dia do Senhor virá com toda a certeza, tão inesperadamente como um ladrão…

A aparente demora do Senhor em exercer sua justiça final sobre este mundo mau decorre não de atraso, mas de misericórdia e paciência divinas em favor da humanidade, de mim e de você, desejando ardentemente que todos possamos alcançar a salvação por meio do arrependimento e fé em Jesus. Mas, como o texto deixa claro, a sua vinda é certa e virá de maneira “inesperada”, pegando os incautos desprevenidos.

Deus não opera nem funciona no tempo do homem, então não cabe a nós dizer a Ele quando deve voltar, quando deve cumprir suas promessas, isso com relação a tudo, especialmente com relação às últimas coisas e à volta de seu Filho para julgar a humanidade e reinar por toda a eternidade.

Tendo essa certeza em mente, vejamos algumas coisas que o próprio Senhor deixou escrito como sinais de que sua vinda estaria próxima.

1 – Sinais deixados por Jesus

O texto mais claro que fala sobre como estará a sociedade na época que precede a volta do Senhor Jesus encontra-se em Mateus 24.

Mateus 24:3,4 começa assim:

“Quando vai acontecer isso?”, perguntaram-lhe os discípulos mais tarde, quando ele se sentou nas encostas do monte das Oliveiras. “Que acontecimentos marcarão a sua volta e o fim dos tempos?”
Jesus disse-lhes: “Não deixem que ninguém engane vocês.

Percebam que para quem é discípulo de Jesus, é algo natural esperar ansiosamente pelo seu retorno. Isso deve nos levar a uma reflexão: se não anseio pela volta do meu Senhor, será que realmente entendi o seu sacrifício na cruz, quem eu era e quem Ele é?

Jesus descreve os acontecimentos futuros que marcariam essa etapa na história da humanidade. Mas, antes de olharmos para os sinais narrados por Ele, deixem-me falar rapidamente sobre o período em que Jesus nasceu e viveu entre nós.

Roma havia conquistado a região da palestina, Egito, Turquia e grande parte da Europa, desenvolvendo seu império onde antes reinaram os gregos. É importante sabermos isso, porque Jesus ter nascido nesse período significou que no mundo conhecido havia um idioma em comum que unia pessoas de línguas, culturas e etnias tão diferentes, que era o grego.

Por outro lado, Roma realizou a construção de importantes estradas que ligavam os mais distantes rincões à capital do Império, o que, combinado à navegação pelo Mediterrâneo, permitia a livre circulação de pessoas, conhecimento e ideias, entre as quais o Evangelho.

Em termos culturais, havia um florescimento da filosofia, da política, do Direito… Sob o aspecto religioso, Roma possuía seu panteão de divindades compartilhada com os gregos, mas era relativamente tolerante com as religiões praticadas por seus súditos, desde que não desafiassem a autoridade do César.

Por fim, quanto a seus valores, Roma foi talvez a sociedade mais depravada até então conhecida, e que só rivaliza com a nossa atual. Um lugar onde a maior parte das pessoas era escrava e que adorava divindades em templos e em cultos regados à muita bebida e sexo, e viviam apenas para os prazeres pessoais e imediatos…

Passemos ao povo de Deus, Israel. Israel há anos era governada por um rei fantoche de Roma, e muitas vezes teve na figura do rei o próprio sumo sacerdote, ou seja, misturava a prática religiosa com a política pública e os interesses de seus líderes não eram o bem-estar da nação nem a santificação do povo, mas sim esse jogo de poder que desfrutavam ao mesmo tempo que sacrificavam a liberdade de sua nação. Esses líderes tinham a benção de Roma para viver sua vida, desde que cobrassem os impostos e ficassem quietos.

Meus irmãos, não sei vocês, mas quando eu olho pra esse cenário que descrevi tanto a nível mundial, do império romano, quanto do próprio povo de Deus, Israel, eu não consigo imaginar uma época melhor para que Jesus tivesse vindo instaurar seu Reino entre nós, trazer sua mensagem de salvação, o Evangelho, e promover a libertação de vidas escravizadas sob o jugo do pecado.

Entretanto, o que mais me chama a atenção nesse contexto de sua primeira vinda, é o quanto se parece com o nosso mundo de hoje, do século XXI, fazendo com que a nossa era atual seja novamente muito propícia para seu retorno, senão vejamos as próprias palavras de Jesus.

A primeira coisa que Jesus fala aos seus discípulos naquele momento é para que não se deixassem enganar. Gente, será que há uma época mais cheia de engano do que a nossa? Precisamos fazer um esforço muito grande para não sermos enganados constantemente, pela mídia promovendo notícias falsas, por pessoas que se dizem servos do Senhor, quando na verdade não passam de lobos travestidos de ovelhas…

No verso 5, Cristo nos diz que muitos virão em seu nome procurando enganar o povo de Deus, e essa é uma triste marca da religiosidade atual. Pessoas se dizem cristãs, líderes que dizem falar em nome de Jesus, mas querem é enganar a mim e a você, não têm interesse genuíno em cuidar das ovelhas, mas sim em levar vantagem, financeira ou de que tipo for, à custa do povo de Deus. São os mercenários, cf. João 10:12, que agem como se pastores fossem, mas na primeira oportunidade, ou ao menor sinal de perseguição ou risco, eles dão no pé e deixam as pessoas sofrendo e à mercê de sua própria sorte.

Em segundo lugar, Jesus fala sobre guerras e rumores de guerras. Talvez você fale: “mas, Eliade, sempre houve guerras nesse mundo”, e eu não tiro sua razão. Mas talvez nunca antes na história humana tivemos tanto a capacidade tecnológica de aniquilação global, por meio de armas de destruição em massa como bombas atômicas, por exemplo, quanto a possibilidade de acompanhar essa violência em tempo real, por meio da televisão e da Internet, fazendo com que uma guerra, que antes poderia ser distante geograficamente, e talvez nem tivéssemos conhecimento, esteja agora bem diante dos nossos olhos e das nossas mentes.

Mas, como o Senhor alertou seus discípulos, nós inclusive, apesar da certeza das guerras, e da ansiedade causada pelas notícias a seu respeito, não devemos ter medo. O medo não pertence ao povo que coloca sua esperança não nesta vida, nem em nossos bens, em pessoas ou circunstâncias que achamos que podemos controlar e que na verdade não podemos, mas sim no Senhor, e na vida futura com o Pai.

Em 1 Coríntios 15:19, Paulo diz:

Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.

Eu vou além, se a nossa esperança em Cristo é principalmente para esta vida, nós também somos infelizes e não compreendemos o Evangelho profundamente!

Tudo isso que Cristo falou, na verdade, é apenas o princípio do fim. Haverá perseguição ao povo de Deus, àqueles que professam seu nome de maneira fiel e não abrem mão de seus valores, que poderá passar pela perda do emprego, reputação, patrimônio, laços de amizade ou mesmo relações familiares, prisão e até a morte, afinal, se perseguiram e mataram o Senhor, porque não haveriam de fazê-lo também com seus seguidores?

Em terceiro lugar, Jesus nos fala sobre fome e terremotos. De fato, quando lemos Apocalipse 6, vemos que guerras, fome e desastres naturais serão a causa da morte de grande parte da população mundial nos últimos dias, cujas dores se intensificarão durante a grande tribulação, mas cuja catástrofe em alguma medida já começou.

Novamente, é possível afirmar que sempre houve fome em alguma parte do mundo, e desastres naturais igualmente, mas dificilmente houve um período em que terão sido tão constantes e disseminados, apesar do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, e da fartura na produção de alimentos que a sociedade atual experimenta. Fartura para alguns, mas escassez para muitos.

Em quarto lugar, Cristo fala sobre a perseguição religiosa que inicialmente alcançou os cristãos do primeiro, segundo e terceiro séculos, até que o cristianismo se unisse ao império e deixasse de ser perseguido, começando a andar cada vez para mais longe da verdade pura e simples.

A perseguição veio de inúmeras formas no decorrer dos séculos, mas não deixa de estranhar que muito da perseguição que nossos antepassados conheceram deu-se por meio de pessoas e instituições que chamavam a si próprias cristãs, quando na verdade não eram. No entanto, na história da Igreja, assim como o foi com seu povo de Israel, Deus sempre trabalhou com uma minoria, um remanescente.

Em Romanos 5, Paulo, citando o exemplo do profeta Elias, nos fala que “…hoje há um remanescente escolhido pela graça” (v. 5).

Meus irmãos, quando olho para a igreja evangélica, brasileira e mesmo mundial, excetuando-se talvez a que já esteja sofrendo perigo de morte em países de regimes totalitários – comunistas ou islâmicos, a perseguição que vejo começar de agora e se intensificar nos anos vindouros, será, infelizmente, de pessoas que se dizem cristãs mas andam de braços dados com ideologias demoníacas como o socialismo, feminismo, apoiam pautas ditas progressistas como aborto e a “tolerância” ao homossexualismo, negando que esse comportamento é pecado, como inúmeras vezes a Bíblia assim o descreve, e ainda o incentivam!

Então não estranhe se a mão pesada do Estado vier ao nosso encalço, especialmente dos pastores e líderes, por falarmos simplesmente as verdades bíblicas, tentando nos calar, nos censurar ou às Escrituras, ou forçando interpretações que estejam de acordo não com o Espírito de Deus, mas com o espírito deste mundo sob pena de processos ou mesmo de prisão.

O mundo nos perseguirá e até condenará à morte, e nos odiará por causa do nome de Jesus. E, como o Senhor falou (versos 10 e 11 de Mateus 24), muitos abandonarão a fé, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns aos outros, além do aparecimento de falsos profetas operando o espírito do engano. E o pecado aumentará por toda parte, esfriando o amor de muitos.

Prestem bem atenção! Jesus está falando aqui de pessoas que frequentaram igrejas, que participaram da ceia, se batizaram, e que, pra todos os efeitos, pareciam cristãos verdadeiros, mas que não passava de aparência, e nada que é apenas de aparência permanece durante a perseguição.

Parte dos sinais que Jesus ensina, se refere ao mundo, e a como o caos estará galopante nesta terra, mas é de estranhar que parte descreva também o seu próprio povo, ou seria estranho, se não fosse o próprio Senhor quem afirma isso de pessoas que, na verdade, são joio instalado e plantado em meio à verdadeira seara.

Agora passemos ao último sinal que o Mestre nos deixou. Verso 14 de Mateus 24: “E as boas-novas do Reino serão pregadas pelo mundo inteiro, para que todas as nações as ouçam, e depois virá o fim”.

Apesar de todo o fervor evangelístico dos apóstolos e discípulos da igreja primitiva, é inegável que seu alcance foi bastante limitado, apenas à parte do mundo então conhecido. Grandes parcelas do mundo como a China, Índia, e os continentes da América e Oceania, por exemplo, não foram alcançados, mesmo parcialmente, até muitas centenas de anos depois que Jesus nos deu a ordem de fazermos discípulos de todas as nações (Mateus 28:19 e 20), e até hoje ainda há dezenas, talvez centenas de pequenas populações, tribos e povos ainda não alcançados na selva amazônica, África, China e ilhas da Oceania, apenas para citar alguns exemplos.

Porém, nunca antes na história humana o avanço do Evangelho se deu a passos tão largos, inicialmente com a imprensa e as grandes navegações, no final da idade média; o ímpeto por missões que ocorre desde o século 19, inclusive com a criação de organismos voltados a esse propósito; mas, principalmente, com o advento de novos meios de comunicação como o rádio, televisão e a Internet, a Palavra de Deus, mesmo em fragmentos, têm finalmente alcançado todas as nações, tribos, povos e línguas, que nos leva a crer que breve até esse sinal já terá se cumprido, então, o que mais falta para o retorno do Senhor?

2 – Sinais deixados por Paulo

Vimos, portanto, alguns sinais dos últimos dias conforme as palavras de nosso Senhor Jesus. Mas, como se não bastassem tantos, o apóstolo Paulo ainda menciona outros, de maneira a deixar ainda mais claro à igreja quando aquele tempo chegaria.

O primeiro texto a esse respeito de sua autoria que podemos citar se encontra em 2 Timóteo 3:1-8:

É importante para você saber isto também, Timóteo, que nos últimos dias vai ser muito difícil ser servo de Cristo. Porque as pessoas só amarão a si mesmas e ao dinheiro; serão incapazes de se controlarem, orgulhosas, zombarão de Deus, desobedecendo aos pais, sendo ingratas e completamente más. Serão duras de coração e nunca se submeterão aos outros; serão sempre mentirosas e desordeiras, e não se incomodarão com a imoralidade. Serão rudes e cruéis, e escarnecerão daqueles que procuram ser bons. Serão traidoras dos seus amigos, atrevidas, inchadas de orgulho, e preferirão ser amantes do prazer a amar a Deus. Terão aparência de piedade, porém não acreditarão realmente em nada do que ouvem. Não se deixe enganar por gente assim.

Elas são da espécie que penetram sorrateiramente nas casas dos outros e fazem amizades com as mulheres ignorantes e carregadas de pecados, e que são levadas por todo tipo de desejos. Mulheres assim estão continuamente seguindo novos mestres, porém nunca entendem a verdade. E os mestres delas combatem a verdade, tal como Janes e Jambres se opuseram a Moisés. Têm uma mente suja, depravada e se rebelaram contra a fé.

Vejamos rapidamente algumas características das pessoas desse tempo do fim:

1) amantes de si mesmas, do prazer e do dinheiro, ou seja, egoístas, hedonistas, imediatistas e materialistas;

2) incontinentes, ou seja, incapazes de se controlar, se deixando dominar voluntariamente por suas paixões e desejos mais infames;

3) orgulhosas, ou seja, se consideram superiores em tudo e a todos, o oposto do que deve ser o caráter do cristão, que deve imitar a Cristo, aquele que não teve por usurpação ser igual a Deus, mas humilhou-se a si mesmo;

4) zombadoras de Deus, na medida em que desobedecem aos seus pais e são ingratas. Na verdade, é ressaltada a maldade que há em seus corações, pela maneira como tratam àqueles que lhes trouxeram à vida e a quem deveriam honrar, conforme o mandamento;

5) duras de coração, e insubmissas. É interessante perceber que Paulo coloca a falta de submissão como sinal da dureza de coração, porque a pessoa submissa a Deus, aos pais, ao marido, às autoridades constituídas, demonstra um tipo de coração que é tudo menos duro. A dureza aqui é a obstinação, é a rebelião, que é o oposto da submissão.

6) mentirosas e desordeiras, também duas características que andam juntas, na medida em que alguém que cultiva a verdade em seus relacionamentos e valores tende a ser uma pessoa ordeira. Já o mentiroso dificilmente consegue manter a vida em ordem, já que precisa acrescentar cada vez mais mentiras para tapar os buracos das estórias que criou.

7) tolerantes quanto à imoralidade, ou seja, desprezam a santidade na vida pessoal e/ou no casamento, já que não veem problema algum em conviver com uma espécie de pecado que afeta a própria pessoa, quando não também a família e todos ao seu redor;

8) Rudes e cruéis, pessoas desagradáveis e insensíveis, que se comportam de maneira errada mesmo sabendo como devem se portar, além de gostar de fazer o mal, de causar dor, de atormentar;

9) escarnecedores dos que procuram ser bons, ou seja, não bastam a si serem eles próprios maus, como ainda perseguem os que trilham o caminho da virtude e da justiça;

10) traidoras dos amigos, ou seja, pessoas indignas de confiança;

11) atrevidas, e aqui não se trata de coragem, intrepidez, que são virtudes de caráter, mas sim do traço de personalidade desafiador, insolente, especialmente contra as autoridades, pessoas que querem subverter a ordem natural e justa das coisas;

12) impiedosas, ou seja, sem piedade, que é o desejo por buscar a Deus. As pessoas preferirão buscar satisfazer suas próprias necessidades e prazeres a qualquer custo, sem ligar para o que Deus tem a dizer sobre isso. E há um segundo aspecto que é o da falsa aparência de religiosidade, desde que seja uma religião apenas formal, de rituais, tolerante àquilo que afronta a Deus.

Ufa! Essa é uma lista grande de características de pessoas dos últimos dias, que, obviamente, não precisam assumir todos esses traços negativos ao mesmo tempo, mas que, em os tendo, demonstram frutos da carne em vez do fruto do Espírito.

Esses, como o apóstolo bem avisa, possuem uma aparência enganosa de piedade, de santidade, mas é apenas exterior, com o fim e o propósito de enganar os outros, mesmo que elas mesmas também se achem enganadas e acreditem, em sua cegueira, que seu pecado não é nada demais e nada afeta a sua vida a e dos outros, ou seu relacionamento com o Pai.

Pessoas assim, que são bem comuns no mundo hoje, possuem em comum a mente depravada, suja, rebelde a Deus e aos seus valores e que, não contentes em irem sozinhos para o inferno, agem sorrateiramente em busca de companhia nessa jornada. Infelizmente, contudo, essa também tem sido a realidade em muitas igrejas, onde pessoas se infiltram para tentar derrubar os servos do Senhor e os fazer desviar de seu caminho e propósito.

Paulo diz também a Timóteo, em 1 Timóteo 4:1,2:

Entretanto, o Espírito de Deus nos diz claramente que nos últimos tempos alguns na igreja se desviarão de Cristo e se tornarão zelosos seguidores de espíritos enganadores e ensinamentos de inspiração demoníaca. Tais ensinamentos vêm de pessoas hipócritas e mentirosas, e eles farão isso tantas vezes que nem mesmo a consciência os incomodará.

Apostasia. Desvio da fé. Frieza no amor. Zelo em seguir espíritos enganadores e ensinamentos de inspiração demoníaca. É só olharmos com honestidade para “igrejas” e movimentos no meio “gospel” com alguns pregadores famosos da teologia da prosperidade, da teologia “coach”, de pastores comediantes, que arrebanham multidões atrás de si, sem falar os que venderam a alma às ideologias, como eu já falei, cultos cheios de oba-oba e pouca Palavra de Deus, onde zumbis repetem os mantras de seus líderes, mas não conhecem as Escrituras, e certamente não com a inspiração do Espírito Santo, e por isso não anseiam pelo retorno do Senhor, já que preferem ter seus problemas resolvidos aqui mesmo, aqui e agora!

3 – Aplicação

Voltando ao princípio da nossa mensagem de hoje, explicamos o texto, o contexto da primeira vinda de Cristo e de como João recebeu essa revelação sobre o seu retorno; vimos o que seu significado, a teologia que surge do texto, ou seja, a promessa de Cristo de vir buscar sua noiva, a Igreja, para passar a eternidade consigo, e de que isso ocorrerá breve, e os sinais que indicam que essa data está se aproximando; e agora veremos as aplicações desse texto, ou seja, em que ele impacta nossas vidas hoje.

Em primeiro lugar, existem as pessoas que passam por essa vida sem saber de onde vieram, para onde vão, estando, então, completamente alheias a esse fato da segunda vinda de Jesus. Essas, o seu destino é a condenação eterna, uma vez que são pecadoras e o único meio de salvação chama-se Jesus Cristo, cf. João 14:6.

Não vou falar aqui sobre a justiça ou a “injustiça” de Deus ao fazer isso, mas fica o convite para ler os primeiros capítulos do livro de Romanos, onde o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, nos entrega a verdade de que todos somos merecedores do castigo eterno, seja aqueles que nasceram e viveram sob uma religião, seja aqueles que nunca sequer ouviram falar de um deus, especialmente de Jesus.

Para elas, portanto, a solução é apresentá-las o Evangelho, que nos desnuda a realidade de quem somos, pecadores, cf. Romanos 3:23…

Pois todos pecaram; todos fracassaram, e estão afastados da glória de Deus…

…de que precisamos de um salvador, que é Cristo, enviado pelo próprio Deus em nosso favor cf. Romanos 3:25,26 e 5:6,8…

Deus foi quem enviou Cristo Jesus para levar o castigo pelos nossos pecados, e assim pôr fim à ira de Deus contra nós. Ele usou o seu sangue para, mediante a fé, nos salvar da sua ira. Deste modo, ele foi justo, mesmo não tendo castigado aqueles que pecaram em tempos passados. Isto porque aguardava a chegada do dia quando Cristo viria e apagaria os pecados anteriormente cometidos. Agora, no tempo presente, ele demonstrou a sua justiça, e pode receber pecadores do mesmo modo, porque Jesus tirou os pecados deles. Ele é justo e justificador daqueles que têm fé em Jesus.

Quando estávamos totalmente desamparados, Cristo veio na hora certa e morreu pelos pecadores. Deus, no entanto, mostrou seu grande amor por nós, enviando Cristo para morrer por nós enquanto ainda éramos pecadores.

…e de que aqueles que rejeitam esse Salvador já estão condenados, não havendo para eles escapatória, cf. João 3:18.

Não há condenação reservada para aqueles que creem nele como Salvador. Mas aqueles que não creem nele já estão condenados por não crerem no Filho único de Deus.

Mas há ainda aqueles que conhecem a Deus, mas agem como se Ele não existisse. Para elas, o remédio é o mesmo Evangelho, que tem poder para quebrar até o mais duro coração e transformá-lo novamente em carne pela operação do Espírito Santo. Para os obstinados, os rebeldes, entretanto, a continuação do texto de João 3 diz assim:

A sentença deles está baseada neste fato: A luz veio ao mundo, porém os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Os que praticam o mal odeiam a luz e ficam longe dela, com medo de que seus pecados sejam revelados.

É como vimos anteriormente no texto de 2 Timóteo 3 a respeito das pessoas dos últimos dias que, a meu ver, descreve perfeitamente o nosso tempo. Pessoas que amam a si, ao dinheiro, aos prazeres, mas desprezam a Deus e ao próximo.

Há um terceiro grupo de pessoas que pode parecer um pouco com o anterior mas com uma “sutil” diferença. Esse é o grupo dos religiosos de aparência, ou seja, aqueles que até acreditam estar salvos, por frequentar uma igreja, seguir os mandamentos de uma religião sobre o que fazer ou deixar de fazer, são pessoas que a sociedade diria serem “boas” ou quem sabe “caridosas”, externamente apresentam sinais de piedade, mas cujo amor é fingido, cf. Romanos 12:9 e 2 Timóteo 3:5.

Essas são como as virgens insensatas da parábola de Jesus, cf. Mateus 25:1-13. Pelo avançado da hora não vou detalhar a parábola, mas não custa lembrar que eram 10 virgens esperando o noivo, metade das quais eram prudentes e guardaram reserva de óleo para suas lâmpadas, enquanto a outra metade era insensata e não se prepararam adequadamente. Depois de uma longa espera, o noivo se aproxima e as insensatas ficam para trás por não terem cuidado e vigiado, enquanto as sábias entram para desfrutar de seu casamento.

Meus irmãos, nós somos a noiva de Cristo, e a pergunta que fica é, será que nós estamos preparados para seu retorno? Será que Ele nos pegará desprevenidos, dormindo em pesado sono, perante o seu iminente retorno? Será que seremos deixados para trás para sofrer por toda a eternidade longe do Pai, ou, ao contrário, Ele nos levará para Si, para as bodas do Cordeiro?

Para esse três tipos de pessoas, a mensagem de hoje é uma mensagem de urgência e medo, afinal, tratam sobre sua iminente condenação e breve e eterno castigo.

Entretanto, embora seja possivelmente um último aviso, é um aviso de um Deus que as ama e diz que ainda há esperança na pessoa de Jesus.

Por outro lado, há um último grupo de pessoas, a verdadeira noiva de Cristo, como as virgens prudentes, que passaram a vida esperando e confiando no retorno de seu amado, para as quais a mensagem de hoje é mais do que uma mensagem de esperança, é uma mensagem de estímulo nos tempos trabalhosos em que vivemos, que Cristo breve vem, Ele vem sem demora!

A resposta que Deus requer de nós a essa mensagem é de preparação, vigilância, cf. Lucas 12:39,40:

Lembrem-se disto: Se o dono da casa soubesse a que horas o ladrão viria, não o deixaria arrombar a porta. Portanto, estejam sempre preparados; pois o Filho do Homem virá quando menos se esperar”.

Ou seja, é vivermos como se Jesus voltasse hoje, até porque os sinais que antecedem a sua vinda estão se cumprindo, demonstrando que estamos muito provavelmente nos últimos dias da história humana.

Conclusão

Após termos visto tantos sinais deixados por Cristo e pelo apóstolo Paulo – e, sem exagero, eu deixei “de lado” muitos outros textos de outros apóstolos, e mesmo do Antigo Testamento, em razão de tempo e espaço – não há como negar que a mensagem é urgente, que o tempo está se esgotando.

Vou compartilhar algo com vocês que tenho muito forte comigo, uma certeza que tem base racional nisso que eu preguei hoje, mas também há uma porção inexplicável de fé: quando olho para as crianças que vieram aqui na frente e a gente orou por elas, penso que essa será a última geração antes da volta de Jesus.

Se talvez escape à nossa geração, e olhe lá, mesmo que eu não possa apontar o dia e a hora de seu retorno, creio firmemente que nossos filhos terão o privilégio de vê-lo vindo buscar a sua noiva. Você consegue imaginar isso?

Eu consigo e isso me dá uma enorme e positiva ansiedade, uma vontade de praticar o bem, buscar a santificação, lavar as nossas vestes como a continuação do texto de Apocalipse 22 nos manda fazer, que é o que nós vemos nas cartas de Paulo a respeito da igreja primitiva que tantos elogiam e sonham viver, que tinha esse comportamento pelo simples fato de que aquelas pessoas criam firmemente no retorno de Jesus ainda para seus dias.

Eu termino com o verso 17 desse capítulo 22:

O Espírito e a noiva dizem: “Venha!”. Que cada um que os ouve diga: “Venha!”. Que aquele que tem sede venha — todo aquele que quiser; que venha beber de graça da água da vida.

A ansiedade pela vinda do Senhor, tanto a noiva como o Espírito sentem. Ele nos ajuda nessa caminhada a não desfalecermos, nem duvidarmos, mas seguirmos com fé, confiando que breve Ele vem.

Se você é um filho ou uma filha de Deus, descanse seguro nos braços daquele que nos amou, como diz aquela canção. A mensagem de hoje, espero, deve ter renovado a nossa esperança e trazido alívio das cargas que muitas vezes temos que carregar nesse mundo hostil, fazendo-nos voltar novamente o olhar para a eternidade com o amado das nossas almas.

Por outro lado, se você ainda não anseia pela volta do Senhor, hoje é tempo de buscá-lo enquanto se pode achar e invocá-lo enquanto está perto, cf. Isaías 55:6, e não ter mais o medo, a dúvida ou o desespero que essa mensagem pode ter trazido ao seu coração. E se isso ocorreu para seu arrependimento e salvação, glória a Deus e venha logo para os braços do Pai!

Como disse Jesus, “felizes aqueles que obedecem às palavras da profecia deste livro”.

Deus nos abençoe.

Publicidade

O dia após as eleições de 2022

“Assim diz o Senhor Todo-poderoso, o Deus de Israel, a todo o povo exilado, que deportei de Jerusalém para a Babilônia: Construam casas e morem nelas. Plantem pomares e esperem, porque vocês vão comer os seus frutos. Casem-se e tenham filhos e filhas; escolham mulheres para os seus filhos e deem suas filhas em casamento para que também tenham filhos. Aumentem a população de Judá na Babilônia e não a diminuam. Trabalhem para a prosperidade e paz da cidade para a qual eu os deportei e orem em favor dela. Enquanto ela estiver em paz, vocês viverão em segurança.”

Jeremias 29:4-7

Acordando de ressaca neste 31 de outubro de 2022, dia de celebrarmos a reforma protestante, mas com as más notícias eleitorais de ontem, fica difícil.

Hoje de manhã, Deus me trouxe à memória um momento da história de Israel em que essa nação experimentou uma enorme tragédia, a invasão babilônica e a deportação do melhor de sua sociedade para aquela nação ímpia.

Ocorre que o profeta Jeremias foi usado naquele momento para trazer um necessário refrigério, desafio e encorajamento para os que haviam sido levados, e também para os que tinham ficado na cidade e nação arrasados de Jerusalém e Israel.

Refrigério porque relembra que tudo aquilo que tinha acontecido ao povo tinha sido pela mão do Senhor, tantas vezes avisado por Isaías e outros profetas, não tinha sido fruto do acaso, tinha sido castigo de Deus, e até no castigo Deus nos trata de maneira diferente, pois trata-nos como filhos a quem deseja que se arrependam, se convertam, e voltem a Si.

Deus, portanto, continua sendo Senhor Soberano da história, especialmente da história do seu povo. Deus continua sendo bom. Deus continua sendo fiel. Não é a despeito das circunstâncias, como se elas pudessem sobressaltá-lo ou pegá-lo de surpresa. Não! Deus mesmo conduz a história como um maestro, e sabe bem como será o seu final. Por isso Jeremias diz o que diz àquele povo deprimido e sem esperança: edifiquem, plantem, comam, casem e tenham filhos, e, especialmente, procurem a paz da cidade e da nação, e orem por elas ao Senhor, porque na sua paz eles e nós teremos paz.

Desafio porque não é fácil não nos contaminarmos pelas falsas boas notícias como os falsos profetas de então e de hoje afirmaram, sem que o Senhor lhes tivesse ordenado, de que tudo iria correr bem, que nada demais iria acontecer, que eles não mais seriam deportados, que os deportados logo voltariam, mentiras disfarçadas de verdades. Parece atual, não é mesmo?

Por outro lado, também é difícil não sucumbirmos à dura realidade de que não, nada irá bem, que nossos sonhos foram e continuarão sendo frustrados, que a nossa cidade e nação não irão prosperar, e que teremos que conviver com pessoas, valores e realidades ímpias, muito distantes daquilo que gostaríamos de viver; ao contrário, experimentaremos perseguições, nossa fé será seriamente provada naquilo que consideramos mais importante, como o foi, por exemplo, com a leva de deportados, na qual estava Daniel e seus amigos, que logo ao chegarem em Babilônia, tiveram de se tornar vegetarianos para não se contaminar com comidas oferecidas aos ídolos, o que violaria sua fé e sua religião, e continuaram sendo desafiados e perseguidos por muitos anos porque permaneceram fieis ao Deus vivo, fieis na piedade, na busca pessoal, mas também fieis na vida publica, por obedeceram à risca o que Deus, por meio de Jeremias, lhes mandou fazer, contribuir para o benefício da sociedade, sendo sal e luz naquele lugar de trevas e perdição.

Encorajamento, por fim, porque assim como havia a promessa do castigo, havia também a promessa da restauração, e se a primeira estava se cumprindo, isso seria causa para acreditar que a segunda também se cumpriria, aleluia! Deus castiga seus filhos, mas não para sempre. Encorajamento porque Deus traria multiplicação, e não diminuição, porque mesmo naquela situação adversa, aliás, especialmente no meio dela, Deus traria sua paz que excede todo entendimento, razão e lógica humanas.

Vejamos o que diz um pouco adiante o mesmo Jeremias, nos versos 10-13:

Porque assim diz o SENHOR: Certamente que passados setenta anos em babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.
Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais.
Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei.
E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.

Jeremias 29:10-13

A mensagem de Jeremias, tão atual e necessária, é de não acreditarmos nas falsas boas notícias, também não focarmos nas más notícias ao ponto de desfalecermos, mas continuarmos confiando em Deus e fazendo sua obra nesta terra, dando nosso melhor, sendo resilientes em meio às lutas e perseguições que certamente virão, e permanecermos fieis em tudo, sabendo que ainda que a vitória não venha nesta vida, e não é um messias humano que esperamos, especialmente não na figura de um político, ela ao final virá, na glória, no retorno de Jesus que está cada dia mais breve.

A minha oração é pra que possamos buscar ao Senhor de todo nosso coração; continuemos invocando o seu Santo nome; sigamos crendo na verdade e realidade de suas promessas que são firmadas em seu caráter e em seus atributos, pois Ele é bom, e sua misericórdia dura para sempre (Jeremias 33:11). Como diz a antiga canção dos Vencedores por Cristo, “lancemos sobre Deus a nossa ansiedade, pois ele tem cuidado de nós”, e é natural que tenhamos até certo ponto, mas como também diz outra canção desse grupo clássico:

“Como agradar a Deus, angustiado
Viver impaciente, agitado
Ansiedade é, de fato errado
Eu não posso e nem quero mais
Viver assim

É como confiar, desconfiando
Então pagar pra ver, blefando
É como entregar, controlando
Eu não posso e nem quero mais
Viver assim

Eu só quero e posso adorar a Deus
Quando a Ele, entregar tudo, em oração
Então sua paz amiga, que não dá nem pra entender
Vem guardar em Jesus Cristo,
Minha mente e coração”

Concluo com o texto de Paulo em Filipenses 4:6-9.

Não se aflijam com nada; em vez disso, orem a respeito de tudo; contem a Deus as necessidades de vocês, e não se esqueçam de agradecer-lhe. Se fizerem isto, vocês experimentarão que a paz de Deus, que excede todo o entendimento, conservará a mente e o coração de vocês em Cristo Jesus.
E agora, irmãos, ao terminar esta carta, quero dizer-lhes mais uma coisa. Firmem seus pensamentos naquilo que é verdadeiro, nobre e direito. Pensem em coisas que sejam puras e agradáveis e detenham-se nas coisas excelentes. Pensem em todas as coisas pelas quais vocês possam louvar a Deus. Continuem a pôr em prática tudo quanto aprenderam, receberam, ouviram de mim e me viram fazer, e o Deus de paz estará com vocês.

Esse é o meu desejo, para mim, minha família e vocês, povo de Deus, hoje.

Deus nos abençoe.

A parábola dos dois filhos

Pregação ICS 14/03/2021 – A parábola dos dois filhos

Texto base: Mateus 21:28-32

“Mas o que acham vocês disto? Um homem que tinha dois filhos disse ao mais velho: ‘Filho, saia e vá trabalhar na plantação hoje’.
“ ‘Não vou’, respondeu ele, porém mais tarde resolveu ir.
Depois o pai disse ao mais novo: ‘Vá você!’, e ele disse: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi.
Qual dos dois estava obedecendo ao pai?”
Eles responderam: “O primeiro”.
Então Jesus explicou-lhes: “Digo a verdade a vocês: Os cobradores de impostos e as prostitutas arrependidos entrarão no Reino de Deus antes de vocês. Porque João Batista pregou para que se arrependessem e se voltassem para Deus, e vocês não creram nele, ao passo que os cobradores de impostos e as prostitutas creram. E mesmo quando vocês viram tudo acontecendo, recusaram-se a se arrepender e crer nele.

Introdução
Jesus tinha uma maneira muito peculiar de ensinar as verdades do Reino. Ele poderia escolher um trecho das Escrituras que falasse a seu respeito, e então explicá-lo, como fazemos hoje quando pregamos, e de fato muitas vezes Ele fez isso. Contudo, uma de suas maneiras preferidas de comunicar os valores de Deus era por meio de parábolas.

Mas… O que são parábolas?

Parábola, segundo o dicionário, é uma “comparação desenvolvida em uma história curta, cujos elementos são eventos e fatos da vida cotidiana e na qual se ilustra uma verdade moral ou espiritual”, ou seja, uma alegoria, como uma estória contada a uma criança pequena por seus pais ou avós com a intenção de lhe ensinar uma lição de maneira mais fácil, sem que sua pouca compreensão ou experiência impeçam seu aprendizado.

As parábolas de Jesus tinham o propósito de ensinar ao povo de modo simples, com situações relacionadas ao seu dia a dia, sem utilizar a metodologia formal ou até obscura da religião tradicional que os judeus estavam acostumados, aquela oferecida pelos fariseus, pelos saduceus, pelos escribas e sacerdotes que pegaram a Lei de Deus entregue por Moisés e acrescentaram tantas regras que findaram por afastar as pessoas desse Deus a quem deveriam servir e com quem deveriam se relacionar.

Além disso, a pedagogia de Jesus cumpria outro propósito: por meio das parábolas, os que se consideravam doutos e entendidos não compreendiam o que Ele queria dizer. É mais ou menos como aquelas pessoas que procuram ler a Bíblia para sua vaidade pessoal ou engrandecimento próprio ou qualquer outra razão que não conhecer a Deus e se relacionar com Ele, e o fazem na força do seu entendimento em vez de em humilde submissão ao seu Espírito. É o que o próprio Mestre nos diz em Marcos 4:10-12:

Quando ele ficou sozinho, os Doze e os outros que estavam ao seu redor lhe fizeram perguntas acerca das parábolas.
Ele lhes disse: “A vocês foi dado o mistério do Reino de Deus, mas aos que estão fora tudo é dito por parábolas, a fim de que, ‘ainda que vejam, não percebam, ainda que ouçam, não entendam; de outro modo, poderiam converter-se e ser perdoados!’”

Ao ouvir as palavras de Jesus, citando um texto de Isaías, talvez você me pergunte: “Mas, Eliade, a ideia não era justamente se converterem? Porque então Jesus usou essa ferramenta que nem sempre é muito clara?”, e a sua pergunta é razoável.

A resposta, meus irmãos, é que a conversão do homem, embora passe sim por uma reflexão racional, deve ser o produto do exercício da fé em Deus, algo que vai muito além daquilo que o nosso raciocínio lógico pode explicar. Crer, como diria John Stott, é também pensar, mas não é apenas pensar. É sim a entrega completa de nossos pensamentos, nossas emoções, nosso espírito. É amar a Deus de todo nosso coração, de toda nossa alma, de todas nossas forças, cf. Deuteronômio 6:5. Todo nosso ser deve se render ao Criador.

O desenvolvimento de uma religião apenas racional produz insensibilidade no coração do homem, algo que nós vimos acontecer na história da Igreja, e infelizmente ainda hoje muitos de nós caímos nesse erro.
Mas, voltemos ao texto de hoje. Nessa estória, Jesus nos fala de três personagens, um pai e seus dois filhos.

A mensagem principal da parábola que Jesus contou diz respeito a arrependimento e obediência. Esse era um tema muito recorrente nas mensagens do Mestre e, nesta que seria sua última semana antes de seu sacrifício, Ele põe ênfase ainda maior neste assunto porque tem um sentimento de urgência, Ele sabe que, breve, seus discípulos seriam privados de sua presença então deve prepará-los para conhecer, viver e levar aquela mensagem adiante.

1 – A mensagem de arrependimento
Jesus nos fala sobre um pai, em alusão ao próprio Deus, que tinha dois filhos. Certo dia, ele chega ao seu filho mais velho e lhe manda trabalhar em sua vinha, ao que o filho, de maneira até insolente, responde que “não quer”. Em seguida, esse filho se arrepende do que falou, e acaba indo trabalhar na lavoura do pai.

Nessa primeira parte, várias coisas me chamam a atenção. A primeira delas é quando lembramos de diversas outras parábolas também contadas por Jesus e que trazem contexto parecido, qual seja de um Deus que é Pai, de que esse Pai possui filhos, e de que esses filhos são bem diferentes entre si. Vemos isso, por exemplo, na parábola do filho pródigo, narrada em Lucas 15:11-32.

Nossos comportamentos variam bastante, mesmo em resposta a situações que podem até ser iguais a que outras pessoas enfrentam. Por sermos indivíduos únicos, também teremos reações particulares.

O texto fala ainda de uma vinha, uma lavoura, uma plantação. Isso significa, quando olhamos para outros textos da Palavra e para aquilo que Jesus ensinou, o reino de Deus e a salvação propriamente dita. Vemos isso, por exemplo, nas parábolas do grão de mostarda (cf. Mateus 13:31 e 32) e do joio e do trigo (também em Mateus 13, vv. 24-30).

Sobre a vinha, algumas coisas me vêm à mente: 1) a vinha era propriedade do pai, logo seria um dia herança dos filhos. Ora, se meu pai me manda trabalhar no que é seu, e se eu sou um filho inteligente e diligente, só por essa razão “egoísta”, por assim dizer, eu já deveria obedecê-lo, pois trata-se daquilo que um dia será meu.

É óbvio que não deve ser apenas por essa razão que obedeceremos, senão o relacionamento que construímos com nosso pai terreno e, principalmente, com nosso pai celestial seria somente por interesse, e não teríamos aproveitado o que é mais importante que é o relacionamento em si mesmo.

Essa é a mensagem, por exemplo, com respeito ao segundo filho na parábola já citada do filho pródigo. Mas sim, temos uma herança junto ao Pai! Na verdade, as Escrituras, com relação a herança, nos diz tanto que somos herança do Pai (cf. Joel 3:2, entre outros), quanto que Ele por sua vez também é nossa herança (cf. Salmos 16:5, idem).

Além disso, 2) Deus nos chama a participar de sua obra, algo que é seu, então devemos ter isso como uma enorme honra, mas, ao mesmo tempo, com bastante responsabilidade. O pai da estória contada quer ensinar valores aos seus filhos: a) que devem cuidar do que é seu; b) que devem trabalhar; c) que devem contribuir; d) que devem agir como homens, pois isso é tarefa e atribuição de homens, e falo aqui não especificamente do gênero masculino, mas da condição de maturidade, de ser adulto, então serve também para vocês, mulheres, dever agir com responsabilidade com relação às coisas da vida, frente àquilo que somos chamados a cuidar dia a dia, cada um em seu contexto particular.

Deus não quer filhos mimados, estragados pelo excesso de conforto, preguiçosos. Não! Nós somos chamados a trabalhar em prol da sociedade, para crescermos profissionalmente – e sermos recompensados por isso, claro, afinal isso não é mal nem pecado – mas, principalmente, para trabalhar em sua obra, na plantação e implantação do seu reino na terra.

A resposta que o primeiro filho deu àquele homem é igual à que o mundo muitas vezes dá ao chamado de Deus. Vejam que Jesus já explica a parábola. Não precisamos, aliás, nem devemos, procurar outra explicação. Essa resposta é a mesma de quem não liga para as coisas de Deus, de quem na verdade talvez sequer entenda a importância daquilo tudo. Soa familiar?

Deus chama cada um de seus filhos a participar da sua obra, a qual impacta primeiramente a vida do próprio envolvido. Nós somos os primeiros beneficiados pela salvação que Cristo nos oferece em seu sacrifício na cruz do Calvário. Sua paixão, sua páscoa, deve ter para nós essa compreensão, mas que não deve ficar fechada em nós, ao contrário, ela deve também nos levar para a lavoura, botar a mão na massa e compartilhar essa mensagem de esperança àqueles que estão ao nosso redor e fazem parte do nosso círculo de relacionamentos.

Deus não nos manda – em geral – a uma vinha distante, fisicamente falando, nem uma tal que Ele mesmo não esteja presente, nada disso! Sim, alguns serão chamados a levar sua Palavra a terras e culturas distantes, mas a grande maioria não pode dar essa desculpa porque sempre há um vizinho, um parente, um colega de faculdade ou trabalho que ainda não ouviu falar do amor de Deus e nós seremos os responsáveis por plantar a semente naquela terra.

E essa semente é a mensagem da Cruz. Arrependam-se e creiam no Evangelho! Deixem seus pecados, seus caminhos egoístas e voltem-se para Deus, para o seu reino, para os valores eternos. Simples assim, tão simples quanto lançar uma semente numa terra já preparada. Aliás, nosso trabalho nem sequer é arar a terra, função do Espírito, nem fazer a planta crescer, igualmente função sua, mas simplesmente lançar a semente, como outra parábola do mestre, que fala de um semeador que sai por aí lançando sementes em diversas terras, e numa delas aquela semente produz bastante fruto, cf. Lucas 8:5-15.

Essa mensagem diz respeito a arrependimento porque, como vimos na estória com relação ao primeiro filho, se inicialmente ele diz não ao pai, como nós a Deus, posteriormente ele reflete, pensa melhor e acaba obedecendo. Ele se arrepende do que fez, do que falou. A Bíblia não dá detalhes do que ele pensou, se teve uma lógica pragmática, ou se refletiu no amor do seu pai, mostra apenas o resultado: ele obedeceu à ordem do pai.

Meus irmãos, isso é algo que nos falta infelizmente. Obedecer. Obedecer a Jesus, aos seus mandamentos. Não adianta absolutamente nada a gente falar uma coisa e fazer outra, dizer que segue a Jesus e na verdade os nossos pensamentos, palavras, ações e atitudes demonstram o contrário; mostram, se formos honestos, que não somos realmente seguidores de Jesus.

Arrependimento, pra mim e pra você, da rebeldia que nutrimos contra o nosso Pai. Chega de dizermos não a Deus, basta de desobedecermos o que Ele nos fala. E isso passa por refletirmos em quem somos filhos, quem é o nosso Pai, que sua vontade para nós é o melhor que podemos desejar, e que é através da sua obra que Deus vai trabalhando em nosso caráter nos tornando filhos dignos de receber a sua herança.

Jesus, quando é instado a explicar a parábola que lemos hoje, cita o ministério de João Batista e sua mensagem, conforme descrito em Lucas 3:7-14:

João dizia às multidões que vinham para o batismo: “Filhos de serpentes! Vocês estão procurando escapar do terrível castigo sem voltar-se verdadeiramente para Deus! É por isso que estão querendo batizar-se! Primeiramente deem frutos que mostrem que vocês realmente se arrependeram. E não pensem que estão livres porque são da família de Abraão. Isso não basta. Destas pedras do deserto Deus pode fazer nascer filhos de Abraão! O machado do seu julgamento está posto à raiz das árvores. Sim, toda árvore que não der bom fruto será derrubada e atirada no fogo”.
A multidão perguntou: “O que devemos fazer?”
“Se alguém tem duas túnicas”, respondeu ele, “dê uma a quem não tiver nenhuma. Quem tiver comida de sobra, dê àqueles que estão com fome”.
Até os cobradores de impostos vieram para serem batizados. Eles perguntaram: “Mestre, o que devemos fazer?”
Ele respondeu: “Cuidem para que não cobrem mais impostos do que o governo romano exige de vocês”.
“E nós”, perguntaram alguns soldados, “o que devemos fazer?”
João respondeu: “Não tomem dinheiro com ameaças nem violência; não acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário!”

Percebam que nesse texto de Lucas, a quem João Batista se dirige quando chama de “filhos de serpentes”? Quando ele faz esses “elogios”, João fala especificamente de fariseus e saduceus, conforme Mateus 3:7, ou seja, líderes religiosos que buscavam aquilo, o batismo, 1) por curiosidade, saber quem era aquele homem de roupas e costumes estranhos que estava pregando no deserto e atraindo tantas pessoas; 2) por inveja da popularidade daquele homem que não participava da estrutura da religião formal de Israel, enquanto o que eles recebiam era desprezo do povo, e que de fato era mútuo já que eles rejeitavam quem não era parte de seu grupo; e 3) por falsidade, uma vez que não criam na autoridade de João para pregar e batizar, não criam na mensagem que João pregava, a chamada ao arrependimento e conversão, e não criam que eram destinatários dessa mensagem, ou seja, que eram pecadores, carentes da graça e da misericórdia de Deus.

Infelizmente, meus irmãos, muitos hoje, como antigamente, continuam se aproximando de Jesus pelas razões erradas, seja falso interesse, motivações egoístas, como as dos líderes religiosos de sua época, ou apenas em busca de sua própria agenda, fazendo da fé um negócio, e um negócio muito lucrativo.

Essas pessoas são aqueles a quem Jesus ilustra na parábola na figura do segundo filho, que a princípio diz “sim” ao pai, como um bom religioso de plantão, à vista das pessoas, mas que pelas costas na verdade só faz o que lhe dá vontade, ou seja, tudo que faz é apenas de aparência, da boca pra fora, não tem sinceridade e verdade.

Por outro lado, o filho que primeiramente diz “não” é como, nesse texto que lemos de Lucas, as pessoas da multidão que questionam João o que devem fazer, significando que eles, apesar das vidas de pecados repugnantes que levaram até ali, finalmente caíram em si, caiu a ficha como a gente dizia antigamente, eles foram ao menos honestos em reconhecer que eram merecedores de castigo e que eram maus, talvez não aos olhos uns dos outros, mas certamente aos olhos de Deus.

E o que significa, na prática, essa mensagem de arrependimento? Uma mudança radical de comportamento, que passa necessariamente por uma disposição a obedecer.

2 – A mensagem de obediência
Essa parábola de Jesus, como já falei, diz respeito a dois a comportamentos: arrependimento e obediência. É só prestarmos atenção às palavras-chave que Ele usou: obediência, na pergunta sobre os filhos; e arrependimento, na explicação e censura aos religiosos. Na primeira parte, a gente meditou sobre o arrependimento, mas há ainda algumas lições que podemos extrair dessa parábola.

Quando pensamos em arrependimento, talvez a gente lembre do texto de Romanos 12 no qual Paulo roga que sejamos transformados pela renovação da nossa mente, e é verdade, o arrependimento passa primeiro por essa reflexão, ou seja, a gente precisa reconhecer que errou, que está trilhando um caminho de distanciamento do Senhor, que temos sido rebeldes e pecadores.

No entanto, o arrependimento não para aí. Não basta termos um pensamento transformado com relação ao passado, precisamos que essa disposição mental renovada nos leve a tomar um novo rumo.

Arrependimento que pára na mente não passa de remorso. O genuíno arrependimento é como a fé, como o amor, e como vários outros atributos descritos na Bíblia com conotação prática mas que acabaram assumindo um significado completamente diferente em nosso linguajar religioso, como algo passivo, um sentimento ou algo que existe somente em nosso coração.

Ele não é um mero pensamento, não é uma simples mudança de ideia que fica estática e não produz um resultado prático, não é um sentimento, embora, sim, gere em nós uma tristeza por reconhecermos que decepcionamos aqueles a quem amamos, em especial ao nosso Pai celeste.

Vejamos o que diz 2 Coríntios 7:10:

Porque Deus às vezes utiliza a tristeza em nossas vidas para nos ajudar a nos afastarmos do pecado, nos arrependermos, para, assim, nos levar à salvação. Já a tristeza do homem incrédulo não é a tristeza do arrependimento verdadeiro e produz a morte.

Em outra tradução, o texto diz que “A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte”.

Arrependimento que leva, que visa, cujo alvo é a salvação, diferentemente do remorso, que não tem um propósito, não tem um fim útil, produz apenas… tristeza!

Meus irmãos, taí uma coisa que não serve de nada, ficarmos tristes, se essa tristeza não nos levar a um lugar de transformação! Precisamos nos entristecer sim, mas pela razão correta e com a finalidade de mudarmos de comportamento!

Então, partindo da comparação que fiz com a fé, que se prova por meio das obras, conforme Tiago 2:17 e 18, o arrependimento sincero, e não há outro, se prova por meio da obediência.

Se antes andávamos pelo caminho da rebeldia e desobediência, agora que possuímos uma mente renovada, a mente de Cristo, conforme 1 Coríntios 2:16, nossa nova vida deve ser em obediência aos seus mandamentos, à sua vontade, à sua voz. Não podemos mais fazer a nossa vontade, precisamos perguntar a Deus o que Ele deseja que façamos, para onde Ele quer que a gente vá. Não adianta a gente orar, ler a Bíblia, buscando assim conhecer mais do Pai e saber a sua vontade, se não estivermos dispostos a obedecê-lo!

Em João 15:14, Jesus diz assim:

Vocês serão meus amigos se me obedecerem.

Não é uma opção. Não há plano B. O texto não poderia ser mais claro: andar com Jesus é fazer o que Ele manda. Seremos seus amigos se, e somente se, obedecermos a Ele.

Eu sei que ouvir isso com nossos ouvidos da geração mimizenta que somos e que odeia que nos digam o que fazer dói, incomoda, gera angústia, frustração, mas meus irmãos, quem é Senhor aqui, eu, você, ou Jesus?

Vamos pensar no comportamento dos dois irmãos. Deixemos de lado por um instante o que quer que eles tenham pensado antes, durante e depois de terem falado aquelas palavras; o que especificamente eles disseram; a forma como falaram; e a reação do Pai, tanto imediatamente quanto depois do dia terminar e ficar sabendo o que de fato aconteceu.

No fim das contas, o comportamento daquele filho que foi e fez a obra do Pai falou muito mais alto do que quaisquer palavras que ele ou seu irmão tenham dito. É isso que conta, nossas obras; não para alcançarmos salvação, que não se trata disso, mas que a salvação que recebemos é provada pelas obras que dela se seguem. Nós demonstramos nossa condição de filhos por meio do nosso comportamento como tais.

A fé que dizemos possuir em Deus, em Jesus, produz em nós obras dignas de uma vida arrependida e derramada perante o altar. É disso que fala nosso Senhor quando afirma que João veio mostrar o caminho da justiça. João veio relembrar ao povo, a nós também hoje, os valores do reino de Deus que eles já deveriam conhecer.

Cristo aqui é muito duro com os religiosos e isso serve de lição para nós, quando ele afirma que as pessoas mais rejeitadas da sociedade de então, pessoas notoriamente pecadoras, traidores da nação como era o caso dos cobradores de impostos, ou mesmo pessoas infames, sem moral alguma como eram as prostitutas, quando confrontadas com a mensagem de arrependimento pregada por João, e posteriormente também por Jesus, elas abandonaram seus maus caminhos, voltaram-se para Deus, e começaram a andar em justiça, enquanto aqueles que deveriam fazer assim, porque tinham a lei de Moisés e gritavam pra todos quantos pudessem ouvir o quão “santos”, “puros” e “imaculados” eles eram, mas que, ao contrário, viviam uma vida de religião apenas de aparência, esses, como nós muitas vezes, tiveram enorme dificuldade sequer de se reconhecerem como pecadores, e buscar o socorro daquele que pode salvar religiosos e não religiosos, pecadores que somos.

Vejamos um exemplo desse comportamento, conforme Mateus 9:10-13:

Mais tarde, quando Jesus e seus discípulos almoçavam na casa de Mateus, muitos cobradores de impostos e “pecadores” estavam lá como convidados! Os fariseus ficaram indignados. “Por que o mestre de vocês come com homens como esses cobradores de impostos e ‘pecadores’?”
“As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes”, foi a resposta de Jesus. Depois ele acrescentou: “Vão aprender o significado deste versículo da Escritura: ‘Não são os sacrifícios de vocês que me interessam — mas que tenham misericórdia’! Meu trabalho aqui na terra é chamar os pecadores, e não aqueles que se acham bons, para que voltem para Deus”.

Nessa situação, vemos os religiosos questionando os discípulos de Jesus por que o mestre comia com notórios pecadores, quando isso era absolutamente inconcebível para aqueles homens mais preocupados com a aparência de “piedade”, com a sua reputação “ilibada”, do que realmente em estar com o Mestre e aprender dele, razão que motivava aquele grupo que se achegou para comer com o Senhor.

Para muitos daqueles líderes e pessoas importantes da sociedade da época, ao se deparar com alguém de má fama, era preferível cruzar a rua do que passar ao lado, que dirá mesmo compartilhar uma refeição juntos e conversar sobre as realidades espirituais. Isso diz muito a respeito do tipo de religião que aqueles homens praticavam, baseada em rituais, cerimoniais, em aparência, em vez de piedade, uma dedicação ao Senhor de maneira relacional.

É importante reconhecermos que todos temos necessidades espirituais, porque todos somos pecadores, incluindo aqueles que fingem não se interessar, ou que verdadeiramente não se importam com seu destino eterno, então ver que os pecadores buscavam a Jesus com genuíno interesse, enquanto os religiosos não o reconheceram como o messias prometido, como Cristo, mas apegaram-se apenas ao conceito de rei político que traria novamente a glória dos dias antigos a Israel, então com relação a Jesus nutriam uma relação de mera curiosidade, quando não de explícita inveja e confrontação.

Percebam que, no texto de nossa meditação, o Pai provavelmente ficou desapontado com as palavras do primeiro filho, mas, com a boa surpresa ao fim do dia, deve ter se enchido de alegria. Por outro lado, o filho que prontamente se disse disposto a obedecer e fazer a vontade do Pai, deixou de lado suas responsabilidades, desprezou o valor que sua palavra dada deveria possuir, e que decepção foi para seu pai.

Há um texto do profeta Ezequiel que fala muito claramente sobre esse assunto. Ele se encontra no capítulo 18, versos 26 em diante, que diz assim:

Se o justo deixa de lado a justiça para viver no pecado, e morre sem se arrepender disso, morrerá por causa do mal que cometeu. Mas, se uma pessoa que vivia no pecado se arrepender de suas maldades e desobediências, e passar a praticar a justiça, não será castigada com a morte. Ele salvará a sua vida.
Quem considerar os seus pecados e se arrepender deles, será perdoado e viverá; não será castigado com a morte.
Apesar de isso ser uma coisa tão clara, vocês continuam reclamando: ‘O Senhor está sendo injusto no seu julgamento!’ Os seus caminhos é que são injustos, não os meus.
“É por isso que vocês serão julgados, ó povo de Israel. Eu mesmo julgarei cada um segundo as suas próprias ações. Palavra do Soberano, o Senhor. Arrependam-se, abandonem os seus pecados! Essa é a única maneira de escapar ao castigo do pecado e da maldade.
Livrem-se de todos os pecados que vocês vêm cometendo há tanto tempo! Assim vocês ganharão um coração novo e um espírito novo. Para que morrer? Para que ser condenado, ó povo de Israel?
Eu não tenho prazer na morte de ninguém. Palavra do Soberano, o Senhor. Arrependam-se! Arrependam-se e vivam!”

Aqui temos exatamente o que aconteceu com aqueles dois filhos. Um que fez o mal, mas se arrependeu e foi fazer o que era bom. Esse agradou seu pai. Esse foi salvo. O outro que fez o que era bom, ao menos inicialmente, mas não perseverou até o fim. Esse desagradou o pai e sofreu as consequências de suas próprias escolhas.

O que Deus deseja para nós é obediência, e não meras palavras. A ida à vinha é sinal de obediência, e trazendo para o aspecto da salvação e do reino, e para nossa realidade hoje, indica que aquilo que recebemos do Pai deve significar tanto para nós ao ponto de nos dar satisfação em cumprir a importante missão de ir para a seara buscar novos frutos, resgatar novas almas para Jesus.

Conclusão
Antes de encerrar, quero chamar a atenção para algumas lições finais que talvez possam ter passado desapercebido.

Em primeiro lugar, a parábola diz respeito a dois filhos. Filhos. Percebam que nem todos são filhos. Como já falei, em outra parábola semelhante a essa, o filho perdido, ao ver-se na situação de miséria, se arrepende e pensa consigo mesmo: “quantos trabalhadores de meu pai tem pão com fartura e eu aqui passando fome”. Disso, tiramos que nem todos que trabalham para o pai são seus filhos, alguns são apenas isso mesmo, trabalhadores, estão na obra do pai, na presença do pai, junto com a família do pai, mas não pertencem a família, e por isso mesmo, ao fim do dia, terão de retornar a suas próprias casas, não desfrutarão do relacionamento mais íntimo que só o filho desfruta, e nem os direitos decorrentes dessa filiação, como a herança que está prometida, novamente, só aos filhos.

Isso deveria nos levar a uma necessária reflexão, nós que temos vindo domingo após domingo a este lugar, ou, em razão dessa pandemia, que temos cultuado a Deus de maneira virtual, será que somos filhos, ou será que somos apenas trabalhadores que vêm, trabalham, recebem seu salário, e simplesmente vão embora, voltam pra suas casas para longe de Deus?

Até com relação aos religiosos, Jesus na parábola os coloca na condição de filhos, no mesmo status dos notórios pecadores, então isso pode nos ensinar ainda uma segunda lição, de que não importa qual o nosso background, nossa história de vida, se puritanos ou promíscuos, Deus quer fazer de nós seus filhos, nos resgatar da condição de pecado em que nos encontramos, mesmo aqueles de nós que porventura não se achem tão maus assim, e nos adotar, dando-nos a honra, a dignidade e a herança que cada um de seus filhos possui, não por mérito próprio, mas por sermos filhos de um Deus que é cheio de honra, pleno em dignidade e extremamente generoso e galardoador dos que o buscam, conforme Hebreus 11:6.

Mas há ainda uma terceira e última lição, Jesus quando explica a parábola aos fariseus, saduceus e demais líderes religiosos, ele deixa claro que os coletores de impostos e prostitutas, como símbolo máximo do que aqueles homens consideravam como imundos pecadores, estavam entrando antes deles no reino de Deus. Isso significa algumas coisas:

1) que qualquer tipo de pessoa pode entrar no reino de Deus, desde que se arrependa de seus maus caminhos. Isso para nós é um sinal de esperança, é a boa nova do evangelho de que em Cristo, qualquer um de nós, por pior que tenha sido, agora é aceito perante Deus, amado pelo Pai e transformado em filho. Percebam que o primeiro rapaz da estória, a quem Jesus compara com esse grupo de pecadores, primeiramente se arrependeu, e depois obedeceu, indo trabalhar na vinha;

2) os religiosos não necessariamente entrarão no reino de Deus, embora muitos irão fazê-lo, mas não por mérito ou em razão da sua religião. Isso, por outro lado, significa que muitos que se dizem religiosos ficarão de fora do reino! Ora, se Jesus disse que os pecadores entrariam no reino antes daqueles religiosos, é porque eles também entrariam, mas aqui cabe um porém, não seriam todos os religiosos, como também não seriam todos os pertencentes ao grupo dos pecadores, somente, em qualquer caso, aqueles que se arrependessem e obedecessem ao Pai.

Arrependimento e obediência, portanto, meus irmãos, são sinais distintivos daqueles que são genuinamente filhos de Deus, aqueles que, uma vez adotados pelo Pai, passam a honrá-lo dedicando sua vida a obedecê-lo e agradá-lo.

Que Deus nos ajude, portanto, a crermos em seu filho Jesus, nos arrependendo de tudo quanto tivermos feito de errado até aqui. Eu não entrei no mérito de dizer o que vocês devem fazer ou deixar de fazer, como João Batista até fez (mas ele era João Batista), porque isso acaba virando religião, mas peçam ao Espírito Santo que revele em suas vidas por meio da oração e da leitura da Palavra, entre outras maneiras, os comportamentos e valores que vocês como filhos, se é que são filhos mesmo, precisam abandonar, e não porque eu vou dizer a você, ou a religião diz, que são errados, mas porque a Palavra de Deus e o próprio Deus lhes exortaram a fazer isso, e porque ao fazê-lo, vocês honram e agradam ao seu Pai, e isso acaba por fazer bem também a vocês mesmos!

E que, uma vez que Deus tenha falado ao seu e ao meu coração aquilo que precisamos fazer ou deixar de fazer, não para obter salvação, nem para nos tornarmos filhos, porque já vimos que não se trata disso, que Ele mesmo nos capacite a obedecê-lo, porque, mais uma vez, não adianta sabermos qual é a sua vontade se não a obedecermos, é até pior do que a ignorância de não sabê-la.

Que o Deus que opera em nós tanto o querer quanto o efetuar, segundo a sua boa vontade, nos abençoe, completando em nós a sua boa obra até o dia de Cristo Jesus.

Amém.

Adeus, 2021. Benvindo, 2022.

“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos…” – 2 Coríntios 4:8-10

Bom dia, amados irmãos.

Este é último dia do ano de 2021, um ano difícil em muitos aspectos, no qual amigos próximos deixaram a nossa convivência, seja em razão de mudança, seja pelo chamado do Senhor. Qual tenha sido a razão, sentimos a sua falta.

Muitos de nós passaram por lutas com doenças, falta de emprego e renda, tristeza e quem sabe até esfriamento da fé. O sentimento não é bom e dificilmente alguém passou incólume por este ano.

No entanto, tento não olhar para 2021 ano apenas com desilusão, mas também com um olhar de gratidão ao Senhor e a vocês pela companhia, pelo cuidado mútuo, pela caminhada em sermos cada vez mais parecidos com Jesus, e pelo Seu auxílio por meio do Espírito Santo.

Sim, Deus certamente nos carregou em seus ombros como ovelhas machucadas este ano, isso porque Ele cuida de nós, não nos abandona à nossa própria sorte, e se passamos com Ele pelo mau, também passamos (e passaremos) pelo bom.

A sua bondade, misericórdia e generosidade continua sobre nossas vidas, mesmo em meio às situações mais dramáticas da vida, sua mão continua estendida, como juízo para os ímpios, mas como benção sobre as vidas de seus filhos! Aleluia!

Contemos as bênçãos, como diz o hino antigo, que também certamente foram muitas, bênçãos de vida, de saúde, de relacionamentos, provisão e, principalmente, de intimidade com o Pai.

Deus fez muito por nós, em nós e através de nós este ano, e nos convida a essa jornada de parceria por mais um ano.

Que em 2022 aprendamos, juntos, a trilhar O Caminho, com humildade, amor, obediência à sua Palavra e esperança, aliás, não apenas esperança, fé, uma fé que Deus mesmo nos concede e deseja desenvolver e aumentar em nós.

A nossa principal esperança é pela proximidade do retorno do seu Filho Jesus, nosso Senhor, isso apenas já é razão suficiente para erguermos a cabeça e respirarmos novamente.

A minha oração é que possamos ter a mesma atitude que moveu o apóstolo Paulo, os apóstolos, e os discípulos de Cristo no decorrer da história, um pensamento que vá além das coisas do presente século e esteja fundamentado na eternidade; assim, não seremos movidos para lá ou para cá com as inconstâncias dessa vida, nossa satisfação não estará mais em coisas, pessoas ou circunstâncias, mas no Senhor, e nada nem ninguém pode nos separar do seu amor, cf. Rm 8:35-39.

Não desejo para nenhum de nós um prêmio da megasena da virada, nem um ano de 2022 isento de problemas ou lutas, mas que estejamos juntos nessa batalha, sabendo que o nosso general está à nossa frente e luta as nossas lutas.

Deus nos abençoe.

Eliade Filho, Talita e Benjamin

O que converte o coração do homem

Pregação ICS 24/01/2021 – O que converte o coração do homem

Texto base: Daniel 4:2-28

Quero que todos saibam dos sinais e maravilhas que o Deus Altíssimo realizou em meu favor.
É quase impossível acreditar — foi um grande milagre! Agora eu tenho certeza de que o seu reino é eterno. Agora sei que ele reina para sempre!
Eu, Nabucodonosor, vivia tranquilo e feliz no meu palácio. Certa noite, tive um sonho que me deixou muito assustado. Estando deitado em minha cama, os pensamentos e visões que passaram pela minha mente me deixaram horrorizado.
Por isso chamei ao palácio todos os sábios da Babilônia e determinei que me dissessem o significado do sonho, mas quando os magos, os encantadores, os astrólogos e os adivinhos vieram e eu contei meu sonho a eles, nenhum deles foi capaz de me dizer o que significava.
Finalmente, apareceu Daniel, a quem eu chamei Beltessazar, em honra ao meu deus, o homem em quem há o espírito dos deuses santos. Então eu contei a ele o meu sonho.
Disse a ele: “Beltessazar, chefe dos magos, sei que o espírito dos deuses santos está em você, e que nenhum mistério é difícil demais para você; explique a visão que vi no meu sonho, com a sua interpretação. Escute:
Estas são as visões que tive quando estava deitado em minha cama: Eu vi uma grande árvore no meio da terra.
Essa árvore crescia sem parar, forte e alta, que encostou com a copa no céu, até que podia ser vista em todo o mundo.
As folhas da árvore eram bem verdes e bonitas, seus ramos estavam carregados de frutos, suficientes para todos se alimentarem. Os animais do campo vinham descansar à sombra da árvore, e as aves faziam seus ninhos em seus ramos.
Então, deitado em minha cama, vi uma sentinela, um anjo de Deus descendo do céu.
Ele gritou em alta voz: “Derrubem a árvore; cortem os seus ramos, arranquem suas folhas e espalhem os seus frutos. Espantem os animais da sua sombra e tirem as aves dos seus ramos, mas deixem as raízes e o toco, amarrado com uma grossa corrente de ferro e bronze, cercado de erva. Ele será molhado com o orvalho do céu e se alimentará da erva do campo, como os animais!
Durante sete anos, terá pensamentos de animal, em vez de pensamentos de homem.
Isso foi decretado pelos vigilantes, por ordem dos santos anjos. O decreto foi dado para que todos os homens saibam que o Altíssimo domina sobre os reinos do mundo. Ele dá os reinos a quem bem entende, até ao mais humilde dos homens!”
“Este, Beltessazar, foi o meu sonho. Agora, diga-me o seu significado. Ninguém mais pode me ajudar na interpretação. Todos os sábios do meu reino falharam. Mas eu sei que você pode responder, porque o espírito dos deuses vive em você”.
Então Daniel, também chamado de Beltessazar, ficou por algum tempo sentado em silêncio, aterrorizado pelo sonho. Finalmente, o rei disse: “Beltessazar, não tenha medo de me contar o significado do sonho”.
Beltessazar respondeu: “Majestade, gostaria que os acontecimentos revelados pelo sonho fossem destinados aos seus inimigos, e não ao rei!
A árvore que o rei viu crescer até os céus, que era vista por todo o mundo, com suas belas folhas verdes, com os ramos carregados de frutos, dando sombra aos animais e ninho às aves — aquela árvore, Majestade, é o senhor mesmo. O senhor cresceu e se tornou muito forte. A sua grandeza chega até o céu, e o seu reino até os confins da terra.
“Então, Majestade, o senhor viu um anjo de Deus descendo do céu e gritando: ‘Cortem e destruam a árvore, mas deixem as raízes e o toco, cercado de erva, amarrado com uma grossa corrente de ferro e bronze. Ele ficará molhado do orvalho do céu e durante sete anos comerá erva como os animais!’
“Majestade, foi o Deus altíssimo quem deu essa ordem. Isso vai acontecer, sem dúvida! O senhor será expulso do palácio e vai viver pelos campos, como um animal, comendo capim como um boi, molhado pelo orvalho da noite. E assim o senhor vai viver durante sete anos, até aprender que o Deus Altíssimo é o dono de todos os reinos dos homens, que ele dá o poder a quem bem entende. Mas as raízes e o toco ficaram na terra! Isso significa que o senhor receberá o seu reino de volta, depois de aprender que o céu domina sobre a terra.
“Portanto, ó rei Nabucodonosor, escute o que eu digo — pare de pecar! Faça o que o senhor já sabe que é certo! Nada de injustiça! Tenha compaixão dos pobres, seja bom para eles. Quem sabe assim Deus terá pena do senhor e não o castigará”.
Mas tudo isso acabou acontecendo mesmo ao rei Nabucodonosor.

Introdução
A mensagem de hoje é baseada no livro do profeta Daniel, o qual diz respeito às profecias que Deus lhe entregou para o reino de Judá no exílio babilônico, durante o reinado de 4 imperadores: Nabucodonosor, Belsazar, Dario e Ciro.

Daniel foi um judeu levado ainda jovem, quando da vitória de Nabucodonosor sobre o rei Jeoaquim. Ele era um dos “rapazes da família real e das famílias ricas e importantes de Judá”, cf. Daniel 1:3, cujas características encontramos no verso seguinte que diz: “rapazes fortes, sem defeitos físicos, com boa saúde e de boa aparência”, os quais deveriam “ter boa instrução, boa cultura geral e ser capacitados para viverem no palácio real”.

O rei Nabucodonosor, por sua vez, providenciou tudo do bom e do melhor em termos de acomodações, alimentação e treinamento na língua, nos costumes e ciência dos caldeus. Era como se aqueles jovens fossem fazer faculdade na melhor escola da capital do império.

Mas, como Daniel registrou no capítulo 1 deste livro, ele e seus amigos decidiram não se contaminar com as iguarias do palácio real, porque eram comidas proibidas para os judeus. Percebam que mesmo numa terra que não era a sua, sem possibilidade de exercer sua religião da maneira como deveria, mesmo tendo tudo de melhor que o império poderia lhe proporcionar, Daniel escolheu ser fiel aos seus princípios, à sua religião e, mais ainda, ao seu Deus.

Esse profeta foi usado por Deus de diversas formas e uma delas foi através da capacidade de interpretar sonhos. O capítulo 2 nos fala do primeiro sonho que Daniel interpretou do rei Nabucodonosor. Para a mensagem de hoje, conforme o trecho que lemos, refletiremos sobre o segundo sonho desse mesmo rei, e nas lições que podemos tirar para nós também hoje.

1 – Milagres podem converter o coração do homem
A primeira lição tirada desse texto é que milagres podem converter o coração do homem, mas nem sempre isso acontece.

Percebam que Nabucodonosor experimentou um grande milagre ao ver Daniel interpretar corretamente seu sonho anterior, relatado no capítulo 2. Entretanto, isso não foi suficiente para convencê-lo de uma vez por todas que Deus é o único deus e que é nEle e somente nEle que devemos confiar e depender.

Não sabemos ao certo quanto tempo se passa entre um capítulo e outro, mas quando viramos a página e lemos o capítulo 3, esse imperador manda erguer uma estátua dedicada não a Deus, como se Deus pudesse ser representado por qualquer obra humana, mas a si próprio.

A situação foi pior do que aparenta. Aquela obra não era apenas uma homenagem ou uma recordação para as gerações futuras das conquistas devidas àquele rei. Não! O seu propósito era servir como instrumento de adoração, como se ele mesmo fosse um deus, ou se colocasse nessa posição.

Nabucodonosor representa bem o nosso próprio pecado de orgulho, vaidade, confiança em nosso próprio esforço e capacidade. Para muitos de nós, a divindade somos nós mesmos.

Nesse mesmo capítulo 3, os amigos de Daniel não obedecem à ordem de adorar a imagem, e por essa razão são jogados na fornalha ardente. Aqui vemos outro milagre testemunhado por Nabucodonosor: um quarto homem, que o próprio rei descreve como parecendo ser um filho dos deuses – e creio que de fato o era, estando Jesus ali presente – ele vai ao encontro daqueles homens e os salva no meio da aflição, da angústia e da morte.

Isso me leva a refletir, quantas vezes Jesus também não aparece em nossas vidas em nosso socorro? Ali, Ele se fez presente e sua aparição serviu de testemunho perante aquele rei ímpio, mas nem sempre Ele precisa estar fisicamente para que o sintamos perto de nós, lutando em nosso favor. E, no entanto, tendo visto mais aquele milagre, Nabucodonosor não está plenamente convencido.

Lemos a reação dele, de mais uma vez bendizer ao Deus de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, e então chegamos ao capítulo 4, tema da nossa mensagem, no qual Nabucodonosor proclama a todo seu império sobre as maravilhas que o Deus Altíssimo realizou em seu favor. Tudo isso leva a crer que ele finalmente reconheceu o poder de Deus, e que Ele era o Senhor e Rei, certo? Infelizmente não. Aquele rei, como nós também, era duro de convencimento. Teimoso. Milagres e mais milagres não foram capazes de tornar seu coração sensível à voz de Deus.

Isso me lembra do povo de Israel no tempo de Jesus. O mestre realizou inúmeros milagres em seu meio, curou enfermos, expulsou demônios, mas quantos creram nEle? A maioria? Certamente que não. Mesmo sua família em determinado momento quis apreendê-lo porque achava que Ele estava doido, com mania de grandeza, como vemos na narrativa de Marcos 3:21 – ‘Quando os familiares dele souberam do que estava acontecendo, vieram tentar levá-lo consigo para casa. “Ele está fora de si”, diziam eles’.

Em Mateus 13:58, o evangelista registra o seguinte: “E por isso ele só fez ali uns poucos milagres, por causa da falta de fé daquelas pessoas”. Esse “ali” que Mateus fala era a própria terra onde Jesus nasceu e cresceu, onde seus familiares viviam. Em João 4:48 lemos o seguinte: ‘Jesus disse: “Nenhum de vocês vai crer em mim, se eu não fizer sinais e maravilhas”’. Jesus estava apontando de maneira irônica para a “necessidade” daquele povo de comprovação, de pegar, de ver para crer. Não conseguiam crer no Deus invisível, e quando Ele se faz carne em Jesus o povo ainda assim não acredita em sua palavra e pede provas. Mas as provas que eles pedem não vão convencê-los, se já não tiverem crido antes em seus corações, porque o milagre testifica em nosso espírito aquilo que o Espírito Santo preparou primeiro.

Isso deve servir de lição para nós, não confiarmos apenas naquilo que podemos ver, naquilo que podemos tocar com as nossas mãos. Na verdade, deveríamos ser conhecidos por andarmos por fé e não por vista, conforme 2 Coríntios 5:7, mas eu admito que nem sempre é fácil. Foi difícil para os israelitas aos pés do monte onde Moisés foi receber as tábuas da Lei, também no decorrer da história até os dias de Jesus, e continua difícil para sua igreja ontem e hoje, para mim e para você, o que não significa que devamos nos conformar com isso e abrir mão de nos colocarmos de joelhos implorando ao Senhor que quebre nossos corações duros e nos faça crer a despeito de milagres, a despeito de não vermos as coisas acontecendo como gostaríamos. De fato, o tipo de fé que devemos buscar cultivar é aquela que crê apesar das circunstâncias, contra o que talvez estejamos vendo.

Crer naquilo que vemos, quando as coisas sempre vão bem, é muito fácil, difícil é confiar no meio da fornalha ardente, durante a tempestade, enfrentando uma doença difícil ou quando perdemos a batalha para a morte.

Milagres podem levar o homem a crer no Senhor. É o que diz João 2:23 – “Por causa dos milagres que Jesus fez em Jerusalém durante a comemoração da Páscoa, muitos creram em seu nome”. Infelizmente, contudo, nós temos a grande capacidade de fazer pouco-caso de verdadeiros milagres só porque estes ocorrem com frequência, no dia a dia, ou porque achamos que os compreendemos pela ciência, como por exemplo o simples fato de estarmos vivos, respirando, bem e com saúde.

Precisamos, talvez, de menos milagres pois temos nos tornado insensíveis às manifestações de Deus em nossas vidas que ocorrem tanto no natural quanto no sobrenatural. É o que parece ter ocorrido com aquele rei.

2 – As bênçãos do Senhor podem converter o coração do homem
A segunda lição que podemos aprender, também da vida de Nabucodonosor e seu sonho, é de que as bênçãos do Senhor podem converter o coração do homem, mas também não necessariamente.

Citando o caso da prosperidade, como um exemplo bem atual do tipo de teologia e pregação pragmáticos de nossos dias, ela nem sempre é sinal da benção de Deus!

Ah, meus irmãos, que verdade essa, especialmente quando cansamos de ver e ouvir pessoas na televisão e na Internet pregando que Deus é obrigado a lhe dar, dar, dar, e se não der é porque você não tem fé, ou está em pecado, uma teologia que supõe que podemos exigir de Deus algo, indo claramente contra o que Paulo fala em Romanos 11:35, que diz: “E quem já deu alguma coisa a Deus para que ele pudesse recompensá-lo?”.

Certa vez, lendo um livro de um “papa” da teologia da prosperidade chamado Mike Murdock, vi algo que dizia mais ou menos assim, onde ele meio que tenta defender sua crença, de que se o dinheiro fizesse o homem se desviar, o diabo faria todo mundo ficar rico. Conquanto isso realmente não seja verdade para todas as situações, satanás, com certeza, deve ter feito mais do que uns poucos se desviarem do caminho do Senhor apenas pelo uso de bens materiais que, inadvertidamente, essas pessoas talvez tenham até creditado como benção do Senhor.

Muitas pessoas alcançam riqueza e sucesso sob os parâmetros da nossa sociedade, e algumas vezes não porque Deus os abençoou, mas porque usaram de métodos escusos e exploraram outras pessoas, então não podemos associar uma coisa à outra.

O dinheiro, o sucesso, os bens materiais, na verdade, por si só não são ruins, como aliás também não são bons, são moralmente neutros. A destinação que lhes damos e o que eles representam para nós é que dirão se são uma benção ou uma maldição!

Vejamos o exemplo de Nabucodonosor, verso 22, já na interpretação do sonho, Daniel fala que o rei havia crescido e se tornado poderoso e cujo reino se estendia por toda a terra. Isso certamente afetou seu coração, como já vimos com relação à estátua que ele mandou fazer em sua própria homenagem. Pense no “cabra” humilde…

Então do auge de sua “glória”, Nabucodonosor não se achegou a Deus, não deu graças a Ele, não se humilhou. Nada disso. Ele, como nós, deixou tudo aquilo subir à sua cabeça e começou a se achar melhor, merecedor, e quem de nós merece alguma coisa?

Meus irmãos, a nossa fé é provada não no momento de fartura, de abundância, de saúde, quando alcançamos sucesso, um bom emprego, família estruturada, bens, ao contrário, é na ausência de todas essas coisas.

Seja honesto e pergunte-se a si mesmo, será que eu continuaria confiando em Deus e crendo que Ele é um Deus bom se eu estivesse passando por uma dor muito grande, uma perda, a família desestruturada, sem emprego, devendo o que tenho e o que não tenho, sem saúde, como o que aconteceu com Jó? Ou será que eu me renderia à reclamação, e acabaria blasfemando do nome do Senhor, como foi o conselho da mulher dele?

A riqueza, o poder e o prestígio na vida de Nabucodonosor e na nossa, tantas vezes, é justamente o que nos leva a pecar e nos afastarmos de Deus, e essas coisas têm a capacidade de nos atrair para junto de pessoas erradas, que só estão conosco no momento da alegria e enquanto pudermos fazer algo por elas.

O nosso comportamento diante da riqueza e dos bens deveria se espelhar no exemplo de Agur, um ilustre desconhecido que compôs um excelente ditado para o povo de Massá há milênios, mas que serve para nós de Fortaleza também hoje, conforme o texto de Provérbios 30:7-9:

Ó Deus, eu peço apenas duas coisas para minha vida nesta terra:
Não me deixe ser falso e mentiroso! Esse é o primeiro pedido. Além disso, não me deixe ficar muito rico nem muito pobre! Dê-me somente aquilo de que realmente preciso.
Pois, tendo demais, seria ingrato e confiaria somente nas riquezas e deixaria o Senhor de lado; também não quero ficar tão desesperado por causa da pobreza a ponto de me tornar um ladrão, manchando o nome do meu Deus.

Essa segunda lição nos deve levar ao entendimento de buscarmos não as bênçãos do Senhor, especialmente as de cunho material, mas ao Senhor das bênçãos, e mais, ainda que elas não venham, pois o “mero” respirar, o “simples” estar vivo já é uma benção enorme… Duvidam? Perguntem a quem perdeu um ente querido nesse período de pandemia…

E, por fim, quando as bênçãos vierem, e elas vêm, que nós tenhamos o coração agradecido a Deus, investindo e plantando na vida dos nossos irmãos, do nosso próximo, sem guardarmos de maneira egoísta aquilo que ricamente o Senhor nos concede, sem confiarmos nem dependermos delas para crermos que Deus é bom e merecedor de toda honra e todo louvor.

3 – A palavra de Deus pode converter o coração do homem
A terceira lição que podemos aprender desse texto de Daniel 4, vemos no sonho de Nabucodonosor onde um anjo de Deus desce do céu e proclama palavras vindas do próprio trono do Senhor, palavras que proferem um julgamento, palavras que trazem uma promessa, e palavras que oferecem uma oportunidade.

Em primeiro lugar, a Palavra de Deus nos traz um julgamento, e nós somos julgados por aquilo que fazemos. João 3:18-21 diz assim:

Não há condenação reservada para aqueles que creem nele como Salvador. Mas aqueles que não creem nele já estão condenados por não crerem no Filho único de Deus. A sentença deles está baseada neste fato: A luz veio ao mundo, porém os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Os que praticam o mal odeiam a luz e ficam longe dela, com medo de que seus pecados sejam revelados. Mas aqueles que praticam a verdade têm prazer em vir para a luz, a fim de que todos vejam que as suas obras são realizadas por intermédio de Deus.

O texto fala de condenação. Ora, condenação pressupõe julgamento, e julgamento baseado em uma Lei. Mas que Lei seria essa? A Lei de Deus que nos foi dada por Moisés. Nesse sentido, sabendo que é impossível ao homem cumprir de maneira perfeita a Lei, todos estamos sujeitos à condenação.

Mas essa condenação, como o texto de João fala, não é por mero capricho de um Deus ranzinza. Não! É porque a humanidade, nós, amou/amamos mais as trevas do que a luz, trevas sendo nossos próprios desejos egoístas, e a luz sendo Jesus, a luz do mundo em suas próprias palavras, conforme João 8:12 e várias outras passagens.

Jesus é a luz que ilumina as densas trevas que acometem a nossa alma afundada em um lamaçal de pecados, pecados que não são, infelizmente, cometidos “sem querer”, involuntariamente, nem “quedas” ou falhas pequenas e pontuais, como queremos crer e como tentamos nos justificar. Não. São falhas graves porque ferem a santidade de Deus, ofendem a honra de seu nome e demonstram a rebeldia de acharmos que somos nós e não Ele senhores sobre nossas vidas.

Entretanto, a Palavra de Deus não traz unicamente uma condenação, mas também uma (ou mais de uma) promessa. Agora antes de seguirmos, tenho que fazer um esclarecimento. Talvez por causa das muitas pregações que ouvimos como evangélicos, especialmente nos últimos tempos, sempre que alguém fala das promessas de Deus fazemos a imediata associação com boas promessas, promessas de vitória, de saúde, prosperidade, bonança, e de fato, muitas vezes Deus, que é generoso e misericordioso, estende sua mão para nos abençoar.

Em que pese essa verdade, Deus promete, no escopo do seu atributo de justiça, entregar o que cada um fez por merecer, ou melhor, o que cada um fez em relação ao seu chamado ao arrependimento e conversão. São inúmeras passagens bíblicas que falam sobre isso, mas vejamos uma delas que se encontra em Deuteronômio 11:13-17:

Se vocês obedecerem fielmente a todos os mandamentos que estou transmitindo hoje, e se amarem o Senhor, o seu Deus, e o servirem de todo o coração e de toda a alma, então darei chuva sobre a terra de vocês, no tempo certo, as primeiras e as últimas de cada ano, para que vocês possam recolher os seus cereais, o seu trigo e produzam muito vinho e azeite. E haverá ricas pastagens para o seu gado, e vocês terão comida com fartura.

Tenham cuidado, porém, para que o coração de vocês não seja enganado, e vocês caiam no erro de servir e adorar a outros deuses. Cuidado, porque isso provocará a ira do Senhor, e ele fechará os céus para que vocês não tenham chuvas nem colheitas. Assim vocês desaparecerão em pouco tempo da boa terra que receberam do Senhor.

Percebem como a promessa aqui, como em muitos outros lugares nas Escrituras, é um enorme condicional. Se…! Se a gente segue ao Senhor, se a gente obedece aos seus mandamentos, se cumprimos os seus estatutos, então seremos abençoados. Se, pelo contrário, somos rebeldes, desobedientes, orgulhosos, então seremos amaldiçoados. Deus não nos faz nenhuma “surpresa” nesse aspecto. Ele é claro, simples e direto.

Vejamos o caso de Nabucodonosor e seu sonho. A profecia, no caso uma promessa, era de que ele seria reduzido à condição de animal devido à sua arrogância. E mesmo alertado sobre isso ele permaneceu com o coração endurecido e não se arrependeu, e ocorreu exatamente o que a Palavra do Senhor havia previsto. Por que? Porque a palavra do Senhor não volta vazia. Voltar vazia significa “ficar por isso mesmo”, como se fosse uma pessoa qualquer dizendo uma coisa qualquer. Meus irmãos, Deus NÃO é qualquer um. Suas palavras NÃO são qualquer coisa. A Palavra de Deus tem peso, ela é fidedigna, ou seja, digna de confiança porque é o próprio Deus e Senhor quem a profere e avaliza.

Em terceiro lugar, a Palavra de Deus nos traz uma oportunidade e aqui entendemos qual é a terceira lição que o texto de hoje traz, de que a Palavra de Deus pode converter o coração. Ela tem plena capacidade e poder. Mas, novamente, como é uma oportunidade, somente aqueles que a aceitam, que a recebem, que se apegam a ela têm suas vidas transformadas.

A Palavra de Deus tem um senso de urgência que é extremamente atual em nossos dias. Arrependa-se e creia no Evangelho! Este é o seu chamado. Não é um convite sutil. É o tipo de grito que daríamos, por exemplo, se víssemos uma criança correr para o meio da rua onde passam carros a toda velocidade, isso porque o Deus da Palavra percebe a condição de morte em que nos encontramos, não só para esta vida, mas quando pensamos na eternidade.

Nabucodonosor, cercado das boas coisas da vida, falhou em entender essa urgência, em perceber onde precisava se arrepender e mudar de rumo, mesmo quando Daniel lhe diz com todas as palavras, como vemos no verso 27. Nós também hoje, com tanto conforto, bens, prazer, entretenimento, parece que não conseguimos enxergar que o fim dos tempos se aproxima.

O relógio para o retorno de Jesus está batendo “tique-taque”, “tique-taque”. Não é preciso ser muito apocalíptico para perceber que tudo que foi previsto nas Escrituras sobre a segunda vinda do Messias está se cumprindo e cada vez mais rápido: guerras e rumores de guerras; doenças; fome; insensibilidade generalizada; desprezo pelas coisas espirituais e ao mesmo tempo a promoção de uma forma de religião supersticiosa e sincrética, onde vale tudo no relacionamento com “deus”, menos as verdades da Palavra de Deus; e, pior, o esfriamento do amor em muitos, mesmo nos que se dizem cristãos.

Algumas pessoas reclamam, talvez com razão, de nunca terem recebido uma oportunidade na vida. Esta, então, é uma chance que você não pode reclamar de não ter recebido pois aqui está, a Palavra de Deus lhe oferece, oportunidade de arrependimento, de conversão, mudança de mente, de coração, de vida.

Como fazemos isso? Recebendo, reconhecendo Cristo como Senhor e Salvador de nossas vidas, nos submetendo à sua vontade, tomando a nossa cruz e O seguindo, conforme Marcos 8:34 que diz: “E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”. Negar-se a si mesmo, ou “pôr de lado os seus próprios interesses”, conforme outra tradução. Lucas quando cita essa passagem vai além e diz que isso deve ser feito “cada dia”, ou seja, é negando nosso “eu” diariamente, e diariamente nos colocando debaixo da vontade dEle, de Cristo.

No texto da nossa meditação, vejamos o que Daniel recomenda que Nabucodonosor faça: “pare de pecar! Faça o que o senhor já sabe que é certo! Nada de injustiça! Tenha compaixão dos pobres, seja bom para eles”.

Esse é o comportamento condizente com uma pessoa que demonstra verdadeiro arrependimento: parar de se preocupar apenas com o que é seu, na verdade considerar formas de abençoar os outros com aquilo que possui; deixar de enganar os outros buscando uma vida de trabalho honesto e digno. É a ética cristã que deve permear os nossos relacionamentos com Deus, com nós mesmos, e entre nós e a sociedade.

4 – O Espírito Santo converte o coração do homem
Para concluir, há uma diferença essencial entre a vida de Daniel e de Nabucodonosor e esta diferença se chama Espírito Santo. Esses personagens bíblicos compartilham momentos de sua história onde eles experimentam conjuntamente de milagres, de bênçãos e mesmo da Palavra de Deus. Mas, como o próprio rei a seu modo reconheceu, Daniel possuía o “espírito dos deuses santos”, na verdade o Espírito Santo de Deus.

Aqui temos a lição final de hoje, de que o Espírito Santo converte o coração do homem. De fato, com base no que vimos aqui hoje, só Ele pode efetivamente promover essa conversão. A Palavra de Deus nos diz em João 16:7 e 8:

Mas a verdade é que é melhor para vocês que eu vá porque, se eu não for, o Consolador não virá para vocês. Se eu for, eu o enviarei a vocês. E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo

É função exclusiva do Espírito Santo convencer o homem de que é pecador, porque não crê em Jesus; da justiça, que é Jesus retornar para o lugar de honra que lhe é devido junto ao Pai; e do juízo, porque o Maligno que governa este mundo e a quem nós, enquanto escravos do pecado, servimos, ele já está condenado, e assim também todos os que com ele escolhem permanecer.

O plano de Deus para a humanidade foi escrito antes da fundação do mundo, e neste plano o diabo já perdeu, e cabe a nós, por meio do Espírito de Deus, iluminados por sua Palavra, dar a Cristo o lugar de honra que Ele merece também em nossas vidas.

Muitas pessoas experimentam milagres de Deus e continuam igual; tantos recebem de suas bênçãos e não querem saber do abençoador; e ainda outros até dizem ler sua Palavra, como eu vi recentemente um artista famoso dizer que quanto mais lia a Bíblia, mais ateu ficava e eu entendo perfeitamente, porque a Palavra de Deus SEM o Espírito Santo é um instrumento de condenação, porque endurece o coração do homem e o leva para ainda mais longe dos caminhos do Senhor.

É com toda razão que Jesus repreende os religiosos de sua época, homens que deveriam conhecer essas coisas, cf. Mateus 22:29:

Jesus respondeu: O erro de vocês é causado pela sua ignorância das Escrituras e do poder de Deus!

É necessária a Palavra de Deus, mas COM o Espírito Santo de Deus. É o poder de Deus através de seu Espírito que, por meio da Palavra, bênçãos, milagres, ou qualquer outra forma opera conversão, arrependimento e transformação na vida do homem.

Então, que fazemos diante de tudo isso? Quando somos confrontados pela Palavra de Deus que exige de nós arrependimento e mudança de atitude e comportamento, qual a nossa resposta?

Hebreus 3:7,8,13 e 14 diz:

Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto.
Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.

A nossa resposta deve ser por nos tornarmos participantes de Cristo, ou seja, depositarmos nEle a nossa fé, a nossa esperança, a nossa confiança.

Hoje temos essa oportunidade, hoje temos essa escolha. Não façamos como o povo de Israel no deserto. Não cometamos o mesmo erro de Nabucodonosor de acharmos que somos bons ou merecedores de glória. Não! É tempo de mudança e arrependimento, e é Deus quem nos oferece essa chance que é urgente. Não deixemos para amanhã, amanhã ninguém sabe se estará vivo, o dia certo é hoje! Não dá mais tempo para brincar de ser crente, e continuar insensível à voz de Deus.

Eu entendo que andar com Cristo requer compromisso, e isso, por sua vez, reflexão. Mas, com o senso de urgência que a Palavra de Deus e o Espírito estão revelando em seu coração, busque ao Senhor, entregue sua vida a Ele e faça isso o quanto antes.

A minha oração é pedindo a Deus que Ele aplique, por seu Santo Espírito, a sua palavra em nosso coração e promova, desta forma, convencimento, conversão.

Compreendendo os valores do reino: humildade e mansidão

Texto base: Mateus 11:29

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.


Recapitulação

Esta é uma série de mensagens intitulada “Compreendendo os valores do Reino”. Na primeira delas, falamos sobre o valor do trabalho. Não irei me repetir aqui, mas entre outras coisas vimos o que ele não é: um pecado, castigo ou maldição; e vimos o que ele é ou pode ser: uma forma de glorificarmos a Deus, e que deve ser feito com excelência, pois reflete o caráter de um Deus que é santo e perfeito em tudo que é e faz.

Na segunda mensagem, falamos sobre os valores da generosidade e gratidão. Algumas das coisas que vimos foram a diferença entre generosidade e a mera caridade; a motivação correta para sermos generosos; que devemos quebrar o círculo vicioso da ingratidão por meio da reclamação; aprendendo a desenvolver a gratidão como um estilo de vida; e que somos generosos na medida em que ou porque somos gratos.

Hoje, nesta terceira mensagem da série, falaremos brevemente sobre outros dois valores do reino, valores que remetem aos próprios valores e caráter do Rei: a mansidão e a humildade.

O nosso Senhor e Salvador tem nesse texto uma postura de mestre, de professor. Ele nos convida ao aprendizado. “Aprendei” é o verbo, e conjugado no imperativo passa uma ideia ainda mais forte, uma ordem.

Não é uma mera sugestão: “talvez vocês devessem aprender de mim”, “quem sabe vocês poderiam aprender” ou algo do gênero. A nossa leitura desse texto de maneira apressada pode ter feito ele perder sua força, mas de fato é uma ordem. Jesus também (e principalmente) é nosso Senhor, e nós, como seus escravos, devemos obedecê-lo.

Difícil é nós aprendermos a acatar ordens, aceitar a nossa condição de servos, e a sua de Senhor, soberano. O ser humano é teimoso demais e adora o controle remoto, não quer abrir mão dele de jeito nenhum. Esse sou eu e você, infelizmente.

Mas, antes de entrarmos especificamente nos valores, Cristo nos diz como faremos para aprendê-los, que é tomando sobre nós o seu jugo.


1 – “Tomai sobre vós o meu jugo”

Jesus começa dando a resposta ao nosso questionamento: como podemos aprender dEle? Tomando sobre nós o seu jugo.

Não o nosso jugo.

Não o jugo do mundo, seu sistema de valores.

Não o jugo da religião, qualquer que seja.

Não o jugo de ideologias, comunismo, feminismo, liberalismo ou outros “ismos”…

Não o jugo das instituições, placas de igreja, edifícios, organizações, por melhores que sejam seus valores, suas ações ou finalidades…

Não o jugo das pessoas em geral, nossos familiares, amigos, colegas de trabalho.

Seu jugo. O jugo de Jesus. O único que importa.

O contexto dessa passagem que lemos é sobre opressão. Vejamos o verso anterior que diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” – Mateus 11:28

O convite-ordem de Jesus não deve ser entendido como mais uma forma de opressão, não é apenas mais uma regra a seguir, algo para cumprir, ou talvez para se abster, como era a Lei mosaica que seus ouvintes daquela época estavam acostumados, ou pior, a sobrecarga religiosa que os fariseus e mestres da Lei colocavam e que tornavam o que já era difícil de obedecer em algo absolutamente, humanamente, impossível. O seu chamado é um convite ao alívio, à deposição de cargas!

Devemos aprender dEle. Ele ensinou, e não apenas por suas palavras, que demonstravam sua autoridade no que estava falando, mas principalmente por suas ações, comprovando na prática que o que Ele dizia era possível de ser feito, por Ele e por nós.

Em um mundo onde o normal é “faça o que eu digo e não o que eu faço”, Jesus nos chama a uma jornada de imitação. Sermos cristãos, “pequenos Cristos”, como crianças que aprendem por verem seus pais fazerem algo, e tudo o que Ele fez e deixou como exemplo era bom.

Para aprender de Jesus é preciso ser seu discípulo, seu seguidor de perto pois somente estando perto é que conseguimos ouvi-lo sussurrar em nosso ouvido palavras doces, ver sua expressão facial, sentir seu toque, seu cheiro…

Lembremos das multidões que costumavam andar com Jesus, havia toda espécie de pessoas: os curiosos, os que não entendiam direito o que estava acontecendo e iam junto com a maré, pessoas à espera de um milagre – uma cura talvez, os que comeram de graça e queriam repetir a dose, e mesmo líderes religiosos dispostos a pegá-lo em alguma falha que nunca cometeu.

Mas havia seguidores sinceros, dos quais setenta Ele comissiona para pregar o evangelho preparando a sua chegada em cidades que Ele haveria de visitar; os doze discípulos que andavam com Ele; desses, três que eram mais próximos, e um deles seu amigo íntimo.

Então a pergunta que temos de avaliar antes de mais nada é: que tipo de seguidor tenho sido? À distância ou de perto? Sincero, mesmo com minhas limitações, falhas e pecados, ou hipócrita, que tento esconder tudo isso sob uma capa de pureza espiritual que só não me faz levantar voo por falta de asas?

É andando com o Mestre que aprendemos a ser como Ele, manso e humilde, além de outras virtudes. Caminhar com Jesus e como Jesus requer ambas, mansidão e humildade, nos colocarmos na posição de servos, submissos, reconhecendo nossa inferioridade e a sua superioridade. E para tomar o seu jugo nesse caminho de aprendizado, é necessário tirar fora o nosso próprio jugo, aquilo que achamos ser importante, as pessoas, coisas, valores e circunstâncias às quais devotamos maior dedicação, esforço e o melhor de nosso tempo e emoções e que devem ceder lugar ao Senhor e ao que Ele deseja nos comunicar.


2 – Aprendendo a ser manso

Mansidão faz parte do fruto do Espírito, ou seja, é um traço de personalidade que é desenvolvido na vida do crente quando este caminha com Jesus em intimidade. Aliás, tudo que Paulo descreve em Gálatas 5:22 também corresponde de algum modo a um valor do Reino. É o Espírito Santo fazendo brotar em nós novos valores que frutifiquem o que é bom.

Nesse sentido, é bom que a gente perceba que há a mansidão natural e a sobrenatural, ou seja, pessoas que naturalmente possuem um temperamento mais calmo, tranquilo, e outras que adquirem essa característica, este valor.

Então, para deixar claro, quando falo da humildade e da mansidão como valores do Reino, não significa aquele tipo de temperamento ou comportamento que a pessoa recebeu de nascimento ou de berço, a educação que recebeu de seus pais, mas sim dos atributos divinos que Deus entrega a seus filhos.

Aqui não cabe mais a desculpa “eu nasci assim, vou morrer assim”, de forma alguma! Devemos procurar desenvolver esses atributos, tal como buscamos o fruto do Espírito, e novamente Jesus é nosso modelo e parâmetro.

Ser manso, na perspectiva bíblica, não significa ser tímido, introspectivo, calado, acomodado, molenga ou muito menos covarde, e por que eu digo isso? Porque Jesus, que foi o homem mais manso que já existiu, era um cara extremamente corajoso, valente mesmo, senão Ele não teria expulsado os vendedores do templo com um chicote feito de cordas, cf. João 2:15, e tantas vezes Ele não teria confrontado os fariseus e outros líderes religiosos de sua época.

Mansidão não tem nada a ver com esses adjetivos que citei. Pelo contrário, é um atributo de coragem, e eu digo mais, o manso não se cala frente a injustiça. Não!

Às vezes a gente pensa que o manso é aquele que fica calado pra tudo, isso porque fazemos uma má interpretação do texto de Mateus 5:39 de oferecer a outra face, no sentido de não lutar contra as injustiças, mas não, oferecer a outra face significa ceder a nossa vez, despir o nosso senso de justiça própria, mas quando a injustiça envolve outra pessoa, aí não, a gente não pode ficar calado vendo o outro sofrer! A Palavra de Deus manda a gente defender o direito do órfão e da viúva, do pobre e do oprimido pela sociedade, isso também é função e característica de quem é manso.

Mansidão, no dicionário bíblico, significa “a força revestida de veludo. É a calma, a tranquilidade e o equilíbrio emocional. A mansidão é necessária para agradar a Deus, para a convivência e para manter a paz”.

Vejamos com calma. Mansidão é, em primeiro lugar, “uma força revestida de veludo”, ou seja, não é uma fraqueza como nosso mundo prega. A pessoa pode ser mansa e ser destemida. Na verdade, a pessoa mansa normalmente é aquela que é corajosa e entende bem a força que possui, e tem a sabedoria para agir na hora certa e da forma adequada, sem se exasperar, sem piorar uma situação que já pode ser ruim.

De fato, penso que no atributo da mansidão em boa medida está o chamado a ser pacificador, pois o manso nesse caso é aquele que não põe lenha na fogueira, não faz a violência escalar, progredir, é aquele que está disposto a cumprir a ordenança de Jesus de dar a outra face caso receba um tapa (nesse caso faz sentido esse versículo!), e não partir pra porrada como infelizmente é o “normal”.

Perceba que, então, o manso-pacificador não pode significar ser fraco, pois num cenário de confrontação, de agressão, o fraco faz bem em não revidar ou reagir não por mansidão, mas por prudência… O manso é o forte, pois tem condição de reagir, sabe que poderia quem sabe até neutralizar a agressão ou o agressor propriamente dito, mas escolhe, com base no atributo do Espírito, na sabedoria de ler e entender a situação, que para honra do nome do Senhor e benefício do seu reino deve baixar as armas.

Mansidão anda lado a lado com a temperança, ou seja, a moderação (ou modéstia, que por sua vez é parente da humildade), e o autocontrole (ou domínio próprio), outro aspecto do fruto do Espírito.

Em segundo lugar, “ela é a calma, tranquilidade e equilíbrio emocional”. Acho que aqui reside a chave para a compreensão desse valor do Reino. Equilíbrio, e equilíbrio emocional. Ah, meus irmãos, como precisamos desenvolver esse atributo, como é urgente aprendermos a viver vidas equilibradas: 1) equilíbrio em nossos trabalhos, 2) em como gastamos nosso tempo, 3) em nossas finanças, 4) em nossos relacionamentos e, principalmente, 5) em nossas emoções. Vivemos em um mundo de pessoas emocionalmente doentes e infelizmente temos sido apenas mais uma delas por não conseguirmos aprender esse valor do Reino.

Em terceiro lugar, a mansidão “é necessária para agradar a Deus, para a convivência e para manter a paz”. Imaginemos, por um instante, se no mundo em que vivemos não houvesse pessoas mansas. Qualquer batida ou fechada no trânsito descambaria para as vias de fato ou até coisa pior. Maridos e esposas que já vivem em pé de guerra, mas conseguem se tolerar mutuamente, perderiam o controle e viveríamos realidades de violência doméstica ainda mais terríveis. Policiais não teriam o necessário controle para realizar prisões, para fiscalizar, para “servir e proteger” como diz o lema…

Nenhuma convivência humana é possível sem um mínimo de mansidão. Precisamos tomar a decisão de refrear nossos sentimentos egoístas de autopreservação, autossatisfação e imediatismo, e sim, isso pode e normalmente é cultivado “naturalmente” na sociedade para o benefício coletivo e para que a civilização se mantenha, mas somente quando buscamos desenvolver a mansidão que nos é dada pelo Espírito é que vamos além da mera convenção social e do simples utilitarismo.

Quando cultivarmos esse tipo de mansidão em nossas vidas, a promessa de herdarmos a terra, cf. Salmos 37:11 citado por Jesus no sermão da montanha, se tornará realidade, herança que é física, as coisas deste mundo, mas é principalmente espiritual. Somos chamados filhos de Deus, como pacificadores que somos, e pela filiação temos os direitos inerentes a essa condição, o maior deles a vida eterna que Deus reservou aos seus.


3 – Aprendendo a ser humilde

Para falar sobre a humildade, vamos começar deixando claro, de uma vez por todas, que ela não significa pobreza ou escassez de recursos materiais. Então, chega de nos referir a uma pessoa nessas condições como “humilde”, quando na verdade, se pensarmos bem, provavelmente você, como eu, já deve ter conhecido alguém que era financeiramente pobre, mas era uma pessoa arrogante, ou talvez o contrário, alguém rico, com casa própria, carro, e outros bens que a sociedade enxerga como sinais exteriores de riqueza, mas que era uma pessoa humilde.

O humilde, então, é o que não confia ou se apoia nas suas próprias potencialidades, riqueza, força ou poder, nem se considera superior a outras pessoas.

Vejamos o que diz o texto de Filipenses 2:3-8:

Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.

Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.

De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.

Por meio de sua encarnação, Jesus nos ensina que devemos nos humilhar em busca e em prol do outro, do nosso próximo, do nosso semelhante. Cristo é o ser mais poderoso do universo, um com Deus e Deus mesmo, e não teve apego à sua glória e poder naquele momento, uma vez que tinha como alvo obedecer ao Pai e demonstrar o seu amor por nós.

Então nós, da mesma forma, devemos nos despir das nossas vaidades enquanto vamos em direção ao que está caído na sarjeta, àquele que está passando necessidade, ao pecador que, como nós um dia, ainda não recebeu a mensagem do evangelho do arrependimento e salvação, não creu em Jesus como Senhor e Salvador de sua vida, e nós seremos aqueles que, de pés descalços, iremos ao seu encontro, quando, na maioria das vezes, ele não pode vir ao nosso.

É humilhação própria, matar o nosso eu, e não humilhar o outro, veja bem a diferença! Humilhar-se é ceder a vez ou, como o apóstolo falou, considerar os outros como superiores a nós mesmos, não atentar apenas para nossas próprias necessidades ou conveniências.

Aliás, na raiz da humildade está necessariamente o amor (e vice-versa), senão vejamos um trecho do conhecido texto de 1 Coríntios 13 sobre esse atributo e dom do Espírito:

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; – 1 Coríntios 13:4,5

A humildade, então, é uma forma de demonstrar o amor altruísta. Na verdade, o verdadeiro amor cristão é um amor humilde, porque não temos como viver, experimentar ou praticar um amor arrogante, soberbo.

Infelizmente, muitos de nós temos sido infectados com os valores da sociedade e não do Reino, que pregam que devemos ser grandes, ricos, famosos, em tempos de redes sociais conquistar muitos seguidores, e ainda damos a desculpa de que fazemos essas coisas para o engrandecimento do Senhor, para propagação do Evangelho, quando sabemos bem que é para alimentar nosso ego, nosso “amor-próprio”, vaidade de vaidade, como diria o autor de Eclesiastes.

Nesse mundo centrado em si mesmo, em nós mesmos, isso não é outra coisa senão idolatria, onde tiramos Deus de seu lugar, o centro, o primeiro, e colocamos o ser humano, o nosso “eu”.

Mas veja o que a Palavra diz, contradizendo esse fenômeno dos tempos modernos:

[…] Sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte […] – 1 Pedro 5:5b,6

E ainda Tiago, irmão do Senhor:

Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará. – Tiago 4:10

O remédio para a soberba é a humilhação voluntária, a sujeição que destrona o “eu”. Se o mundo prega a glória e a exaltação, que na verdade são falsos, pois vêm de nós mesmos e dos homens, a verdadeira glória e exaltação vêm de Deus, e Ele só faz assim com aqueles que se humilham. É o que diz os textos que acabamos de ler.

Humilde é o homem ou a mulher que sempre está disposto a aprender, e aprender de Deus, nunca está satisfeito com o que acha que sabe ou pior, tem a audácia de achar que sabe muito, que conhece tudo, que já viveu tudo que tinha a viver. É a pessoa ensinável. Só sendo humildes desenvolveremos a capacidade de aprender, e então responderemos ao convite-ordem de Jesus, de aprender dEle.

O arrogante, mesmo em face ao mandamento de Jesus não se submete pois acha que não precisa, é autossuficiente, o oposto de humilde.

Pra concluir esta seção, uma palavra aos “poderosos”. Por “poderosos”, e não falo de maneira depreciativa, quero dizer todos que possuem alguma característica que o mundo considera como uma vantagem pessoal, algo digno de nota, como, por exemplo, se é uma pessoa bonita pelos padrões sociais; se é rico – e aqui não vou entrar no mérito de estatísticas do IBGE, mas se eu ou você temos casa, carro e emprego certamente já somos “ricos o suficiente”; se tem uma formação acadêmica de nível superior, talvez mais de uma, quem sabe uma pós-graduação, mestrado etc.; ou mesmo que seu poder, sua “força” tenha caráter religioso, porque eu ou você “servimos muito” no reino, talvez lideremos um ministério, ou até se sou um missionário ou pastor…

Jeremias 9:23 e 24 diz o seguinte:

Assim diz o Senhor: “Quem tem muito conhecimento não deve se orgulhar disso; o homem poderoso não deve se orgulhar do seu poder, nem o rico de suas riquezas.
O único motivo de se gloriar diante de todo esse povo deve ser me conhecer de fato e saber que eu sou o Senhor que mostra ao mundo o verdadeiro amor, a verdade e a justiça, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o Senhor.

Se possuir alguma dessas “vantagens competitivas” afeta a maneira como eu ou você nos dirigimos ou nos comportamos com relação a outras pessoas, no sentido de começarmos a nos sentir mais importantes, mais merecedores, ou talvez que o outro seja menos importante, ou não tão merecedor assim, então, certamente, o orgulho está afetando nosso espírito e nosso pensamento.

É hora, meus irmãos, de novamente trilharmos o caminho da auto-humilhação perante o Senhor, reconhecendo que não somos tão bons assim, que não somos nada, não valemos nada e até o pouco que valemos é devido à sua imensa graça e misericórdia para conosco por meio da vida e obra de Jesus, então não temos motivo para nos exaltarmos, não temos motivo para nos orgulharmos senão em Jesus, na obra dEle em nossas vidas, em sua cruz, em seu sangue.

O apóstolo Paulo fala sobre isso em Gálatas 6:14:

Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.

Por que ele falou essas palavras? Porque uma das maneiras mais sutis que o orgulho tenta se disfarçar e se infiltrar no coração humano, especialmente do servo e da serva do Senhor, é por meio de aparência de piedade, aparência de santidade.

Como assim? É você e eu acharmos que somos alguma coisa por causa daquilo que fazemos no reino. Aí meu irmão, minha irmã, está a nossa queda. É a mesma tentação do início, da serpente a Adão e Eva, de tentar fazer a gente acreditar que é bom, que é igual a Deus, nem que seja só um pouquinho…

O mesmo Paulo, dois versículos antes, fala sobre os que “querem mostrar boa aparência na carne”… É uma aparência que é somente externa, uma casca vazia, por isso na carne. A aparência genuinamente boa flui naturalmente do espírito, de dentro para fora, e não temos que nos “amostrar”, que aparecer. Quem se preocupa demais em aparecer, coloca Cristo em segundo lugar, mesmo que use “Jesus” ou um discurso religioso qualquer como pretexto ou desculpa.

O pior é que muitos que se esforçam demais em aparentar algo, especialmente no meio religioso, escondem um coração distante dos caminhos do Senhor. Veja a descrição que Paulo oferece a Timóteo sobre a nossa geração, sim a nossa geração! Está em 2 Timóteo 3:1-5:

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.

Mas como pode, homens com características tão ruins terem alguma aparência de piedade? Hipocrisia. Lugar comum no meio religioso atual infelizmente.

Paulo, em 1 Coríntios 1:26-31, diz assim:

Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.
Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.
Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor.

Então cuidado se você acha que tem muito a oferecer ao Reino, como se o Senhor dependesse de você, ou precisasse de mim, pecadores miseráveis que somos… Deus não escolhe os melhores, na verdade Ele escolhe quem Ele quer, mas normalmente aqueles que não possuem essas virtudes ou predicados todos exatamente para que a glória nasça e permaneça nEle!

O conhecido texto de Efésios 2:8-9 diz:

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie;”

Ninguém tem a competência, os atributos, as qualidades para se gloriar. Quem poderia? Só Jesus! Obras? Que obras? O que, sinceramente eu poderia fazer para me gloriar em alguma coisa?

Ah, meus amigos, nesses dias onde vemos irmãos e até líderes do povo de Deus se exaltarem, gastando tempo e esforço em busca de aplausos, migalhas de popularidade, seguidores em redes sociais, que carência é essa, que necessidade de autoafirmação, como se pudéssemos utilizar no Reino as mesmas estratégias e métodos de crescimento que as pessoas utilizam no mundo em seus negócios, e ainda dando a desculpa esfarrapada de que é pra fazer conhecido o nome de Jesus…

É nada, meu povo, pode até ter começado assim, dando um voto de graça ao irmão que porventura esteja fazendo isso, mas chega um ponto e já chegou, onde a igreja, eu e você, precisamos cada vez mais fazer como João Batista, cf. texto de João 3:30 “É necessário que ele cresça e que eu diminua”.

Jesus só vai crescer quando eu e você diminuirmos. Se o nosso interesse é crescer e aparecer, pode ter certeza que Jesus ficará em segundo plano, por “melhores” que sejam as nossas intenções. O melhor cenário sempre será quando nós somos a vírgula ou a nota de rodapé da história de Jesus e não quando Ele é a nota de rodapé da nossa história, afinal Ele é o Senhor da história, incluindo a minha e a sua.


Conclusão

Essa ordem disfarçada de convite não poderia ser mais atual e mais necessária.

Jesus nos chama a uma jornada de discipulado, que parte do seu exemplo, Ele que foi a encarnação da mansidão e da humildade. Ninguém que aqui andou e viveu foi mais humilde e manso do que Ele, o próprio Deus que desceu à Terra e assumiu a forma de uma de suas frágeis criaturas, abdicando momentaneamente do esplendor de sua glória, de todo o poder do Universo que lhe pertence, nascido como um pequeno bebê de uma família pobre do interior de Israel. Ele que deu sua vida como ovelha muda perante os seus tosquiadores, cf. Isaías 53:7, o Senhor dos Senhores e Rei do Universo sofreu o impensável por amor de mim e de você.

O texto que estamos meditando termina com “e encontrareis descanso para as vossas almas”. Essa não deve ser a motivação principal ou única da nossa busca por mansidão e humildade em nossas vidas, mas sim sermos mais parecidos com o Senhor. No entanto, na medida em que esses valores do Reino impregnam a nossa alma, ela acha o descanso que nenhum outro lugar, nada mais e ninguém pode oferecer.

Antes de terminar, eu gostaria de pedir perdão a algum irmão se porventura ofendi alguém com minhas palavras duras. Eu não tenho prazer em trazer palavras duras e dar patada no púlpito. Não! Eu tento, realmente, na medida do possível, falar única e exclusivamente o que Deus falou comigo em primeiro lugar, e o que Ele mandou trazer à igreja.

Eu estou no mesmo barco que todos. Eu, por exemplo, sou constantemente desafiado quando dirijo em nossa selva urbana todos os dias e me deparo com pessoas que não respeitam as mais básicas leis de trânsito. Eu não estou falando de etiqueta social ou gentileza, estou falando de lei, algo que todo mundo deve cumprir, e, no entanto, eu tenho que respirar fundo pra não xingar, não reagir, mas isso aí, meu irmão, é pra você ter uma ideia de que cada um, da sua forma, também é desafiado com relação aos atributos da mansidão e da humildade.

Por que?

Porque quando Cristo nos chama a uma jornada de aprendizado, a pedagogia é muito simples: Ele ensina, e depois vem a prova. A gente sabe disso do colégio, da faculdade, a gente tem aula e depois é testado. Então, se a gente é chamado por Cristo a aprender dEle mansidão e humildade, e esse é o desejo do nosso coração, pode ter certeza que a gente vai ser testado e provado com relação à nossa mansidão e humildade. Eu não sei como vai ser, mas a certeza é que a gente vai ser testado. Então a gente tem que pedir a Deus muita calma nessa hora, muita humildade, pra realmente pôr em prática o que a gente tem aprendido. Não adianta acharmos que a gente vai aprender de Jesus mansidão e humildade pra deixar guardado no bolso ou no livro, apenas como uma teoria, não é assim que funciona. É mais como uma atividade física, que a gente vai fazendo musculação e é dureza, a gente vai puxando peso, na máquina, e o músculo dói, e só depois de muito tempo é que a gente vê o resultado e é a mesma coisa com a mansidão e a humildade. No começo, a gente apanha, erra, cai, mas depois de um tempo nessa jornada, o Espírito Santo vai trabalhando em nosso caráter de maneira que esses atributos se tornam uma realidade em nossa vida.

Cada pessoa sabe onde o calo aperta, no sentido de onde é tentado, mas a tentação com relação à arrogância, ao orgulho e à destemperança, à irritabilidade e à grosseria, que é onde a gente precisa trabalhar e desenvolver os atributos da mansidão e da humildade, afetam nós todos, a humanidade em geral, e nós que somos líderes sofremos ainda mais com essas tentações, nós muitas vezes somos tentados até mais do que a média nesse sentido, porque é muito fácil você estar aqui na frente numa posição de destaque e se orgulhar, se envaidecer “Ah, não, porque Deus me usou”, “Ah, porque eu fui instrumento nas mãos de Deus”, “Ah por que isso ou aquilo outro”, é muito fácil cair nessa tentação.

Perceba que o Diabo, ele tenta até o próprio Senhor, como a gente vê em Lucas 4, no episódio da tentação de Jesus, uma das formas do Diabo tentá-lo é através do orgulho, mas ele que se enganou achando que ia tentar o Filho de Deus e o próprio Deus, tentar fazê-lo cair nessa pegadinha, e é isso que Jesus quer nos ensinar, a sermos humildes, a sermos mansos, e como eu falei e repito aqui, humildade e mansidão não significam ser fraco, muito pelo contrário, é só o forte que pode ser manso, é só o forte que pode ser humilde.

A minha oração hoje é primeiramente reconhecendo e me arrependendo por ser um homem de temperamento difícil, nada dócil, de espírito altivo que precisa se humilhar perante Deus, e que habito no meio de um povo também rebelde e arrogante.

Uma vez que reconhecemos isso, devemos pedir ao Pai que desenvolva em cada um de nós a mente de Cristo, o seu caráter, trabalhe em nossas vidas nos fazendo pessoas mais mansas e humildes. Se queremos ser mais parecidos com Jesus, um bom começo é aprendendo a ser mansos e humildes como Ele foi.

Deus nos abençoe.

Pessach

Eis que, quando nós entrarmos na terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e recolherás em casa contigo a teu pai, e a tua mãe, e a teus irmãos e a toda a família de teu pai.
Será, pois, que qualquer que sair fora da porta da tua casa, o seu sangue será sobre a sua cabeça, e nós seremos inocentes; mas qualquer que estiver contigo, em casa, o seu sangue seja sobre a nossa cabeça, se alguém nele puser mão.
Porém, se tu denunciares este nosso negócio, seremos desobrigados do juramento que nos fizeste jurar.
E ela disse: Conforme as vossas palavras, assim seja. Então os despediu; e eles se foram; e ela atou o cordão de escarlata à janela. – Josué 2:18-21

Páscoa origina-se do “pessach” judaico, celebração da libertação do povo hebreu da escravidão do Egito por Jeová, onde um cordeiro fora imolado e seu sangue espargido nos umbrais de cada porta por onde passaria o anjo da morte que daria cabo da 10ª praga, a matança dos primogênitos, matança que permitiu finalmente o povo ser despedido após a dor chegar na casa do próprio faraó.

Assim como no “pessach” o anjo passaria por sobre a casa marcada pelo sangue, também o exército de Israel passou ao largo da casa de Raabe que resolveu confiar em um Deus que não conhecia pessoalmente, pois sua cidade, Jericó, adorava os deuses dos cananeus, confiar em um Deus estrangeiro, desconhecido senão por ter livrado um povo que escolheu como seu do faraó do Egito, um mero homem que se auto-intitulava deus, um Deus que abriu o mar Vermelho e controlava as forças da natureza pois Ele mesmo as criara. Que deus seria então como o Deus de Israel?

Muitos anos depois outro cordeiro seria imolado, por causa de seu sangue então o anjo da morte novamente passa ao lado sem tocar naqueles por ele marcados. O sangue do cordeiro pascoal, Jesus Cristo, Filho do Deus altíssimo, é o preço pago em nosso resgate, lavou-nos do pecado e selou-nos como povo de propriedade exclusiva do Pai.

Uma vez na história um povo foi liberto pelo sangue, outra vez a história de repete, dessa vez de forma definitiva, não apenas o povo de Israel mas um povo que se chama pelo nome do Senhor, uma igreja formada de homens e mulheres imperfeitos, pecadores chamados para serem santos, separados de todos os povos, tribos, línguas e nações.

Faça como o povo de Israel no Egito, aceite o sangue do cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo em sua vida. Como Raabe, confie em um Deus que talvez você não conheça direito, alguém de quem você apenas ouviu falar, sabendo que Ele foi fiel para aquele povo, para aquelas pessoas, e permanecerá sendo fiel a nós também.

Faça isso hoje. Que a “pessach” também signifique passagem para você hoje, a passagem de uma vida de escravo do pecado, para filho liberto, de alguém sem esperança vivendo num mundo vazio e corrompido, para um novo homem que foi adotado pelo próprio Deus, o Deus que ofereceu seu Filho na cruz do Calvário por mim e por você.
Deus nos abençoe.

A sabedoria de Deus

Pregação ICS 01/03/2020 – A sabedoria de Deus

Texto base: Provérbios 9:10

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência.

Introdução

Temos visto nos últimos domingos uma série de mensagens sobre os atributos de Deus, atributos que podem ser incomunicáveis, ou seja, que são exclusivos seus, Ele não compartilha com ninguém, como a soberania ou a onipotência, e atributos comunicáveis, que Ele comunica a nós seres humanos, e já vimos o amor e a justiça como alguns desses atributos.

A respeito de atributos de Deus há duas coisas que temos que ter em mente:
1) Por que saber a respeito dos atributos de Deus?
Conhecer os atributos de Deus não deveria significar simplesmente conhecer mais “sobre” Deus, embora isso possa ser bom e útil. Explico. Digamos que eu queira conhecer os atributos da minha esposa, sua altura, idade, cor de olhos, preferências. Isso pode ser útil para desenvolver intimidade em nosso relacionamento. Mas se eu tiver essas informações apenas guardadas em uma pasta ou na memória e não aplicá-las na nossa vida a dois, se a partir desse conhecimento eu não aumentar meu apreço por ela, não despertar cada vez maior amor, não serve de nada, entendem onde quero chegar?

Quando conheço quem Deus é por meio de seus atributos, como Ele escolheu se revelar, eu passo a perceber quão grande, quão santo é esse Deus, e quão minúsculo eu sou, miserável pecador, e então valorizo mais a maravilhosa graça que Ele manifestou em minha vida ao enviar seu filho Jesus para morrer em meu lugar.

2) O que isso significa para mim hoje?
Conhecer “sobre” Deus filosoficamente, teologicamente, é bom? É bom. Mas se isso ficar apenas na teoria, não transformar quem eu sou hoje, não me trouxer para mais perto dEle, não mudar a minha mente, minhas atitudes, minhas ações, de que adianta?

E não estou falando aqui de um pragmatismo religioso, como infelizmente tem sido comum em nossos dias. No entanto, a lei da semeadura é bíblica (cf. Gálatas 6:7), e se plantamos em busca do Senhor, sua face, sua presença, certamente colheremos em intimidade, em conhecê-Lo mais e profundamente.

Aprender sobre os atributos de Deus, portanto, deve me levar ao lugar correto de entendimento sobre quem Ele é, quem eu sou, e como me relacionar melhor e mais profundamente com Ele. Assim, teremos plena condição de rejeitar os falsos deuses que pregam por aí, mesmo em religiões que se dizem cristãs. Será que o deus deles é realmente o nosso Deus? Será que o “Jesus” que é pregado por aí é o mesmo Jesus de Nazaré, o Deus conosco?

Os atributos comunicáveis de Deus, os recebemos inicialmente por sermos criaturas suas, feitos à sua imagem e semelhança, conforme Gênesis 1:26.

Sermos feitos à imagem e semelhança de Deus implica que herdamos algumas de suas características, como justiça e bondade, capacidades que o homem só possui por ter sido moldado e soprado por um Deus que é justo e bom.

John Stott, em seu livro “Crer é também pensar”, diz que “Deus fez o homem à sua própria imagem, e um dos aspectos mais nobres da semelhança de Deus no homem é a capacidade de pensar”.

No entanto, embora tenhamos sido criados assim, o pecado nos afetou de tal forma, que desde a queda de Adão caminhamos a passos largos para longe desse Deus, nos distanciamos do seu projeto original para nossas vidas que é louvar e engrandecer o seu nome, estamos cada vez menos parecidos consigo, cada vez menos humanos e mais animais irracionais.

Valorizamos cada dia mais não a sabedoria, mas sim a cultura inútil, a futilidade. O pecado, a concupiscência da carne e o diabo nos afastam de Deus, e, ao fazê-lo, afetam nosso modo de pensar, de refletir, raciocinar, nossa moralidade e senso de certo e errado. É a sociedade alimentada pela televisão e acostumada a ver reality shows ao ponto de perder o discernimento, o entendimento do que é realmente belo, do que é correto, do que é verdade, do que é sábio. A tolice e a vulgaridade são coroadas e entronizadas em nossas mentes e nossos corações.

A sabedoria como um atributo comunicável de Deus é algo que devemos conhecer e buscar para nos relacionarmos melhor com Ele: quem Deus é, como Ele é, o que pensa, qual sua vontade para nossas vidas, com quem devemos nos parecer.

1 – A sabedoria no Pai
Quando a Palavra fala de Deus e faz menção à sua mão, seu rosto, ou algum tipo de ação ou comportamento que são naturais de um ser humano, na verdade trata-se de uma figura de linguagem chamada antropomorfismo, ou seja, por incapacidade do idioma e da racionalidade humana de descrever aquilo que é impossível de ser descrito, como fazer caber um oceano em um copo d’água, é que os autores bíblicos descrevem Deus como o fazem, tentando trazer para mais perto esse conceito absolutamente outro, além da compreensão, além da lógica.

A sabedoria de Deus não é igual, portanto, à nossa sabedoria, nem que considerássemos o somatório de todo conhecimento já produzido pela raça humana, e falo apenas de conhecimento, que dirá sua aplicação prática de maneira útil e boa.

De fato, a “sabedoria” do mundo normalmente é muito diferente daquilo que a Palavra chama de verdadeira sabedoria. O ser humano considera sábio o intelectual, ou o esperto, o experiente nas coisas da vida, e não necessariamente aquele que teme ao Senhor, esse sim sábio, mesmo que não tenha muita idade ou experiências para contar, ou seja considerado inculto pelos nossos padrões.

A sabedoria bíblica começa por temer ao Senhor, mas não um medo fisiológico, pânico, pavor, e sim um sentimento de admiração profunda e constrangimento que nasce no reconhecimento de quão grande Ele é, seus atributos, quem Ele é e quem nós somos, da distância que nos separa de sua perfeição, de que em tudo dependemos dEle.

Em Deus Pai, o temor do Senhor é o princípio da sabedoria porque esse temor, como a fé, nasce do próprio Deus. É Deus como arquiteto e planejador da história da humanidade, da minha e da sua. É impossível ao ser humano se achegar a Deus e reconhecer sua grandeza sem que Ele mesmo lhe atraia, lhe proporcione esse entendimento que é espiritual. Em outras palavras, é impossível que uma criatura morta em delitos e pecados, como éramos, adquira vida por conta própria. É necessário que algo, ou melhor, alguém externo e capaz tenha o poder e decida lhe dar vida. É o milagre de Deus em nosso favor.

A maneira como desenvolvemos a sabedoria é conhecendo ao nosso Deus. Oseias 6:3 diz assim:

Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.

Esse conhecimento não é meramente intelectual, mas experiencial; no entanto, é um conhecimento que passa sim pelo exercício das nossas faculdades mentais, e que julga as experiências pelas quais passamos por aquilo que Ele mesmo revelou em sua Palavra.

A sabedoria que Deus nos dá trabalha através do aprendizado, mas vai além, obviamente, porque é de cunho espiritual. Na verdade, esse atributo de Deus se manifesta mesmo em pessoas não estudadas, conforme vemos a narrativa de Atos 4:13, onde os sacerdotes e líderes religiosos de Israel ficam maravilhados da sabedoria dos seguidores de Jesus, homens sem educação formal, sem treinamento religioso pelos padrões de então, pessoas rudes que a sociedade não acreditaria em suas palavas se não houvesse o respaldo da sabedoria que vem do alto.

Além do texto base da mensagem de hoje que fala sobre sabedoria, todo o livro de Provérbios é uma coleção não de frases de efeito, ou de versículos que guardamos em caixinhas de promessas como os antigos crentes faziam, nem ditados populares do povo judeu, misturando cultura e religião, que acaba virando crendice e superstição. Não! Salomão, o homem mais sábio que já existiu, escreveu suas percepções acerca da sabedoria por forte inspiração do próprio Deus.

Aliás, vejamos como Salomão recebe esse atributo de Deus em sua vida, que se encontra narrado em 1 Reis 3:5-14.

Naquela noite, o Senhor apareceu a ele num sonho e disse: “Peça-me o que quiser, e eu darei a você!”
Salomão respondeu: “O Senhor foi muito bondoso para com o seu servo, o meu pai Davi, porque ele foi honesto, verdadeiro e fiel ao Senhor e obedeceu aos seus mandamentos. E o Senhor continuou a mostrar grande bondade por ele, dando-lhe um filho para reinar em seu lugar.
Agora, Senhor, meu Deus, o Senhor fez o seu servo reinar em lugar de meu pai Davi, mas eu sou como um menino pequeno que não sabe andar sozinho. E aqui está o seu servo no meio do seu povo escolhido, uma nação tão grande que nem se pode contar. Dá ao seu servo um coração compreensivo, de modo que eu possa governar bem o seu povo e prudentemente discernir entre o que é certo e o que é errado. Pois quem é capaz de julgar este seu grande povo?”
O Senhor se agradou com o pedido de Salomão. Por isso Deus respondeu: “Já que você pediu sabedoria para governar o meu povo, e não uma vida longa ou riquezas para si, ou a morte dos seus inimigos, mas entendimento para discernir o que é justo, vou dar o que você me pediu! Vou dar um coração mais sábio e entendido do que o de qualquer outra pessoa nascida antes ou depois de você! E também vou dar o que você não pediu: riquezas e honra! Ninguém, em todo o mundo, será tão rico e famoso quanto você, pelo restante de sua vida! E eu darei a você uma vida longa se você me seguir e obedecer às minhas leis e aos meus mandamentos, como fez o seu pai Davi”.

Percebam que Salomão não pede riquezas, nem poder, nem prosperidade, fama, sucesso – mesmo indiretamente, sabedoria para adquirir essas coisas, mas muito humildemente reconhece sua fraqueza, o enorme poder de Deus, e sua dependência dEle e nEle para governar o povo. O que ele pede é sabedoria, mas não qualquer sabedoria, não qualquer conhecimento ou inteligência, e sim aquela que só Deus pode dar e que nunca é adquirida para benefício exclusivo próprio, mas que redunda em bençãos para a comunidade, especialmente para o povo do Senhor.

Outra pessoa que viveu uma experiência incomum de descobrir esse atributo do Senhor é Jó. Esse personagem bíblico já era uma pessoa religiosa, de fé, que praticava a justiça e a caridade. E, no entanto, privado de seus bens, sua família, sua saúde, ele passa a questionar a Deus, que lhe responde, numa expressão bem cearense, “tirando de tempo”. Deus lhe fala, em uma demonstração de poder e sabedoria, que Jó, mera criatura, não tem como questionar o seu criador.

Quem somos nós para achar que sabemos algo? Quem pensamos que somos para imaginar que podemos caminhar ao largo do Senhor? Que “sabedoria” seria a nossa, o que poderíamos construir ou realizar? Loucura, na verdade, isso sim…

Deus repassa com Jó sobre a imensidão do poder que tem sobre a natureza, os astros, os animais e o homem, e ao se deparar com tão grande poder e sabedoria, a reação de Jó, que deveria ser a nossa também, não poderia ser outra (cf. Jó 42:1-6):

Então Jó respondeu ao Senhor:
“Agora eu compreendo que o Senhor pode fazer todas as coisas e que ninguém pode impedir o Senhor de realizar seus planos.
O Senhor perguntou: ‘Quem é este que se atreveu a pôr em dúvida a minha sabedoria e justiça, sem conhecimento?’
Falei de coisas que eu não entendia, coisas que eu não conhecia, pois eram maravilhosas demais para mim.
“O Senhor me disse: ‘Escute-me, e eu falarei; vou fazer algumas perguntas que você responderá’.
Antes eu só o conhecia de ouvir falar, mas agora eu vejo o Senhor com meus próprios olhos.
Por isso, eu me arrependo de tudo o que disse; estou envergonhado e me cubro com o pó da terra e de cinza”.

O entendimento do homem, a sabedoria que ele acha que tem, é presente de Deus, é dom para ser usado para o benefício da sociedade, nasce dEle em favor nosso e deve voltar para Si, no sentido de reconhecermos quem Ele é, nos arrependermos e nos achegarmos a Ele.

2 – A sabedoria no Filho
Continuando, sempre que as Escrituras fazem menção a algum dos atributos de Deus, é importante salientar que esses atributos se estendem às três pessoas da trindade. É verdade, mesmo que um texto mencione um atributo como pertencente ao Pai, ao Filho, ou ao Espírito Santo em particular, podemos ter a certeza de que todos o possuem pois os três são um único e mesmo Deus e compartilham entre si a mesma essência e natureza.

Sendo assim, tudo que foi falado aqui nesses últimos domingos e hoje mesmo se aplicam perfeitamente a Jesus e ao Espírito Santo.

Tendo dito isso, em Jesus, os atributos invisíveis de Deus, comunicáveis e incomunicáveis, que apenas tentamos entender por aproximação ou aplicando a si aspectos e características humanas, Deus que é Espírito agora se torna humano como nós e então podemos perceber de maneira mais clara como somos parecidos, ou talvez o quão diferentes ainda somos dEle.

O que era intangível agora pôde ser tocado, habitou entre nós, o que era incompreensível, inalcançável, nós convivemos com ele, vimos suas reações, ouvimos sua voz e suas palavras.

Em Deus Filho, o temor do Senhor é o princípio da sabedoria porque Ele é o fundamento, ou seja, o alicerce. A sabedoria deve crescer sobre base sólida, e não sobre areia, e areia movediça como nós costumamos construir a nossa suposta racionalidade. Jesus em certa parábola (cf. Mateus 7:24-27) menciona dois homens, um que edifica a sua casa sobre a areia, e vêm as adversidades da vida sobre a forma de tempestades e temporais e põem àquela casa abaixo; enquanto outro constrói sua casa sobre a rocha, e cai a chuva e batem as ondas e ela tudo suporta, porque possui alicerce sólido, fundamento. Jesus, então, se apresenta como a rocha sobre a qual podemos e devemos construir o edifício das nossas vidas, e, se fazemos isso, demonstramos ter a sabedoria de Deus.

O apóstolo João, no princípio do seu Evangelho, descreve Jesus como “logos”, a “palavra”, aquilo que traz à existência as coisas que não existem e sustenta o universo com a força da sua sabedoria. Ele é o autor e o mantenedor da ordem que existe no mundo. Então, a capacidade do homem de refletir e investigar a natureza e aprender as leis existentes, aponta para esse Deus que é lógico, racional, sendo que a nossa ciência, nosso processo criativo, nada mais são que o atributo de Deus da sabedoria dada ao homem para encontrá-lO, para conhecê-lO e reconhecê-lO em tudo que vivemos e experimentamos.

Paulo, em Colossenses 2:1-4 diz assim:

Eu gostaria que vocês pudessem saber quanto tenho lutado em oração por vocês e pela igreja de Laodiceia, e por muitos outros que nunca me conheceram pessoalmente. Eis o que eu tenho pedido a Deus para vocês: que sejam encorajados e unidos por fortes laços de amor, e que tenham a preciosa experiência de conhecerem a Cristo com real convicção e clara compreensão. Porque o plano misterioso de Deus, agora finalmente revelado, é o próprio Cristo. Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
Estou dizendo isto porque tenho receio de que alguém possa enganar vocês com palavras persuasivas.

O que Paulo está dizendo é que em Cristo temos a completa, perfeita e última revelação do Pai. Tudo que precisamos, tudo que podemos alcançar, aprender, entender e conhecer do Pai temos em Jesus. Segundo Paulo, até a verdadeira ciência, se honestamente buscar conhecer a natureza de maneira isenta e racional, acabará por reconhecer a mente de um Deus criador, um ser inteligente que desenhou todas as coisas que existem.

O próprio Jesus, em João 14:8-11, fala aos seus discípulos sobre sua identidade com o Pai:

Filipe disse: “Senhor, mostre-nos o Pai, e ficaremos satisfeitos”.
Jesus respondeu: “Você nem sabe ainda quem sou eu, Filipe, mesmo depois de todo esse tempo que tenho estado com vocês? Qualquer um que me vê, vê o Pai! Portanto, como você está pedindo para ver meu Pai? Você não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu digo não são propriamente minhas, mas do Pai que vive em mim. E ele faz a sua obra por meu intermédio. Basta vocês crerem em mim quando eu digo que estou no Pai e que o Pai está em mim. Creiam nisto ao menos por causa das mesmas obras.

Então, se antes de Cristo o ser humano talvez pudesse alegar que possuía um Deus distante, incompreensível, inalcançável – embora saibamos que isso NÃO é verdade, basta lembrar de apenas um exemplo – Deus caminhando no jardim com Adão na virada do dia, cf. Gênesis 3:8, agora em Jesus nós temos um Deus que se manifesta perto, do nosso lado, para podermos vê-lo, tocá-lo, ouvi-lo, saber o que Ele pensa.

Os mistérios do Senhor, sua sabedoria, Ele escolheu revelar em Cristo àqueles que a sociedade despreza, conforme 1 Coríntios 1:25-31:

Esse plano de Deus, chamado de “loucura”, é bem mais sábio do que o plano mais sábio do homem mais sábio, e a fraqueza de Deus é muito mais forte do que a força do homem.
Observem entre vocês mesmos, queridos irmãos, que poucos de vocês que foram chamados eram sábios de acordo com os padrões humanos, poucos eram poderosos ou de nobre nascimento. Pelo contrário, Deus deliberadamente escolheu valer-se de ideias que o mundo considera loucura para envergonhar aqueles indivíduos que o mundo considera sábios e grandes e escolheu o que o mundo acha fraco para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que é insignificante e desprezado pelo mundo, e que não é levado em conta absolutamente para nada, e o utilizou para reduzir a nada aqueles que o mundo considera grandes, para que ninguém, em parte alguma, se vanglorie na presença de Deus. Porque é exclusivamente por iniciativa de Deus que vocês têm essa vida por meio de Cristo Jesus. Jesus se tornou sabedoria de Deus para nós, ou seja, justiça, santidade e salvação. Tal como se diz nas Escrituras: “Se alguém quiser se gloriar, que se glorie somente no Senhor”.

Deus, em Jesus, se fez fraco para alcançar os fracos, humilde para levantar os humildes, demonstrando que não é pela força do nosso braço, das nossas supostas virtudes, do nosso argumento lógico, cartesiano, do nosso esforço ascético que nós chegamos a um estado de “iluminação”, que nos tornamos “melhores” – que outros ou que nós mesmos.

Essa é a sabedoria de Cristo, que escolheu homens pecadores como nós para serem seus discípulos, pessoas menos que perfeitas, Ele escolheu o meio do relacionamento e não da religião de rituais, porque sabia que o homem sempre quer ter o controle, e na salvação, como em tudo na vida, na verdade, o controle é dEle, sempre dEle. A ilusão de possuirmos algum controle cai por terra em sujeição quando entregamos a Ele a nossa vida e o nosso cuidado.

3 – A sabedoria no Espírito
Isaías, profetizando sobre o futuro Messias, diz assim:

O Espírito do Senhor estará nele, o Espírito de sabedoria e entendimento, o Espírito de conselho e de poder, o Espírito de conhecimento e temor do Senhor – Isaías 11:2

Vejam a perfeita unidade do Espírito Santo com Jesus, como já falei: ambos partilham da mesma natureza, a mesma essência, os mesmos atributos, entre os quais a sabedoria. Sabedoria que se desdobra em entendimento, conselho, poder, conhecimento e volta ao temor, de onde começa.

O Espírito Santo desde o princípio é ministro de sabedoria aos seres humanos. Na história de Israel, após cometer uma série de pecados graves, o rei Davi suplica ao Senhor (cf. Salmos 51:11) que não retire dele o seu Santo Espírito, na compreensão de que Ele, além de muitas outras qualidades, era a fonte de toda sabedoria com a qual o rei podia enfrentar não só as agruras da própria vida, mas ainda ter a capacidade de conduzir e liderar o povo do Senhor.

Também em Daniel e nos demais profetas era esse mesmo Espírito quem concedia sabedoria que excedia a de seus contemporâneos ao ponto de reconhecerem que não eram meros mortais aqueles que estavam em sua frente, mas representantes do próprio Deus, cf. Daniel 5:11-14:

Há um homem no seu reino que tem em si o espírito dos deuses santos. Na época de seu pai, esse homem era cheio de inteligência e sabedoria. Ele parecia ser um deus! No reinado de Nabucodonosor, seu predecessor, ele foi nomeado chefe dos magos, encantadores, astrólogos e adivinhos de toda a Babilônia. Pois Daniel, esse homem a quem o rei deu o nome de Beltessazar, era cheio da sabedoria e da inteligência divina. Ele tem a capacidade de interpretar sonhos ou resolver enigmas e mistérios muito difíceis e solucionar qualquer caso. Mande chamar Daniel. Ele poderá dizer ao rei o que significam as palavras escritas na parede”.
Assim, Daniel foi levado às pressas à presença do rei, que lhe perguntou: “Você é aquele Daniel que o rei Nabucodonosor trouxe como exilado de Judá? Ouvi dizer que você tem o espírito dos deuses santos, que é um homem iluminado e cheio de inteligência e sabedoria.

Esse mesmo Espírito é quem dispensa dons aos filhos de Deus na época da igreja primitiva e ainda hoje como lhe apraz, conforme o apóstolo Paulo nos fala em 1 Coríntios 12:8:

A um o Espírito concede a palavra de sabedoria; a outro a palavra de conhecimento, e este dom vem do mesmo Espírito.

Esses dons, nada mais são do que capacidades ou operações suas, coisas que lhe são próprias e que Ele, por bondade e de maneira generosa nos dá para edificação do corpo de Cristo.

Sobre isso, Paulo fala em Efésios 1:16-17:

Oro constantemente por todos vocês, pedindo que Deus, o glorioso Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, lhes dê o espírito de sabedoria para que vejam claramente e realmente compreendam quem é Cristo e tudo o que ele fez por vocês.

É a unidade da trindade operando em nós por meio do Espírito, nos dando sabedoria por meio do Espírito, iluminando os nossos olhos com entendimento pelo Espírito!

Em Deus Espírito Santo, o temor do Senhor é o princípio da sabedoria porque é Ele mesmo quem edifica a nossa vida, purificando nossos pecados através da santificação que promove, nos tornando mais parecidos com o Mestre. Se Deus é o arquiteto deste edifício, Jesus o alicerce, o Espírito é o cimento que mantêm a obra em pé e une cada tijolo. Ele é quem preserva a Igreja, quem dá forma, quem sustenta e embeleza.

É o Espírito Santo quem revela a vontade de Deus ao homem por meio de sua Palavra. Se a sabedoria é um atributo de cunho prático, como aliás não deixam de ser os demais, é justamente Ele quem realiza em nós o querer de Deus, é Ele quem põe em prática os desígnios do Senhor na vida de cada um, da igreja e da sociedade como um todo.

4 – A sabedoria no homem
Pensando em tudo que vimos até aqui, na sabedoria enquanto atributo de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito, permanece uma pergunta: como nos apropriamos disso, como Deus comunica a nós seres humanos, e mais ainda, como nós, que somos seus filhos, recebemos essa característica de Deus, ainda que de maneira imperfeita e reduzida?

A primeira coisa que precisamos entender sobre a sabedoria de Deus no homem é que ela se estende aos homens de modo geral. Toda a humanidade tem a capacidade de herdar esse, como os demais atributos comunicáveis, pelo simples fato de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, como já falamos. É impossível negarmos que Deus age com sua graça geral em favor de toda a humanidade. Sim, porque Deus não abandonou os homens à sua própria sorte como creem alguns.

Jesus disse, no sermão do monte, que Deus “envia a luz do sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e derrama a chuva sobre os justos e sobre os injustos” (cf. Mateus 5:45). Ele é o Senhor do tempo e da história, e não apenas interferindo pontualmente em acontecimentos que, de outro modo, se dariam sem o seu conhecimento. NÃO! Ele está sempre alerta (cf. Salmos 121:4)! Deus é o maestro dessa orquestra, regendo com perfeição os acontecimentos de maneira a cumprir o seu propósito e glorificar o seu nome!

Deus deu ao homem sabedoria para perseguir avanços na ciência e no conhecimento, criar, pensar, imaginar, abstrair. Se os animais possuem um pouco de inteligência que os leva a responder aos estímulos através dos seus instintos, o homem vai além e pode decidir, agir com base em uma reflexão prévia.

Essa sabedoria, convenhamos, é o uso do conhecimento para glorificar a Deus, mesmo que por meio de pessoas ímpias e que não reconhecem o domínio do Senhor sobre suas vidas. No entanto, quando nós, que nos dizemos cristãos, usamos o conhecimento que adquirimos para outra finalidade que não glorificar a Deus, nós desprezamos o atributo da sabedoria.

Conhecedores desse Deus sábio e que nos coloca à nossa disposição sua própria sabedoria, devemos fazer como o apóstolo Paulo em Colossenses 1:9,10:

Assim, desde que ouvimos falar a respeito de vocês, não deixamos de orar por vocês e pedir a Deus que os ajude a compreender o que ele deseja que vocês façam, e que os torne sábios nas coisas espirituais, a fim de que a maneira de vocês viverem sempre agrade ao Senhor e o glorifique, para que vocês sempre façam pelos outros coisas boas e agradáveis, crescendo no conhecimento de Deus.

Nossa busca diária deve ser por sermos cheios do conhecimento da vontade de Deus, em toda a sabedoria e inteligência espiritual, que vão além dos atributos naturais, que já recebemos. Essa sabedoria, a inteligência, não são os instrumentos humanos, como a lógica, a retórica, a oratória. Não é um acúmulo de conhecimento para engrandecimento pessoal, aquisição de títulos, dinheiro ou fama. Não! Pelo contrário, embora todas essas coisas tenham algo de útil, o tipo de sabedoria que Deus nos convida a adquirirmos é algo que só Ele pode oferecer e que muitas vezes contradiz a suposta ciência e conhecimento humanos.

Mas, infelizmente, até nas coisas espirituais queremos continuar agindo com nossos métodos humanos, como, por exemplo, na pregação da Palavra e serviço na Igreja. Meus irmãos, deveria ser claro e cristalino como a água, mas quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo (cf. João 16:8). Quem deve agir é a sabedoria que vem do alto e de dentro, e não a força do meu ou do seu argumento, por melhor que seja, por mais intelectual, correto ou embasado que esteja e não que não seja importante, mais uma vez, estudarmos, nos prepararmos, nos capacitarmos pra não falar ou fazer besteira por aí.

Sobre isso, vejamos o que Paulo diz em 1 Coríntios 1:17, um pouco antes do trecho que lemos antes:

Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; e até minha pregação parece simples, pois não prego com palavras de sabedoria humana, com receio de esvaziar o poder grandioso que há na mensagem da cruz de Cristo.

E mais adiante:

[…] a mensagem e minha pregação foram muito simples, não com oratória persuasiva e sabedoria humana; entretanto, o poder do Espírito estava em minhas palavras, provando a todos quantos as ouviram que a mensagem vinha de Deus. – 1 Coríntios 2:4

Percebam a ênfase que Paulo, um homem altamente culto e preparado, dá não à cultura e preparação humanas, mas sim ao poder do Espírito contido na própria mensagem da Cruz.

Em nós, homens, o temor do Senhor é o princípio da sabedoria na medida em que reconhecemos, como Paulo, que aquilo que pregamos, como tudo em nossa vida, pra sermos honestos, deve refletir não nossas capacidades inerentes ou adquiridas, aquilo que na carne “somos bons”, nossa sabedoria humana. Tudo que falamos ou fazemos deve ser demonstração do Espírito e de poder, ou seja, deve ser fruto do exercício da sabedoria que recebemos de Deus. É o entendimento correto de que somos apenas e tão somente tijolos nesse edifício, não nos compete nenhuma glória, nenhum louvor, toda a obra aponta para a criatividade e o poder do arquiteto, quem a comissionou: Deus.

E, se precisamos de sabedoria, se reconhecemos que temos muito ainda a percorrer, o que devemos fazer? Tiago 1:5 fala que “…se quiserem saber o que Deus quer que vocês façam, perguntem-lhe, e ele alegremente lhes dirá, pois está sempre pronto a dar uma farta provisão de sabedoria a todos os que lhe pedem”.

Basta pedirmos a Deus. Deus tem o prazer de nos dar da fonte da sabedoria que é o seu Espírito Santo. Ele deseja ver filhos e filhas sábios e maduros impactando um mundo perdido em insensatez.

Vejamos como Tiago descreve a sabedoria (cf. Tiago 3:13-17):

Se vocês forem sábios, vivam uma vida de constante bondade, para que dela manem somente as boas ações. E se vocês as praticarem com humildade, então serão verdadeiramente sábios! Contudo, não se gloriem de serem sábios e bons se vocês forem amargos, invejosos e egoístas; esse é o pior tipo de mentira. Porque a inveja e o egoísmo não são a espécie de sabedoria de Deus. Essas coisas são terrenas, materiais e demoníacas. Onde houver inveja ou ambições egoístas, aí haverá desordem e todos os males.
Entretanto, a sabedoria que vem do céu é antes de tudo pura; depois calma, amável, compreensiva, repleta de misericórdia e de boas obras. É cheia de bons frutos, não trata os outros pela aparência e é sincera.

O principal instrumento que Deus usa para nos dar a sabedoria é a sua Palavra. Vimos aqui nas primeiras mensagens do ano a importância de comer e beber dessa Palavra, nosso alimento que nos sustenta. Sem ela nos tornamos parecidos com o mundo e não com Jesus. Essa Palavra é lâmpada para nossos pés e luz para nosso caminho (cf. Salmos 119:105). Ela nos dá sabedoria (cf. Salmos 119:130). O salmista diz ainda (cf. Salmos 90:12):

Ensine-nos a contar os nossos dias e usar bem nosso pouco tempo para que o nosso coração alcance a sua sabedoria.

Paulo concorda com isso quando diz:

[…] sejam cuidadosos no seu modo de proceder. Não sejam insensatos; sejam sábios e aproveitem ao máximo cada oportunidade que tiverem de fazer o bem, porque os dias são maus. – Efésios 5:15,16

Resumindo a ideia, é parar de perder tempo com besteira!

São as Escrituras e o poder de Deus, através de seu Espírito, que renovarão a nossa mente, algo que é esforço e obrigação nossa (cf. Romanos 12:2). Nós erramos ao não conhecê-los e não nos apropriarmos deles (cf. Mateus 22:29).

Concluindo, novamente nas palavras do apóstolo Paulo:

É verdade que somos humanos, mas não empregamos planos e métodos humanos para ganhar batalhas. As armas que usamos não são humanas; ao contrário, são poderosas armas de Deus para derrubar fortalezas. Estas armas podem derrubar todo argumento e pretensão contra o conhecimento de Deus. Com estas armas podemos dominar todo pensamento humano para torná-lo obediente a Cristo. – 2 Coríntios 10:3-5

A sabedoria que recebemos de Deus Pai, Filho e Espírito Santo não é meramente para vencermos as lutas da vida, lutas que muitas vezes não são as que achamos que são, um marido difícil, filhos trabalhosos, emprego medíocre, um chefe que pega no pé, políticos corruptos ou a violência que assola o mundo, mas sim fortalezas espirituais, muros construídos dentro de nós mesmos e que nos impedem de pensar em Jesus, amá-lo mais profundamente, sermos mais parecidos com Ele, andarmos como Ele andou, vivermos como Ele viveu… Obedecê-lo, basicamente.

Deus nos abençoe de maneira a aplicarmos em nossas vidas sua Palavra, buscando nEle que é a fonte, o princípio de toda sabedoria.

Pregação ICS 22/12/2019 – O Melhor Presente

Texto base: Lucas 2:4-14.

E como José era da linhagem de Davi, teve de ir a Belém, na Judeia, terra natal do rei Davi, viajando de Nazaré, na Galileia, para lá. Ele levou consigo Maria, sua esposa, que estava grávida.
Estando ali, chegou a hora de nascer o filho dela; e ela deu à luz seu primeiro filho, um menino. Enrolou-o num cobertor e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Naquela noite alguns pastores estavam nos campos, guardando seus rebanhos de ovelhas. De repente um anjo do Senhor apareceu ao redor deles, e ficaram cercados do brilho da glória do Senhor. Eles ficaram muito aterrorizados, mas o anjo os acalmou.
“Não tenham medo!”, disse ele. “Eu lhes trago boas notícias de grande alegria, e isso é para todo o povo! Hoje, na cidade de Davi nasceu o Salvador, que é o Cristo, o Senhor. Como vocês vão reconhecê-lo? Vocês encontrarão uma criancinha enrolada num cobertor, deitada numa manjedoura!”
De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos, o exército celestial, louvando a Deus e cantando:
“Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra para todos aqueles que ele quer bem”.


Introdução

Dos quatro evangelhos, apenas Mateus e Lucas trazem uma descrição do nascimento de Jesus. Marcos já começa sua narrativa pelo batismo e tentação, e João toma uma abordagem completamente diferente.

Nesta época de Natal, podemos pensar “em que o nascimento de Jesus é relevante para mim, para a sociedade em que vivo, hoje”?

Mesmo em ambientes não religiosos, ou em religiões não cristãs, dificilmente alguém questionaria a existência história de Jesus de Nazaré. Dificilmente, porque ainda hoje há quem creia que Ele era apenas um espírito, como os gnósticos da época do apóstolo João, razão pela qual o discípulo amado defendeu tão fortemente a humanidade biológica de seu mestre e amigo; ou quem sabe um anjo, o maior deles talvez; e outros até creem nele como divindade, mas a qual não teria compartilhado a natureza humana como nós, suas criaturas.

Mas, novamente, em que essa história em particular é relevante hoje? Não seria a parte mais importante de sua vida apenas a morte na cruz e a ressurreição? Ou será que toda a vida de Jesus não traria lições preciosas para nossa vida hoje, especialmente no mundo em que vivemos, no qual em muitos lugares já não se chama mais esse período de “Natal”, mas simplesmente de “Festas”, um termo genérico para não mais associá-lo ao cristianismo e a Jesus, numa tentativa politicamente correta de não ofender pessoas de outras crenças?

Muito embora não saibamos, com certeza, quando o Messias nasceu, ao celebrarmos seu nascimento, vida, morte e ressurreição todos os dias, mas, especialmente, nessa época do ano, isso nos permite uma reflexão sobre o ano que passou, e a esperança que esse nascimento em particular traz para o ano novo que está prestes a nascer.

Nos últimos dois domingos, foi visto aqui porque foi necessária sua vinda. Ele, rei e majestade, despiu-se de sua glória para assumir a posição de servo, em obediência ao Pai, humilhando-se a si mesmo tornando-se semelhante a uma de suas criaturas e dando-se para morrer em nosso lugar, e não qualquer morte, por doença ou velhice, mas a mais dolorosa conhecida na época, morte por tortura, morte de cruz, que em toda dor trazia ainda uma mais profunda, a dor que o pecado que Ele não cometeu, pecado que era meu e seu, causou nEle, a dor da separação do Pai que nunca havia acontecido antes nem por um momento sequer.

Jesus foi prometido desde o Gênesis como aquele que pisaria a cabeça da serpente, o servo sofredor descrito no profeta Isaías, Ele, o verdadeiro presente de natal que contrasta com o consumismo desenfreado do mundo atual, e escancara o nosso egoísmo e indiferença para com o nosso próximo que pede uma lembrança no sinal, ou está caído nas praças e ruas de nossa cidade sem ter um mínimo de dignidade, muito distantes da imagem e semelhança com que foram criados pelo Pai.

Mas esse bebê que precisa nascer hoje em nossos corações é o portador de dois tipos de mensagem, uma mensagem de salvação, a melhor notícia que poderíamos receber, mas também uma mensagem de condenação, a pior notícia que alguém não desejaria receber.


1 – Jesus é a melhor notícia

Mais uma vez, vimos nos últimos dois domingos que Jesus não veio ao acaso, de maneira aleatória. Não! Ele primeiramente foi prometido. Deus anunciou desde a queda do homem que enviaria um descendente de mulher para resgatar a humanidade, o que aponta para essa dupla natureza de Cristo. 100% Deus e 100% homem. E como homem ele haveria de nascer, cumprir todo o ritual biológico do ser humano, de embrião a feto, e desde o útero de sua mãe ele impactava a humanidade à sua volta, como vemos na narrativa de Lucas 1 quando Maria visita sua prima Isabel.

E depois de nascer, passar pelas cólicas que nós vemos nossos filhos passarem… Sim, esse mesmo Jesus, Deus e rei do universo, decidiu vir ao mundo da forma mais frágil possível, um bebê, que dependeria de algumas de suas criaturas para a sobrevivência mais básica, mamaria o seio de sua mãe, seria cuidado por seu pai, se submeteria voluntariamente a passar por tudo aquilo que nós passamos para que nós soubéssemos, por seu exemplo, que é possível passar por essa vida e não se contaminar pelo pecado, muito embora nós – não ele, carreguemos essa mancha em nosso DNA. Cristo adorou e foi obediente ao Pai desde que nasceu, para glória dEle e salvação nossa.

Em segundo lugar, vimos que Cristo não foi anunciado genericamente, mas com um propósito, com detalhes que fazem com que a Palavra de Deus de ontem, hoje e eternamente seja plenamente confiável. Se Deus cumpriu fielmente sua palavra no decorrer da história preparando a vinda do Messias, continuou fazendo enquanto Ele esteve entre nós, e agora que esperamos ansiosamente o seu retorno podemos ter a certeza de que Ele voltará, pois Ele disse que o faria, e sua palavra é fiel e verdadeira.

Jesus, então, é a melhor notícia porque é uma notícia verdadeira, que se cumpre, não é fake news. Aliás, Ele mesmo afirmou isso em João 14:6 quando disse “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”.

Só há um caminho, não muitos, embora digam que toda e qualquer religião vale, toda religião leva a Deus… Mentira! Só Cristo, o filho de Deus e Deus mesmo pode nos levar à presença do Pai.

Só há uma verdade. É preciso dizer que existe uma verdade, há absolutos, nem tudo é relativo, nem tudo que dizem por aí é verdade, seja em filosofias, seja na ciência, seja na própria religião, qualquer que seja, mesmo que alguém venha aqui no púlpito falar a vocês de outra coisa que não estiver na Palavra de Deus, não terá sido verdade se negar o que Cristo falou, o que Jesus viveu e ensinou.

E só há uma vida, a vida de Cristo, porque Ele veio ao mundo para que tivéssemos vida, e vida em abundância, conforme João 10:10.

Ele prometeu e vai cumprir. Mas o que tanto Ele prometeu? Como fala o profeta Isaías, prometeu liberdade aos cativos, cura aos doentes, a pregação do ano aceitável ao Senhor. Isso Ele fez enquanto esteve presente aqui.

Suas promessas, contudo, não ficaram apenas no passado, embora mesmo aquelas certamente tenham repercussão ainda hoje em nossas vidas. Sim, hoje podemos experimentar essa vida que Jesus nos oferece, uma vida plena, uma vida de bençãos que são espirituais, mas em muitos aspectos e situações também físicas.

Ele não nos prometeu vitórias sem limites nem uma vida sem problemas, mas que em tudo seríamos mais do que vencedores, ou seja, passaremos pelos problemas, pelas lutas, pelas dificuldades e tribulações EM SUA COMPANHIA e ao final de tudo seremos vitoriosos, porque aprendemos, porque sobrevivemos, porque saímos pessoas melhores, mais maduras, mais humildes, mais servas, mais obedientes ao Pai. Essa é a vitória que importa, uma vitória que permanece para sempre, porque esse mundo é passageiro e toda vitória que se resuma às coisas que adquirimos aqui não passa da cova, mas as vitórias que Cristo nos promete são do tipo que levamos para a eternidade, e continuam impactando gerações após a nossa.

Em 1 Timóteo 1:15, o apóstolo Paulo nos diz: “Esta afirmação é fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior”. Meus irmãos, sem sombra de dúvida faço das palavras de Paulo as minhas palavras. Sem a esperança e a certeza da salvação que Cristo nos trouxe e oferece a todos, se vivêssemos apenas para esta vida curta e passageira, ou seja, se Cristo só servisse para nós como um reles mentor, um coach, palavra muito em voga hoje em dia, um guru, um sábio, uma pessoa iluminada, um mestre religioso, alguém que apenas enfrentou as mazelas das estruturas sociais iníquas, MAS NÃO realizou sua obra na cruz e na ressurreição, seríamos os mais miseráveis de todos os homens, conforme também Paulo em 1 Coríntios 15:19.

NÃO, meus irmãos! Nossa esperança começa aqui mas continua para a eternidade. Muitos textos bíblicos apontam para a realidade de que essa vida não é mais do que uma leve brisa, uma sombra, incomparável ao que há de vir em tempo e qualidade, para bem ou para mal, conforme a escolha que eu e você façamos.

Jó 14:1,2 diz assim:

Como é curta a vida do homem nascido de mulher, cheia de medo e sofrimento! Ele nasce e cresce como uma flor, mas logo murcha e morre. Ele some depressa, como a sombra de uma nuvem que passa no céu.

A esperança que temos em Jesus é que toda dor dessa vida um dia passará, todo choro acabará, em breve não haverá mais sofrimento. Esta, sim, é uma excelente notícia! A vida não termina aqui. Isso aqui não é tudo que temos.

A boa notícia continua ao dizer que Cristo é para todos. Aleluia!

Deus se achegou a nós, nos escolheu para sermos seus amigos, seus filhos. Nunca mais precisaríamos de sacrifícios para acalmar seu furor como tantas religiões ainda hoje fazem, na esperança de conseguir o favor de sua “divindade”. Em Cristo, nós já temos o favor de Deus sobre nós e em nós!

Não é para apenas um povo, como acreditava Israel, uma etnia, uma casta como na Índia, uma categoria de iniciados, como os gnósticos pregavam, ou cujas revelações fossem possíveis apenas aos oráculos ou líderes religiosos. Não! Deus se revela em Jesus a cada um de nós, e especialmente Lucas capta bem essas escolhas particulares de Deus, como estudamos nos nossos Pequenos Grupos, onde Jesus parece escolher o segregado, aquele que a sociedade despreza, os miseráveis para fazer deles sua principal companhia. Esses sou eu e você, então que grande notícia esta, pois nunca mais ninguém pode nos dizer que Deus não nos ama, pois Jesus já mostrou em sua vida que ama.

Vejamos o que diz Romanos 5:6-8:

“Quando estávamos totalmente desamparados, Cristo veio na hora certa e morreu pelos pecadores. Mesmo que fôssemos justos, realmente não esperaríamos que alguém morresse por nós, embora alguém tivesse coragem de morrer por uma pessoa boa. Deus, no entanto, mostrou seu grande amor por nós, enviando Cristo para morrer por nós enquanto ainda éramos pecadores”.

Pecadores, sim, Deus ama pecadores, você consegue compreender o peso dessa verdade? Sim, porque eu e você não somos perfeitos, longe disso! Jesus não veio para quem se achava santo, perfeito, religioso, mas para os que se reconheciam doentes, carentes do amor de Deus, os que têm a humildade de perceberem sua situação de miséria e clamarem por socorro a quem lhes pode salvar, Jesus Cristo, nosso Senhor!

É o que diz Lucas 5:30-32:

E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos; Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.

João 3:16, talvez o texto mais conhecido das Escrituras, nos diz que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Isso sim é demonstração de amor, isso é demonstração de graça, de misericórdia, de favor. Agora a questão é: você reconhece que precisa desse presente? Ou será que ano após ano o deixamos abandonado embaixo da árvore, talvez até jogamos fora com o restante das caixas e embrulhos dos outros presentes que não têm a mesma importância?

Jesus é a melhor notícia que aparece no local e condição mais inesperada. É verdade. Percebam onde os pais de Jesus foram descansar à espera de seu nascimento. Um estábulo. E que objeto serviu de bercinho, uma manjedoura, apropriada não para receber um recém-nascido, com higiene, com conforto, com cheiro adequado, silêncio… Ao contrário, um contexto que nenhum de nós gostaria de ter nossos bebês.

A notícia que os anjos trazem é anunciada não aos sacerdotes e líderes religiosos, não ao rei, não ao Sinédrio, não às lideranças políticas dos judeus ou de Roma, mas a simples pastores. Pessoas comuns, sem instrução, não que Deus não se importe com os ricos e poderosos, mas escolheu àqueles homens rudes em primeiro lugar como que para torcer a lógica humana de que da pobreza e “insignificância” não pode vir algo bom.

A estrela que anunciou o natal, vejam só, aparece a sábios de uma terra distante, possivelmente da Mesopotâmia ou até além, e não a judeus, não aos religiosos de Israel. O texto de Mateus 2 diz que eram magos, ou seja, talvez praticassem alguma religião baseada na leitura dos astros, não eram pessoas “próximas”, culturalmente, religiosamente, etnicamente falando, mas que, sabedoras de algum modo da promessa do Messias, receberam de Deus a revelação de que aquela estrela no céu não apontava apenas para um fenômeno natural, mas para a maior demonstração sobrenatural que a história e a humanidade já conheceram. Como os pastores, eram pessoas totalmente inesperadas para a ocasião.

Novamente isso é muito bom para nós hoje, porque significa que não importa quem sejamos, por mais desprezados ou desprezíveis que pensemos ser, por pior que tenhamos sido, ou talvez totalmente ignorados, figurantes no roteiro de nossa própria vida, foi justamente pessoas como nós que Deus escolheu para acolher o menino, para lhe servir de pais, amigos, companheiros de ministério.

Terminando essa primeira parte, vejamos mais adiante, ainda no capítulo 2 de Lucas, quando seus pais vão apresentá-lo no templo, de maneira “semelhante” ao que fizemos hoje aqui com o Benjamin. [Dia da apresentação do meu filho Benjamin na igreja.]

Os versos 25 ao 35 falam de um homem chamado Simeão, a quem Deus havia prometido que não morreria antes que visse o Cristo. Vejamos suas próprias palavras:

“Ó Soberano, agora já pode despedir o seu servo em paz!
Pois eu já vi com meus próprios olhos a sua salvação, que o Senhor preparou na presença de todos os povos. Ele é a luz que trará iluminação espiritual às nações, e será a glória do seu povo Israel”.

Um último aspecto a respeito de Jesus ser a melhor notícia, diz respeito ao seu ministério.

Ele veio não apenas para Israel, seu povo, mas, conforme João 1:11,12, “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome…”

Sim! Jesus nos deu o poder de sermos feitos filhos de Deus, a todos aqueles que recebem de coração essa boa notícia, esse presente, crendo em seu nome, crendo em seu poder, crendo em seu perdão e em sua salvação.

Como Simeão reconheceu, Jesus é a luz para as nações, para retirar-nos das trevas e da escravidão do pecado para o seu próprio reino, conforme Colossenses 1:12-14, preparado por Deus para TODOS os povos, judeus e não judeus, isto é, eu e você hoje!


2 – Jesus é também a “pior notícia”

A vinda de Jesus ao mundo trouxe-nos a melhor notícia de todas, a salvação para o perdido, restauração de vista aos cegos, liberdade aos cativos do diabo, recuperação da dignidade ao miserável, tantas bençãos de cunho espiritual e material, mas para muitos, essa notícia apresenta também uma dura realidade, que pode ser também a pior notícia de todas.

Na continuação desse trecho sobre Simeão, novamente suas palavras dizem assim:

“Esta criança será rejeitada por muitos em Israel, e isto para própria destruição deles. Ele será motivo de contradição, mas uma grande alegria para outros. E os pensamentos mais profundos de muitos corações serão revelados. E a tristeza, como uma espada, atravessará a sua alma”.

Desde seu nascimento Jesus seria rejeitado, e por toda a sua vida muitos recusaram suas palavras, seus ensinamentos, sua pregação, seu chamado. Seus corações estavam profundamente endurecidos pelo pecado e a luz que iluminava os seus atos imorais fazia com quem temessem suas obras de poder.

Como Simeão bem predisse, Jesus foi e continua sendo motivo de contradição, porque não há como dizermos que cremos em Deus, que seguimos a Jesus, e continuarmos a fazer nossas obras más dia após dia como se nada houvesse acontecido. Quando alguém conhece verdadeiramente a Jesus num relacionamento de intimidade, sua vida é completamente transformada!

João 3:17-20 diz assim:

Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele. “Não há condenação reservada para aqueles que creem nele como Salvador. Mas aqueles que não creem nele já estão condenados por não crerem no Filho único de Deus. A sentença deles está baseada neste fato: A luz veio ao mundo, porém os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Os que praticam o mal odeiam a luz e ficam longe dela, com medo de que seus pecados sejam revelados.

Jesus não veio ao mundo para condenar a mim ou a você, meu amigo, meu irmão, mas para nos dar a oportunidade, hoje, de nos relacionarmos com o Pai e experimentarmos salvação. Ele hoje nos estende a mão buscando ansiosamente nos resgatar do caminho da perdição, mas cabe a nós aceitarmos seu convite, não deixemos para o amanhã, que não sabemos se virá, a oportunidade de dizermos sim. A responsabilidade é pessoal, individual e urgente!

Vindo ao mundo, imediatamente Jesus, como o prometido rei dos judeus, acaba por questionar a situação política dos governantes de Israel, no caso o rei Herodes e toda a cúpula que com ele governava o povo por concessão romana.

Herodes, de fato, ficou tão preocupado com aquilo, com a possibilidade iminente de se ver retirado de seu trono, que procurou matar todos os meninos da região que a família de Jesus estava morando, conforme a narrativa de Mateus 2.

Jesus também incomodou as lideranças religiosas, pois as pessoas agora prestariam atenção em um líder comum de origem popular, alguém que falava a linguagem do povo, e não mais na casta de fariseus e saduceus, escribas e outros líderes que também se beneficiavam da dominação de Israel pelo império romano, e viviam às custas do comércio do templo e da religião. Quando a religião é fim em si mesmo, Jesus vira um inimigo e uma péssima notícia para aqueles que vivem e lucram por meio dela.

Aliás, como essa mensagem é relevante hoje, em um mundo onde tantos líderes religiosos fazem da fé um comércio, vendendo Jesus por trocados, um estelionato espiritual onde prometem mundos e fundos e entregam esperanças vazias e frustradas, mercenários, não pastores, que não cuidam de suas ovelhas, mas as exploram para ganho próprio e benefício pessoal!

Mas, irmãos, isso também serve de alerta para nós, hoje, que talvez vamos em busca desse tipo de mensagem. Veja o que o apóstolo Paulo nos diz em 2 Timóteo 4:3,4:

“…chegará uma época quando as pessoas não suportarão a verdade, mas andarão de um lado para outro procurando mestres que lhes digam apenas aquilo que desejam ouvir. Elas se recusarão a ouvir aquilo que as Escrituras dizem, mas seguirão suas próprias ideias desorientadas”.

Assim como há “pastores” que pregam um Jesus “gênio da lâmpada”, da teologia da prosperidade, onde você “investe” nele para obter um retorno que é muito mais material do que espiritual, há também “ovelhas” gananciosas que buscam somente esse “Jesus”, somente essa mensagem, mensagem de cura, de dinheiro, de benefícios. “Pare de sofrer”, é o seu lema! Se eu for a Jesus e não receber o que quero, um emprego, um marido, uma esposa, um carro novo, uma casa, esse Jesus eu não quero, esse presente permanece debaixo da árvore pegando mofo.

O nascimento de Jesus pode ser uma notícia amarga para quem vive uma vida egoísta, sem se preocupar com o sofrimento alheio, para quem pensa que tudo acaba aqui, e se entrega a uma vida de prazeres vãos e inconsequentes, para quem pensa que Deus é um mito ou uma fantasia. Esses caminham a passos largos para o inferno, sem se aperceber das escolhas terríveis que estão fazendo, o presente de Deus que estão renegando.

Para muitos de nós hoje, com nossas árvores recheadas de presentes, é fácil esquecermos de Jesus… Tantas coisas da vida nos distraem, divertimentos, entretenimento, prazeres até sadios, que não são inerentemente errados ou pecados em si mesmo mas que podem eventualmente tornarem-se em ídolos para nós, ou nos levarem a nos distanciarmos de Jesus, não mais reconhecermos como precisamos desesperadamente e urgentemente desse que é o melhor presente de Deus para nós.


3 – O que fazer diante de tudo isso

Jesus veio ao mundo em uma família pobre, não teve sequer um local adequado para recebê-lo. E hoje? Será que ele encontra um bom lugar em nossos corações, em nossas famílias? Será que celebramos o nascimento desta criança, ou como muitas outras que viram paisagem em nossas cidades nós ignoramos sua presença, tanto faz Ele nascer ou deixar de nascer, nada significa para nós?

Quando pensamos em natal, será que pensamos mais em peru, presentes, talvez nas contas a pagar na virada do ano que se aproxima, e bem pouco no que realmente vale a pena, Jesus, o Deus que se fez carne e habitou entre nós?!

O que o natal tem significado para você?

O natal pode ter vários significados. Filmes e mais filmes contam do chamado “espírito do natal”, falam de solidariedade, companheirismo, perdão, família, generosidade, e estão parcialmente certos, mas tudo isso sem Jesus não vale nada, pois o principal motivo do natal foi perdido. O aniversariante não estando presente, o que de fato temos a celebrar?

O nascimento de Jesus é, como bem disse o anjo, novas de grande alegria. No entanto, traz consigo também um enorme peso de responsabilidade, pois nos confronta com a realidade espiritual de que há um caminho e uma escolha a ser feita. Será que temos escolhido o caminho da morte ou o caminho da vida?

É tempo de despertar! Não somos mais crianças, bebezinhos sem entendimento e que em tudo dependem de seus pais! Você e eu somos responsáveis por nossas escolhas, e se essas escolhas nos levam para mais perto ou mais longe de Deus. Não são seus pais, irmãos, marido ou mulher que serão responsáveis diante de Deus por sua vida, exceto quanto a terem ou não pregado o evangelho e dado bom testemunho. Não são os pastores e líderes que serão responsáveis pela sua caminhada, exceto por terem anunciado uma mensagem verdadeira e oferecido a mão para caminhar com você por este caminho. A responsabilidade é individual, minha e sua.

Quando confrontados com a mensagem da salvação, a mensagem de Jesus, o Emanuel, o Deus conosco, será que temos virado às costas para o amor desse Deus? Será que temos rejeitado sua oferta de paz, de reconciliação, será que temos noção do mal que temos feito e das consequências eternas que irão nos sobrevir?

Por outro lado, uma vez tendo recebido e acolhido essa boa nova, será que ficaremos calados vendo os outros perecer? Será que lhes sonegaremos a notícia mais importante, o presente mais precioso da história, que Deus os ama, que Deus os busca, que Deus em Jesus deu a sua vida por eles e ambos, eles e nós, temos a oportunidade hoje de recebermos o perdão e a salvação?

Voltemos à nossa história. O que aconteceu com os pastores após verem o menino? O verso 17 nos diz que “Depois de o verem, os pastores falavam a todos o que havia acontecido, e o que o anjo lhes havia dito a respeito daquele menino”. E o resultado? Verso 18: “E todos os que ouviam a história dos pastores ficaram admirados”.

É impossível não reagirmos a uma notícia como essa. Quando os pastores contaram aos seus conhecidos sobre o que tinha acontecido, todos ficaram admirados e não era para menos. Pense em tudo que lhes aconteceu, pense em tudo que falamos hoje aqui! Quando Jesus nasce em nossas vidas, meus irmãos, causa uma comoção tão grande que é impossível não falarmos a outras pessoas, isso muda nossa vida totalmente e essa história ainda hoje continua impactando a cada pessoa que se deixa transformar pelo poder de Deus, do mais rico ao mais pobre, do mais ignorante ao mais culto, do mais simples ao mais poderoso, homens e mulheres continuam hoje sendo profundamente tocados por esse menino que nasceu há pouco mais de dois mil anos.

Para concluir, vou contar uma história que aconteceu comigo e Talita quando fomos à África em 2017. Perto de virmos embora, havia alguns vestidos que “sobraram” e a missionária Heidi Baker, líder do ministério onde ficamos hospedados, pediu para nos conhecer e quando soube que tínhamos esses vestidos “extras”, nos convidou para uma reunião que ela fazia com as crianças que ela tinha como filhos e filhas adotivos dentro da base.

Durante o encontro, ela escolheu alguns meninos para entregarem os vestidos a algumas das meninas, e quando o primeiro foi lá entregar, sabe como é criança, todo sem jeito e com vergonha ele praticamente rebolou o presente no colo da menina e saiu de lado, mas a Heidi chamou com todo carinho o menino e ensinou algo a ele, a todas as demais crianças e outros adultos que estavam ali, e, talvez sem saber, mais ainda a Talita e a mim, de que quando damos um presente, não podemos dar de qualquer jeito. É importante sabermos receber um presente, obviamente, mas ela ensinou algo que eu nunca tinha parado para prestar atenção, o valor de dar corretamente. Até pra dar, a gente precisa saber dar direito, a forma de Deus.

Ela disse que aqueles vestidos haviam levado 9 meses para serem feitos e chegado ali, que eram fruto de muito amor e cuidado, e que esse era um amor que representava uma gestação e um nascimento, semelhante ao amor que Cristo tem por nós.

Em seu ensinamento àquelas crianças ficou algo para mim, que muitas vezes damos o presente da forma errada, e aqui falo de Jesus. Jesus, que é o melhor presente de todos, nós entregamos embrulhado em papel de enrolar prego e não na embalagem mais digna, damos de má vontade, quase como criança birrenta que não quer compartilhar o que ganhou com o irmão ou com o amiguinho…

Quando entregamos esse presente precisamos ensinar o seu valor, o quanto ele custou, e não falo aqui, deixo bem claro, de “vender Jesus” ou anunciar um Jesus diferente das Escrituras, mas do preço do seu sangue na cruz do Calvário. Não foi sem esforço, então não deve ser de qualquer jeito.

No Natal, quando damos ou recebemos presentes, normalmente é de ou para quem amamos, ou, no máximo, se “providos de um enorme sentimento de generosidade”, vamos um pouco além e damos a alguém que está passando necessidade. Mas imagine aqui que Deus deu o seu bem mais precioso, seu melhor presente, seu Filho amado, para pessoas que só lhe ofenderam, que foram e têm sido rebeldes, seus inimigos. Será que você teria coragem de fazer o mesmo?

E sabendo disso tudo, você tem coragem de rejeitar esse presente de Deus? Após ouvir o que falamos aqui hoje, estamos plenamente cientes da repercussão da nossa escolha por aceitá-lO ou rejeitá-lO?

Não vou constrangê-lo a vir a frente, levantar sua mão ou nada parecido, mas leve consigo pra sua casa, nesses poucos dias que nos separam do ano novo, que decisão você deve tomar, o que em sua vida você precisa mudar, o que eu e você precisamos abrir mão, tantos “presentes” sem futuro, mas embrulhados em embalagens vistosas, enquanto o autor da vida quer nascer hoje em nossas vidas e não acha lugar sequer em uma manjedoura, essa pérola preciosa mas que está envolta em panos e por isso talvez a esqueçamos, não damos o seu real valor, dia a dia permanece embaixo da árvore sempre a espera de ser recebida com alegria.

Qual o melhor presente de natal? Não seria Ele, Jesus, o próprio Natal, que quer nascer no meu e em seu coração? O presente esquecido tantas vezes por muitos de nós, quer ser lembrado, aberto, experimentado, conhecido, apreciado, reconhecido pelo valor inestimável que possui. Um presente é um sinal de lembrança, de que somos amados. Como Deus nos ama, então, meus irmãos, já que nos deu seu Filho, seu único Filho, por amor de nós! Receba hoje esse presente, receba a Jesus como Senhor e Salvador de sua vida!

Deus nos abençoe.

Última mensagem do ano de 2019

Conta as bênçãos, conta quantas são.
Recebidas da divina mão.
Uma a uma, dize-as de uma vez,
Hás de ver surpreso quanto Deus já fez.

A estrofe acima, coro do hino 329 do Cantor Cristão, chamado “Conta as Bençãos”, é o tema para esta última mensagem do ano.

Hoje, 31/12/2019, é um dia para refletirmos sobre o ano que passou, e nos prepararmos mental e espiritualmente para o ano que está prestes a nascer.

Pensando em 2019, quantas bençãos podemos enumerar, se nos detivermos um momento, quanto poderemos agradecer a Deus pelo muito que certamente Ele fez em nossas vidas? Bençãos de saúde, de cuidado, preservando a nossa integridade física de acidentes, da violência, e não somente a nossa mas a das pessoas a quem amamos…

Continuando, bençãos de trabalho, em um país que ainda se recupera da maior crise econômica de sua história, bençãos de ministério, de termos tido o privilégio de servir ao nosso Senhor sendo abençoadores de outras pessoas, bençãos de termos ganhado novas pessoas para Jesus, ou termos recebido novas pessoas para cuidar, esposas, filhos, companheiros de caminhada…

A maior benção de 2019 certamente foi andar mais perto dEle, do Mestre, do Senhor, nós que somos seus escravos, mas não apenas isso, seus amigos, filhos de Deus, cf. João 1:12.

E os desejos e planos para 2020? Casa própria, um novo emprego ou quem sabe aprovação em um concurso público, mulher, filhos, carro novo (mesmo que usado)… Todos esses são sonhos justos e razoáveis e Deus tem prazer em nos conceder. Deus não é um deus mal, um estraga prazeres, como muitos pensam, ao contrário, Ele tem prazer em nos dar coisas boas (cf. Mateus 7:11), que excedem em muito aquilo que pedimos ou pensamos (cf. Efésios 3:20), especialmente sabedoria (cf. Tiago 1:5) e o seu próprio Espírito Santo (cf. Lucas 11:13).

Mas não pense apenas nas coisas que você quer ganhar ou receber, pense naquilo que você pode dar, no milagre que você pode ser na vida de alguém. Peça a Deus para ser um melhor marido, filho, irmão, pai, um melhor funcionário onde trabalha, um melhor patrão ou colega de trabalho, uma ovelha mais serva a seu pastor ou comunidade com a qual congrega…

Deus em 2020 quer cumprir na minha e em sua vida o Seu propósito, realizar os sonhos dEle muito mais do que os nossos, Ele quer caminhar conosco, estreitar o nosso relacionamento de maneira a sermos cada vez mais íntimos com nosso Pai. Assim experimentaremos sua boa, agradável e perfeita vontade em nós (cf. Romanos 12:2), que é seu próprio Filho Jesus.

Sim, façamos nossos planos, mas confiando que a palavra final é do Senhor (cf. Provérbios 16:1). Entreguemos nosso 2020 a Ele, e não sejamos ansiosos, pois Ele tem cuidado de nós (cf. 1 Pedro 5:7, e Salmos 55:22). Em 2020, busquemos mais a Jesus, conhecê-lO, andar com Ele, aprender dEle. Todos os nossos sonhos e planos, por melhores que sejam, não se comparam a um relacionamento com Cristo.

Concluindo, o meu desejo para 2020, para a minha e a sua vida, meu amigo, meu irmão, é o que diz as Escrituras em Lucas 12:29-31:

Não busquem ansiosamente o que hão de comer ou beber; não se preocupem com isso.
Pois o mundo pagão é que corre atrás dessas coisas; mas o Pai sabe que vocês precisam delas.
Busquem, pois, o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas.

Que daqui a um ano, no final de 2020, possamos olhar para trás e vermos o quanto conseguimos, o quanto conquistamos, e sermos gratos a Deus por todas essas coisas. Mas, principalmente, possamos reconhecer o quanto mais parecidos com Jesus nos tornamos, o quanto mais do Pai conhecemos, o quanto mais íntimos de seu Santo Espírito nos tornamos.

Esse é o meu desejo para nossas vidas nesse ano que começa amanhã.

Deus nos abençoe.