Texto base: Lucas 22:47-53
Porém, mal ele acabara de dizer isso, aproximou-se uma multidão, conduzida por Judas, um dos Doze. Judas aproximou-se de Jesus e o beijou na face.
Mas Jesus lhe perguntou: “Judas, com um beijo você está traindo o Filho do Homem?”
Quando os outros discípulos viram o que estava para acontecer, disseram: “Senhor, podemos lutar? Nós trouxemos as espadas!” E um deles avançou contra o servo do sumo sacerdote, cortando sua orelha direita.
Mas Jesus disse: “Não resistam mais”. E tocando na orelha do homem, ele o curou.
Depois Jesus dirigiu-se aos sacerdotes principais, aos oficiais da guarda do templo e aos líderes religiosos que vinham à frente da multidão. “Por acaso estou chefiando uma rebelião”, perguntou ele, “para que vocês tenham vindo armados de espadas e cacetes para me apanhar? Por que não me prenderam no templo? Eu estava lá todos os dias! Porém esta é a hora de vocês — a hora do poder das trevas”.
Introdução—Contexto
O que você faria se um grande amigo seu lhe traísse?
Veja bem, alguém que frequenta sua casa, tem intimidade com você e sua família, não é um mero conhecido, alguém que você cumprimenta por educação na academia, um vizinho a quem você dá bom dia no elevador, mas que realmente não conhece tanto assim, nem mesmo um colega de trabalho que apesar de passar o dia ao seu lado não é mais do que isso mesmo, um colega…
Difícil né…?
A gente poderia esperar que um desconhecido, movido talvez por inveja, pudesse ter um comportamento assim, mas não um amigo.
E se, porventura, o traidor fosse eu ou você, já pensou…?
A traição que mais dói não é tanto aquela de um colega de trabalho que tenta lhe passar a perna para subir na carreira, mas sim a que um amigo, ou mesmo um parente lhe faz, como aquela pessoa que assumiu um compromisso com você, mas lhe deixa na mão, e não apenas falha casualmente, meio “sem querer”, foi “de propósito”, como a gente diz…
O pior tipo de traição é que vem disfarçada de carinho, de afeto, de consideração, quando, na verdade, é uma facada pelas costas, parece um ato premeditado e muitas vezes é mesmo.
Nem sempre, sendo honestos, conseguimos perdoar essa pessoa, ou ela a nós se formos os vilões dessa história, e os relacionamentos são desfeitos, quebrados, não há mais conserto ou possibilidade de reconciliação.
Na última noite antes de seu sacrifício, Cristo já havia passado:
a) pela ceia, quando os discípulos, a começar de Pedro pra variar, fazem promessas vazias de segui-lo até a morte se fosse preciso, as quais cedo eles deixariam de cumprir;
b) pela subida de Jesus e seus discípulos ao monte das oliveiras onde Ele passaria por momentos de angústia e solidão, antevendo o sofrimento físico, mental e espiritual pelo que passaria;
c) e, finalmente, por sua prisão pelos líderes religiosos de Israel, motivados pelo ciúme que sentiam de sua popularidade perante o povo, que o considerava como um profeta ou talvez como o Messias esperado, embora uma espécie de Messias político-social econômico que retornaria Israel à sua glória passada.
Jesus aqui está com aqueles que lhe são mais próximos, mas que logo o abandonariam. Ele chamou seus discípulos para estarem consigo em oração, mas o cansaço e a tristeza os vencem.
O horário era inoportuno e a intenção era maligna: prender e, finalmente, matar o filho de Deus enviado pelo Pai para ver os trabalhos da sua vinha, cf. Mateus 21:33-41.
Israel era a vinha de Deus, por Ele plantada em Canaã, edificada, cuidada, e arrendada a trabalhadores, no caso os líderes religiosos e políticos, que em vez de cuidarem, usavam e maltratavam o povo a fim apenas de explorá-lo para benefício próprio.
A multidão chega até Jesus e é preciso que Judas indique quem daqueles homens era o Mestre, pois todos tinham aparência comum e, à noite, com a precária iluminação de tochas, provavelmente deveriam se parecer bastante.
Só alguém muito familiarizado saberia realmente quem era Jesus, então para aquele plano dar certo, seria preciso alguém de dentro, um trabalho interno de um discípulo avarento e descontente com seu mestre, talvez até decepcionado por achar que perdeu tempo em seguir não o futuro rei de Israel (embora um dia ainda vá ser, conforme as profecias bíblicas), mas um simples carpinteiro, alguém que nos últimos tempos falava não de conquistas e vitórias, mas de perseguição, morte e abandono.
Os personagens desta cena são vários, a saber:
1) Jesus, o principal. Profeta, Messias, Mestre, Carpinteiro, Deus.
2) Os discípulos de Jesus, cada um de origem e procedência diferentes, mas a maioria homens simples e sem muita instrução.
3) Judas, também discípulo, mas que movido por avareza vendeu seu mestre por algumas poucas moedas de prata.
4) Os líderes religiosos de Israel, motivados por inveja e medo, sabiam quem Jesus era, mas não queriam abrir mão de seu poder e dos privilégios que aquela cômoda situação lhes proporcionava.
5) Os guardas do templo, que serviram como força policial a serviço da injustiça.
No evento da traição e prisão de Jesus, há pelo menos três lições que podemos aprender nesse texto.
1 – Expectativas
“Não, não é possível que Ele seja, de fato, o Messias”, deve ter pensado Judas, mesmo após conviver com Jesus por três anos, ouvindo seus ensinamentos e presenciando seus milagres como os demais apóstolos.
Isso não foi suficiente para converter seu coração. Ele cedeu aos seus impulsos egoístas ao aceitar a oferta de trinta moedas em troca de seu líder.
Não sabemos se ele fazia ideia de que Jesus seria julgado e condenado à morte. Talvez ele achasse que sofreria algum castigo e depois seria solto, ou silenciado à base de ameaças, ou mesmo que, diante dessa perseguição, ele finalmente se revelasse como o Rei esperado.
Quando confrontado com o prospecto da morte de um inocente cuja culpa da prisão foi sua, Judas sente remorso. Não verdadeiro arrependimento. Mateus 27:3-5 fala o seguinte:
Quando Judas, o traidor, viu que Jesus tinha sido condenado à morte, ficou com muito remorso pelo que tinha feito e trouxe de volta o dinheiro aos sacerdotes principais e aos outros líderes religiosos.
“Eu pequei”, declarou ele, “pois traí um homem inocente”.
“O problema é seu”, responderam eles.
Então ele atirou o dinheiro no chão do templo, saiu e foi enforcar-se.
Remorso sente alguém que é pego em flagrante num pecado ou delito. Esse pode cair novamente no erro, sendo dessa vez mais cauteloso para não ser pego.
O arrependimento genuíno e sincero leva a pessoa a uma luta interna e externa ao máximo contra a tentação, porque entende que aquilo não causa só um prejuízo pessoal, seja de que tipo for, mas ofende ao próprio Pai eterno, e isso lhe transtorna o espírito.
Judas lança aos pés dos líderes religiosos o dinheiro recebido, mas não vai pedir perdão a Jesus. Meus irmãos, eu tenho certeza de que se Judas fosse de coração sincero pedir perdão, Jesus o teria perdoado, porque Ele está sempre disposto a perdoar o pecador arrependido.
Isso é muito importante porque eu e você talvez achemos que somos imperdoáveis, que o que fizemos no passado ou até ainda hoje no presente é abominável aos olhos de Deus – e pode até ser mesmo – mas deixa eu te dizer que hoje há esperança para mim e para você na pessoa de Jesus, se nos arrependermos de verdade e buscarmos o seu perdão!
Uma pergunta me vem à mente quando leio esse texto: por que Judas traiu Jesus? Por que alguém trairia o próprio Deus?
Para termos uma resposta, precisamos entender o que cada pessoa possui de expectativa com relação a Jesus.
Muitos de seus discípulos não entendiam muito bem o que significava seu ministério, seu propósito, mesmo aqueles que como Pedro criam nEle como o Messias, o Ungido de Deus, cf. Marcos 8:29, pensavam apenas nos aspectos gloriosos do reinado messiânico, do retorno de Israel a uma condição de independência em relação a outros países.
Aqueles homens rudes, não acostumados com honras, talvez nutrissem algum tipo de expectativa de serem alçados a posições de destaque no futuro reino, e numa lógica meramente humana não estavam errados.
Essa aspiração aparece diversas vezes no relato dos Evangelhos, cf. p.ex. Marcos 9:33-35, e nessa mesma noite em que foi traído, durante a última ceia, esse assunto volta à discussão e é preciso que Jesus mostre, pelo lavar de pés de seus discípulos, que a lógica humana natural de hierarquia e governo simplesmente não se aplicam ao reino de Deus, onde o maior é aquele que mais serve.
O “problema” é que o Messias não havia vindo para reinar naquele momento, mas sim para dar sua vida em resgate de muitos, cf. Marcos 10:45. Então, com os olhos focados apenas no aqui e no agora, aqueles homens sentiram enorme decepção quando seu Senhor mandou Pedro baixar a espada (cf. Mateus 26:52). Como seu sonho de grandeza e sucesso foi rapidamente substituído pela dura realidade de rendição mansa e pacífica de Jesus!
Jesus não era um revolucionário, como muitos hoje, por ignorância sincera ou má-fé, tentam pintá-lo. Jesus confrontou muitas estruturas sociais, é verdade, mas seu foco não era reformá-las, não era promover inclusão social, o que quer que isso signifique, nem diminuir a desigualdade econômica ou a pobreza, ou mesmo promover a reforma agrária…
O propósito de Jesus era e foi salvar vidas num sentido escatológico, ou seja, numa dimensão de tempo ligada não apenas a essa vida curta e passageira, mas à eternidade, mesmo que, em muitos aspectos, essa salvação gere impactos desde já.
A principal crítica de Jesus nem era com relação aos assuntos que citei anteriormente, mas sim à religião judaica, de rituais vazios, de mera obediência a preceitos formais de fazer ou não fazer; e à opressão religiosa que os líderes do povo faziam com relação ao restante da população, virtualmente impedindo as pessoas de se achegarem a Deus, em vez de servirem de guias espirituais, já que ao menos em tese conheciam o texto da Lei.
Então a pergunta que preciso refletir é: que tipo de expectativa tenho nutrido a respeito da pessoa de Jesus?
Será que por não ter expectativas corretas, tenho adorado um falso Jesus, Barrabás, por exemplo, como quem coloca sua ideologia acima da fé, da Bíblia e da verdadeira religião? Ou será que meu “Jesus” parece mais com o Tio Patinhas e sua enorme caixa-forte, ou talvez um gênio da lâmpada, pronto para me conceder um desejo cada vez que eu esfregá-la?
Que Jesus é esse que eu digo servir? Se eu tenho expectativas irreais, se adoro um Jesus diferente do Deus das Escrituras Sagradas, a chance de eu me decepcionar com Ele e acabar negando, abandonando ou mesmo traindo-O será muito grande.
As expectativas de Judas com relação a Jesus se deram não com base naquilo que as Escrituras previram ou disseram a seu respeito, nem naquilo que o próprio Cristo falou, ensinou e fez durante seu ministério aqui, mas em projeções que Judas fez baseadas em seus valores pessoais distorcidos.
Nossas expectativas devem se sujeitar ao verdadeiro Jesus descrito em sua Palavra, e não Ele a nós, senão teremos como objeto da nossa adoração um ídolo em vez de o próprio Deus.
Falando de outro modo, precisamos converter as nossas expectativas com relação a quem Jesus é. Ele prometeu suprir as nossas necessidades (cf. Mateus 6:25-34), Ele cuida de nós porque nos ama e tem compromisso conosco, mas Ele não prometeu vida mansa, luxos… ao contrário, Ele deixa bem claro que no mundo haveria dificuldades (cf. João 16:33), que seríamos perseguidos por sermos seus seguidores (cf. João 15:20) …
Quando ouço falar de pregadores coach ou da teologia da prosperidade, por exemplo, anunciando um Jesus da riqueza, do poder, que irá tirar o que há de melhor dentro de nós (como se houvesse), que é obrigado a nos abençoar com um emprego, um marido, filhos, bençãos materiais porque somos “fieis” – e por fieis, entenda, por estarmos enchendo seus bolsos com ofertas generosas – é como se cuspissem na cara de cada irmão perseguido por amor a Cristo no decorrer da história.
2 – Compromisso
Compromisso e lealdade são dois conceitos que, embora não seja sinônimos, andam juntos. Somos fiéis àqueles com quem assumimos um compromisso. Assumimos compromissos para quem estamos dispostos a ser leais.
Ambos requerem de nós sacrifício. Sacrifício de tempo, de vontade ou interesse pessoal. Quem se compromete com algo ou, mais importante, com alguém, se já não sabe, deve aprender a dizer não a outras pessoas, coisas ou circunstâncias que vão de encontro ao compromisso assumido.
Explico melhor. Por exemplo, se eu tenho um compromisso com alguém em determinado dia e lugar, eu não posso agendar outro evento para a mesma data. É exclusivo nesse sentido.
Outro exemplo de compromisso exclusivo é o casamento. Quando nos comprometemos com nosso cônjuge no altar perante Deus, os pastores, nossos familiares e a igreja, estamos empenhando nossa palavra que faremos não “o possível” apenas, mas sim o melhor, que estiver ou não ao nosso alcance, para sermos fiéis, honrarmos, respeitarmos, suportarmos, amarmos, enfim, nossa esposa ou esposo.
Isso significa abrirmos mão de sonhos que cultivávamos enquanto éramos solteiros, do tempo que tínhamos ao nosso dispor para fazermos o que bem queríamos, da possibilidade de sairmos ou deixarmos de sair com fulano ou ciclano… Para alguns, isso talvez seja muito pesado ou difícil. Para esses eu digo: não case! Se não está disposto a ter um compromisso com alguém, não case!
De modo semelhante, quando estamos trabalhando em uma determinada empresa, o mínimo que é requerido de nós é que tenhamos lealdade para com aquele estabelecimento. Faz parte da ética no emprego você não falar sobre segredos do negócio, por exemplo, com estranhos, ou fazer fofoca no local de trabalho, ou falar mal do chefe, etc.
O compromisso, a lealdade, devem se tornar mais fortes com a caminhada, com o tempo de convivência, mas são decisões que tomamos num momento específico e que devemos pensar bastante, e quando somos omissos com relação a esse atributo, isso reflete muito o nosso caráter ou falta dele.
De fato, há muitas pessoas para quem devemos ser leais: nossos cônjuges; nossos pais e irmãos, se ainda somos solteiros; nosso chefe e colegas de trabalho; nossos amigos e, especialmente, nossos irmãos na fé. Mas, acima de todos, nossa fidelidade, nosso compromisso maior deve ser para com nosso Senhor.
Judas traiu a confiança de seu Mestre e de seus companheiros de três anos de caminhada, demonstrando não ter compromisso com aquelas pessoas com quem tinha dividido muitos momentos impactantes juntos. Na verdade, quando ele se vendeu, ele deixou claro que o único compromisso que possuía era consigo mesmo, com suas expectativas e mais nada, bem parecido com os líderes religiosos de Israel.
Jesus, por outro lado, se comprometeu para com seus discípulos, tanto aqueles primeiros homens que o seguiram, quanto sua igreja no decorrer dos séculos e até hoje, isso porque Ele é fiel, mesmo a despeito da nossa infidelidade, cf. 2 Timóteo 2:13.
‘Mesmo quando formos infiéis, ele continua fiel para conosco, pois não pode negar-se a si mesmo”. – 2 Timóteo 2:13
Isso é algo valioso que Cristo nos ensina hoje. Judas foi-lhe infiel, mas Jesus permaneceu fiel porque a fidelidade é parte de sua essência, é um de seus atributos.
Isso significa que devemos, então, dar de ombros e “descansar” na fidelidade de Deus enquanto nós não assumimos compromisso nenhum para com Ele? Não! Deus é fiel para com sua família, seus filhos, seu povo, suas ovelhas. Mesmo quando caímos ou somos infiéis. Mas, perceba que há um “se”, se somos seus.
Jesus diz o seguinte em João 10:11-15:
“Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Um simples empregado não é o pastor a quem as ovelhas pertencem. Assim, se perceber que o lobo vem chegando, ele deixa as ovelhas e foge. Com isso o lobo ataca e espalha o rebanho.
O empregado foge porque é apenas uma pessoa que trabalha por dinheiro, e não tem interesse real pelas ovelhas.
“Eu sou o bom Pastor, conheço minhas próprias ovelhas, e elas me conhecem.
Assim como o Pai me conhece, eu conheço o Pai, e entrego a minha vida pelas ovelhas.
Veja a diferença entre Jesus e Judas, um dá a vida pelas ovelhas, o outro só quer saber do dinheiro. Para esse, as ovelhas são um mero pretexto, uma desculpa para ganhar dinheiro fácil. Na primeira dificuldade fogem da responsabilidade porque homens assim não são, de fato, pastores. É o infeliz retrato de muitos líderes religiosos ainda hoje que dizem seguir Jesus mas sua preocupação começa e termina no próprio bolso.
Parte do propósito de Deus é nos tornar mais parecidos com seu Filho, o que faz pelo processo da santificação pelo Espírito, então é esperado de cada um de nós que deixemos de lado as coisas que nos aprisionavam, as coisas do passado, a infidelidade para com o Senhor, e sejamos conduzidos para uma condição que possamos refletir essa nova criatura que deveríamos ser.
Se entra ano e sai ano, e eu e você dizemos que somos evangélicos, que possuímos um compromisso com Jesus apenas porque “levantamos a mão” ou “viemos à frente” durante um apelo, mas nossa vida continua igual, estamos negando a Jesus por meio de palavras, ações ou atitudes, a verdade é que não temos compromisso com Ele e estamos “perdendo tempo” mentindo a nós mesmos e talvez a outras pessoas ao nosso redor.
Um outro aspecto é que o compromisso que temos com Jesus deve também se estender para com sua família.
Percebam que, ao trair Jesus, Judas trai também seus companheiros de jornada. Jesus não andava só, Judas não era o único, assim como não somos eu e você. Não existe igreja individual, isolados, então na medida em que eu e você não congregamos, dizemos que não queremos ter compromisso com a família de Deus, então não há como termos compromisso com Jesus e não termos com seu povo.
Se eu não tenho compromisso genuíno com Jesus, logo que sou confrontado com a dura realidade da vida, quando meus sonhos (ou expectativas) são frustradas, quando começo a ser perseguido por amor ao seu nome, logo desfaleço e abandono a fé. É o que nos diz Mateus 13:20,21 na parábola do semeador:
O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
Ter compromisso com Jesus implica necessariamente em obediência. É uma contradição você dizer que segue a Cristo e não obedecer os seus mandamentos.
João 14:21-24 diz o seguinte:
Aquele que tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama.
Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei, e me revelarei a ele”.
Judas (não o Iscariotes) disse: “Por que o Senhor vai se revelar somente a nós e não ao mundo?”
Jesus respondeu: “Quem me ama guardará a minha palavra. O Pai também o amará, e nós haveremos de vir e morar nele.
Todo aquele que não me ama não obedece às minhas palavras.
Em um trecho tão curto, Jesus fala por três vezes que a prova de que alguém o ama, ou seja, que tem compromisso com Ele, é através da obediência. Diz ainda que a prova de que alguém não tem compromisso é não obedecê-lo. Finalmente, o texto deixa claro que a verdadeira revelação só é dada ao seu povo, não ao mundo todo de modo geral, mas ao povo da obediência.
Ezequiel 33.31-32 diz assim:
Eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois, com a boca, professam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro.
Eis que tu és para eles como quem canta canções de amor, que tem voz suave e tange bem; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.
Não adianta falar que é seguidor de Jesus, e não obedecê-lo, não pôr em prática sua Palavra, seus mandamentos. Dizer que acredita em Jesus apenas por uma compreensão intelectual, é possuir “fé” semelhante à dos demônios, conforme Tiago 2:19, que acreditam em Deus – é claro, eles conviveram com o Pai e Criador de todas as coisas nos céus até se rebelarem contra Ele, isso os leva a um sentimento de medo e reconhecimento de quem são e de quem Ele é, mas tudo isso não gera fruto.
Compromisso é fruto da fé, fé ativa, racional, emocional e intencional que resulta em obediência.
3 – Pecado
Foi o nosso pecado que, em última análise, custou o sacrifício de Jesus na cruz. Não tivesse Adão pecado, mas não apenas ele, não tivéssemos eu e você pecado, não teria sido necessário Deus enviar seu próprio Filho para morrer em nosso lugar, um justo pelos injustos, cf. 1 Pedro 3:18.
Nós recebemos a justiça de Cristo e Ele o nosso castigo.
Romanos 8:33 diz:
Quem se atreve a acusar os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.
Deus justifica seus escolhidos. Contra eles já não pesa nenhuma possibilidade de condenação, cf. Romanos 8:1, a saber, contra aqueles que pertencem a Cristo Jesus.
No mundo de hoje, é muito difícil aceitarmos que nossos mal comportamentos, nossos vícios, nossas vaidades e egoísmos são o que de fato são: pecado.
O mote da nossa cultura atual é que todo comportamento pecaminoso é no máximo uma inconveniência, tudo hoje passou a ser tratado como um transtorno, como uma “doença” psicológica que precisamos tratar, talvez aprender a conviver com ela, e não como algo maligno que precisa ser extirpado, como um câncer, e que afeta o ser humano por inteiro – corpo, alma, espírito – assim como a própria natureza e a sociedade como um todo e que significa rebelião contra Deus, desobediência aos seus mandamentos e valores, rejeição e insubmissão a Cristo.
Meus irmãos, Cristo não entregou sua vida para resgatar meros doentes, pessoas com transtornos, síndromes disso ou daquilo outro, apenas inconvenientes ou marginalizados, não!
Ele veio resgatar pecadores, entre os quais todos esses daí que a sociedade politicamente correta de nossos dias quer tratar com todo tipo de remédio, menos com a cruz de Cristo, o arrependimento e a conversão!
Vou dizer algo que talvez choque alguns aqui: o pior lugar para se estar é perto de Jesus sem obedecê-lo.
É o lugar de Judas e tantos outros no decorrer da história.
Deixe-me dar um exemplo: Stálin, o líder da extinta União Soviética que sucedeu Lênin, antes de se tornar um dos maiores genocidas que o mundo já conheceu, foi um seminarista estudante para ser padre ortodoxo.
Existem diversos inimigos do cristianismo, de Cristo e sua igreja. Como Lutero e Calvino em sua época chamavam os papas de então de anticristos, hoje temos um que também se levanta contra Deus e seus valores.
A Palavra de Deus nos diz que maldito o que for levantado num madeiro, cf. Gálatas 3:13:
Entretanto, Cristo nos comprou e nos redimiu da maldição da Lei, quando se tornou maldição em nosso lugar. Porque está escrito nas Escrituras: “Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro”.
Jesus foi maldito, Judas também, mas por razões absolutamente diferentes e opostas. Judas carregou a culpa do seu próprio crime e pecado. Ele era culpado. Jesus era inocente e carregou a culpa dos pecados de todos os eleitos de Deus.
Pecados que foram cometidos no passado, que cometemos hoje, e que serão cometidos amanhã. Jesus tem poder de perdoar pecados e isso é algo a que podemos nos agarrar.
Várias vezes Ele diz “filho” ou “filha”, “teus pecados foram perdoados”, cf. Lucas 7:47,48, Lucas 5:20, indo além das expectativas limitadas de cura ou aceitação que aqueles que se aproximavam dEle poderiam nutrir.
Isso porque o pecado cega nosso entendimento e até as coisas boas que achamos que fazemos estão manchadas pelo pecado e são fruto em alguma medida do egoísmo de nosso coração. De fato, até responder com fé ao chamado do Pai é decorrente de Ele ter nos escolhido primeiro, ter tido a iniciativa salvadora em Cristo Jesus.
A realidade do pecado mostra a nossa condição de pecadores. Pecadores debaixo da ira de Deus, cf. Efésios 5:3-7.
Que não haja pecado sexual, impureza ou ganância entre vocês. Que isso não seja nem mesmo assunto de conversa entre os santos.
As histórias sujas, a conversa indecente e gracejos inconvenientes, estas coisas não são para vocês. Em vez disso, relembrem uns aos outros da bondade de Deus e sejam agradecidos.
Podem estar certos disto: o reino de Cristo e de Deus nunca será de ninguém que é imoral ou impuro ou ganancioso ou idólatra. Esses não têm herança no Reino de Cristo e de Deus.
Não se deixem enganar por aqueles que procuram justificar esses pecados, porque a terrível ira de Deus está sobre todos aqueles que os praticam.
Não andem nem mesmo na companhia de tais pessoas.
E ainda Efésios 2:3:
Todos nós costumávamos viver entre eles, manifestando pelas nossas vidas o mal que havia dentro de nós, e fazendo todas as coisas ruins para as quais as nossas paixões ou os nossos maus pensamentos pudessem nos arrastar. Estávamos debaixo da ira de Deus tal como todos os demais.
Deus é um Deus santo. Santíssimo. A santidade de Deus é o único atributo que é repetido três vezes, sinal de ênfase no idioma original. Um Deus assim não pode conviver com o pecado, e não pode conviver com pecadores. Deus, afinal, não castiga pecados, nem lança pecados no inferno, ele castiga pecadores, e esses com a morte eterna longe da sua presença.
Contra essa doença fatal, essa condição que afeta nossa natureza, só há um remédio, uma solução, crer em Jesus Cristo, nascer de novo, cf. João 3.
Quando Deus olha para pecadores lavados e remidos pelo sangue de Jesus, Ele não mais enxerga nossos pecados, mas sim a justiça e a santidade de Cristo. Nossos pecados são metaforicamente lançados no fundo do mar, cf. Miqueias 7:18,19:
Onde haverá outro Deus como o Senhor, que perdoa os pecados e esquece a transgressão do remanescente de seu povo? O Senhor não fica irado para sempre, porque tem prazer em amar e perdoar.
O Senhor terá compaixão de nós mais uma vez. O Senhor pisará e esmagará as nossas maldades e jogará todos os nossos pecados no fundo do mar!
Conclusão
Meus irmãos, uma traição não acontece da noite para o dia, de supetão. Não. Começa com expectativas irreais que acabam sendo frustradas. Expectativas baseadas no nosso imaginário, e não necessariamente naquilo que o outro nos terá prometido e, no caso de Jesus, naquilo que a Palavra de Deus nos revela.
Expectativas frustradas que se somam a um compromisso não com o outro, mas com nós mesmos, com nossos interesses egoístas, nossa vaidade, nossos desejos ocultos. É tudo a respeito do “eu”. O outro só está ali com o propósito de satisfazer nossas expectativas, senão é descartado, é abandonado, negado e traído.
E, finalmente, esse tipo de expectativa, que gira em torno do compromisso com o “eu”, é, na verdade, nada mais nada menos do que o pecado que habita em nós e que se nós acalentarmos, em vez de tratá-lo com seriedade e buscar a cura para esse mal, ele irá nos consumir até morrermos, mas não sem antes causar um estrago incalculável naqueles que estão ao nosso redor.
Em certa medida, muitos de nós estamos em situação parecida com a daqueles homens que diziam seguir Jesus naquela noite. Temos alimentado falsas expectativas a respeito do Senhor, expectativas de riquezas, de ausência de problemas, de que nossa vida será um mundo cor-de-rosa…
As ideologias têm se misturado à piedade gerando doutrinas e religiões doentes e adoecedoras, que podem nos levar a tomar as armas que temos às mãos e partir para a luta, quando a grande luta é a conversão diária do nosso coração.
Pode ser que você que está me ouvindo esteja se decepcionando com Jesus por achar que merecia mais, que merecia o melhor, pois foi o que lhe prometeram, talvez até distorcendo textos bíblicos, mas hoje é tempo de ajustarmos o foco e a bússola da nossa mente para entendermos que Jesus quer nos salvar da morte, consequência do nosso pecado, da ira de Deus, e nos reconciliar com o nosso Pai.
Por outro lado, por estarem levando uma vida de aparente religião, mas sem, de fato, obedecerem a Jesus, sem terem um compromisso com Ele real, pode ser que alguns aqui estejam na posição de Judas, prestes a trair Jesus, trai-lo com um beijo, e não somente a Ele, mas a todos os companheiros de caminhada.
O pior lugar para alguém estar é perto de Jesus sem obedecê-lo, então se esse é o seu caso, só há duas opções para você hoje:
1) reconheça sua dificuldade, seu erro, seu pecado, peça perdão a Deus e assuma um novo compromisso com seu Filho, alinhando suas expectativas à vontade dEle revelada nas Escrituras;
2) ou, tenha coragem de admitir que está vivendo uma mentira e abrace logo o mundo, afinal, já que você vai para o inferno mesmo, “curta” pelo menos esses poucos anos que vai viver nesta terra, e deixe de atrapalhar a caminhada de santidade daqueles que querem seguir a Jesus de verdade.
Apocalipse 22:11 diz assim:
E quando chegar aquele tempo, todos os que praticam o mal o praticarão cada vez mais; aquele que é imundo se tornará cada vez mais depravado; os homens de bem continuarão a praticar o bem; aqueles que são santos prosseguirão em santificar-se”.
Oração.
Deus nos abençoe.