Ontem à noite fui para um "culto da vitória" com meu Pai, na igreja que ele costuma frequentar quando vem à Fortaleza. Não vou discutir sobre como o templo não tinha telhado, ficando todo mundo à mercê de um banho de chuva, nem do fato da igreja ter poucos e estreitos acessos, o que num caso de emergência pode acarretar em um desastre, nem ainda da péssima qualidade do som, equipamentos e demais músicos, até porque a igreja ainda está de mudança e, em se tratando de Assembléia de Deus, seria demais esperar bons cantores, e gosto é gosto, não há o que se discutir, mas sinceramente, eu poderia ter passado sem noventa por cento do culto de ontem. Literalmente tive que me segurar na minha cadeira para ou me levantar e ir embora, para desgosto do meu pai, ou levantar e gritar com o pastor que a maioria do que ele estava falando, do que estava acontecendo, era no mínimo sem respaldo bíblico, e no máximo heresia violenta, o que certamente faria meu pai morrer do coração e de vergonha.
Barganha com Deus. Era isso que se via. Um momento de testemunhos, onde de fato as pessoas agradeciam a Deus, mas faziam questão maior de exaltar a campanha da qual participaram e "através da qual" obtiveram seus frutos, bem como o gordo cheque que cada uma devolvia ao "santuário", como eles falavam, depois da "conquista". Aliás, tudo se desenrolou acerca desse tema, como Deus iria nos "dar a vitória", como iríamos "conquistar" em 2007, como Deus tinha "prometido" mundos e fundos e tudo mais a quem colaborasse etc etc etc
A pregação também decorreu nesse sentido, apesar de pelo menos ter feito algum sentido, e não ter sido de toda fora do contexto bíblico… mas, usada como pretexto para o momento posterior, de coleta de dízimos e ofertas, bem como o contexto geral do culto, tudo que foi cantado e falado me fez sentir em plena idade média, e com vontade de pregar às portas da igreja as minhas próprias 95 teses, ou reeditar as de Lutero porque a igreja evangélica hoje parece flertar com a igreja católica, não a atual, mas a sua pior fase na história.
Prometer bens materiais, cura, e tudo mais que foi falado ali, em nome de Deus como o pastor, aparentemente "em transe", fez crer, quando olhamos na bíblia que nenhum discípulo viveu uma vida tranquila, cheia de riquezas, aliás, não que a bíblia exalte a pobreza (salvo a de espírito) como uma virtude em si, é no mínimo dúvidar do bom senso daquele que conhece pelo menos um pouco da história da igreja, daquilo que está escrito na Palavra de Deus. É o famoso eu finjo que faço e você finge que obedece, numa conotação de que eu finjo que prego o evangelho, você finge que vive, ambos procuramos o material e estamos conversados.
Tenho pena daqueles que se deixam enganar, pela sua ignorância, mas pena mesmo tenho da liderança, porque a bíblia diz claramente que ai daquele que fizesse tropessar um só dos pequenos de Deus, que dirá mais de quatro mil pessoas que haviam naquele lugar.
Uma coisa não, você poderia chamá-lo de louco, de herege, de hipócrita e todos os piores adjetivos que alguém, ao assistir aquele cena, pudesse lembrar, mas que ele tem visão, isso ele tem, porque querer transformar aquele lugar depois de pronto em centro de turismo evangélico, como muitas catedrais católicas o são, além de uma idéia bem bolada, de fato pode vir a colar, já que tem tanta gente besta que acha que Deus se interessa em templos e megaigrejas, quando de fato somos nós, pessoas, que somos seu santuário.
Acho que a igreja evangélica hoje em dia está se esquecendo de como Deus "gostou", pra não dizer o contrário, da idéia de construirem o primeiro templo, o de Salomão. Deus não habita em templo feito de barro ou por mãos humanas, mas nos corações daqueles que creem em Seu nome.