Sobre Inveja Ministerial

Há cerca de um mês nós, no nosso PG, estudamos o capítulo 9 de Marcos. Nesse capítulo 9, nós vimos a inveja que os fariseus e demais líderes religiosos nutriam com relação a Jesus, de sua popularidade perante o povo, o que ofuscava seu “brilho”.

Antes do ministério de Jesus os fariseus e os outros líderes, os escribas, os sacerdotes, por exemplo, gozavam de uma popularidade muito grande perante o povo, eram considerados como homens de Deus, tinham fama e uma alta estima perante o povo.

Mateus 27:18, na ocasião do julgamento de Jesus por Pilatos, o texto diz assim:

Pois ele sabia muito bem que os líderes dos judeus tinham prendido Jesus por inveja. – Mateus 27:18

Ele, quem? Pilatos.

E aí, o tema da nossa reflexão de hoje, inveja ministerial. Sobre inveja ministerial.

“Mas, Eliade, não seria melhor falar sobre inveja em geral, que seria mais abrangente e trataria de tudo logo sobre esse assunto”?

Primeiro que esse assunto é muito amplo, na daria pra gente estudar sobre inveja de modo geral em uma pequena reflexão. Talvez eu faça outra reflexão, ou mais de uma, sobre esse assunto.

Segundo que essa tem sido a orientação que recebi do Espírito Santo desde esse mês, mais ou menos, quando fizemos esse estudo no PG da gente.

Terceiro que é algo que falou profundamente comigo, que vez por outra, sendo bem honesto com vocês, me sinto tentado por esse pecado em particular.

A inveja daqueles homens não era qualquer inveja, era uma inveja específica.

Uma das coisas que pode levar à inveja ministerial é aquele sentimento que vem logo antes, de “eu posso”, “eu sei”, “eu sou capaz”, “eu faço”, “por que ele, não eu?”…

Marcos 9:38-41 diz o seguinte:

João disse-lhe certa vez: “Mestre, nós vimos um homem utilizando o seu nome para expulsar demônios; nós o proibimos, porque ele não é do nosso grupo”.
“Não o proíbam”, disse Jesus, “porque ninguém que faça milagres em meu nome se voltará contra mim em seguida.
Todo aquele que não é contra nós está a favor de nós.
Eu afirmo a vocês a verdade: Se alguém lhes der um copo de água em meu nome, porque vocês são de Cristo, eu afirmo que de modo nenhum perderá a sua recompensa.

Perceba que os discípulos nesse mesmo capítulo acabaram de receber uma reprimenda de Jesus por causa de uma discussão entre eles sobre quem seria o maior, possivelmente por Jesus ter chamado para o monte apenas Pedro, Tiago e João, que testemunharam sua transfiguração, e isso pode ter gerado talvez um sentimento de superioridade entre esses com relação aos demais, ou, o contrário, um sentimento de inferioridade nos demais com relação a esses.

Em outra situação semelhante a essa, quando a mãe de Tiago e João pede ao Senhor por posições honrosas para seus filhos, causando indignação nos demais discípulos, o Mestre responde:

Mas entre vocês deve ser diferente. Todo aquele que quiser ser importante entre vocês deverá ser um servo. – Mateus 20:26

A inveja ministerial, sentida pelos religiosos em relação a Jesus e seus discípulos, e entre os próprios discípulos entre si, é algo que infelizmente pode nos afetar hoje.

Em vez de olharmos para homens e mulheres de Deus com admiração, e orarmos por suas vidas, nós cobiçamos a sua fama, o seu status, o seu poder, o facínio que exercem sobre muitas pessoas…

Desejamos ter a mesma capacidade de oratória, a mesma voz, a mesma presença de palco, enfim, muitas vezes nós olhamos para cantores, pregadores, pastores e outros líderes com algo negativo em nosso coração.

A inveja simplesmente não possui nenhum ponto positivo que se possa salvar. É como se desejássemos para nós a glória que é de Deus. É isso mesmo!

O irmão ou irmã que são vasos de honra, instrumentos nas mãos de Deus para alcançar os perdidos, para edificação do seu povo, e que muitas vezes passam por lutas que desconhecemos, abrem mão de coisas que não estaríamos dispostos ou preparados física, emocional ou espiritualmente para abrir mão, depois de passar por uma caminhada de muito tempo, mas nós queremos agora, como um passe de mágica, que Deus nos use da mesma maneira…

Aí talvez você que me leia diga, “poxa, eliade, mas você está sendo muito radical. Não é como se eu desejasse tomar o lugar do irmão…”, mas não precisa!

Deus é soberano e usa quem Ele quer, quando Ele quer, do jeito que Ele quer, para cumprir o seu propósito, e importa que Ele cresça e que eu diminua, que Ele apareça e eu me constranja, como diz aquela música baseada nas palavras de João Batista em João 3:25-30. Vamos ao texto.

Um dia alguém começou uma discussão com alguns dos discípulos de João sobre a cerimônia da purificação.
Eles foram falar com João e lhe disseram: “Mestre, o homem que o senhor encontrou no outro lado do rio Jordão, aquele do qual o senhor testemunhou, também está batizando, e todos estão indo atrás dele, em vez de virem a nós aqui”.
João respondeu: “O homem não pode receber nada se do céu não lhe for concedido.
Vocês são testemunhas de que eu disse: Eu não sou o Cristo. Eu estou aqui para preparar o caminho para ele; isso é tudo.
A noiva irá para onde o noivo está! Os amigos do noivo alegram-se com ele. Eu sou o amigo do noivo, e estou cheio de alegria com o sucesso dele.
Ele deve tornar-se cada vez maior, e eu devo diminuir cada vez mais.

João reconheceu o seu lugar e o privilégio de ser pequeno, de ser insignificante.

A inveja ministerial pode nos levar a um lugar de desobediência, de tentarmos fazer a obra de Deus pelo nosso próprio esforço, segundo a nossa vontade, conforme os nossos métodos e valores, tentando aparecer mais do que a obra em si ou pior, do que o dono da obra.

Muitas vezes nos escoramos no trabalho e no ministério de outro tentando fazer a obra de Deus para conseguir vantagens pessoais, conseguir novos clientes ou parceiros comerciais…

Vamos dar uma olhada em outra situação de inveja ministerial, que a Bíblia nos traz em Atos 19:13-17.

Um grupo de judeus viajantes que ia de lugar em lugar expulsando espíritos imundos tentou usar o nome do Senhor Jesus, dizendo: “Em nome de Jesus, a quem Paulo prega, eu lhes ordeno que saiam!”
Quem estava fazendo isso eram os sete filhos de Cevá, um dos sacerdotes principais dos judeus.
Mas quando eles tentaram isso com um homem dominado com um espírito imundo, o espírito respondeu: “Eu conheço Jesus e conheço Paulo, mas quem são vocês?”
Então o homem dominado pelo espírito mau saltou em cima deles e os espancou, de modo que fugiram da casa dele, nus e feridos.
A história do que tinha acontecido espalhou-se rapidamente por toda a Éfeso, tanto entre os judeus como entre os gregos; e um grande temor desceu sobre a cidade, e o nome do Senhor Jesus era grandemente reverenciado.

Aqui, meus irmãos, cabe um parêntese. A prática do exorcismo era comum naquela época, pessoas tentavam ganhar dinheiro utilizando mandingas, rituais, como a gente vê em filmes, e esses judeus ouviram falar do poder de Paulo e do poder de Cristo e, sem ter um relacionamento pessoal com o Senhor, tentaram usar de seu nome e até do nome de Paulo para realizar aquele milagre que, obviamente, não saiu como esperado e deu muito mal pra eles.

A inveja ministerial não traz o respaldo espiritual, a autoridade, que só o tempo de intimidade com o Pai e joelhos no chão são capazes de trazer. Nesse caso, a rebordosa espiritual do reino das trevas foi imediata e tremenda.

Caminhando pra o final dessa reflexão, queria deixar dois textos inseridos num contexto de uma igreja problemática, pois era uma comunidade dotada de muitos dons espirituais, mas pouca maturidade. Nesse caso, a inveja gerou partidarismo e divisão, em vez da unidade que os dons devem proporcionar ao corpo que deles usufrui. O primeiro encontra-se em 1 Coríntios 3:1-9.

Queridos irmãos, estou-lhes falando como se vocês ainda fossem apenas criancinhas, que não estão seguindo ao Senhor como deveriam, mas os seus próprios desejos; não posso falar-lhes como falaria a homens fortes, cheios do Espírito.
Eu os tenho nutrido com leite, e não alimento sólido, pois vocês não podiam digerir nada mais forte. E mesmo agora vocês ainda precisam ser alimentados com leite.
Vocês ainda são homens de primeira infância, controlados por seus próprios desejos e não pelos de Deus. Quando vocês sentem inveja uns dos outros e se dividem em grupos que guerreiam entre si, isso não é uma prova de que vocês ainda são crianças que só querem fazer a sua própria vontade?
Pois se entre vocês há pessoas que dizem: “Eu sou de Paulo”, ou: “Eu sou de Apolo”, estão agindo como pessoas mundanas.
Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Ora, nós somos apenas servos de Deus. E com nossa ajuda é que vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor deu a cada um de nós.
Meu trabalho foi o de plantar, o de Apolo foi regar, porém foi Deus, e não nós, quem fez crescer.
De modo que a pessoa que planta ou rega não é muito importante, mas sim Deus é que é importante, porquanto é ele que realiza o crescimento.
O que planta e o que rega têm o mesmo alvo, e cada um será recompensado pelo trabalho que cada um realizou.
Pois somos apenas colaboradores de Deus. Vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus. – 1 Coríntios 3:1-9

Paulo aqui trata a quem age dessa maneira como criança, bebezinhos de leite, porque, movidos por inveja, passam a se alinhar a um ou a outro, no mal sentido (se é que existe algum sentido bom nisso), e a menosprezar, a caluniar, a mentir e a brigar mesmo por causa de besteiras, de coisas superficiais…

Eu penso muito em como nós damos muito valor a placas de igreja, tipo “ah, eu sou batista”, “ah, eu sou presbiteriano”, “ah, eu sou pentecostal”, e nada contra celebrarmos nossa história, nossa doutrina e nossos valores, mas não como se isso garantisse um selo de qualidade “do INMETRO”, ou me tornasse melhor que o irmão de outro lugar, ou mais preparado, e quem não está comigo está errado, é infiel, indo contra os ensinos de Paulo e do próprio Jesus!

Nós somos, ou deveríamos ser, colaboradores, não competidores até porque, afinal, como disse o Senhor, a Seara é grande e poucos são os ceifeiros (Mateus 9:37), então se eu ou você achamos que não há espaço para cantarmos, ou pregarmos, ou pastorearmos, ou liderarmos, ou fazermos algo que desejamos tanto em nossa comunidade local na qual congregamos, meu irmão, minha irmã, há falta de bons obreiros em muitas igrejas pequenas de periferia ou no interior que eu e você podemos ajudar, e se a vontade é tão grande assim, há muitos outros lugares onde a Palavra de Deus ainda não chegou, cidades inteiras a conquistar para o Senhor, mas não com esse espírito de inveja e desunião.

O segundo texto encontra-se em 1 Coríntios 12:11-26.

É o mesmo e único Espírito Santo que dá todos esses dons, e ele os distribui individualmente, a cada um como quer.
Nossos corpos têm muitos membros, porém esses muitos membros formam um só corpo. Assim acontece com Cristo.
Cada um de nós é um membro desse corpo único de Cristo. Alguns de nós são judeus; outros, gentios; alguns são escravos, e outros, livres. Entretanto, o Espírito Santo encaixou-nos todos juntos num só corpo. Todos nós fomos batizados no corpo de Cristo pelo único Espírito, e a todos nós foi dado beber do mesmo Espírito Santo.
Ora, o corpo não é feito de um só membro, mas de muitos.
Se o pé disser: “Não sou membro do corpo porque não sou mão”, nem por isso deixa de ser um membro do corpo.
E que pensariam vocês se ouvissem uma orelha dizer: “Não sou membro do corpo, porque sou apenas orelha, e não olho”? Será que isso a faria menos parte do corpo?
Suponhamos que o corpo inteiro fosse olho — então como é que vocês ouviriam? Ou, se o corpo todo fosse orelha, como é que vocês poderiam sentir o cheiro de alguma coisa?
Entretanto, Deus criou muitos membros para os nossos corpos e colocou cada um desses membros conforme ele quis.
Que coisa esquisita seria um corpo, se tivesse somente um único membro!
Assim foi que ele fez muitos membros em um só corpo.
O olho não pode dizer à mão: “Não preciso de você”. A cabeça não pode dizer aos pés: “Não preciso de vocês”.
E alguns dos membros que parecem ser os mais fracos e menos importantes são, na realidade, os mais necessários.
E aqueles membros que achamos ser menos honrosos, nós os protegemos, com todo o cuidado. E os membros que parecem ser feios recebem um tratamento especial, enquanto outros membros não exigem esse cuidado especial. Assim, Deus armou o corpo de maneira tal que se dão cuidado e honra maiores àqueles membros que, de outro modo, poderiam parecer menos importantes.
Isso produz harmonia entre os membros, não havendo divisão no corpo. Todos os membros têm o mesmo interesse uns pelos outros.
Se um membro sofrer, todos os outros sofrem com ele, e se um membro for honrado, todos os outros se alegram com ele. – 1 Corintios 12:11-26

Paulo sabia bem o que era lidar com inveja ministerial. Em Filipenses 1:15-18 ele narra uma situação de sua vida quando isso ocorreu.

Alguns, naturalmente, estão pregando o evangelho por inveja e rivalidade. Eles querem ter também a reputação de pregadores destemidos! Outros, porém, têm motivos puros, e pregam por amor, pois sabem que o Senhor me trouxe até aqui a fim de me usar para defender a verdade do evangelho.
Alguns pregam a Cristo para fazer-me inveja, pensando que seu êxito aumentará minhas tristezas aqui no cárcere! Mas não importa a razão pela qual eles o estão fazendo, por motivos falsos ou verdadeiros; o que importa é que o evangelho de Cristo está sendo pregado, e eu fico alegre. – Filipenses 1:15-18

Meus irmãos, por que Deus resolve nos usar mesmos quando motivados pela inveja ministerial é algo que vai além do que posso compreender. Deus escolhe levar a cabo seus propósitos mesmo a despeito da maldade humana, isso é verdade. Mas não deveria ser isso o que nos motiva e, de fato, a pessoa alvo de nossa inveja muitas vezes não é impactada (graças a Deus!) nem uma vírgula, nem uma ruga lhe nasce, nenhum cabelo branco. Só em nós…

Pra concluir, reflita nesse segundo texto. É engraçado como a gente sente inveja de grandes expoentes do meio Evangélico nessa ou naquela área, eu citei algumas, mas não consigo imaginar ninguém sentindo inveja do ministério de Madre Teresa de Calcutá, de abrir mão de sua vida e se entregar completamente em favor de pobres e marginalizados, sujos e doentes… Ou ainda inveja do ministério do irmão que varre a igreja com toda alegria porque com isso está adorando ao Senhor…

Percebe onde quero chegar? Esse texto nos deixa claro que os dons espirituais, que são para edificação do corpo, é o próprio Espírito Santo quem dá. Se você acha que gostaria de ter um dom que não tem, ore, peça a Deus, pode ser que Ele dê. Agora perceba que a caminhada para que você seja trabalhado ao ponto de receber tal dom deve ser medido e bem medido porque nenhum dom vem sem luta, no sentido de que nossa vida não será a mesma uma vez que Deus nos capacita e chama para trabalhar. O dom não será nosso nem para nosso benefício, mas do reino.

Se seu desejo é pregar, estude a Palavra, procure um discipulador ou mentor que possa lhe ajudar nesse processo, e pratique onde puder, falando com o motorista do uber, esperando ser atendido no consultório médico, no caixa do supermercado enquanto paga as compras, ou peça uma oportunidade de levar um estudo ao seu líder de pequeno grupo…

Entretanto, meus irmãos, como o texto deixa claro, nem todos foram chamados para serem grandes evangelistas como Billy Graham, por exemplo, nem todos foram chamados para cantar como Aline Barros, então, se você não possui uma voz minimamente afinada, seja humilde… Se o seu desejo é muito grande, e não é movido por inveja, ore e procure orientação profissional, Deus pode te usar na sua fraqueza e lhe conduzir de maneira surpreendente por lugares onde você não imaginaria chegar. Mas, pode ser que não, pode ser que Ele prefira usar você no seu trabalho, na sua faculdade, na sua profissão, na sua família, dando bom testemunho e falando do Seu amor a pessoas da sua convivência que artista famoso nenhum poderia, líder nenhum seria capaz.

A minha oração, hoje, é para que eu e você nos arrependamos de qualquer sentimento de inveja ministerial, confessemos e peçamos perdão a Deus. Se formos sinceros, pode ser que Deus nos abençoe com mais dons, conforme o seu propósito. De todo modo, recebendo ou não esses dons, que possamos ter prazer em realizar a obra para a qual já fomos chamados e exercitar os dons que já temos e, talvez, estejam enterrados precisando ser descobertos e postos a bom uso.

Deus nos abençoe.

Sobre Desculpas Esfarrapadas

Ontem na hora do almoço eu tava conversando com um colega do trabalho e ele me disse que um primo havia morrido, mas que, como a família dele tem muita confusão, não ia para o enterro, e emendou “afinal, deixa que os mortos enterrem os seus mortos, não é isso o que diz a Palavra?”…

Ele não é cristão, certamente não evangélico, mas alega viver uma vida religiosa, pelo que já conversamos outras vezes, num sincretismo entre catolicismo popular e espiritismo, e vez por outra trocamos uma ideia sobre religião, Bíblia, fé, cristianismo e onde mais o assunto levar.

Quando esse colega citou esse texto bíblico (de fato, a Palavra diz isso em Mateus 8:22), eu lhe retruquei com a seguinte pergunta: você sabe o que isso quer dizer?

“Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos.” – Mateus 8:22

Muitas vezes, de tanto ouvirmos textos bíblicos, versículos isolados, temos a impressão que conhecemos as Escrituras sagradas, o que nem sempre é o caso. E mesmo que conheçamos o texto impresso, as coisas espirituais somente discerne quem é espiritual, cf. 1 Coríntios 2:12-15.

“Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.
As quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.
Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.” – 1 Coríntios 2:12-15

Por essa razão, ele deu lá sua explicação para aquilo que considerava ser o significado desse versículo, que numa interpretação rasa (sem qualquer demérito seu) e desprovida do contexto e da iluminação do Espírito Santo, bem poderia ser válida, mas eu passei a explicar-lhe o que realmente significa esse texto, aproveitando a oportunidade que o Espírito havia me concedido de compartilhar um pouco de sua Palavra com alguém que não possui um relacionamento com o Pai, plantando assim, quem sabe, mais uma de muitas sementes que o tempo e as ocasiões me permitiram e espero sempre permitir fazê-lo.

Nesse sentido, eu disse ao colega que esse texto de Mateus 8:22 está num contexto onde há um aparente (subentendido) convite de Jesus para que pessoas o sigam. Num primeiro momento, um escriba, um religioso conhecedor da lei mosaica, apressadamente diz ao Senhor que O seguiria aonde quer que Ele fosse. Jesus lhe alerta que o caminho que Ele seguia era um caminho de imprevistos e necessidades, e que não devemos nos comprometer de maneira irrefletida com seu chamado, que é algo sério e custa caro, referente às coisas que deveremos abrir mão na caminhada.

Em seguida, vem o texto mencionado, quando expliquei ao colega que Jesus aqui fala sobre os mortos espirituais, querendo dizer “deixe que os mortos espirituais enterrem-se a si mesmos, mas vem, tu, e tenha vida Comigo”.

Jesus os (e nos) convida a receber a vida eterna, algo que quem é morto em seus delitos e pecados (cf. Efésios 2:1,5) não tem como discernir. Quem está morto não discerne as coisas da vida, não ouve o chamamento, não tem como responder, por isso inventa e dá desculpas esfarrapadas, porque não entende o que está ouvindo e menos ainda o que está dizendo, o peso e a profundidade das coisas espirituais para as quais ainda não foi iluminado a compreender nem vivificado a fazê-lo.

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados… Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)…” – Efésios 2:1,5

Continuei fazendo menção a outro texto semelhante a este, onde Jesus convida, por meio de uma parábola, as diversas pessoas a segui-Lo, cada uma das quais lhe apresenta uma desculpa. O texto é o de Lucas 14:16-33.

“Porém, ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos.
E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado.
E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado.
E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado.
E outro disse: Casei, e portanto não posso ir.
E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos.
E disse o servo: Senhor, feito está como mandaste; e ainda há lugar.
E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha.
Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.
Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse-lhe:
Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.
Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.
Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.
Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” – Lucas 14:16-33

Por falta de tempo não irei entrar em detalhes sobre esse texto aqui, mas resumindo, o que eu disse a meu colega citando esse trecho da Palavra foi que Jesus convida a muitos, e, infelizmente, muitos dão desculpas esfarrapadas para não aceitá-lo, o convite mais importante da história da humanidade, feita a cada um de nós pelo nosso próprio Criador, o Rei e Soberano do Universo.

Mencionei-lhe o caso daquele que comprou a junta de bois e desejava experimentá-los. Ora, nem hoje e muito menos naquela época alguém faria uma transação como esta sem PRIMEIRO experimentar o que estava comprando, pra verificar, DE ANTEMÃO, se prestariam para o propósito almejado, se não havia nenhum defeito ou vício no contrato, no bem ou no serviço. Desculpa esfarrapada.

Com relação ao casamento, a pessoa poderia levar sua esposa ao evento social, mas preferiu esconder-se atrás das responsabilidades maritais. De fato, de acordo com a lei mosaica, o casamento recente, assim como uma casa recém construída, ou um campo de uvas recém plantadas, eram razões ou escusas válidas para que a pessoa não fosse à guerra quando convocado, para que pudesse, em primeiro lugar, cumprir seu dever conjugal para com sua esposa, e ter a oportunidade de produzir descendência (possível gravidez da esposa); e, em segundo lugar, em relação às outras coisas, desfrutar do fruto do seu trabalho. Escusas razoáveis pertencentes a uma lei justa que reflete os valores de um Deus justo.

“Então os oficiais falarão ao povo, dizendo: Qual é o homem que edificou casa nova e ainda não a consagrou? Vá, e torne-se à sua casa para que porventura não morra na peleja e algum outro a consagre.
E qual é o homem que plantou uma vinha e ainda não a desfrutou? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro a desfrute.
E qual é o homem que está desposado com alguma mulher e ainda não a recebeu? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro homem a receba.” – Deuteronômio 20:5-7

No tocante ao casamento, é por isso que o solteiro tem tempo suficiente para dedicar-se plenamente aos assuntos do Senhor, cf. 1 Coríntios 7:32-35, enquanto o casado divide-se entre as coisas de Deus e as lutas da vida doméstica, as responsabilidades de marido e mulher um para com o outro, bem como pai e mãe com relação aos seus filhos.

“E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.
Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido.
E digo isto para proveito vosso; não para vos enlaçar, mas para o que é decente e conveniente, para vos unirdes ao Senhor sem distração alguma.” – 1 Coríntios 7:32-35

Mas eis aqui alguém que é superior à Lei, e que é o próprio Deus. Jesus se coloca como acima do casamento, dos bens, do trabalho, do patrimônio e de todas as demais pessoas e coisas desta vida, e nos diz, convida e conclama: segue-Me. Segue-Me hoje! Hoje, como sem falta! Não apresentes tuas desculpas porque nada é suficiente.

Isso foi o que falei com meu colega, que desculpas temos apresentado perante tão valioso convite? Ele nos convida a tudo abandonarmos em favor deste precioso tesouro achado em um campo, cf. Mateus 13:44.

“Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.” – Mateus 13:44

Continuei, dizendo o seguinte: Cristo é de tal maneira que, em obedecendo ao seu convite, e O buscando em primeiro lugar, todas as demais coisas nos são acrescentadas, cf. Mateus 6:33, Ele faz questão de nos abençoar em todas as demais coisas que nossa alma anseia em conformidade à sua vontade, que são muitas vezes coisas boas e úteis da vida, que não serão para uso meramente egoístico nosso, mas que, novamente, vêm em segundo lugar frente o principal, o próprio Cristo.

“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” – Mateus 6:33

Meu colega, após essas palavras, me disse algo do tipo: “É muito bom seguir os ensinamentos de Jesus”. E eu concordei, mas advertindo: “Sim, é verdade, mas Jesus não se resume aos seus ensinos, porque Ele não era apenas um bom mestre ou professor”…

De fato, e encerrei nossa conversa chamando-o a uma decisão e a uma responsabilidade, em sua época muitos diziam a respeito de Jesus que Ele seria um profeta, um professor, talvez o messias, mas numa conotação política, reducionista daquilo que Ele tinha vindo fazer… Pedro, como sempre, toma a iniciativa entre os discípulos e, quando o Mestre lhes pergunta “E, vós, quem dizeis que eu sou?”, responde “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, algo que nem ele mesmo, humanamente falando, tinha a real compreensão do que significava, e que, por essa mesma razão, Jesus afirma “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus”, ou seja, que aquela verdade espiritual lhe havia sido revelada pelo próprio Deus, mesmo que suas repercussões só fossem plenamente entendidas tempos depois.

“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?
E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas.
Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?
E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.” – Mateus 16:13-17

A verdade é que damos desculpas bem mixurucas para assuntos sérios pelas razões as mais diversas possíveis que resultam da nossa dificuldade de tomarmos uma decisão, uma postura, e nos comprometermos com as coisas que deveríamos estar fazendo envolvendo a vida profissional – nossa carreira, a vida sentimental – nosso casamento e família, e tantos outros aspectos como saúde, finanças, enfim, mas, principalmente, a nossa vida espiritual, a nossa caminhada com Deus e a eternidade.

E então, depois de todas essas coisas, a ele (meu colega), a mim e a vocês, fica a pergunta e o desafio para reflexão: será que temos dado desculpas esfarrapadas à convocação feita por Jesus?

Ele não quer mais saber de nossas desculpas…!

A minha oração hoje é para que tenhamos coragem de, refletidamente, deixarmos tudo que nos atrapalha, desvia nosso foco, aprisiona, e, passemos a segui-lo sem reservas e sem desculpas ainda hoje.

Deus nos abençoe.

Compreendendo os valores do Reino: generosidade e gratidão

Pregação ICS 26/05/2019 – Compreendendo os valores do reino: generosidade e gratidão

Texto base: Marcos 12.41-44

Então Jesus passou para onde estavam os cofres de ofertas do templo. Sentou-se e ficou observando o povo colocar seu dinheiro. Alguns que eram ricos punham grandes quantias. Nisso veio uma viúva pobre e colocou duas moedinhas de cobre, de pouco valor.
Jesus chamou seus discípulos e disse: “Aquela viúva pobre deu mais do que todos aqueles ricos juntos! Porque eles deram das sobras da sua riqueza, enquanto ela, na sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver”.

 

Recapitulação

Esta é uma série de mensagens intitulada “Compreendendo os valores do Reino”. Na primeira delas, falamos sobre o valor do trabalho.

Recapitulando, vimos que o trabalho NÃO é um pecado, pelo menos não necessariamente, nem ainda um castigo ou uma maldição.

Uma segunda lição foi que não pode mais haver na vida do cristão um véu separando um aspecto chamado secular e outro santo. TODA a nossa vida deve refletir os valores do Reino, devemos ser inteiros, viver o Evangelho de maneira integral.

Aprendemos também que o trabalho, sob a ética do Reino, também não é, nem deve servir, como mecanismo de exploração e dominação do nosso semelhante.

Se, de um lado, vimos o que o trabalho NÃO é, por outro lado pudemos aprender o que ele É, ou pode vir a ser, na vida de um cristão.

Nesse sentido, o trabalho é ou pode ser uma forma de glorificarmos a Deus, e, por consequência lógica, não é qualquer trabalho que glorifica a Deus.

Concluímos com a lição de que Deus não nos criou para sermos medíocres, mas para sermos excelentes em tudo que fizermos. Somos chamados a sermos santos, porque Ele é santo.

 

Introdução

Hoje, mais uma vez somos desafiados a compreender os valores do Reino, a vivermos segundo a ética do Reino. Como Cristo, nosso Reino também não é deste mundo então necessariamente nossos valores serão diferentes!

E, novamente, por que devemos meditar sobre os valores do Reino?

Em que pese sua importância para moldar a mentalidade cristã, conforme Romanos 12.2, e seus aspectos que nos movem do campo das ideias e da teoria para a prática, já que necessariamente a vida cristã é uma vida de prática e não apenas de teorias, como entendemos as palavras de Tiago a respeito da fé no capítulo 2 de sua carta, esses valores remetem aos próprios valores e caráter do Rei.

Então, sobre a generosidade e a gratidão, elas são duas faces da mesma moeda. É muito raro, pra não dizer impossível mesmo, que um desses atributos esteja presente na vida de alguém sem que o outro também apareça.

Vejamos então alguns aspectos do que entendemos por generosidade como um valor do Reino, e posteriormente também sobre a gratidão, novamente de modo a conhecer o Rei a quem servimos e o reino do qual fazemos parte.

 

Compreendendo o valor da generosidade

1 – Generosidade vs caridade

Generosidade NÃO é igual à caridade. Isso pode parecer um pouco estranho, mas voltemos ao texto base de hoje.

Aquela senhora, Jesus falou, deu TUDO o que tinha. Em comparação, muitas outras pessoas davam do que lhes sobrava. Isso continua sendo verdade hoje em dia.

Caridade é o ato de dar, e nós podemos fazer isso com todo tipo de motivação: retribuir um favor, pagar uma dívida, buscar aprovação ou reconhecimento em meio a um grupo social, político ou religioso, ou mesmo que seja uma ação genuína e honesta, pode ser algo que não implique um nível de sacrifício e comprometimento pessoal.

Dois textos me vêm à mente e podem nos ajudar a compreender melhor essa ideia. O primeiro encontra-se em Mateus 6.1-4 que diz:

“Cuidado! Não pratiquem suas boas obras publicamente, para serem admirados, porque assim vocês não receberão nenhuma recompensa do seu Pai celestial.
Quando derem esmola, não fiquem contando a todo mundo a respeito disso, como fazem os hipócritas — tocando trombetas nas sinagogas e nas ruas, chamando atenção para os seus atos de caridade! Verdadeiramente eu digo: Eles já receberam toda a sua recompensa. Mas quando vocês fizerem um favor a alguém, façam-no secretamente — não contem à sua mão esquerda aquilo que a sua mão direita está fazendo. Prestem a sua ajuda em segredo, e o seu Pai, que conhece todos os segredos, recompensará vocês.”

O que Jesus nos fala aqui é que toda forma de caridade feita para promoção pessoal, e não para glorificar a Deus, tem como recompensa o mero reconhecimento, ou seja, é algo imediato, temporal e humano, não tem consequências eternas. Percebam que Jesus vai além e diz que a pessoa pode até ser caridosa, mas a depender da motivação do seu coração ela não passa de um hipócrita, caridoso por fora e mesquinho por dentro.

A nossa caridade então deve evoluir para generosidade, a caridade que não se preocupa em aparecer, e, mesmo naquilo que se torna conhecida, aponta para Deus, para Cristo.

De fato, Jesus, nesse mesmo contexto do sermão do monte, nos diz assim em Mateus 5.14-16:

“Vocês são a luz do mundo; uma cidade sobre um monte não pode ser escondida. Ninguém acende uma lamparina e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, ela é colocada no lugar adequado e, desse modo, brilha para todos. Assim também a luz de vocês deve brilhar diante dos homens, para que vejam as boas obras de vocês e louvem o Pai de vocês, que está nos céus.”

Esses dois textos, num olhar mais superficial, podem parecer contraditórios. No entanto, não se trata de “escondermos” nossas boas ações, nosso amor ao próximo, como se isso devesse permanecer em segredo.

Na verdade, embora não devamos alardear aos quatro ventos nossos atos de justiça, que na verdade nem nossos são, mas de Deus que os plantou em nossos corações, quando fazemos boas ações, como uma cidade edificada no alto de uma montanha, é impossível que as pessoas não vejam e reconheçam a generosidade em nossas vidas.

Dizendo novamente, não precisamos fazer propaganda de nossa caridade, como entidades beneficentes muitas vezes fazem para agregar mais contribuintes. Simplesmente fazendo o que fazemos com amor, com generosidade, as pessoas saberão o que está acontecendo e nos caberá apenas apontar para aquele de onde nasceu primeiro esse sonho, o Senhor.

 

2 – a motivação correta para sermos generosos

O motivo deve ser sempre glorificar a Deus, todo o demais é consequência. É importante termos isso muito claro em nossas mentes para que a caridade não se perca, como um fim em si mesmo, ou acabe virando idolatria.

O caminho do cristão é uma fé operosa, ou seja, uma vida prática em prol da sociedade, buscando fazer discípulos, que é a nossa missão, conforme Mateus 28.19. Contudo, quando colocamos a ação social como algo acima ou mais prioritário do que a fé, do que a mensagem da cruz, podemos infelizmente estar mandando muitos ao inferno com o bucho cheio, recuperados das drogas, educados, com casa e família reestruturada, mas ao inferno!

Tiago 1.27 nos fala que a religião pura e imaculada para com Deus e Pai é visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, mas vamos pensar aqui um momento na questão da religião. Quantas religiões fazem ação social talvez muito melhor do que eu e você porque, segundo suas crenças, é agindo assim que seus espíritos “evoluem”, alcançam o céu ou recebem o favor de sua divindade?

Se não comunicarmos o amor de Deus de modo simples e claro às pessoas a quem levamos sopa, ou ajuda para libertarem-se dos vícios das drogas ou do álcool, por mais vantagens que venham a colher em suas vidas – e irão colher esses frutos, pois a lei da semeadura vale para todos, justos ou injustos, essas mesmas pessoas terão perdido o melhor que é a comunhão com Deus, para essa vida e para toda a eternidade. Não terá havido perda maior do que essa, nenhum benefício recebido terá valido a pena.

Ainda sobre a motivação correta de sermos generosos, não vou me estender nesse assunto, mas vou deixar uma pergunta pra refletirmos: por que dou o dízimo? O que dízimos e ofertas representam para nós? Um sinal de compromisso e gratidão, ou uma forma de barganha, um investimento, em que Deus tem que me abençoar, seja espiritualmente, emocionalmente, ou materialmente mesmo, com mais dinheiro, mais bens, mais conforto?

 

3 – generosidade como estilo de vida

Generosidade não é nem pode se resumir a eventos, mesmo que frequentes. Generosidade é um estilo de vida; mais do que um estilo, é como o crente vive, ou deveria viver.

Atos 10.1-4 diz assim:

Morava em Cesareia um centurião do exército romano chamado Cornélio, comandante de um regimento conhecido como Italiano. Ele era um homem piedoso que tinha fé em Deus como também toda sua família. Praticava a caridade com boa vontade e orava continuamente a Deus. Certa tarde, por volta das três horas, ele teve uma visão. Nessa visão ele viu claramente um anjo de Deus, que veio na direção dele e disse: “Cornélio!”
Cornélio ficou olhando para ele, cheio de medo. “O que o Senhor quer?”, perguntou ao anjo.
O anjo respondeu: “As suas orações e suas boas obras subiram como oferta diante de Deus!

Vejam só, aquele era um homem militar, estrangeiro, que poderia ter o coração endurecido pelas guerras e pela opressão, ou ser alheio à cultura religiosa do povo judeu, e que talvez sofresse todo tipo de preconceito possível como gentio e como invasor.

Entretanto, aquele mesmo homem encontrou na Lei dos judeus os valores propícios para desenvolver em seu coração a fé num Deus generoso. Ele adquiriu a generosidade como um novo traço de caráter, e a sua vida passou a ser dedicada àquele povo que deveria servi-lo, mas que ele agora o estava servindo. Isso lembra alguém?

As boas obras daquele homem subiram como oferta diante de Deus. Outra tradução fala em oferta memorial. Pense, é como se quando aquele homem se movia para fazer algo, o céu parava para ver o que ele estava fazendo.

Outra pessoa que fez da caridade seu estilo de vida é Dorcas, mencionada brevemente em Atos 9.36-39:

Na cidade de Jope havia uma mulher chamada Tabita, que em grego é Dorcas, uma crente que estava sempre praticando boas obras e dando esmolas. Por esse tempo ela ficou doente e morreu. Os amigos dela prepararam o sepultamento e puseram Dorcas numa sala elevada. Mas, quando souberam que Pedro estava perto de Lida, mandaram dois homens dizer-lhe: “Por favor, venha depressa para Jope”.
Assim Pedro foi com eles, e, logo que chegou, levaram Pedro para cima, ao lugar onde Dorcas estava. A sala se encontrava cheia de viúvas que choravam e mostravam-lhe os vestidos e outras roupas que Dorcas tinha feito para elas.

Dorcas é uma pessoa que não conhecemos muitos detalhes, mas sabemos que ela estava sempre praticando boas obras E dando esmolas. A generosidade não se resume a dar esmolas. Ela, na verdade, usou seus dons e talentos para ser relevante no contexto em que Deus a havia colocado.

Muitas vezes vemos aquelas propagandas dos “Médicos sem fronteira”, por exemplo, e pensamos com nossos botões “ah, se eu fosse médico, ou profissional da saúde, eu poderia ajudar, mas como não sou, não posso fazer nada”.

Mentira! Isso é uma mentira do diabo, meus irmãos! Nós podemos ajudar e MUITO, exatamente onde Deus tem nos colocado, no nosso contexto familiar, em nossa igreja, em nossa profissão e local de trabalho, em nossa faculdade, sempre é hora e todos são lugares apropriados para o cristão glorificar a Deus e abençoar a vida de outras pessoas, sem preconceito, sem burocracia, não é um ministério apenas para uns e fechado para outros não, isso não existe, portanto não acredite nisso!

Aquela mulher fazia vestidos para ajudar as viúvas, pessoas normalmente pobres e marginalizadas, o que será que eu e você podemos fazer, em locais e por pessoas que só nós temos a oportunidade de alcançar para Jesus?

Será que quando morrermos alguém vai ter alguma coisa para relembrar positivamente a nosso respeito? Será que mostrarão “vestidos”, ou vidas transformadas, resgatadas do lamaçal do pecado porque nós dedicamos nossas vidas em seu favor?

 

4 – generosidade não tem uma forma certa, hora ou local para acontecer

Como acabamos de ver, se a generosidade é um traço do caráter de Cristo que precisa ser aprendido por todo cristão, passando a ser seu modo de enxergar o mundo e as pessoas, certamente sua manifestação pode, e normalmente é, a mais diversa e multiforme.

Isso significa que não posso exigir de meu irmão que seja generoso da MANEIRA como eu enxergo a generosidade, ou da forma como eu pratico.

Não é porque Deus tocou no coração de um irmão, por exemplo, acudir os que sofrem em razão de conflitos em seu país de origem, que essa pessoa é menos generosa do que os que atuam no sertão ou em uma comunidade pobre da nossa cidade!

Nós infelizmente julgamos demais uns aos outros, igreja, e isso nos impede de glorificar ao Pai na vida do irmão! Se ficamos chateados porque o irmão decidiu ir à África, ou ao Oriente Médio, ou a outro local que não aquele que temos sentido direção de Deus para atuar, isso é sinal de que não entendemos completamente a missão e o propósito de Deus que é para Jerusalém, a Judeia e Samaria e até os confins da Terra!

O mesmo Deus e Pai que nos elegeu, e se importa conosco aqui na capital, se importa com o que sofre no sertão, e se importa igualmente com o que padece em outro lugar. Um não é mais ou menos importante que o outro. Todo lugar onde um ser humano sofre é um lugar que Deus se importa e um lugar onde Deus deseja que nós, seu povo, sejamos suas mãos estendidas com generosidade, favor e graça!

 

5 – generosidade para os “de dentro” e os “de fora”

O último aspecto sobre a generosidade que eu gostaria de ver com vocês, antes de passarmos para o valor da gratidão, é sobre o alvo da nossa generosidade.

A verdade é que todos devem ser alvos da nossa generosidade, especialmente os que padecem alguma forma de necessidade. No entanto, em primeiro lugar devemos cuidar dos “de dentro”, dos “de casa”, dos que fazem parte da nossa família natural, e dos que são nossos irmãos em Cristo.

1 Timóteo 5.3,4 e 8 diz assim:

A igreja deve cuidar com carinho das viúvas, se elas não tiverem ninguém mais para ajudá-las. Mas se uma viúva tem filhos ou netos, são estes que devem tomar a responsabilidade, pois a bondade deve começar em casa, com o sustento dos pais necessitados, retribuindo desta forma o bem recebido de seus pais e avós. Isto é uma coisa que agrada a Deus.
Mas qualquer um que não cuida dos seus próprios parentes quando eles necessitam de ajuda, especialmente aqueles da sua própria família, negou a fé e é pior do que os que não creem.

Vejam como Paulo enfatiza a nossa responsabilidade para com o cuidado dos nossos familiares, aqueles que nos geraram, que abdicaram de muitos de seus sonhos, de momentos de lazer, da própria saúde e certamente de muito tempo para cuidar de nós, e que podem precisar de nós agora quando caminham para a velhice. Precisar de nosso cuidado ou até mesmo sustento financeiro, de nosso tempo, de nossa companhia.

Além da família natural, devemos praticar a generosidade para com nossos irmãos em Cristo. A igreja primitiva vivia isso intensamente, conforme relato de Atos 4.32-35:

Todos os que creram eram um só na mente e no coração, e ninguém pensava que aquilo que possuía era só seu; todo mundo repartia o que tinha. Os apóstolos anunciavam de maneira poderosa a ressurreição do Senhor Jesus, e havia uma abundante fraternidade entre todos os crentes. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois todos os que possuíam terra ou casas vendiam tudo e traziam o dinheiro da venda para que os apóstolos dessem aos outros de acordo com a necessidade de cada um.

Vejam bem a generosidade daquele povo: 1) ninguém pensava que aquilo que possuía era só seu; 2) todo mundo repartia o que tinha (ou seja, ninguém ficava sem repartir, sem compartilhar); 3) havia uma ABUNDANTE fraternidade entre todos os crentes; 4) não havia pessoas necessitadas entre eles.

E qual é a razão de ordem prática para que isso fosse possível? Todos os que possuíam terra ou casas vendiam tudo e traziam o dinheiro para que os apóstolos dessem aos outros de acordo com a necessidade de cada um, ou seja, a igreja cuidava uns dos outros para que não houvesse necessitados no corpo de Cristo.

Meus irmãos, um dos maiores absurdos que não deveria existir na igreja chama-se irmãos passando necessidade, sem ter onde morar, sem ter o que comer, sem ter o mínimo para dar a seus filhos…

É certo que às vezes não conseguimos socorrer os aflitos porque nem sempre ficamos sabendo, então se você está passando por uma necessidade genuína – e frise-se o “genuína”, porque infelizmente nós vivemos em um tempo quando alguns se aproveitam da generosidade do povo de Deus para benefício próprio e para enganar os outros – meu irmão, se for esse o seu caso, comunique a sua necessidade específica a alguém da liderança ou alguém que você conheça, não guarde essa angústia só pra você, não tenha vergonha de pedir ajuda a nós que somos sua família, para que oremos por sua vida e tentemos, no melhor da nossa capacidade, te ajudar a sair dessa, em nome de Jesus!

Mas, que seja essa a única coisa que nos impede de ajudarmos uns aos outros em momentos de adversidade, que não seja por egoísmo, ou por não cuidarmos da vida dos irmãos, ou não nos importarmos o suficiente… Aliás, nem essa!

Só então, meus irmãos, tendo sido generosos para com os de casa, os de dentro, familiares e irmãos na fé, é que podemos estender os braços e as mãos para abençoar os de fora.

Não podemos, sob o pretexto de tornar “próximos” os que hoje estão distantes, distanciar os que hoje estão próximos, que é o que infelizmente a inversão de prioridade pode causar.

Na parábola da ovelha perdida em Lucas 15, o pastor sai em busca da ovelha mas as outras 99 não ficam ao léu, soltas, NÃO! Elas ficam bem cuidadas, guardadas no aprisco contra as intempéries, contra os bandidos, contra as feras, e então o pastor faz de tudo para encontrar a que se havia perdido, e resgatá-la, trazendo-a de volta ao aprisco em seus ombros. É generosidade com as que ficam, e generosidade para as que se achegam.

 

Compreendendo o valor da gratidão

6 – Quebrando o ciclo vicioso da ingratidão

Para compreendermos o valor da gratidão, em primeiro lugar precisamos quebrar o ciclo vicioso da ingratidão, algo que nos acompanha como “maldição” desde que Adão apontou para Deus como culpado final pelo fato dele mesmo ter pecado, ao dizer que tinha sido a mulher que Deus havia lhe dado quem lhe havia induzido a pecar (cf. Gn 3.12).

Desde o Éden, temos sido ingratos, mal agradecidos. Reclamamos e reclamamos, como fez Israel ao sair do Egito, o que lhes impediu de alcançar a terra prometida, cf. 1 Coríntios 10.9,10.

Vejam comigo o que Moisés escreveu em Números 16.12-14, uma das muitas reclamações ele que recebeu do povo de Israel que Deus lhe havia mandado libertar.

Então Moisés mandou chamar Datã e Abirão, filhos de Eliabe, mas eles responderam: “Não iremos”. Será que não foi suficiente você nos tirar de uma terra que produz muito leite e mel para matar-nos neste deserto? E ainda quer mandar em nós? Além disso, você não cumpriu a promessa de nos levar a uma terra que produz muito leite e mel, nem recebemos campos e vinhas como herança. Quem você quer enganar? Nós não iremos até você”.

Percebam a afronta e a ingratidão daquele povo, ao ponto de dizerem que o Egito, terra onde eram escravos e comiam o pão que o diabo amassou agora do nada virou “terra que produz muito leite e mel”, fazendo pouco-caso de Moisés, da terra prometida e do próprio Deus!

No entanto, analisando friamente, será que somos realmente tão diferentes assim daquele povo?

Eu sei que EU não sou.

De fato, quando casamos, uma das coisas que a minha esposa me chamou a atenção foi o quanto eu reclamava. Sério. Graças a Deus por essa confrontação da parte do Senhor, porque isso me permitiu correr atrás e mudar. Aliás, só fazendo esse parêntese, não fique surdo ao que o seu cônjuge diz, mesmo que pareça no primeiro momento injusto ou sem sentido. Dê, no mínimo, um tempo para refletir e avaliar se ele ou ela tem razão, e o quanto das palavras proferidas podem ser verdade, por mais que tenham vindo azedas e cercadas de dor.

A reclamação, na verdade, mesmo que não proferida contra Deus, não deixa de desagradá-lo porque quando reclamamos, é como se disséssemos ao Pai: me dê o controle da minha vida porque eu consigo fazer melhor!

Pra concluir esse tópico, a reclamação é, de fato, uma forma de rebelião contra Deus. Mais uma vez, quando reclamamos alimentamos o sentimento de independência, autossuficiência que é orgulho, e dizemos para nós mesmos, sob qualquer justificativa que for, que não precisamos mais de Deus e podemos resolver por conta própria.

Vejam só o que diz Deuteronômio 1.26-36:

“Mas vocês não quiseram ir, e se rebelaram contra a ordem do Senhor, o seu Deus. Vocês ficaram murmurando nas suas tendas, e disseram: ‘Certamente o Senhor nos odeia, pois fez que saíssemos do Egito para cairmos nas mãos dos amorreus e fôssemos destruídos. Como poderemos avançar? Os nossos irmãos, que foram espionar a terra, trouxeram desânimo ao nosso coração quando disseram: O povo de lá é mais forte e mais alto do que nós. As cidades são fortificadas com muros que vão até o céu, e também vimos ali gigantes, descendentes dos enaquins!’
“Então eu disse a vocês: ‘Não se assustem, nem tenham medo deles! O Senhor, o Deus de vocês, está indo à frente de vocês! Ele pelejará por vocês, como fez no Egito, diante dos seus olhos. O Senhor, o seu Deus, também os conduziu no deserto, como um pai conduz o seu filho, por todo o caminho em que andaram, até chegarem a este lugar’.
“Mas isso de nada adiantou! Vocês não confiaram no Senhor, o seu Deus, embora ele fosse à frente de vocês, numa coluna de fogo durante a noite e numa nuvem durante o dia, encontrando lugares para vocês acamparem e indicando o caminho que deviam seguir.
“Quando o Senhor ouviu as queixas de vocês, ficou irado e jurou, dizendo: ‘De toda essa geração má ninguém verá a boa terra prometida aos seus antepassados, com exceção de Calebe, filho de Jefoné, porque ele serviu o Senhor de todo o coração. Ele verá a terra que darei por herança a ele e a seus descendentes, a terra em que andou como espião’.

A murmuração é sinal de falta de confiança, e levou à desobediência, à rebelião. Isso não só fez com que perdessem a benção de Deus, a terra prometida, como também deixou Deus irado. Novamente, mais do que perder as bençãos materiais dessa vida que Deus tem prazer em nos dar, o hábito da reclamação, que é o oposto de uma vida de gratidão, desagrada o nosso Pai que nos ama. Isso é muito pior…

 

7 – a gratidão como estilo de vida

1 Tessalonicenses 5.18 diz:

Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.

Como vimos com relação ao valor da generosidade, a gratidão também deve ser aprendida como estilo de vida. Devemos dar graças a Deus em tudo, embora não necessariamente por tudo. Há uma diferença! Dar graças por tudo, significa agradecer especificamente pelas dores e mazelas da vida, o que é masoquismo, ou viver uma vida de Poliana, jogando o jogo do contente, o que não faz o menor sentido, nem é isso que a Bíblia ensina.

Dar graças em tudo, por outro lado, é reconhecer que Deus é soberano para trabalhar em nossas vidas por meio de TODAS as circunstâncias. Mesmo os desertos são lugares de aprendizado, talvez os melhores; foi o próprio Espírito Santo quem guiou Jesus ao deserto, ou seja, mesmo quando achamos que estamos sós e abandonados, na verdade o Espírito Santo está conosco.

A melhor maneira de desenvolvermos a gratidão como estilo de vida, então, é, em lugar de reclamar, reconhecer as bençãos e livramentos que temos, por graça e misericórdia, recebido de Deus.

Como aquele hino antigo diz:

Se da vida as ondas agitadas são; se, desanimado, julgas tudo vão, conta as muitas bênçãos, conta a cada vez, e hás de ver, surpreso, quanto Deus já fez.
Conta as bênçãos, dize quantas são, recebidas da divina mão. Uma a uma, conta a cada vez; hás de ver, surpreso, quanto Deus já fez.

Quando focamos nas bençãos e livramentos, e não nas lutas e provações, vivemos uma vida mais plena, feliz, com paz. Quando, ao contrário, focamos nas dores, esquecemos de agradecer a Deus por tudo que tem feito por nós, em nós, e através de nós, e assim vivemos uma vida miserável e sem esperança.

Voltando ao texto base, aquela senhora pobre era extremamente grata a Deus, mesmo que a Palavra não explicite isso. Não é difícil para nós reconhecermos essa verdade, pelo comportamento que ela demonstrou, de dar tudo o que possuía, porque somente quando somos gratos, reconhecendo a nossa própria miséria e o tanto que temos recebido da parte de Deus, é que conseguimos abrir mão do controle das nossas vidas, é que conseguimos dar o passo da generosidade.

 

8 – Somos generosos porque somos gratos

Na linha do que acabamos de falar sobre a generosidade da senhora pobre, que era fruto de um coração agradecido, poderíamos citar diversas razões porque devemos ser gratos.

Se acordamos com vida e com saúde, é razão para sermos gratos. Se temos educação, foi porque estudamos em um bom colégio ou faculdade, e isso porque alguém provavelmente investiu em nós tempo, dinheiro e cuidado, dedicando-se em nosso favor, talvez pais, avós, tios, pessoas que cuidaram de nós, demonstraram carinho, compreensão, abriram mão de muita coisa para que nós tivéssemos talvez o que eles mesmo não tiveram.

Mas, ainda que você não tenha tido a benção de nascer em um lar acolhedor, tenha sido vítima de abusos ou abandono, podemos agradecer a Deus pelo dom da vida, da inteligência, da saúde, e mesmo sem tudo isso ainda temos algo a agradecer.

Lamentações 3.21-26 diz assim:

Eu quero lembrar aquilo que pode me dar esperança na vida. O grande amor de Deus nunca termina. A única razão por não sermos completamente destruídos é a misericórdia do Senhor. Ela é inesgotável. Ela se renova a cada manhã; grande é a sua fidelidade. O que eu realmente quero na vida é o Senhor; viver junto dele. Por isso colocarei toda a minha esperança nele. O Senhor é bom para aqueles que confiam nele, para aqueles que o procuram de coração. Vale muito esperar com paciência a salvação do Senhor.

Somos gratos quando entendemos que não somos merecedores de nada. O universo, nossa família, amigos, cônjuge, Deus, não nos deve nada. Mesmo quando achamos que fizemos algo para merecer, se não recebermos tudo por graça, como favor imerecido, não teremos compreendido o valor da gratidão.

É o que Paulo nos diz em Romanos 11.34-36:

Por que quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

Meus irmãos, a razão maior porque devemos cultivar a gratidão e a generosidade em nossos corações é porque reconhecemos que recebemos de Deus o maior ato de generosidade da história da humanidade que foi o sacrifício de seu filho Jesus na cruz do Calvário em nosso lugar, justo pelos injustos. Como diz Romanos 5.8: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”.

 

9 – Não há gratidão nem generosidade “pela metade”

Caminhando para o fim, há um texto mal compreendido da Palavra (Mc 10.17-31) onde Cristo manda um homem vender todos seus bens e segui-lo, e o jovem sai triste porque era muito rico, então Jesus afirma como é difícil para um rico herdar o reino de Deus, não pelo simples fato de possuir muitos bens, mas por ser onde ele deposita a sua confiança, nas riquezas e não no Senhor.

De fato, Jesus prova os nossos corações. O que consideramos mais importante? Para uns os bens e a riqueza. Para outros, um casamento, relacionamentos, filhos. Ou ainda uma carreira profissional ou acadêmica, ou fama, ou sucesso, seja que forma de sucesso for, normalmente pelo padrão do mundo, e mais ainda hoje, o padrão das redes sociais…

Meus irmãos, deixe eu dizer uma coisa pra vocês que talvez seja um pouco dura, mas que é a verdade: Deus não quer você pela metade. Deus não te quer 30%. Deus quer você 100%. Se eu e você não estivermos dispostos a nos dar a Deus 100%, não servimos para ser cristãos.

Amados, Deus deu 100% do que tinha para nós, Jesus, o seu único filho. Jesus se deu 100% para nós, entregou sua vida, uma vida santa, perfeita, justa, por homens e mulheres como eu e você, sujos, pecadores, imorais, mesquinhos, egoístas, iracundos, fofoqueiros. Você acha que essa foi uma troca justa? Não, meus irmãos, não foi uma troca justa, porque a justiça de Deus não opera conforme os nossos parâmetros de certo ou errado, de justo ou injusto.

Deus entregou seu melhor, seu 100% para nós, para que nós tivéssemos vida, e vida plena, então o mínimo que Ele requer de nós é o mesmo tipo de compromisso, Ele nos quer por inteiros, TUDO que temos, TUDO que somos, TODO nosso coração, TODOS nossos sentimentos, TODO nosso dinheiro, TODO nosso tempo, TODA nossa dedicação, TUDO, e tudo é TUDO mesmo.

Nós nos achamos extremamente generosos por fazermos obras sociais, fazermos caridade com nosso tempo livre, aquilo que sobra do nosso salário no fim do mês, mas isso deveria ser uma vergonha para nós, e quando falo isso, eu sou o primeiro a me envergonhar porque nem isso eu consigo fazer muitas vezes!

Tudo que temos na verdade nem nosso é, é de Deus, somos meros mordomos, administradores, e infiéis muitas vezes, porque não cuidamos da maneira adequada, não investimos os recursos de Deus como Ele gostaria.

Temos muita dificuldade de dar 10% do que ganhamos como dízimo, quase não ofertamos, viemos apenas uma vez por semana cultuar com os irmãos e quando o fazemos chegamos atrasados, de cara fechada, de má vontade, bocejando, e gastamos metade do tempo mexendo no celular, ou inquietos, sem prestar atenção e achamos que temos sido gratos, que temos sido generosos?

Pense um momento, reflita se Deus fizesse conosco o que fazemos com Ele, ou com os irmãos, se nos tratasse com a mesma “consideração”, com a mesma “gratidão”, com a mesma “generosidade”… Nós estaríamos PERDIDOS, igreja!

 

Conclusão

Tendo recebido tamanho presente, na forma do sacrifício final, definitivo do Filho de Deus, como podemos recusá-Lo qualquer coisa? Como podemos ousar oferecer qualquer coisa menos do que tudo em nossas vidas?

Nós falamos aqui sobre generosidade e gratidão, mais dois valores do Reino que refletem o caráter do Rei, de quem Deus é.

A gente viu: 1) a diferença entre a generosidade e a caridade; 2) a motivação correta para sermos generosos; 3) a generosidade como estilo de vida; 4) que a generosidade não tem uma forma determinada, hora ou local para acontecer; 5) generosidade para os “de dentro” e os “de fora”; 6) quebrando o círculo vicioso da ingratidão; 7) a gratidão como estilo de vida; 8) o fato de sermos generosos porque somos gratos; e 9) que não há gratidão nem generosidade “pela metade”.

Mas em face de tudo o que vimos, que resposta somos capazes de dar? Como podemos aprender a ser gratos, como desenvolver a generosidade?

Generosidade e gratidão só se aprendem na prática, no caminho da obediência, em uma fé operante.

Antes de terminar, só mais um parêntese. O Dino falou aqui na igreja sobre o colégio ter pedido o espaço onde nos reunimos, depois passamos meses procurando um local adequado e agora que encontramos, eu e você temos a oportunidade de exercitar ambos gratidão e generosidade para com os desafios que teremos pela frente como igreja.

A palavra de Deus fala em 2 Coríntios 9.7: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”. Dízimo não é uma obrigação. Não vou me esticar no assunto, porque embora correlato não é sobre isso que viemos conversar.

No entanto, fale com Deus em oração e sonde seu coração que tipo de resposta você pode dar de cunho bem prático a essa mensagem.

Se você já é convertido, será que precisa reavaliar essas duas áreas em sua vida, como algo a trabalhar mais, a desenvolver mais, a reconhecer o quanto Deus tem mudado em sua vida e te abençoado, por exemplo por meio desta igreja, destes pastores e líderes, e o quanto você pode ajudar a contribuir para o sustento desta obra que prega o evangelho puro e simples, e vai além das quatro paredes, resgatando vidas escravizadas pelo pecado e pelo diabo?

Uma das muitas vezes que Israel demonstrou gratidão e generosidade de forma prática foi quando da construção do tabernáculo. Moisés solicitou que aqueles que reconhecessem a importância da presença do Senhor no meio do arraial, voluntariamente contribuíssem para a obra. O resultado? Êxodo 36.5-7, que diz:

E falaram a Moisés, dizendo: O povo traz muito mais do que basta para o serviço da obra que o Senhor ordenou se fizesse.
Então mandou Moisés que proclamassem por todo o arraial, dizendo: Nenhum homem, nem mulher, faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais, porque tinham material bastante para toda a obra que havia de fazer-se, e ainda sobejava.

Meus irmãos, esta não é uma igreja que fica cobrando de vocês dízimos e ofertas, nem lhes impondo um peso, constrangendo, ou dizendo que alguém é pecador ou não salvo se não der o dízimo como algumas igrejas aí fora o fazem. Mas, já pensou se os pastores precisassem vir aqui à frente e pedir pra gente parar de dar, porque a generosidade de todos é tão grande que os recursos são mais do que suficientes pra tocar a obra… Quem sabe um dia isso não se torna realidade!?

Enquanto isso não acontece, se envolva, se informe dos projetos da igreja, participe, doe: sua oração, seu tempo, seus recursos, sua vida, em prol de sua família, do corpo de Cristo, e da sociedade, especialmente de quem mais precisa.

Por outro lado, se você ainda não tomou uma decisão pessoal por Jesus, mas de alguma maneira esta mensagem lhe ajudou a compreender melhor os valores do Reino, e do Rei que generosamente nos deu aquilo que era mais preciso, seu Filho Jesus, e agora entende a necessidade de ser grato a Ele, você pode comunicar o desejo de conhecer mais dessas verdades e de quem é esse Jesus que deu sua vida por mim e por você à pessoa que talvez lhe convidou até aqui, ou a algum de nós mesmos para que possamos ajudar você a tomar essa que é a melhor decisão na vida de uma pessoa.

Essa é a minha oração para mim e para você hoje.

Deus nos abençoe.

Para não julgarmos

Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.
Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu?
Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão. – Mateus 7:1-5

Infelizmente vivemos numa sociedade onde somos constantemente julgados, seja pela nossa aparência, se somos bonitos ou feios, altos ou baixos, magros ou gordos, se nos vestimos dessa ou daquela maneira, usando roupas da moda ou não, se estamos de acordo com aquilo que o grupo no qual queremos ser aceitos considera como “legal”, “bacana”, se possuímos um bom emprego, um carro, uma casa, se temos estudo…

Tudo é razão para olharmos uns para os outros e apontarmos o dedo, especialmente quando erramos e caímos, logo aparecem muitas pessoas para acusar, para atirar pedra, mas nessas horas parece que até os poucos amigos que achamos que temos fugiram, e não estão lá para nos apoiar e ajudar a levantar.

Hoje eu gostaria de ler com você três histórias que se passaram na vida de Jesus, e através de algumas simples perguntas, convidar vocês a refletir sobre uma lição que Jesus nos deixou através de seu próprio exemplo.

A primeira história se encontra narrada na Bíblia em Mateus 9:9-13.

Passando por ali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria, e disse-lhe: “Siga-me”. Mateus levantou-se e o seguiu.
Estando Jesus em casa, foram comer com ele e seus discípulos muitos publicanos e “pecadores”.
Vendo isso, os fariseus perguntaram aos discípulos dele: “Por que o mestre de vocês come com publicanos e ‘pecadores’? ”
Ouvindo isso, Jesus disse: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes.
Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores”. – Mateus 9:9-13

Essa história narra como Jesus convidou Mateus para ser seu discípulo.

Só pra gente entender um pouco o contexto, Mateus era um cobrador de impostos.

Ora, se hoje ninguém gosta de alguém que cobre impostos, porque, convenhamos, ninguém gosta de pagar impostos, ainda mais sabendo que muitos dos fiscais que trabalham com cobrança e fiscalização são corruptos, e só cobram daqueles que são honestos, já que os desonestos costumam “molhar sua mão”, imaginem se os fiscais fossem de um governo estrangeiro que está dominando seu país, ou seja, se os impostos que você tem pago a contragosto estão indo beneficiar não você, sua família, seus vizinhos, seu país, mas outro país?

Os cobradores de impostos na época de Jesus eram assim, corruptos e considerados traidores da pátria, então imaginem como a população tinha desprezo e odiava quem realizava essa função?

Veja que nessa história, o texto fala de “publicanos” – esse era o nome da função de cobrador de impostos no império romano – e pecadores, como se publicano fosse uma espécie diferente de pecador, um super-pecador, por assim dizer, alguém tão desprezível que merecia uma categoria própria de classificação.

Em Lucas 19 temos a história de outro homem que também era cobrador de impostos, o nome dele era Zaqueu, e Lucas descreve esse homem como muito rico, mas cujas únicas amizades eram de outros cobradores de impostos como ele, já que a população de sua cidade tinha desprezo por ele e lhe tratava como um inimigo.

E, no entanto, Jesus foi comer justamente com essas pessoas.

A pergunta que eu gostaria que a gente refletisse nessa primeira história então é a seguinte: será que você já foi julgado por algo que você faz, pelo tipo de trabalho que tem, será que quando as pessoas olham para você, mesmo sem conhecer quem você realmente é elas lhe apontam o dedo e dizem coisas que muitas vezes não é verdade, e mesmo que seja não é tudo que você é?

A segunda história que iremos refletir hoje está no livro de João, capítulo 9, versos 1-7.

Ao passar, Jesus viu um cego de nascença.
Seus discípulos lhe perguntaram: “Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?”
Disse Jesus: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.
Enquanto é dia, precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar.
Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”.
Tendo dito isso, ele cuspiu no chão, misturou terra com saliva e aplicou-a aos olhos do homem.
Então lhe disse: “Vá lavar-se no tanque de Siloé” (que significa Enviado). O homem foi, lavou-se e voltou vendo. – João 9:1-7

Nessa segunda história, temos Jesus encontrando uma pessoa com uma deficiência física, um homem cego.

Ora, se hoje, com a tecnologia que nós temos, e escolas, e apoio em geral da sociedade de maneira a incluir e tornar produtivas e aceitas as pessoas com deficiência, ainda assim essas pessoas têm muitas dificuldades, imaginem na época de Jesus onde não havia nada disso.

Agora para piorar, naquela época as pessoas acreditavam que uma deficiência física ou uma doença grave era sinal de que a pessoa tinha sido castigada por Deus por causa de algum pecado sério que ela mesma ou seus pais tinham cometido, ou seja, a sociedade via aquelas pessoas que já experimentavam todo tipo de constrangimento e limitação, muitas vezes sem conseguir trabalhar e tendo que depender completamente de sua família, chegando ao ponto de pedir esmola para ter o que comer, como pessoas amaldiçoadas por Deus.

Imaginem isso!?

E, no entanto, Jesus diz que não é assim, Jesus toca os olhos daquele cego e o cura de sua deficiência.

Em Mateus 9:27-31 temos a história de dois outros cegos que Jesus também toca em seus olhos para que também pudessem ver.

A pergunta que gostaria que refletíssemos nessa segunda história é a seguinte: será que você já se sentiu menosprezado por algo no seu corpo, não precisa ser necessariamente uma deficiência, mas algo que te deixa com vergonha, constrangido, algo que as pessoas podem rir de você, ou mesmo ter uma “peninha” que na verdade também não ajuda em nada a sua dor? Pior, algo que alguém pode dizer que é culpa sua, ou até castigo de Deus em sua vida por algo que você não fez, mas que eles pensam que sim?

A terceira história que temos para refletir hoje está narrada em Lucas 7:36-39:

Convidado por um dos fariseus para jantar, Jesus foi à casa dele e reclinou-se à mesa.
Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro com perfume, e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume.
Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado disse a si mesmo: “Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma ‘pecadora’ “. – Lucas 7:36-39

Essa história fala que Jesus foi jantar na casa de um fariseu. Os fariseus eram um grupo religioso que era muito radical em suas crenças e práticas religiosas, pessoas que colocavam sua religião acima de tudo e de todos, um grupo que frequentemente discutia com / e perseguia Jesus, e que foi diretamente responsável pela sua morte.

Nessa história temos outra personagem, uma mulher sem nome descrita apenas como “pecadora”. Perceba bem, a Bíblia não fala exatamente qual era o pecado dessa mulher, apenas que era tão público e notório, era algo tão escandaloso que ela não era mais conhecida por seu nome, mas pelo pecado que havia cometido ou praticado.

Agora vamos nos colocar por um momento no lugar dessa mulher. Será que temos algo em nossas vidas que fizemos de errado no passado, reconhecemos que foi errado, aquilo marcou a nossa vida gerando traumas que carregamos até hoje e que infelizmente as pessoas não conseguem mais olhar para nós como outra pessoa normal, mas como “a pecadora”, ou seja, a nossa história é quem nos define e não quem de fato somos?

Veja que o fariseu, uma espécie de líder religioso, chegou a duvidar de Jesus, dele ser um profeta, porque Jesus permitiu que a mulher considerada pecadora, de má fama, tocasse nEle, e aqui cabe um parêntese, de que os fariseus, em sua religiosidade, faziam coisas tão exageradas que nem a própria lei de Moisés mandava fazer, e, por outro lado, não conseguiam entender que Deus, mesmo por meio do rigor da lei, agia com graça em favor das pessoas, e não massacrava nem repudiava, nem afastava as pessoas como aqueles homens faziam. Eles, de fato, estavam mais preocupados com sua reputação se as pessoas da sociedade vissem aquela pessoa de má-fama tendo contato com eles do que em ajudá-la a vencer seus traumas e deixar para trás seu passado de vergonha.

Mas Jesus não teve vergonha dela, nem se preocupou com o que as pessoas iriam falar dele por causa daquela mulher.

A pergunta que temos, então, para refletir é a seguinte: será que você carrega traumas do passado que não consegue superar, coisas que fizeram com que as pessoas se afastassem de você e não queressem mais contato, não confiassem mais em você, algo que você já mudou, mas que continua afetando a maneira como as pessoas olham pra você e pensam a seu respeito? Será que, por outro lado, você não tem sido como um daqueles religiosos e apontado o dedo na cara das pessoas, afastando-as, ao invés de acolhendo-as, ajudando a mantê-las naquela situação de abandono e condenação ao invés de ajuda-las a mudar de vida e de construir uma nova história para elas?

Essas três histórias nos ensinam uma importante lição a respeito de Jesus, que Ele, sendo Deus, escolheu ser como um de nós, uma pessoa comum, e de todos os lugares onde ele poderia nascer, nasceu em um estábulo de animais sem higiene, filho de pessoas pobres, um carpinteiro e sua jovem esposa, viveu em uma região afastada dos grandes centros, que era Nazaré, e fez questão de andar com as pessoas que a sociedade julgava serem ninguém, não terem importância, pessoas que a religião dizia que você não podia tocar, que as convenções sociais diziam que você não poderia conversar ou se relacionar.

Jesus, então, toca em quem ninguém tem coragem de tocar, ele abraça os feridos de alma e afirma que para Ele nós somos importantes, Ele faz e vai além do que a religião diz que a gente pode ir ou fazer, Ele mesmo que foi rejeitado decide acolher os rejeitados e nos manda fazer o mesmo.

Esse é o mesmo Jesus de ontem, que restabeleceu dignidade àquela mulher pecadora, que deu vista aos cegos e operou muitos milagres, aquele que não teve preconceito de se relacionar com todos, andar com todos, falar e tocar a todos quantos queriam e precisavam de seu toque, de sua companhia, o mesmo Jesus que hoje quer fazer o mesmo por mim e por você, nós que temos tantos preconceitos, que julgamos tanto as pessoas mesmo sendo também vítimas muitas vezes do olhar e do dedo acusador de alguém. Ele está conosco e nos diz: parem de julgar, parem de condenar, comecem agora mesmo a ajudar, a animar, a levantar; e também nos diz quando estamos fracos e caídos que estará sempre conosco todos os dias, nos dando força para prosseguir na caminhada.

Nós podemos voltar pras nossas casas refletindo nessas três perguntas que eu fiz essa noite:

1.                       Será que quando as pessoas olham para você, mesmo sem conhecer quem você realmente é, elas lhe apontam o dedo e lhe julgam? Ou será que você tem feito isso com relação a outras pessoas?

2.                       Será que você já se sentiu menosprezado por algo que te deixa com vergonha, algo que alguém pode dizer que é culpa sua, ou até castigo de Deus em sua vida por algo que você não fez, mas que eles pensam que sim? Ou será que você fez alguém se sentir assim?

3.                       Será que você tem estado preso ao seu passado e se deixado definir por sua história até agora? Ou será que você tem apontado o dedo na cara das pessoas, ao invés de ajuda-las a mudar de vida e de construir uma nova história para elas?

E a lição que aprendemos com Jesus, que pode nos ajudar a refletir nessas perguntas é para sermos menos preconceituosos com relação às pessoas, deixando de julgá-las mas oferecendo a mão para ajudá-las, caminhando com elas, de modo a levá-las cada vez mais para perto de Deus, e ajudando-as a mudar de vida, para uma vida melhor com Deus, com Jesus.

Deus nos abençoe.

Histórias parecidas, encontros com Jesus, resultados diferentes

Jesus utilizava muito parábolas para ensinar a respeito dos valores do Reino de Deus. Parábolas são como fábulas, estórias com uma moral, um ensinamento central.

Hoje, no entanto, vamos ver duas histórias que realmente aconteceram, não foram fábulas, não foram parábolas, mas como dois homens realmente tiveram um encontro com o Senhor, dois homens com histórias de vida muito parecidas em alguns aspectos, mas que saíram de seus respectivos encontros com Jesus de maneira bem diferente.

A primeira história que iremos ver é a do jovem rico, uma pessoa cujo nome não é mencionado na Bíblia, mas que se encontra narrada em Mateus 19:16-24.

E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?
E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.
Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?
Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.
E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.
E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. – Mateus 19:16-24

Desse primeiro encontro, podemos tirar ao menos duas lições:

  1. O jovem queria fazer algo para conseguir a vida eterna. Ele seguia a lógica do mérito, do esforço pessoal, como ele havia conquistado tudo na vida com base nessa lógica, supôs que a vida espiritual seguiria a mesma lógica de “faça isso” ou “não faça aquilo” e “estamos conversados”, que é a lógica de muitas religiões mas NÃO é a lógica de Jesus nem do cristianismo.
  2. O jovem acreditava que com bajulação (“bom mestre”) e arrogância (“tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade”) poderia conseguir algum favor, como ele provavelmente estava acostumado a fazer com tudo na vida, mas Cristo o repreende mostrando a real intenção do seu coração, o que era realmente importante em sua vida: os bens materiais, o apego que ele tinha por suas riquezas, e não uma devoção sincera a Deus nem uma vontade genuína de seguir a Jesus.

A segundo história que iremos ver é a de um homem rico chamado Zaqueu, um cobrador de impostos para o império romano, que dominava Israel na época de Jesus, como um fiscal da receita nos dias de hoje, considerado um traidor da nação por exercer essa função em prol do império dominante, um pária da sociedade, excluído dos círculos sociais, mal visto, com a fama que um político ou funcionário público corruptos poderiam ter hoje. Sua história é narrada em Lucas 19:1-10.

E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando.
E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico.
E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura.
E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque havia de passar por ali.
E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa.
E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente.
E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.
E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.
E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.
Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. – Lucas 19:1-10

Desse segundo encontro, podemos tirar outras duas lições:

  1. Jesus não tem preconceitos. De fato, a Palavra de Deus nos diz que Ele não faz acepção  (distinção) de pessoas (Romanos 2:11). Ele veio buscar ricos e pobres, seja quem for, desde que reconheça que precisa e depende dele. Este é o sinal, reconhecer-se pecador, doente, sujo, maltrapilho. Como o Mestre mesmo falou, Ele não veio buscar os sadios, os justos, mas pecadores ao arrependimento (Lucas 5:31,32).
  2. O coração de Zaqueu, antes corrupto e ganancioso, tornou-se generoso, mostrando a transformação que Jesus operou em sua vida. Enquanto o jovem rico tinha um coração egoísta e mesquinho e preferiu permanecer assim, Zaqueu bastou conhecer Jesus para reconhecer que sua riqueza não valia nada quando comparada ao eterno, àquilo que as riquezas não podem comprar, como saúde, paz, alegria, tranquilidade, companheirismo, amigos de verdade, respeito e admiração etc.

Vimos, portanto, duas pessoas com histórias parecidas, homens com muito dinheiro, bens, que tiveram encontros com Jesus, mas que saíram desses encontros de maneira bem diferente um do outro: enquanto um (Zaqueu) saiu transformado, feliz, o outro (o jovem rico) saiu transtornado, triste, pois não conseguiu abrir mão daquilo que ele considerava mais importante em sua vida (as riquezas) por amor a Jesus.

Como lições finais da diferença entre essas duas histórias e dois encontros temos:

  1. O homem verdadeiramente rico é aquele que reconhece que suas riquezas, poder, bens, influência, fama etc. não fazem dele uma pessoa melhor ou superior aos outros, nem põe a sua confiança nessas coisas, mas em Deus.
  2. Os ricos também precisam de salvação. É muito “fácil” entendermos porque nós, “reles mortais”, precisamos de Jesus, já que Ele nos dá paz, alegria, saúde, e supre as nossas necessidades, mas muitos ricos acreditam que não precisam de nada, que tudo que eles precisarem, eles mesmos irão comprar e não será Deus quem irá suprir ou providenciar. Só que eles estão enganados, pois ricos também têm carências, frustrações, problemas emocionais e familiares, vivem estressados e só a paz de Jesus pode evitar que vejam seus relacionamentos familiares destruídos ou mesmo tirem suas próprias vidas, como é muito comum em países onde a maior parte da população é rica e diz “não precisar de Deus, de Jesus”.

Revisitando as lições e os textos acima, minha oração hoje é para que Deus nos ajude a nos despirmos de todo preconceito quando ouvirmos e pregarmos o amor de Deus, que é para todos, afinal todos precisam de Deus, entendendo ainda que não podemos colocar nossa confiança e nossa força em riquezas materiais, ou mesmo em outros atributos que porventura consideremos como qualidades ou virtudes pessoais (ex.: podemos não ser ricos, mas confiarmos em nossa força física, beleza estética, conquistas acadêmicas ou profissionais etc.), e sim em Deus, que verdadeiramente é a nossa força e sustento, em quem podemos depender e confiar em tudo, em todas as horas.

Deus nos abençoe.

Religião para o pobre e necessitado

Se não tiver recursos para oferecer uma ovelha, trará pela culpa do seu pecado duas rolinhas ou dois pombinhos ao Senhor: um como oferta pelo pecado e o outro como holocausto.
Se, contudo, não tiver recursos para oferecer duas rolinhas ou dois pombinhos, trará como oferta pelo pecado um jarro da melhor farinha como oferta pelo pecado. Mas sobre ela não derramará óleo nem colocará incenso, porquanto é oferta pelo pecado. – Levítico 5:7,11

Lendo aqui sobre as ofertas de holocaustos que a lei mosaica determinava ao pecador, lei esta outorgada por Deus ao seu povo (Israel) por meio de seu servo Moisés, vejo que NUNCA as ofertas eram pesadas, ou exigiam demais dos fiéis, ao ponto de tornarem a expiação pelo pecado impossível ou inviável. Ao contrário, por duas vezes no mesmo texto vemos a oferta ser “desconsiderada” para menos de modo a facilitar o seu exercício e cumprimento pelo pecador arrependido.

Contudo, muitos anos depois (Mateus 21:12,13), Jesus vê que haviam mercadores no templo negociando com a fé alheia não para facilitar simplesmente a prática religiosa daqueles que vinham de longe e não podiam trazer animais para o sacrifício, mas sim cobrando-lhes exageradamente, um jarro de farinha pelo preço de rolinhas ou pombinhos, e estes pelo preço de uma ovelha, o oposto do que a Lei determinava que era favorecer o pobre de maneira a não marginalizá-lo do exercício da religião.

Infelizmente, porém, hoje, muitos líderes religiosos possuem práticas ainda piores, “vendendo” a salvação como um produto de prateleira, como se possível fosse, milagres e experiências sobrenaturais, não apenas afastando o pobre e perdido pecador de encontrar a salvação que é, sempre foi e sempre será de graça e por graça de Deus, não por meio de obras para que ninguém se glorie (Efésios 2:8,9), como também alienando os mais necessitados da fé genuína e verdadeira e que está disponível a todos sem esforço e sem peso algum ao oferecer-lhes algo diluído, que não se parece nem de longe com o autêntico e original que encontramos sem reservas nas Escrituras.

Lembrem-se disso na próxima vez que ouvir de alguém que você precisa participar de alguma “campanha” numa “igreja” A ou B, “precisam” doar para alcançar o favor ou o perdão de Deus, ou quem sabe ainda “semear” na vida do “anjo da igreja”, ou qualquer que seja o linguajar utilizado, de modo a ser próspero ou obter vitória sobre sua vida, embora o conceito de próspero e vitória na Bíblia não seja de modo algum o que se prega por aí hoje em dia, nem Deus ter prometido mundos e fundos que muitos acreditam que Ele tenha, querendo usá-Lo como um amuleto ou verdadeiro gênio da lâmpada que milagrosamente irá desfazer todos os laços ou resolver todos os problemas garantindo uma vida de fartura e “paz” a todos.

Esse não é o cristianismo, não é a fé pregada e vivida por Jesus a que denominou Reino de Deus. É arremedo de fé, falsificação, e só caem nesse “conto do vigário” os ingênuos e incautos desconhecedores da Palavra de Deus (Mateus 22:29), ou os mal intencionados, que já buscam mamom por deus ao invés de Jeová.

Deus nos abençoe.

Todos somos pecadores

Todavia, não há um só justo na terra, ninguém que pratique o bem e nunca peque. – Eclesiastes 7:20

Voltando hoje da academia, passei em frente a uma loja de baterias que tem aqui nas proximidades, e ouvi de rabo de orelha um senhor, um simples mecânico, conversando com seus colegas sentados na porta do estabelecimento comercial, falando mais ou menos o seguinte:

“…Rapaz, todos nós somos pecadores. Sabe como é, passa uma mulher, a gente logo olha, e começa a imaginar as coisas…”

Mulher é sempre tema fácil em qualquer roda de homens, mas aquela conversa me chamou a atenção pela palavra utilizada pelo cidadão, “pecadores”, e porque na continuação, enquanto eu ainda pude ouvir, percebi que ele tentava a seu modo explicar o evangelho de Jesus de maneira muito simples e eficiente aos seus colegas de trabalho, de uma maneira que eu mesmo infelizmente não consigo, do “alto” da minha inteligência e capacidade.

Lembrei, continuando meu caminho, das palavras de Jesus em resposta a alguém que lhe chamou de bom (embora percebamos pelas palavras que se tratava de um elogio não sincero com razões secundárias):

E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus. – Marcos 10:18

Ora, se mesmo Jesus somente considerava bom a Deus, nem a si mesmo, imagine nós mesmos hoje em dia como não somos ou deveríamos ser? De fato, em sua época, a luta mais dura que ele empreendeu foi justamente contra os religiosos de plantão, que se achavam superiores, suprassumos da santidade e espiritualidade, mas que no entanto não conseguiam cumprir a lei e ainda impediam outros em sua caminhada de fé por adicionar coisas ainda mais difíceis de serem realizadas, como se já não bastasse o fato da lei em si mesmo ser absolutamente impossível de ser cumprida em sua integralidade o tempo todo por qualquer ser humano.

Com isso em mente, a minha oração hoje é para que Deus retire de nós toda hipocrisia de nos acharmos santos, melhores do que os nossos semelhantes, como aquele fariseu da parábola que Jesus contou em Lucas 18:11, nos faça reconhecer que somos carentes da sua misericórdia e graça, que não possuímos mérito nenhum da nossa salvação e de tudo de bom que Deus tem nos concedido, e que nos capacite a também agir em favor daqueles que estão em nosso redor, com compaixão e não com julgamento.

Deus nos abençoe.

Más companhias, maus costumes

Não se deixem enganar: “as más companhias corrompem os bons costumes”. – 1 Coríntios 15:33

Recentemente Deus falou comigo sobre as amizades que nós cristãos cultivamos no mundo, sobre a dualidade que existe entre os valores de Deus e o sistema corrompido de valores opostos aos seus a que chamamos mundo, uma realidade não geográfica mas moral e espiritual, e de como, nesse contexto, não devemos nos relacionar em profundidade com pessoas que não possuem o mesmo Deus como Senhor, que não fazem parte da mesma família da fé. Na ocasião Deus me falou através dos textos de Tiago 4:4-5 e 1 João 2:15-17.

Ontem novamente senti Deus falar comigo sobre esse assunto, embora tendo outro “gatilho”, no caso uma pessoa que conheço que já frequentou a igreja e hoje está afastada, e a diferença que eu pude perceber em seu comportamento, em seus valores, até mesmo na maneira de falar, nas palavras e expressões usadas, quando conversei com essa pessoa esses dias.

O texto que Deus me tocou hoje, ontem na verdade, foi o de 1 Coríntios 15:33 que fala sobre as más companhias, como elas promovem uma mudança ruim nos valores, na moral, nos costumes de quem, embora sendo servo do Senhor, deixa-se contaminar, passa a compartilhar (“dividir o pão”) a vida, se relaciona com frequência e intimidade com quem escolheu caminhar longe do Senhor.

Não há no cristianismo a figura do yin-yang taoísta onde há uma parcela de bom no mau, e vice-versa, uma parcela de mau no bom. Somos chamados a ser santos, separados, pois somos filhos de um Deus que é santo, e deseja para sua família os mais altos padrões morais e éticos.

Quando andamos em más companhias, e por más companhias não quero dizer bandidos, ou prostitutas, ou pessoas de má fama, pelo contrário, pode ser seu vizinho ou colega de trabalho, da faculdade ou, pasme, até mesmo da igreja, conforme exortação do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 5:9-11, somos vítimas não apenas do falatório, que não é tão importante dentro do contexto da obra sendo feita, de resgate de vidas, mas sim da influência, essa sim que merece nossa atenção e cuidado, que eles mesmos podem exercer sobre nós, um fardo pesado que requer ombros fortalecidos na Palavra do Senhor para conseguir suportar.

Já lhes disse por carta que vocês não devem associar-se com pessoas imorais.
Com isso não me refiro aos imorais deste mundo, nem aos avarentos, aos ladrões ou aos idólatras. Se assim fosse, vocês precisariam sair deste mundo.
Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer. – 1 Coríntios 5:9-11

Devemos ser sal e luz nesta terra (Mateus 5:13-14), então Deus não quer que nos isolemos das pessoas perdidas, sobre as quais devemos exercer nossa influência positiva para que elas mesmas entendam o amor de Deus por elas, e os valores eternos do reino, de modo que sejam salvas e venham com isso a abandonar paulatinamente seus vícios e pecados. Isso requer de nós interação e apoio. Muitas vezes doação de tempo e estarmos presente em ocasiões especiais em suas vidas. Mas não nos obriga a partilharmos de ambientes, locais e situações que podem comprometer nosso testemunho, fazer tropeçar um irmão mais fraco na fé, ou ao invés de causar-lhes uma boa influência, poderá nos fazer desviar do caminho nós mesmos.

É realmente uma dificuldade conciliar a tarefa de pregar a Palavra sem preconceito sem se deixar contaminar pelos valores morais corrompidos, como Jesus fez por exemplo, que preferia a companhia dos mais rejeitados socialmente falando, prostitutas e bandidos mesmo, coisa que dificilmente conseguiríamos fazer sem sofrer algum tipo de consequência no mínimo de reprovação social, ou de cunho vexatório.

No entanto, a Palavra mais de uma vez é clara com relação a esse assunto, afirmando, por exemplo, que feliz é o homem que não anda conforme o conselho dos ímpios, não se detém no caminho de pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores, antes o seu prazer está na Lei do Senhor, Lei na qual medita durante todo o dia (Salmos 1). Quando damos ouvidos aos conselhos daqueles que não confiam em Deus, somos instigados a confiar mais em nós mesmos e depender menos do Pai; quando caminhamos diariamente com amigos cujos padrões morais, comportamentais, sociais diferem muito dos nossos enquanto cristãos, somos pouco a pouco anestesiados com relação a seus desvalores, a suas posições contrárias à vontade do Pai; quando sentamos numa roda onde o assunto dificilmente passará longe de futilidades, entrando normalmente por pecados como a fofoca e imoralidade, seremos coniventes com tudo aquilo que está sendo dito ou feito, passaremos a considerar como normal aquele tipo de conversa, de atitude, de ação, e cedo ou tarde estaremos tão parecidos com os demais que o mundo já não conseguirá enxergar em nós a luz de Cristo que deveria estar brilhando, o sal terá perdido o seu sabor e não prestará para nada.

A minha oração hoje não é pedindo a Deus para que nos retire do mundo, mas para que nos dê fé suficiente e prática de modo a impactarmos nossos amigos que não entregaram ainda suas vidas a Cristo, não nos deixando contaminar no caminho, permitindo que sejamos nós a fonte de influência e não eles, pois estaremos sempre em menor número e as pressões sociais tendem a produzir em nós um constrangimento de nos levar a repetir os mesmos padrões de comportamento, palavras, e valores que não glorificam ao Pai que eles possuem. É uma tarefa árdua mas possível.

Deus nos abençoe.

Quando a religiosidade nos paralisa

Então disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. – Êxodo 14:15

Quando a religiosidade nos paralisa.

Moisés foi provavelmente uma das pessoas que se relacionou com Deus de maneira mais próxima, com maior intimidade.

Porém, nem ele escapou de levar um “puxão de orelha” do Senhor, por uma simples razão, ele foi clamar a Deus, orar, quando deveria estar agindo.

Como pode?

A Bíblia nos diz que para tudo há um tempo determinado (Eclesiastes 3), inclusive o tempo para meditação na Palavra de maneira particular, ou oração, mas a grande parte do tempo que temos é tempo para ação mesmo.

Deus não quer que seus filhos sejam crianças dependentes e que não conseguem fazer nada por si mesmas, sempre tendo que recorrer ao Pai por ajuda nas coisas mais banais. Ao contrário, Ele espera que adquiramos sabedoria e maturidade no nosso caminhar diário consigo, de modo que a maior parte das decisões poderemos tomar por conta própria, pois já teremos internalizado, já saberemos de antemão qual é a boa, perfeita e agradável vontade do Pai para nós naquela circunstância, e dessa forma ganharemos tempo precioso deixando de estar ansiosos e inseguros.

Como Moisés naquele momento, somos incentivados por Deus, mandados mesmos a agir, chega de meditar apenas, calcular somente, o momento de planejar já passou, temos de ter coragem de começar, sair da inércia, confiando que se Deus nos trouxe até aqui Ele é capaz de nos levar até o final.

Isso é depender em Deus, não esperar que em tudo Ele nos puxe pela mão ou pior, nos leve em seus braços, como crianças pequenas ou raquíticas. Não é esse o tipo de fé que Deus deseja de seus filhos, antes, Ele deseja que desenvolvamos o tipo de fé prática que teve Neemias (Neemias 2:2,3) quando perguntado pelo rei o que afligia seu coração, ele não saiu correndo para seu quarto orar, pedir uma resposta miraculosa ou sobrenatural, a sua intimidade com Deus, a sua vida de oração culminou em que ele já estava sensível à voz do Senhor e à necessidade de seus irmãos em Israel, e pode, dessa forma, falar ao rei tudo que precisava ser feito, com coragem e determinação, sem pestanejar, sem gaguejar, sem ter medo de errar.

A minha oração hoje é para que deixemos de lado a religiosidade que paralisa, aquela infantilóide, imatura, dependente em excesso, e passemos a desenvolver um relacionamento saudável de intimidade com o Pai que resulte não em cerimônias, não em afastamento do mundo (no sentido dos ermitões ou daqueles que vivem em clausuras), mas em ações práticas, bem pensadas, responsáveis, aquelas que o Pai poderia olhar para nós, seus filhos, e dizer que se orgulha.

Deus nos abençoe.

José e a ética de Deus

E aconteceu depois destas coisas que a mulher do seu senhor pôs os seus olhos em José, e disse: Deita-te comigo.
Porém ele recusou, e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo, e entregou em minha mão tudo o que tem; ninguém há maior do que eu nesta casa, e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto tu és sua mulher; como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus? – Gênesis 39:7-9

A história de José é uma verdadeira novela, repleta de capítulos de amor e ódio, dos quais extraímos, como lição principal, a ética de Deus que Ele mesmo concede a seus filhos de modo a serem exemplo para um mundo mergulhado no pecado.

Vejam que José precede as tábuas da Lei, não havia qualquer sistema religioso formalizado, instituído, a sua revelação pessoal e individual do Senhor se dera por meio do testemunho de seus antepassados próximos, pois Deus pessoalmente resolveu por graça escolher a seu bisavô Abraão, seu avô Isaque e seu pai Jacó para estabelecer com eles uma aliança de fé, portanto a ética de José não era a ética dos egípcios, que representa a ética deste mundo, pois pela lógica deste mundo, ele poderia ter se aproveitado da situação, já que era o senhor da casa de fato, e ninguém estava ali para o repreender ou flagrar naquele ato injusto e imoral para com o seu patrão, mas não, por suas próprias palavras ele reconhece que aquilo, para além de um ato errado para com seu chefe, era uma impiedade, uma imoralidade contra o seu Deus, e isso prevalecia sobre qualquer sistema de valores utilitaristas, imediatistas, egocêntricos, que focassem apenas no prazer imediato e fugaz.

Que seu exemplo marque nossas vidas de modo que, seguindo-o, possamos impactar o mundo ao nosso redor, não importem as consequências, que muitas vezes serão a incompreensão e a injustiça, como foi na história de José, pois no final o nosso coração estará em paz, e o Senhor será conosco.