Compreendendo os valores do Reino: generosidade e gratidão

Pregação ICS 26/05/2019 – Compreendendo os valores do reino: generosidade e gratidão

Texto base: Marcos 12.41-44

Então Jesus passou para onde estavam os cofres de ofertas do templo. Sentou-se e ficou observando o povo colocar seu dinheiro. Alguns que eram ricos punham grandes quantias. Nisso veio uma viúva pobre e colocou duas moedinhas de cobre, de pouco valor.
Jesus chamou seus discípulos e disse: “Aquela viúva pobre deu mais do que todos aqueles ricos juntos! Porque eles deram das sobras da sua riqueza, enquanto ela, na sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver”.

 

Recapitulação

Esta é uma série de mensagens intitulada “Compreendendo os valores do Reino”. Na primeira delas, falamos sobre o valor do trabalho.

Recapitulando, vimos que o trabalho NÃO é um pecado, pelo menos não necessariamente, nem ainda um castigo ou uma maldição.

Uma segunda lição foi que não pode mais haver na vida do cristão um véu separando um aspecto chamado secular e outro santo. TODA a nossa vida deve refletir os valores do Reino, devemos ser inteiros, viver o Evangelho de maneira integral.

Aprendemos também que o trabalho, sob a ética do Reino, também não é, nem deve servir, como mecanismo de exploração e dominação do nosso semelhante.

Se, de um lado, vimos o que o trabalho NÃO é, por outro lado pudemos aprender o que ele É, ou pode vir a ser, na vida de um cristão.

Nesse sentido, o trabalho é ou pode ser uma forma de glorificarmos a Deus, e, por consequência lógica, não é qualquer trabalho que glorifica a Deus.

Concluímos com a lição de que Deus não nos criou para sermos medíocres, mas para sermos excelentes em tudo que fizermos. Somos chamados a sermos santos, porque Ele é santo.

 

Introdução

Hoje, mais uma vez somos desafiados a compreender os valores do Reino, a vivermos segundo a ética do Reino. Como Cristo, nosso Reino também não é deste mundo então necessariamente nossos valores serão diferentes!

E, novamente, por que devemos meditar sobre os valores do Reino?

Em que pese sua importância para moldar a mentalidade cristã, conforme Romanos 12.2, e seus aspectos que nos movem do campo das ideias e da teoria para a prática, já que necessariamente a vida cristã é uma vida de prática e não apenas de teorias, como entendemos as palavras de Tiago a respeito da fé no capítulo 2 de sua carta, esses valores remetem aos próprios valores e caráter do Rei.

Então, sobre a generosidade e a gratidão, elas são duas faces da mesma moeda. É muito raro, pra não dizer impossível mesmo, que um desses atributos esteja presente na vida de alguém sem que o outro também apareça.

Vejamos então alguns aspectos do que entendemos por generosidade como um valor do Reino, e posteriormente também sobre a gratidão, novamente de modo a conhecer o Rei a quem servimos e o reino do qual fazemos parte.

 

Compreendendo o valor da generosidade

1 – Generosidade vs caridade

Generosidade NÃO é igual à caridade. Isso pode parecer um pouco estranho, mas voltemos ao texto base de hoje.

Aquela senhora, Jesus falou, deu TUDO o que tinha. Em comparação, muitas outras pessoas davam do que lhes sobrava. Isso continua sendo verdade hoje em dia.

Caridade é o ato de dar, e nós podemos fazer isso com todo tipo de motivação: retribuir um favor, pagar uma dívida, buscar aprovação ou reconhecimento em meio a um grupo social, político ou religioso, ou mesmo que seja uma ação genuína e honesta, pode ser algo que não implique um nível de sacrifício e comprometimento pessoal.

Dois textos me vêm à mente e podem nos ajudar a compreender melhor essa ideia. O primeiro encontra-se em Mateus 6.1-4 que diz:

“Cuidado! Não pratiquem suas boas obras publicamente, para serem admirados, porque assim vocês não receberão nenhuma recompensa do seu Pai celestial.
Quando derem esmola, não fiquem contando a todo mundo a respeito disso, como fazem os hipócritas — tocando trombetas nas sinagogas e nas ruas, chamando atenção para os seus atos de caridade! Verdadeiramente eu digo: Eles já receberam toda a sua recompensa. Mas quando vocês fizerem um favor a alguém, façam-no secretamente — não contem à sua mão esquerda aquilo que a sua mão direita está fazendo. Prestem a sua ajuda em segredo, e o seu Pai, que conhece todos os segredos, recompensará vocês.”

O que Jesus nos fala aqui é que toda forma de caridade feita para promoção pessoal, e não para glorificar a Deus, tem como recompensa o mero reconhecimento, ou seja, é algo imediato, temporal e humano, não tem consequências eternas. Percebam que Jesus vai além e diz que a pessoa pode até ser caridosa, mas a depender da motivação do seu coração ela não passa de um hipócrita, caridoso por fora e mesquinho por dentro.

A nossa caridade então deve evoluir para generosidade, a caridade que não se preocupa em aparecer, e, mesmo naquilo que se torna conhecida, aponta para Deus, para Cristo.

De fato, Jesus, nesse mesmo contexto do sermão do monte, nos diz assim em Mateus 5.14-16:

“Vocês são a luz do mundo; uma cidade sobre um monte não pode ser escondida. Ninguém acende uma lamparina e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, ela é colocada no lugar adequado e, desse modo, brilha para todos. Assim também a luz de vocês deve brilhar diante dos homens, para que vejam as boas obras de vocês e louvem o Pai de vocês, que está nos céus.”

Esses dois textos, num olhar mais superficial, podem parecer contraditórios. No entanto, não se trata de “escondermos” nossas boas ações, nosso amor ao próximo, como se isso devesse permanecer em segredo.

Na verdade, embora não devamos alardear aos quatro ventos nossos atos de justiça, que na verdade nem nossos são, mas de Deus que os plantou em nossos corações, quando fazemos boas ações, como uma cidade edificada no alto de uma montanha, é impossível que as pessoas não vejam e reconheçam a generosidade em nossas vidas.

Dizendo novamente, não precisamos fazer propaganda de nossa caridade, como entidades beneficentes muitas vezes fazem para agregar mais contribuintes. Simplesmente fazendo o que fazemos com amor, com generosidade, as pessoas saberão o que está acontecendo e nos caberá apenas apontar para aquele de onde nasceu primeiro esse sonho, o Senhor.

 

2 – a motivação correta para sermos generosos

O motivo deve ser sempre glorificar a Deus, todo o demais é consequência. É importante termos isso muito claro em nossas mentes para que a caridade não se perca, como um fim em si mesmo, ou acabe virando idolatria.

O caminho do cristão é uma fé operosa, ou seja, uma vida prática em prol da sociedade, buscando fazer discípulos, que é a nossa missão, conforme Mateus 28.19. Contudo, quando colocamos a ação social como algo acima ou mais prioritário do que a fé, do que a mensagem da cruz, podemos infelizmente estar mandando muitos ao inferno com o bucho cheio, recuperados das drogas, educados, com casa e família reestruturada, mas ao inferno!

Tiago 1.27 nos fala que a religião pura e imaculada para com Deus e Pai é visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, mas vamos pensar aqui um momento na questão da religião. Quantas religiões fazem ação social talvez muito melhor do que eu e você porque, segundo suas crenças, é agindo assim que seus espíritos “evoluem”, alcançam o céu ou recebem o favor de sua divindade?

Se não comunicarmos o amor de Deus de modo simples e claro às pessoas a quem levamos sopa, ou ajuda para libertarem-se dos vícios das drogas ou do álcool, por mais vantagens que venham a colher em suas vidas – e irão colher esses frutos, pois a lei da semeadura vale para todos, justos ou injustos, essas mesmas pessoas terão perdido o melhor que é a comunhão com Deus, para essa vida e para toda a eternidade. Não terá havido perda maior do que essa, nenhum benefício recebido terá valido a pena.

Ainda sobre a motivação correta de sermos generosos, não vou me estender nesse assunto, mas vou deixar uma pergunta pra refletirmos: por que dou o dízimo? O que dízimos e ofertas representam para nós? Um sinal de compromisso e gratidão, ou uma forma de barganha, um investimento, em que Deus tem que me abençoar, seja espiritualmente, emocionalmente, ou materialmente mesmo, com mais dinheiro, mais bens, mais conforto?

 

3 – generosidade como estilo de vida

Generosidade não é nem pode se resumir a eventos, mesmo que frequentes. Generosidade é um estilo de vida; mais do que um estilo, é como o crente vive, ou deveria viver.

Atos 10.1-4 diz assim:

Morava em Cesareia um centurião do exército romano chamado Cornélio, comandante de um regimento conhecido como Italiano. Ele era um homem piedoso que tinha fé em Deus como também toda sua família. Praticava a caridade com boa vontade e orava continuamente a Deus. Certa tarde, por volta das três horas, ele teve uma visão. Nessa visão ele viu claramente um anjo de Deus, que veio na direção dele e disse: “Cornélio!”
Cornélio ficou olhando para ele, cheio de medo. “O que o Senhor quer?”, perguntou ao anjo.
O anjo respondeu: “As suas orações e suas boas obras subiram como oferta diante de Deus!

Vejam só, aquele era um homem militar, estrangeiro, que poderia ter o coração endurecido pelas guerras e pela opressão, ou ser alheio à cultura religiosa do povo judeu, e que talvez sofresse todo tipo de preconceito possível como gentio e como invasor.

Entretanto, aquele mesmo homem encontrou na Lei dos judeus os valores propícios para desenvolver em seu coração a fé num Deus generoso. Ele adquiriu a generosidade como um novo traço de caráter, e a sua vida passou a ser dedicada àquele povo que deveria servi-lo, mas que ele agora o estava servindo. Isso lembra alguém?

As boas obras daquele homem subiram como oferta diante de Deus. Outra tradução fala em oferta memorial. Pense, é como se quando aquele homem se movia para fazer algo, o céu parava para ver o que ele estava fazendo.

Outra pessoa que fez da caridade seu estilo de vida é Dorcas, mencionada brevemente em Atos 9.36-39:

Na cidade de Jope havia uma mulher chamada Tabita, que em grego é Dorcas, uma crente que estava sempre praticando boas obras e dando esmolas. Por esse tempo ela ficou doente e morreu. Os amigos dela prepararam o sepultamento e puseram Dorcas numa sala elevada. Mas, quando souberam que Pedro estava perto de Lida, mandaram dois homens dizer-lhe: “Por favor, venha depressa para Jope”.
Assim Pedro foi com eles, e, logo que chegou, levaram Pedro para cima, ao lugar onde Dorcas estava. A sala se encontrava cheia de viúvas que choravam e mostravam-lhe os vestidos e outras roupas que Dorcas tinha feito para elas.

Dorcas é uma pessoa que não conhecemos muitos detalhes, mas sabemos que ela estava sempre praticando boas obras E dando esmolas. A generosidade não se resume a dar esmolas. Ela, na verdade, usou seus dons e talentos para ser relevante no contexto em que Deus a havia colocado.

Muitas vezes vemos aquelas propagandas dos “Médicos sem fronteira”, por exemplo, e pensamos com nossos botões “ah, se eu fosse médico, ou profissional da saúde, eu poderia ajudar, mas como não sou, não posso fazer nada”.

Mentira! Isso é uma mentira do diabo, meus irmãos! Nós podemos ajudar e MUITO, exatamente onde Deus tem nos colocado, no nosso contexto familiar, em nossa igreja, em nossa profissão e local de trabalho, em nossa faculdade, sempre é hora e todos são lugares apropriados para o cristão glorificar a Deus e abençoar a vida de outras pessoas, sem preconceito, sem burocracia, não é um ministério apenas para uns e fechado para outros não, isso não existe, portanto não acredite nisso!

Aquela mulher fazia vestidos para ajudar as viúvas, pessoas normalmente pobres e marginalizadas, o que será que eu e você podemos fazer, em locais e por pessoas que só nós temos a oportunidade de alcançar para Jesus?

Será que quando morrermos alguém vai ter alguma coisa para relembrar positivamente a nosso respeito? Será que mostrarão “vestidos”, ou vidas transformadas, resgatadas do lamaçal do pecado porque nós dedicamos nossas vidas em seu favor?

 

4 – generosidade não tem uma forma certa, hora ou local para acontecer

Como acabamos de ver, se a generosidade é um traço do caráter de Cristo que precisa ser aprendido por todo cristão, passando a ser seu modo de enxergar o mundo e as pessoas, certamente sua manifestação pode, e normalmente é, a mais diversa e multiforme.

Isso significa que não posso exigir de meu irmão que seja generoso da MANEIRA como eu enxergo a generosidade, ou da forma como eu pratico.

Não é porque Deus tocou no coração de um irmão, por exemplo, acudir os que sofrem em razão de conflitos em seu país de origem, que essa pessoa é menos generosa do que os que atuam no sertão ou em uma comunidade pobre da nossa cidade!

Nós infelizmente julgamos demais uns aos outros, igreja, e isso nos impede de glorificar ao Pai na vida do irmão! Se ficamos chateados porque o irmão decidiu ir à África, ou ao Oriente Médio, ou a outro local que não aquele que temos sentido direção de Deus para atuar, isso é sinal de que não entendemos completamente a missão e o propósito de Deus que é para Jerusalém, a Judeia e Samaria e até os confins da Terra!

O mesmo Deus e Pai que nos elegeu, e se importa conosco aqui na capital, se importa com o que sofre no sertão, e se importa igualmente com o que padece em outro lugar. Um não é mais ou menos importante que o outro. Todo lugar onde um ser humano sofre é um lugar que Deus se importa e um lugar onde Deus deseja que nós, seu povo, sejamos suas mãos estendidas com generosidade, favor e graça!

 

5 – generosidade para os “de dentro” e os “de fora”

O último aspecto sobre a generosidade que eu gostaria de ver com vocês, antes de passarmos para o valor da gratidão, é sobre o alvo da nossa generosidade.

A verdade é que todos devem ser alvos da nossa generosidade, especialmente os que padecem alguma forma de necessidade. No entanto, em primeiro lugar devemos cuidar dos “de dentro”, dos “de casa”, dos que fazem parte da nossa família natural, e dos que são nossos irmãos em Cristo.

1 Timóteo 5.3,4 e 8 diz assim:

A igreja deve cuidar com carinho das viúvas, se elas não tiverem ninguém mais para ajudá-las. Mas se uma viúva tem filhos ou netos, são estes que devem tomar a responsabilidade, pois a bondade deve começar em casa, com o sustento dos pais necessitados, retribuindo desta forma o bem recebido de seus pais e avós. Isto é uma coisa que agrada a Deus.
Mas qualquer um que não cuida dos seus próprios parentes quando eles necessitam de ajuda, especialmente aqueles da sua própria família, negou a fé e é pior do que os que não creem.

Vejam como Paulo enfatiza a nossa responsabilidade para com o cuidado dos nossos familiares, aqueles que nos geraram, que abdicaram de muitos de seus sonhos, de momentos de lazer, da própria saúde e certamente de muito tempo para cuidar de nós, e que podem precisar de nós agora quando caminham para a velhice. Precisar de nosso cuidado ou até mesmo sustento financeiro, de nosso tempo, de nossa companhia.

Além da família natural, devemos praticar a generosidade para com nossos irmãos em Cristo. A igreja primitiva vivia isso intensamente, conforme relato de Atos 4.32-35:

Todos os que creram eram um só na mente e no coração, e ninguém pensava que aquilo que possuía era só seu; todo mundo repartia o que tinha. Os apóstolos anunciavam de maneira poderosa a ressurreição do Senhor Jesus, e havia uma abundante fraternidade entre todos os crentes. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois todos os que possuíam terra ou casas vendiam tudo e traziam o dinheiro da venda para que os apóstolos dessem aos outros de acordo com a necessidade de cada um.

Vejam bem a generosidade daquele povo: 1) ninguém pensava que aquilo que possuía era só seu; 2) todo mundo repartia o que tinha (ou seja, ninguém ficava sem repartir, sem compartilhar); 3) havia uma ABUNDANTE fraternidade entre todos os crentes; 4) não havia pessoas necessitadas entre eles.

E qual é a razão de ordem prática para que isso fosse possível? Todos os que possuíam terra ou casas vendiam tudo e traziam o dinheiro para que os apóstolos dessem aos outros de acordo com a necessidade de cada um, ou seja, a igreja cuidava uns dos outros para que não houvesse necessitados no corpo de Cristo.

Meus irmãos, um dos maiores absurdos que não deveria existir na igreja chama-se irmãos passando necessidade, sem ter onde morar, sem ter o que comer, sem ter o mínimo para dar a seus filhos…

É certo que às vezes não conseguimos socorrer os aflitos porque nem sempre ficamos sabendo, então se você está passando por uma necessidade genuína – e frise-se o “genuína”, porque infelizmente nós vivemos em um tempo quando alguns se aproveitam da generosidade do povo de Deus para benefício próprio e para enganar os outros – meu irmão, se for esse o seu caso, comunique a sua necessidade específica a alguém da liderança ou alguém que você conheça, não guarde essa angústia só pra você, não tenha vergonha de pedir ajuda a nós que somos sua família, para que oremos por sua vida e tentemos, no melhor da nossa capacidade, te ajudar a sair dessa, em nome de Jesus!

Mas, que seja essa a única coisa que nos impede de ajudarmos uns aos outros em momentos de adversidade, que não seja por egoísmo, ou por não cuidarmos da vida dos irmãos, ou não nos importarmos o suficiente… Aliás, nem essa!

Só então, meus irmãos, tendo sido generosos para com os de casa, os de dentro, familiares e irmãos na fé, é que podemos estender os braços e as mãos para abençoar os de fora.

Não podemos, sob o pretexto de tornar “próximos” os que hoje estão distantes, distanciar os que hoje estão próximos, que é o que infelizmente a inversão de prioridade pode causar.

Na parábola da ovelha perdida em Lucas 15, o pastor sai em busca da ovelha mas as outras 99 não ficam ao léu, soltas, NÃO! Elas ficam bem cuidadas, guardadas no aprisco contra as intempéries, contra os bandidos, contra as feras, e então o pastor faz de tudo para encontrar a que se havia perdido, e resgatá-la, trazendo-a de volta ao aprisco em seus ombros. É generosidade com as que ficam, e generosidade para as que se achegam.

 

Compreendendo o valor da gratidão

6 – Quebrando o ciclo vicioso da ingratidão

Para compreendermos o valor da gratidão, em primeiro lugar precisamos quebrar o ciclo vicioso da ingratidão, algo que nos acompanha como “maldição” desde que Adão apontou para Deus como culpado final pelo fato dele mesmo ter pecado, ao dizer que tinha sido a mulher que Deus havia lhe dado quem lhe havia induzido a pecar (cf. Gn 3.12).

Desde o Éden, temos sido ingratos, mal agradecidos. Reclamamos e reclamamos, como fez Israel ao sair do Egito, o que lhes impediu de alcançar a terra prometida, cf. 1 Coríntios 10.9,10.

Vejam comigo o que Moisés escreveu em Números 16.12-14, uma das muitas reclamações ele que recebeu do povo de Israel que Deus lhe havia mandado libertar.

Então Moisés mandou chamar Datã e Abirão, filhos de Eliabe, mas eles responderam: “Não iremos”. Será que não foi suficiente você nos tirar de uma terra que produz muito leite e mel para matar-nos neste deserto? E ainda quer mandar em nós? Além disso, você não cumpriu a promessa de nos levar a uma terra que produz muito leite e mel, nem recebemos campos e vinhas como herança. Quem você quer enganar? Nós não iremos até você”.

Percebam a afronta e a ingratidão daquele povo, ao ponto de dizerem que o Egito, terra onde eram escravos e comiam o pão que o diabo amassou agora do nada virou “terra que produz muito leite e mel”, fazendo pouco-caso de Moisés, da terra prometida e do próprio Deus!

No entanto, analisando friamente, será que somos realmente tão diferentes assim daquele povo?

Eu sei que EU não sou.

De fato, quando casamos, uma das coisas que a minha esposa me chamou a atenção foi o quanto eu reclamava. Sério. Graças a Deus por essa confrontação da parte do Senhor, porque isso me permitiu correr atrás e mudar. Aliás, só fazendo esse parêntese, não fique surdo ao que o seu cônjuge diz, mesmo que pareça no primeiro momento injusto ou sem sentido. Dê, no mínimo, um tempo para refletir e avaliar se ele ou ela tem razão, e o quanto das palavras proferidas podem ser verdade, por mais que tenham vindo azedas e cercadas de dor.

A reclamação, na verdade, mesmo que não proferida contra Deus, não deixa de desagradá-lo porque quando reclamamos, é como se disséssemos ao Pai: me dê o controle da minha vida porque eu consigo fazer melhor!

Pra concluir esse tópico, a reclamação é, de fato, uma forma de rebelião contra Deus. Mais uma vez, quando reclamamos alimentamos o sentimento de independência, autossuficiência que é orgulho, e dizemos para nós mesmos, sob qualquer justificativa que for, que não precisamos mais de Deus e podemos resolver por conta própria.

Vejam só o que diz Deuteronômio 1.26-36:

“Mas vocês não quiseram ir, e se rebelaram contra a ordem do Senhor, o seu Deus. Vocês ficaram murmurando nas suas tendas, e disseram: ‘Certamente o Senhor nos odeia, pois fez que saíssemos do Egito para cairmos nas mãos dos amorreus e fôssemos destruídos. Como poderemos avançar? Os nossos irmãos, que foram espionar a terra, trouxeram desânimo ao nosso coração quando disseram: O povo de lá é mais forte e mais alto do que nós. As cidades são fortificadas com muros que vão até o céu, e também vimos ali gigantes, descendentes dos enaquins!’
“Então eu disse a vocês: ‘Não se assustem, nem tenham medo deles! O Senhor, o Deus de vocês, está indo à frente de vocês! Ele pelejará por vocês, como fez no Egito, diante dos seus olhos. O Senhor, o seu Deus, também os conduziu no deserto, como um pai conduz o seu filho, por todo o caminho em que andaram, até chegarem a este lugar’.
“Mas isso de nada adiantou! Vocês não confiaram no Senhor, o seu Deus, embora ele fosse à frente de vocês, numa coluna de fogo durante a noite e numa nuvem durante o dia, encontrando lugares para vocês acamparem e indicando o caminho que deviam seguir.
“Quando o Senhor ouviu as queixas de vocês, ficou irado e jurou, dizendo: ‘De toda essa geração má ninguém verá a boa terra prometida aos seus antepassados, com exceção de Calebe, filho de Jefoné, porque ele serviu o Senhor de todo o coração. Ele verá a terra que darei por herança a ele e a seus descendentes, a terra em que andou como espião’.

A murmuração é sinal de falta de confiança, e levou à desobediência, à rebelião. Isso não só fez com que perdessem a benção de Deus, a terra prometida, como também deixou Deus irado. Novamente, mais do que perder as bençãos materiais dessa vida que Deus tem prazer em nos dar, o hábito da reclamação, que é o oposto de uma vida de gratidão, desagrada o nosso Pai que nos ama. Isso é muito pior…

 

7 – a gratidão como estilo de vida

1 Tessalonicenses 5.18 diz:

Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.

Como vimos com relação ao valor da generosidade, a gratidão também deve ser aprendida como estilo de vida. Devemos dar graças a Deus em tudo, embora não necessariamente por tudo. Há uma diferença! Dar graças por tudo, significa agradecer especificamente pelas dores e mazelas da vida, o que é masoquismo, ou viver uma vida de Poliana, jogando o jogo do contente, o que não faz o menor sentido, nem é isso que a Bíblia ensina.

Dar graças em tudo, por outro lado, é reconhecer que Deus é soberano para trabalhar em nossas vidas por meio de TODAS as circunstâncias. Mesmo os desertos são lugares de aprendizado, talvez os melhores; foi o próprio Espírito Santo quem guiou Jesus ao deserto, ou seja, mesmo quando achamos que estamos sós e abandonados, na verdade o Espírito Santo está conosco.

A melhor maneira de desenvolvermos a gratidão como estilo de vida, então, é, em lugar de reclamar, reconhecer as bençãos e livramentos que temos, por graça e misericórdia, recebido de Deus.

Como aquele hino antigo diz:

Se da vida as ondas agitadas são; se, desanimado, julgas tudo vão, conta as muitas bênçãos, conta a cada vez, e hás de ver, surpreso, quanto Deus já fez.
Conta as bênçãos, dize quantas são, recebidas da divina mão. Uma a uma, conta a cada vez; hás de ver, surpreso, quanto Deus já fez.

Quando focamos nas bençãos e livramentos, e não nas lutas e provações, vivemos uma vida mais plena, feliz, com paz. Quando, ao contrário, focamos nas dores, esquecemos de agradecer a Deus por tudo que tem feito por nós, em nós, e através de nós, e assim vivemos uma vida miserável e sem esperança.

Voltando ao texto base, aquela senhora pobre era extremamente grata a Deus, mesmo que a Palavra não explicite isso. Não é difícil para nós reconhecermos essa verdade, pelo comportamento que ela demonstrou, de dar tudo o que possuía, porque somente quando somos gratos, reconhecendo a nossa própria miséria e o tanto que temos recebido da parte de Deus, é que conseguimos abrir mão do controle das nossas vidas, é que conseguimos dar o passo da generosidade.

 

8 – Somos generosos porque somos gratos

Na linha do que acabamos de falar sobre a generosidade da senhora pobre, que era fruto de um coração agradecido, poderíamos citar diversas razões porque devemos ser gratos.

Se acordamos com vida e com saúde, é razão para sermos gratos. Se temos educação, foi porque estudamos em um bom colégio ou faculdade, e isso porque alguém provavelmente investiu em nós tempo, dinheiro e cuidado, dedicando-se em nosso favor, talvez pais, avós, tios, pessoas que cuidaram de nós, demonstraram carinho, compreensão, abriram mão de muita coisa para que nós tivéssemos talvez o que eles mesmo não tiveram.

Mas, ainda que você não tenha tido a benção de nascer em um lar acolhedor, tenha sido vítima de abusos ou abandono, podemos agradecer a Deus pelo dom da vida, da inteligência, da saúde, e mesmo sem tudo isso ainda temos algo a agradecer.

Lamentações 3.21-26 diz assim:

Eu quero lembrar aquilo que pode me dar esperança na vida. O grande amor de Deus nunca termina. A única razão por não sermos completamente destruídos é a misericórdia do Senhor. Ela é inesgotável. Ela se renova a cada manhã; grande é a sua fidelidade. O que eu realmente quero na vida é o Senhor; viver junto dele. Por isso colocarei toda a minha esperança nele. O Senhor é bom para aqueles que confiam nele, para aqueles que o procuram de coração. Vale muito esperar com paciência a salvação do Senhor.

Somos gratos quando entendemos que não somos merecedores de nada. O universo, nossa família, amigos, cônjuge, Deus, não nos deve nada. Mesmo quando achamos que fizemos algo para merecer, se não recebermos tudo por graça, como favor imerecido, não teremos compreendido o valor da gratidão.

É o que Paulo nos diz em Romanos 11.34-36:

Por que quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

Meus irmãos, a razão maior porque devemos cultivar a gratidão e a generosidade em nossos corações é porque reconhecemos que recebemos de Deus o maior ato de generosidade da história da humanidade que foi o sacrifício de seu filho Jesus na cruz do Calvário em nosso lugar, justo pelos injustos. Como diz Romanos 5.8: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”.

 

9 – Não há gratidão nem generosidade “pela metade”

Caminhando para o fim, há um texto mal compreendido da Palavra (Mc 10.17-31) onde Cristo manda um homem vender todos seus bens e segui-lo, e o jovem sai triste porque era muito rico, então Jesus afirma como é difícil para um rico herdar o reino de Deus, não pelo simples fato de possuir muitos bens, mas por ser onde ele deposita a sua confiança, nas riquezas e não no Senhor.

De fato, Jesus prova os nossos corações. O que consideramos mais importante? Para uns os bens e a riqueza. Para outros, um casamento, relacionamentos, filhos. Ou ainda uma carreira profissional ou acadêmica, ou fama, ou sucesso, seja que forma de sucesso for, normalmente pelo padrão do mundo, e mais ainda hoje, o padrão das redes sociais…

Meus irmãos, deixe eu dizer uma coisa pra vocês que talvez seja um pouco dura, mas que é a verdade: Deus não quer você pela metade. Deus não te quer 30%. Deus quer você 100%. Se eu e você não estivermos dispostos a nos dar a Deus 100%, não servimos para ser cristãos.

Amados, Deus deu 100% do que tinha para nós, Jesus, o seu único filho. Jesus se deu 100% para nós, entregou sua vida, uma vida santa, perfeita, justa, por homens e mulheres como eu e você, sujos, pecadores, imorais, mesquinhos, egoístas, iracundos, fofoqueiros. Você acha que essa foi uma troca justa? Não, meus irmãos, não foi uma troca justa, porque a justiça de Deus não opera conforme os nossos parâmetros de certo ou errado, de justo ou injusto.

Deus entregou seu melhor, seu 100% para nós, para que nós tivéssemos vida, e vida plena, então o mínimo que Ele requer de nós é o mesmo tipo de compromisso, Ele nos quer por inteiros, TUDO que temos, TUDO que somos, TODO nosso coração, TODOS nossos sentimentos, TODO nosso dinheiro, TODO nosso tempo, TODA nossa dedicação, TUDO, e tudo é TUDO mesmo.

Nós nos achamos extremamente generosos por fazermos obras sociais, fazermos caridade com nosso tempo livre, aquilo que sobra do nosso salário no fim do mês, mas isso deveria ser uma vergonha para nós, e quando falo isso, eu sou o primeiro a me envergonhar porque nem isso eu consigo fazer muitas vezes!

Tudo que temos na verdade nem nosso é, é de Deus, somos meros mordomos, administradores, e infiéis muitas vezes, porque não cuidamos da maneira adequada, não investimos os recursos de Deus como Ele gostaria.

Temos muita dificuldade de dar 10% do que ganhamos como dízimo, quase não ofertamos, viemos apenas uma vez por semana cultuar com os irmãos e quando o fazemos chegamos atrasados, de cara fechada, de má vontade, bocejando, e gastamos metade do tempo mexendo no celular, ou inquietos, sem prestar atenção e achamos que temos sido gratos, que temos sido generosos?

Pense um momento, reflita se Deus fizesse conosco o que fazemos com Ele, ou com os irmãos, se nos tratasse com a mesma “consideração”, com a mesma “gratidão”, com a mesma “generosidade”… Nós estaríamos PERDIDOS, igreja!

 

Conclusão

Tendo recebido tamanho presente, na forma do sacrifício final, definitivo do Filho de Deus, como podemos recusá-Lo qualquer coisa? Como podemos ousar oferecer qualquer coisa menos do que tudo em nossas vidas?

Nós falamos aqui sobre generosidade e gratidão, mais dois valores do Reino que refletem o caráter do Rei, de quem Deus é.

A gente viu: 1) a diferença entre a generosidade e a caridade; 2) a motivação correta para sermos generosos; 3) a generosidade como estilo de vida; 4) que a generosidade não tem uma forma determinada, hora ou local para acontecer; 5) generosidade para os “de dentro” e os “de fora”; 6) quebrando o círculo vicioso da ingratidão; 7) a gratidão como estilo de vida; 8) o fato de sermos generosos porque somos gratos; e 9) que não há gratidão nem generosidade “pela metade”.

Mas em face de tudo o que vimos, que resposta somos capazes de dar? Como podemos aprender a ser gratos, como desenvolver a generosidade?

Generosidade e gratidão só se aprendem na prática, no caminho da obediência, em uma fé operante.

Antes de terminar, só mais um parêntese. O Dino falou aqui na igreja sobre o colégio ter pedido o espaço onde nos reunimos, depois passamos meses procurando um local adequado e agora que encontramos, eu e você temos a oportunidade de exercitar ambos gratidão e generosidade para com os desafios que teremos pela frente como igreja.

A palavra de Deus fala em 2 Coríntios 9.7: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”. Dízimo não é uma obrigação. Não vou me esticar no assunto, porque embora correlato não é sobre isso que viemos conversar.

No entanto, fale com Deus em oração e sonde seu coração que tipo de resposta você pode dar de cunho bem prático a essa mensagem.

Se você já é convertido, será que precisa reavaliar essas duas áreas em sua vida, como algo a trabalhar mais, a desenvolver mais, a reconhecer o quanto Deus tem mudado em sua vida e te abençoado, por exemplo por meio desta igreja, destes pastores e líderes, e o quanto você pode ajudar a contribuir para o sustento desta obra que prega o evangelho puro e simples, e vai além das quatro paredes, resgatando vidas escravizadas pelo pecado e pelo diabo?

Uma das muitas vezes que Israel demonstrou gratidão e generosidade de forma prática foi quando da construção do tabernáculo. Moisés solicitou que aqueles que reconhecessem a importância da presença do Senhor no meio do arraial, voluntariamente contribuíssem para a obra. O resultado? Êxodo 36.5-7, que diz:

E falaram a Moisés, dizendo: O povo traz muito mais do que basta para o serviço da obra que o Senhor ordenou se fizesse.
Então mandou Moisés que proclamassem por todo o arraial, dizendo: Nenhum homem, nem mulher, faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais, porque tinham material bastante para toda a obra que havia de fazer-se, e ainda sobejava.

Meus irmãos, esta não é uma igreja que fica cobrando de vocês dízimos e ofertas, nem lhes impondo um peso, constrangendo, ou dizendo que alguém é pecador ou não salvo se não der o dízimo como algumas igrejas aí fora o fazem. Mas, já pensou se os pastores precisassem vir aqui à frente e pedir pra gente parar de dar, porque a generosidade de todos é tão grande que os recursos são mais do que suficientes pra tocar a obra… Quem sabe um dia isso não se torna realidade!?

Enquanto isso não acontece, se envolva, se informe dos projetos da igreja, participe, doe: sua oração, seu tempo, seus recursos, sua vida, em prol de sua família, do corpo de Cristo, e da sociedade, especialmente de quem mais precisa.

Por outro lado, se você ainda não tomou uma decisão pessoal por Jesus, mas de alguma maneira esta mensagem lhe ajudou a compreender melhor os valores do Reino, e do Rei que generosamente nos deu aquilo que era mais preciso, seu Filho Jesus, e agora entende a necessidade de ser grato a Ele, você pode comunicar o desejo de conhecer mais dessas verdades e de quem é esse Jesus que deu sua vida por mim e por você à pessoa que talvez lhe convidou até aqui, ou a algum de nós mesmos para que possamos ajudar você a tomar essa que é a melhor decisão na vida de uma pessoa.

Essa é a minha oração para mim e para você hoje.

Deus nos abençoe.