Natal em Fortaleza

Minha viagem para Fortaleza esse final de ano foi bastante diferente das últimas edições.

Começou por eu ter ido antes do período que costumo ir. Normalmente vou na última semana do ano, e aproveito para passar o natal e o ano novo lá. Esse ano, por causa do casamento de um amigo no dia 21, fui obrigado a ir antes do natal, o que me impediu de ficar até o ano novo.

Continuando, entrei no avião que vinha de São Paulo, creio eu, para Fortaleza, e sentei-me à frente de um cara que tinha sido meu colega no segundo grau, tantos anos atrás. O nome dele não tenho certeza, mas acho que é Gustavo. Falei com ele, acho que me reconheceu, embora dificilmente tenha se lembrado do meu nome. É perdoável, visto que, embora da mesma sala, não éramos do mesmo grupo de amigos, e meu nome também não é fácil. Aliás, eu mudei tanto, penso, que fiquei até surpreso por ele ter me reconhecido.

Cheguei em Fortaleza e passei muito tempo com minha família. Primeiro com Léo e Cynthia, que foram me pegar no aeroporto, depois com mamãe, papai, Heliú e outros. É difícil conciliar tantas programações, especialmente considerando que sou filho de pais separados que não "se bicam", e por isso acabei fazendo a mesma coisa repetidas vezes com ambos.

Fiz meu circuito gastronômico praticamente completo, ou seja, comi um filé de peixe ao molho de camarões no Colher de Pau, um feijão verde no Docentes e Decentes, uma tapioca nas tapioqueiras… Mamãe também comprou minha pipoca de isopor salgada, que não vende aqui em Salvador. Pena que o armazém onde eu costumava comprar em quantidade fechou aí me resignei com o que ela me comprou, que não foi muito.

Também saí um bocado. Fui ao Iguatemi algumas vezes, cinema duas vezes, ver casas (diversão garantida, para mim pelo menos), Sputnik, pena que não consegui ir ao Dragão do Mar, nem ver a banda cover dos Beatles, que sempre gosto de ver.

O que eu senti falta, infelizmente, foi dos meus amigos esse fim de ano. Tirando família, que também considero amigos, e namorada, meus três melhores amigos estavam viajando, aí não pude vê-los. Também tive pouco tempo para visitar outros amigos que gostaria de ter visto e que não consegui.

Quase concluindo, fiquei triste em constatar o abandono que Fortaleza está vivendo. Gasta-se (leia-se, a prefeita Luiziane) três milhões em shows para o ano novo e a cidade está enterrada em lixo, as ruas esburacadas, a violência que eu mesmo presenciei, em choque, como dura realidade que me lembra que minha bela cidade não é mais tão bela como prega a administração pública, e está um pouco mais próxima, infelizmente, da dura realidade da Salvador que moro, em diversos aspectos.

O natal em si foi meio fraco, aliás, meio não, todo fraco mesmo. Talvez por eu estar “assistindo” tudo pelo telão do lado de fora da igreja, que estava lotada, ou ainda por eu não gostar muito desse período, prefiro o ano novo.

Ontem voltamos, Sarinha e eu, para Salvador. Chegamos por volta de duas e meia, e já estou desde cedo aqui no trabalho, tentando produzir alguma coisa, zumbi do sono que estou. E ainda um cisco no olho me perturba desde ontem… Peguei meu carrinho que estava no conserto, e tirei um pouco das "saudades", se é que posso dizer isso de pegar trânsito…

Agradeço a Deus por tudo que passei em Fortaleza, e espero voltar em breve, se Ele assim permitir.

Deixa-me ir nessa, tentar me manter acordado pelas próximas horas até eu ir embora pelo menos.

Mais um de meus sonhos diferentes

Quem me conhece sabe que sou um sonhador. E que sonho acordado, muitas vezes, chegando ao ponto quase de "sair do ar" sem precisar estar dormindo.

Isso era comum na minha adolescência, especialmente no meu terceiro ano do antigo segundo grau, hoje ensino médio, mas aqui e acolá ainda tenho alguns momentos desses.

Mas não vim falar sobre esse tipo de experiência em si, mas sobre uma em particular que tive hoje durante o almoço.

Hoje sonhei que estava morando em Crato, e trabalhando em Juazeiro do Norte. É um pouco estranho eu sonhar com essas cidades, mas tudo bem, já que fazem parte do meu imaginário e história particulares. Continuando, no sonho eu ia para o Iguatu, cidade que vivi boa parte da minha vida, e onde meu pai ainda mora, e para Fortaleza, em finais de semana intercalados, o que era bem melhor, nesse aspecto da distância geográfica dos meus entes queridos e amigos, do que a minha situação atual, mais de 1500 quilômetros de distância deles.

No sonho me vi ao lado do meu pai na Igreja Assembléia de Deus no Iguatu, cantando uns hinos que costumamos (e eles ainda costumam, suponho) cantar. Vi-me também pegar minha Honda Shadow (não, ainda não tenho, mas é outro sonho, que fica pra próxima eu contar…) e viajar de Crato a Iguatu. Vi diversas idas e vindas de ônibus entre as cidades do interior do meu Ceará, e Fortaleza, trecho que conheço bem.

Depois acordei e voltei ao prato de comida…

Cidades sobre trilhos

Quem me conhece sabe que um dos meus sonhos é morar numa cidade onde o sistema de transporte público seja eficiente a tal ponto que eu não precise dirigir, pegar meu carro para fazer meus trajetos mais comuns. Eu detesto dirigir, enfrentar trânsito, mesmo possuindo carro com câmbio automático. Quem sabe um dia…

Estava lendo hoje algumas matérias sobre a implantação de VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) em algumas cidades do Nordeste, e me lembrei de experiências que vivi com esse tipo de modal, em cidades como Toronto e Boston.

Os VLTs permitem o transporte com maior conforto de mais passageiros que os ônibus coletivos, organizando melhor o trânsito e, com os projetos estruturantes, adequando a própria paisagem urbana.

Além disso, para cidades que ainda não comportam metrôs, por razões econômicas ou de deslocamento de grandes massas populacionais, o VLT é bastante adequado, pois exige menores investimentos, e demanda menos recursos para sua manutenção. Isso também é válido para a expansão e interligação com sistemas de metrôs já existentes, e até em substituição aos ônibus em determinadas áreas.

Os bondes modernos podem funcionar em canteiros centrais, vias exclusivas como as de ônibus, integradas ao meio rodante, parcialmente ou totalmente segregadas, o que irá, inclusive, definir o tempo de duração das corridas, visto, caso o bonde compartilhar o mesmo meio de ônibus e automóveis, certamente estará limitado, como os demais veículos, ao tráfego de cada região.

Vi projetos para diversas cidades, como Fortaleza, Natal, Maceió, entre outras, e espero, um dia, poder usufruir, aqui no Brasil, nas cidades que eu visito, desse tipo de sistema.

A história do furto da árvore de natal

"Tenho visto tantas coisas, nesse mundo de meu Deus, coisas que pr’um cearense não existe explicação…"

Gonzaga poderia repetir seu verso se porventura viesse a ouvir a história que eu tenho a contar.

Telma passara a tarde inteira de sábado e algo do domingo arrumando a árvore de natal do bloco dois do condomínio onde mora. Nem era o seu próprio edifício, mas ela se prontificou a armar a árvore e decorá-la o melhor que pudesse.

Fiquei sabendo hoje que várias crianças foram testemunhas da montagem. Mas não apenas elas, já que júnior, um colega universitário de malhação, também estava lá e, segundo Élson, marido do Telma, fazendo hora dele, nem sequer para ajudar ele se dignou. Isso digo para, parafraseando o que ela falou, não venham questionar o porquê de existir uma árvore de natal no bloco um e não no outro. Haver até havia, só não há mais.

Essa história, voltando um pouco, começa bem antes de eu entrar no elevador para subir ao meu apartamento e me deparar com uma nota do síndico avisando do absurdo furto da árvore de natal do meu bloco. Volta, segundo o aviso fixado no mural, a algum momento entre segunda e terça-feira, ou seja, de ontem para hoje, quando um "artista", por falta de palavra melhor – não, não creio que a palavra "ladrão" defina bem essa pessoa, retirou a árvore recém montada e decorada, com a decoração junto, e levou embora, apropriando-se do bem que era coletivo, que era nosso.

Ficamos na academia tanto perplexos, afinal como é que alguém furta uma árvore de natal, quanto revoltados com a situação.

Não, essa não é a primeira e infelizmente não creio que será a última vez que some coisa aqui no condomínio. Aparelhos telefônicos instalados em alguns locais específicos para servir de interfones já não há dedos nas mãos para contar quantos tiveram que ser repostos. Já desapareceram misteriosamente um telefone celular esquecido na quadra, e até um tripé de fotografia, que nunca mais tornaram a seus donos.

Outras coisas sem noção também já cansaram de acontecer, como crianças jogando ovos ou pedras de gelo ou balões d’água pelas janelas para ver se caíam na cabeça de alguém, ingênuos dos riscos dessa "brincadeira". Já se viu de tudo em cima das telhas de metal que recobrem a garagem, de calcinhas à camisinhas, e até uma garrafa uma vez atiraram lá de cima que perfurou esse telhado e se espatifou no vidro do pára-brisas dianteiro de um veículo estacionado. O autor segue desconhecido, embora um BO tenha sido feito e até uma assembléia extraordinária tenha sido convocada para discutir o assunto.

Mas, sinceramente, acho que nunca tinha ouvido falar de alguém que furtasse uma árvore de natal. É meio estranho até de imaginar a cena, alguém tirando a toda pressa a parte que havia pendurada da decoração (sim, levaram as guirlandas também), pegar a árvore que era de um porte razoável, e subir ou descer pelas escadas, isso porque o elevador tem câmera que grava tudo que por ali passa, e olhando as gravações do período, nada de anormal foi visto nos elevadores.

Ficamos conjecturando na academia o porquê de alguém fazer isso, tentando rir da nossa própria miséria. Achamos que era alguém, de sacanagem, pregando uma peça no condomínio por terem colado um cartaz no elevador dizendo "drogas não", então talvez tenha sido algum dos maconheiros que fumam no telhado que tenha se enfezado e resolveu aprontar.

Talvez alguém tivesse tido a brilhante idéia de decorar a própria sala com a árvore do condomínio, não sei. Até sugeri ao síndico que ele e o administrador percorressem todos os apartamentos caso o famigerado autor do delito tivesse sido amador de usá-la no seu próprio lar.

A própria Telma, rindo da própria tragédia, brincou dizendo que se a tal pessoa que levou a árvore tivesse tido um mínimo de consideração de falar com ela antes de montá-la, ela até daria a árvore, para evitar o trabalho e o cansaço que deu.

Fato é que a árvore sumiu, e acho que não vai voltar. Conversei com o síndico para da próxima vez que levarem algo, coletarem-se as digitais que hajam nas redondezas do objeto furtado. Quem sabe a colocação de câmeras bigbrotheanas nas escadas, como já há nos elevadores, iniba esse tipo de ação já que o meliante não terá como se evadir do local sem ser percebido, ou gravado.

Encerrando esse relato, deixo aqui meus mais profundos e sinceros votos de protesto e repúdio ao destruidor de natais alheios. Papai Noel, então, nem pensar em colocar um para enfeitar. Quem perde somos todos nós, moradores desse condomínio.

P.S.: Embora os nomes sejam fictícios para preservar a identidade de seus reais proprietários, a história é verídica e realmente aconteceu de ontem para hoje, infelizmente.

Laboratório de redação 3: uma carta (fictícia) a Miriam Leitão

Hoje foi o terceiro e último laboratório de redação antes da segunda fase do vestibular da UFBA. O tema era uma carta argumentativa em resposta a um artigo escrito pela jornalista Miriam Leitão, por isso o título acima. Segue abaixo meu texto.

Salvador, 09 de dezembro de 2008

          Miriam Leitão

          De fato, o Brasil, até agora, tem tratado os problemas por você citados, quais sejam a questão ambiental, os riscos e as chances da demografia, e a reminiscência de práticas abomináveis, como o trabalho escravo ou em estado de semi-escravidão, em pleno século XXI, com total despreparo, mostrando falta de profissionalismo, negligência e imperícia. No entanto, há vozes que não querem calar e braços que não se cruzam, demonstrando que as escolhas que o Brasil já faz podem mudar o cenário atual.

          A atuação do Ministério Público do Trabalho, bem como outros órgãos federais como o IBAMA e a Polícia Federal, centrada no grupo móvel de combate ao trabalho escravo, tem demonstrado, sob aplauso da OIT, que a situação não é irreversível, e que deve ser intensificada. Não fosse isso suficiente, ainda que reste muito a ser feito, perguntemos a cada trabalhador resgatado se foi ou não importante para ele esta atuação? O caminho que falta trilhar é o da real condenação, desestimulando tanto a reincidência do empregador criminoso, quanto o retorno a essa condição do trabalhador sem perspectivas.

          Em segundo lugar, à situação de desrespeito ao meio ambiente, embora muitas vezes tardia e motivada por uma tragédia como a que aconteceu em Santa Catarina, o governo tem gerado ações de resposta, onde vemos as diversas agências governamentais fecharem o cerco aos desmatadores, por exemplo. Infelizmente, aos alertas que a natureza nos dá nem sempre prestamos a devida atenção. No entanto, as vitórias na redução da área de floresta queimada indicam que o país decidiu ouvi-los.

          Finalmente, quanto ao desafio que se apresenta no tocante ao envelhecimento da população, devemos tomar como exemplo países desenvolvidos onde a população permanece ativa por mais tempo, e ainda explorar alternativas para o sistema previdenciário atual. Isto já é algo em discussão no congresso nacional, o que mostra que, pelo menos, o passo inicial já foi dado.

          Esperançosamente,

O Leitor.

Valorização do supérfluo

Não é novidade que estou fazendo cursinho pré-vestibular e não é sobre isso, diretamente, que irei falar aqui.

Na verdade é uma coisa que, por estar cercado de adolescentes ou pós-adolescentes, pude notar com mais facilidade, ressaltou-me à vista, por ser comportamentos típicos talvez dessa faixa etária, que são o culto exagerado ao corpo, e o apego igualmente forte à moda.

Antes de me explicar, quero dizer que estou localizando essa minha percepção à Salvador não porque queira arrumar uma desculpa para falar mal de Salvador, até porque não sei se é bem falar mal o fato de constatar e relatar uma realidade, mas apenas porque é onde estou morando e foi na realidade de um cursinho daqui que percebi isso. Provavelmente, ou melhor, possivelmente isso também acontece em outras capitais, em locais semelhantes, ou seja, onde o público alvo seja composto de jovens de classe média alta e classe alta.

Vejo claramente homens e mulheres super sarados, e não tem como deixar de perceber porque as conversas giram muitas vezes ao redor disso, quando você passa pelo corredor polonês formado pelas tribos de caras usando camisetas coladas, cordões prateados, parecendo uma farda de malandro, um comparando-se ao outro, cada um mais brutamontes que o outro, com caras de marra parecendo bodes no sertão. As mulheres também não ficam longe, só que vejo talvez um comportamento um pouco diferente, onde uma se compara a outra, mas não diz isso, fica se achando gorda ou feia, ou coisa do gênero, elogiando a outra pra ver se recebe um elogio de volta.

Além disso, é certo que estou num cursinho classe A, como já falei, mas é muito estranho ainda assim ver o desfile de marcas e roupas da moda de lojas onde uma camiseta custa duzentos reais, uma calça quatrocentos, e por aí vai, em plena manhã numa sala de aula de cursinho… Eu acho um exagero, mas isso sou eu.

Você vê as roupas tanto de um quanto de outro sexo mais ou menos parecidas entre si, e não são só as marcas iguais, mas os tipos de roupa também, e pelo pouco que sei de moda, de olhar vitrine, percebo que são os mais recentes lançamentos. Ainda nesse sentido, vê-se as mulheres usando tipos de penteados, roupas e acessórios de gosto duvidoso, só para ficar na moda.

Fiquei pensando isso hoje, não sei bem porque, e resolvi colocar aqui. E antes que pensem que sou alguém totalmente avesso à moda, se é que isso é possível, e acho que até já fui no passado um pouco, tenho sim algumas marcas no meu guarda roupa, mas não pauto minha vida nesse tipo de valor, nem no culto à beleza, embora esta seja importante. Eu malho, porque me garante uma saúde melhor, melhora minha auto-estima, e isso sim talvez seja mais importante. Mas não fico me comparando com o bombado ao lado, como se querendo impressionar não minha namorada, mas o próprio cara, que é o que eu acho que essa galera faz.

Acho que é isso, até a próxima.

Uma trágica ironia que se repete na história

Estamos todos acompanhando a tragédia natural que está acontecendo no sul do país, em especial no estado de Santa Catarina.

Hoje pela manhã ouvi de um professor de geografia que o custo estimado para a reconstrução do estado é da ordem de meio trilhão de reais, e que os terrenos da região somente ficarão estáveis o suficiente após pelo menos duzentos anos, tempo suficiente para a terra se reacomodar após tanta água.

Ele também falou que isso, somado ao fato de o estado vir enfrentando já há alguns anos um empobrecimento da classe média, proporciona a proliferação de grupos radicais ideologicamente identificados com o nazi-facismo. Esses grupos, que já somam mais de vinte mil adeptos somente em Santa Catarina, pregam, entre outros absurdos inomináveis, a separação do sul do país, "moderno", "desenvolvido sócio-cuturalmente" e, principalmente, "branco de origem européia", do restante do Brasil, em especial do Nordeste, subdesenvolvido, negro e pobre em boa parte.

Vejam bem que coloquei todos esses termos entre aspas porque não concordo com essa designação, ainda que tenhamos que concordar que há muitos Brasis dentro do nosso país, e que aquela região, para quem conhece (e eu conheço) realmente apresenta maior IDH que o Nordeste, por exemplo, entre outras vantagens de caráter histórico. Não, isso não é para justificar as alegações e anseios desses grupos de minoria, muito ao contrário.

Mas não quero falar especificamente sobre o movimento separatista pregado por esses nazistas sulistas.

Gostaria de falar que, como coloquei em uma das redações do laboratório de redação do cursinho, e que transcrevi para cá, essa destruição toda faz ressurgir um sentimento, sob a forma de ajuda humanitária, de solidariedade. Nesse ponto cabe a razão do meu título, o fato disso tudo ser irônico. Hoje o estado com maior contingente de nazistas é ajudado pelo Nordeste pobre e negro.

É notória a discriminação de um nordestino no sul e sudeste do Brasil. Chamam-nos de atrasados, "paraíbas", "cabeças-chatas", "baianos", dando sentido pejorativo a esses termos de que tanto me orgulho. No entanto, é o Nordeste, que vive em constante estado de calamidade por causa do fenômeno da indústria da seca, ou seja, um agravamento das conseqüências de um desastre natural endêmico que é a seca associado/devido à falta de planejamento e execução de políticas públicas de manejo dos recursos naturais e do homem nas áreas afetadas, quem mais fortemente se comove com a realidade dos nossos "irmãos", quem mais colabora, quem arregaça as mangas e envia mantimentos, água, roupas para os desabrigados de Santa Catarina.

Isso vi comentado por uma irmã da igreja da qual faço parte na comunidade da igreja no Orkut, dizendo ela "que milhares de pessoas morrem ano após ano de fome, de sede, de verme… e por uma série de outras causas evitáveis no Nordeste" e ainda "será que nossas cidades do interior valem menos que a capital do oktoberfest? Qual será a grande diferença entre nossas mazelas? Se for pelo número de mortos, de desabrigados, de órfãos, de saques, de terras inutilizadas já estamos no alto do ranking há décadas." Continua dizendo que "se lá estão lutando contra um episódio da natureza, aqui lutamos contra preconceitos históricos, invisibilidade e injustiça social crônicos desde que este país foi colonizado. Um verdadeiro genocídio silencioso aqui mesmo pertinho, no interior da Bahia".

Tão duras, mas verdadeiras, as palavras dela. E que ironia logo nós sermos quem ajuda e ajudará a soerguer aquele estado.

Mas, continuando o assunto do título, é uma história que se repete, e não quero dizer apenas na questão da tragédia humanitária, que de fato não é nova, se pensarmos em casos como o tsunami na Ásia, furacão Katrina, vulcões, terremotos e tantos outros. Repete-se especificamente no sentido da ajuda, e quero citar aqui particularmente uma história contada na Bíblia.

O apóstolo Paulo menciona em 2º Coríntios 8 o fato de que as igrejas da Macedônia, uma região bastante pobre e carente de recursos de toda sorte, fizeram uma coleta de doações e ofertas que excedeu até a sua própria capacidade, de maneira a contribuir com a fome por que passava a igreja em Jerusalém. Este é o tipo de oferta sacrificial, semelhante ao da viúva pobre descrita em Lucas 21, uma oferta de sangue, uma oferta que agrada ao Senhor.

Portanto e para concluir, o pobre e necessitado Nordeste, e até mesmo o sertão mais precisado, como as igrejas da Macedônia, socorre o seu irmão que experimenta, talvez pela primeira vez, como aquela igreja de Jerusalém, um momento de tragédia, de fome, de necessidade extrema. Esse mal (sofrimento) e o bem decorrente (ajuda) iguala novamente os homens. Aqueles olhares altivos lançados para os pobres nordestinos atrasados, culpados pelo terceiro-mundismo da nossa nação, hoje choram de fome, e de agradecimento pelo muito que estamos fazendo, muito mais além do que as nossas possibilidades, inclusive.

Deus nos abençoe, e a Santa Catarina também.

P.S.: peço perdão se ofendi algum catarinense. Entendo que este é um momento de dor e comoção nacional, e amo esse estado que conheço, e tenho inclusive parentes que moram lá. Mas, não pude deixar de passar esse comentário, esse pensamento que veio à minha mente, e de outras pessoas, nos últimos dias.

Laboratório de redação 2

Hoje foi meu segundo laboratório de redação. Diferentemente do primeiro, entreguei minha redação para ser corrigida e a professora o fez na hora, discutindo comigo o que eu precisava melhorar.

Na opinião dela, e concordo absolutamente, o grosso do meu problema é a minha caligrafia, ou antes, a falta dela.

Infelizmente, por mais que eu me esforce, como eu sou um informata, e por isso digito muito mais do que escrevo manualmente, qualquer coisa que começo a escrever já me dá cãibras, minha mão dói e até trava, sem brincadeira. Lembro até que no vestibular que fiz em 2004 quase não consigo redigir a redação final pois minha mão ficou em estado semi catatônico depois do esforço para fazer o rascunho.

Bem, graças a Deus que meus garranchos aqui são substituídos por fontes digitais, como esta sem serifas que vocês estão lendo.

Sem mais delongas, segue abaixo minha segunda redação.

P.S.: admito que estava pouco inspirado na hora de escrever a redação de hoje, e foi meio árido trilhar pelo tema proposto, dentro da forma de texto requisitada (dissertação argumentativa).

O ser humano é um animal que só pode ser compreendido por inteiro em sua complexidade quando contextualizado na sociedade em que se encontra inserido. Neste sentido, há uma faceta que deixa marcas na sociedade e outra que as recebe. Um lado tem conceitos, idéias, enquanto o outro vê tudo isto desmoronar em um instante, e ser reconstruído no momento posterior. Embora sempre presente na história da humanidade, isso nunca foi tão claro quanto na época em que vivemos.

O homem apresenta aspectos com todo o contexto familiar, religioso, político, ou seja, os valores ideológicos que absorveu e construiu durante a sua vida e que permitem que seja, pelo menos pela metade, o que ele é. Esta metade imprime nas pessoas de seu convívio as marcas características da sua personalidade. É a influência, positiva ou negativa, que exerce no meio. Por outro lado, o que lhe completa é justamente o que lhe contrapõe, isto é, aquilo que a sociedade lhe empresta, o que ele pode aprender de novo, a impressão digital de uma ética e cultura que ajudam a moldar o que ele termina por ser.

É importante avaliar como esse animal racional sofre a influência de todas as ideologias que lhe cercam, muitas conflitantes, e passa a enxergar nesse meio a solução para os seus problemas ou o aprofundamento das suas crises. Tudo que ele construiu em termos de valores é deteriorado por uma sociedade que não as possui. No entanto, como vemos em ocasiões de tragédias naturais, por exemplo, a destruição de objetos materiais pode ser o catalisador de uma reconstrução da humanidade, a partir do momento em que propicia a solidariedade.

Essa realidade é atual, mais do que nunca. Não podemos olhar para trás e fingir que é novidade o impacto de cada paradigma social na vida de seus contemporâneos. Contudo, hoje vemos esse homem, carente dessa sua metade social, ser refém de uma nova ordem para a qual não está preparado, mais sofrer influências ideológicas do que estar apto a impactar.

A integralidade do homem, entendida na sua divisão em partes que influenciam e se deixam influenciar, tem um conflito de que pode e quer versus o que a sociedade o permite ter e ser. Isto é fato que não pode ser dissociado da realidade histórica, presente no passado, e mais ainda hoje, em que as ideologias tomam as rédeas da condução do homem.

Laboratório de redação 1

Semana passada tive meu primeiro laboratório de redação, no cursinho pré vestibular que estou fazendo de revisão para a segunda fase do vestibular da UFBA. É dado um tema, normalmente uma frase, e textos de apoio para a gente poder usar, se quiser, no desenvolvimento da nossa redação. Esta então é analisada pelos professores e corrigida para que a gente saiba onde podemos melhorar.

Feita essa introdução, segue abaixo minha primeira redação, que recebi hoje, depois de corrigida.

O ser humano, nos dias de hoje, busca, através do autoconhecimento, encontrar um espaço próprio, em que esteja ao mesmo tempo imune ao julgamento de uma sociedade opressora, e de um sentimento de inferioridade que não lhe permite verdadeiramente ser.

No decorrer da história, o homem passou por diversos momentos em que suas expressões pessoais eram tolhidas pelos pré-conceitos, pelos valores estabelecidos pela sociedade da época. O valor destas expressões, ainda que se deslocados temporalmente para o futuro pudessem parecer conservadores, naquele instante, representaria a libertação de sentimentos, pensamentos e ações cativos de alguém que não conseguiu se realizar.

Como parte das transformações históricas impressas na ética social, a revolução do conhecimento, a produção e o reconhecimento da cultura enquanto cultura, o homem passa a desenvolver um senso crítico mais apurado e ocupa então o seu próprio espaço. Este lugar não é uma conquista territorial, mas o reconhecimento de quem ele é, direito que lhe foi negado. O seu potencial não atingido poderá ser ultrapassado, visto a noção de limites estarem em processo de dissolução.

No entanto, há ainda a luta dessa sociedade formada pelo mesmo homem, que no momento atual busca uma nova identidade, em direção por vezes conflitante: um retorno aos valores de outrora, reflexo de um pseudo-saudosismo de uma ética que já não existe, em contraste à ida ao encontro de um novo sentido para a vida, algo ainda não descoberto, mas em processo de construção.

A condição do homem no mundo contemporâneo é, como visto acima, fruto de inseguranças originadas pela saída de sua zona de conforto, ainda que moldada por uma sociedade que não lhe entende, que não lhe preenche e com a qual discorda. Esta situação, longe de estar definida, encontra-se e descobre-se a cada dia de maneira diferente, em busca de um equilíbrio que não se sabe se será alcançado ou sequer qual seja.

A quem quero enganar?

A quem quero enganar se penso, arrogantemente, que tenho todas as chances de passar no vestibular? (Não, não penso.)

A quem quero enganar se penso que terei as respostas para todas as perguntas de todas as provas? (Não, não me engano.)

A quem quero enganar se imagino que a redação será fácil, com tema de meu conhecimento? (Não, não imagino isso.)

A quem quero enganar se, dizendo que Deus é quem me fez passar (nem saiu o resultado ainda) na primeira fase, concordo, no entanto, com quem me refuta com a idéia de que Deus não estava psicografando a prova para mim? (Não, não concordo.)

Se pensar que tenho chances, pois suponho que boa parte de quem fará a prova é composta de pessoas como eu, profissionais que trabalham, já formados, que não tiveram tempo de se preparar, e estudar… Ou ainda se essas chances forem baseadas na concepção de que este é o primeiro vestibular do curso que escolhi o que gera certo temor nos melhores alunos, deixando aos piores a posição de arriscar um curso que ninguém sabe se será bom ou ruim? Ou então se essas chances forem atribuídas à idéia de que fui, teoricamente, bem na primeira etapa, que já ajuda bastante no resultado final.

Não, não posso pensar desse jeito. Não tenho como afirmar que as seiscentas pessoas que irão se classificar para a segunda etapa são pessoas como eu, profissionais que trabalham o dia todo e não tem coragem ou tempo de pegar num livro depois do trabalho para revisar. Podem muito bem serem estudantes recém saídos dos bancos colegiais, ou dos cursinhos. Ainda que fossem, quem garante que eles, como eu, não estão cursando um pré-vestibular? Quem garante que, justamente pelo fato de ser uma turma nova, com a expectativa de menor concorrência, não tenha havido uma migração das melhores mentes justamente para o turno da noite que escolhi tentar? Aliás, quem sequer sabe se realmente fiz os cálculos corretamente das questões que acertei, e ainda se o cálculo que fiz, que não levou em conta a média ou o desvio padrão, são válidos de qualquer modo?

Se pensar que tenho as respostas a todas as perguntas de todas as provas, tenho que admitir que não aparecerá nenhuma questão da qual não tenha sequer sombra de dúvida. Isso é impossível, para qualquer um, especialmente para mim, tanto tempo longe desse tipo de assunto que é cobrado na prova.

Não tenho como me enganar. São três provas diferentes, com conteúdo muito vasto, mais uma redação, sob tema que desconheço, a princípio. Português nunca foi meu forte, ainda que goste bastante da língua. Não li todos os livros indicados. Aliás, nem os resumos comentados de todos terminei de ler ainda. Os filmes, idem. Quem me garante que as perguntas não serão exatamente daquele assunto que não revisei? Isso vale também para geografia e história. Tantas coisas que os professores tentam ao menos mencionar só me fazem ter a certeza de que o que quer que eu soubesse ficou esquecido quando terminei meu terceiro ano em 1996.

Se pensar que a redação será fácil, talvez eu tenha adivinhado o tema, ou talvez saiba no íntimo do meu interior que qualquer que seja o tema, sou mestre na gramática, conjugação verbal, conheço todas as regras da construção do discurso e domino qualquer que seja o tema proposto.

Não tenho como imaginar isso. É lógico que não. Gosto de escrever, mas coloquem um tema que nunca li a respeito e eu terei sérias dificuldades para dissertar, narrar, descrever, argumentar a respeito. Também possuo muitos vícios de quem escreve na Internet, e outras questões não resolvidas de estilo literário de caráter pessoal, como minha predileção por períodos longos, oposto do que reza a norma culta.

Se pensar que, de fato, não foi Deus quem me ajudou na primeira etapa, mas sim meus conhecimentos prévios, minha bagagem escolar, como diriam vários professores dos cursinhos que estou freqüentando, então não teria porque crer que Ele me ajudaria novamente nesta segunda fase que se avizinha.

Não tenho como concordar com isso. Deus me ajudou, ajuda e continuará ajudando, em nome de Jesus. Posso argumentar que a prova foi fácil para mim (não foi), e ela poderia ter sido fácil para todo mundo, por exemplo, mas se Deus quisesse, considerasse eu a prova fácil ou difícil, pouco importaria porque talvez fosse difícil para todo mundo. Quem sabe se Deus não escolheu, através dos professores, questões que justamente eram as minhas esperadas? Quantas dores de barriga em candidatos concorrentes será que não aconteceram? Quantos nervosos erraram a marcação da prova, leram errado ou qualquer coisa do gênero?

Eu falei pra um colega que achava que tinha ido bem na primeira etapa, graças a Deus, e ele disse "graças a Deus não, graças a você".

Não, foi graças a Deus mesmo.

Estou sendo redundante, mas só Deus pode dizer as questões que irão cair, se é de algum assunto que pelo menos lembro alguma coisa. Somente o Pai pode guiar meus pensamentos na hora de redigir minha resposta, relembrando-me dos conhecimentos adormecidos, e também auxiliando no próprio jeito de formular ou construir as idéias. Deus é o único que pode me dar a paz necessária para fazer no tempo adequado o que tenho que fazer.

Tudo depende de Deus.

Chego a pensar, concluindo, que minha participação nessa história toda tenha caráter talvez pouco mais que decorativo, como um figurante numa novela que ousa falar sem ter sido escrito e determinado uma fala para si pelo autor. O diretor então é quem decide se aquela cena irá ao ar ou não, se este ator que vos fala irá para o cenário acadêmico para o ano ou não.

Deus nos abençoe. A cada dia que passa, que eu possa reconhecer que dEle provêm as fontes da vida, de tudo que somos, e do que almejamos ser. E, por fim, que diminua eu para que Tu cresças, Senhor.