Um desconhecido bíblico para indicar a Pangeia

E a Éber nasceram dois filhos: o nome de um foi Pelegue, porquanto em seus dias se repartiu a terra, e o nome do seu irmão foi Joctã. – Gênesis 10:25

Muitos trechos da Bíblia contêm genealogias sem fim, textos que não parecem fazer muito sentido ou terem algum propósito.

No entanto, além de explicar a origem das linhagens e dos povos ao redor de Israel, e do próprio povo de Deus, cá e lá vemos pequenas revelações da própria história da terra em que vivemos, e alguns personagens que, por mínima que seja a narrativa contada de sua passagem por aqui, mostra-nos a relevância que tiveram, seja pelo relacionamento que construíram com Deus, seja porque em sua época aconteceu um fato de proporções mundiais.

Uma dessas pessoas, como vimos poucos capítulos atrás, foi Noé, responsável por construir a arca que foi usada para salvar a humanidade e os animais terrestres do grande dilúvio que lavou o mundo, fato histórico contado por diversas civilizações antigas e que encontra respaldo também na narrativa bíblica.

Outra figura assim é Pelegue, que somente aparece citado nesse trecho, e cuja relevância foi marcar o tempo em que ocorreu a separação da terra, que até então era um grande e único continente, Pangeia, e que a partir daí foi-se dividindo nos continentes, adquirindo a conformação que hoje conhecemos.

Isso explica o porque de haver civilizações florescendo em lugares tão distantes, aparentemente incomunicáveis, mas que possuem traços tão particulares em comum, como a construção de monumentos piramidais no Egito, império Inca, e em outros lugares do mundo, e com narrativas do dilúvio, por exemplo, também em comum.

Até Pelegue a Terra era uma só, sem divisões, e a língua era a mesma e as pessoas viviam geograficamente próximas até Babel (mas não vou me antecipar a isso), então ficava “fácil” o conhecimento se propagar, as histórias serem passadas de pai para filho, entre as quais o relato da criação e do dilúvio.

Gênesis 5

“Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez.” – Gênesis 5:1

Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, conforme o relato do livro de Gênesis.
Isso não significa que o homem seja clone de Deus, ou um ser de natureza divina, senão que recebemos de Deus atributos comunicáveis, como amor, bondade, razão, emoções, entre outros.

O capítulo 5 de Gênesis traz curiosas e importantes lições para nós que desejamos conhecer mais a Deus e a história da nossa própria humanidade:

  1. “E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete.” – Gênesis 5:3.
    Nenhum outro versículo desse capítulo traz a descrição da geração de um filho como a de Sete, descrito como à imagem e semelhança de Adão.
    A curiosidade está na igualdade da descrição da criação do próprio Adão.
    Tal pai, tal filho, diria o ditado, e assim de Adão, Sete (Seth) também herdou características que foram além da carga genética, qual seja a natureza pecadora, a qual infelizmente também nos deixou por herança.
    Assim como Adão não era clone de Deus, possuindo semelhanças, mas também características únicas e pessoais, assim foi Sete em relação a Adão, e assim somos nós em relação a nossos pais, portanto é até lógico esperar certa semelhança física ou comportamental, mas nunca seremos iguais a eles, nem corresponderemos 100% à educação que deles aprendemos.
  2. “E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos, e gerou filhos e filhas.
    E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos.
    E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.” – Gênesis 5:22-24
    Enoque é talvez o cara que eu tenho mais inveja na Bíblia.
    Sério.
    Há muito poucos versículos que falam sobre sua vida; além desses 3, talvez alguns outros tantos espalhados pelo restante da Palavra, mas eles são suficientes para aprendermos que Enoque era um cara que andava com Deus, de fato, era um cara tão colado em Deus, com tamanha intimidade, que Deus o levou para si.
    Certa vez ouvi de um pastor que nossa relação com Deus deve espelhar a relação de Cristo com o Pai e com o Espírito Santo, conforme as próprias palavras do Senhor em oração em nosso favor segundo João 17:20-23, em que a intimidade é tão grande, a comunhão é tão perfeita que já não sabemos onde começa o Pai, onde entra o Filho e onde sai o Espírito, ou se estivermos nessa relação, onde será nós, onde terá sido Deus, porque teremos a mente de Cristo, jorraremos de dentro de nós a água da vida que é o Espírito, glorificaremos ao Pai com tudo que temos, tudo que somos, nossos pensamentos, palavras, ações e atitudes serão aquelas que o próprio Deus teria se estivesse calçando as nossas sandálias e pisando as nossas pegadas.
  3. “E foram todos os dias de Matusalém novecentos e sessenta e nove anos, e morreu.” – Gênesis 5:27
    Metusalém é a pessoa que mais viveu na história, novecentos e sessenta e nove anos, deveria estar registrado no Guinness Book caso ele já existisse desde então.
    É curioso vermos que pessoas viviam tanto, alguns até conspiram contra a contagem de tempo da narrativa bíblica do Gênesis por essa razão, mas não temos razão para duvidar, se analisarmos que de geração em geração, nesse mesmo capítulo da Palavra, as pessoas vão vivendo cada vez menos, e então podemos pensar em algumas razões para que isso tenha ocorrido, e em espaço relativamente curto de tempo: a) o efeito do pecado que afeta a própria natureza, conforme Romanos 8:22, a cada geração que se passava o efeito era cumulativo, as pessoas infelizmente se afastavam cada vez mais de Deus abraçando o próprio egoísmo e suas paixões descontroladas que resultavam em violência, morte e destruição; b) as doenças surgidas por essa mesma razão; c) a poluição e destruição do meio ambiente pela ação do homem, ainda que de maneira incipiente nas primeiras cidades que foram sendo edificadas, certamente não seria mais a natureza virgem e pura de quando Adão foi criado por Deus no jardim do Éden.
    Mas a Bíblia nos fala em Isaías 65:20 que nos últimos dias, quando da volta do Senhor, a natureza será restaurada, e a nossa saúde e vitalidade de mesmo modo, de maneira que voltaremos a viver muito.
    Isso não é apenas fruto do desenvolvimento da ciência, das vacinas e tratamentos médicos e nutricionais, nem ainda resultado de exercícios físicos e dietas, é algo “quase” sobrenatural, no sentido de que terá sido o próprio Deus que terá restaurado a natureza, dando-nos novamente as condições iniciais do mundo nas quais era natural viver muito, morrer com 100 anos, como diz o texto de Isaías, será morrer “menino”.
  4. “E viveu Lameque cento e oitenta e dois anos, e gerou um filho, a quem chamou Noé, dizendo: Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o Senhor amaldiçoou.” – Gênesis 5:28-29
    São descritas 10 gerações de Adão até Noé, nas quais apenas duas vezes vemos os cabeças de cada linhagem parecerem ter um relacionamento com Deus (Enoque, de fato, teve, como já mencionado).
    A esse respeito temos 2 coisas a considerar: a) como cada geração vivia cerca de 800, 900 anos ou até mais, é natural supor que os pais convivessem com os filhos, os filhos dos filhos, e assim sucessivamente por pelo menos 5 ou 6 gerações. Assim, Adão conheceu seus netos, bisnetos, etc., ou pelo menos alguns deles dado a grande quantidade. Por que isso é importante? Porque a história da criação, que não é uma lenda nem um mito, passou de pai para filho de Adão a Sete, de Sete a Enos e assim sucessivamente até Noé, com uma riqueza de detalhes que se não nos chegou até aqui, pelo menos temos a certeza de que de fato ocorreu e da maneira como está descrita nas Escrituras. Por essa mesma razão, sabemos que, pela narrativa, cada patriarca, por assim dizer, teve dezenas, talvez centenas de filhos, se considerarmos uma média razoável de um filho a cada 2 anos, a proporção da descendência seria hiperbólica, apenas na 2 geração teríamos milhares de pessoas, na 3 talvez milhões, o que gerou cidades prediluvianas de grandes proporções, conforme temos relatos na própria Palavra e que explica, por exemplo, onde Caim, filho mais velho de Adão, foi habitar, com quem casou, etc, já que na narrativa de Gênesis 5 só temos a linhagem masculina, já que, à época, a mulher não era contada da maneira como fazemos hoje. b) As milhares, provavelmente milhões de pessoas não tinham aprendido a se relacionar com Deus por não terem recebido isso de seus pais. Ora, Deus visitava Adão no paraíso todo entardecer para se dar a conhecer, para se relacionar, e vemos que em pouco tempo praticamente mais ninguém conhecia ou se relacionava com Deus e isso é sintomático de como nós enquanto seres humanos não buscamos ativamente a presença de Deus, ao contrário, desde o Éden nós escolhemos voluntariamente fugir de sua presença em busca de nossas próprias necessidades, prazeres e interesses, tentando ser senhores dos nossos narizes. Tendo esse cenário de violência como pano de fundo, vemos que Deus, ao invés de abandonar por completo e destruir de uma vez por todas a humanidade pecadora que lhe era rebelde, traz um salvador, prefigurando Cristo na pessoa de Noé, que em hebraico significa consolo, conforto, mesma missão ou denominação dada ao Espírito Santo, dando a toda a humanidade, a mim e a você, uma nova chance de se relacionar com Ele, uma nova oportunidade de receber de seu amor na pessoa de seu filho Jesus, hoje, como Senhor e Salvador de nossas vidas.

Um amor proativo

E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. – Gênesis 2:16-17

O amor de Deus para com o homem está sempre pensando além, indo adiante, sendo proativo em prepará-lo para enfrentar as dificuldades da vida, buscando livrá-lo do mal e das adversidades e lutas da vida que, em excesso, abateriam nossa alma, abalariam nossa confiança nEle, fariam com que a vida não valesse a pena ser vivida.

O homem foi criado para ser livre, mas os limites de sua liberdade eram bem claros, limites feitos do que era bom, agradável e perfeito que é a vontade de Deus.

Deus proibiu ao homem o acesso a árvore por diversas razões, mas uma deles talvez seja porque sabia que, conhecendo o bem e o mal, o homem preferiria o mal, pois o homem só enxerga o agora, o hoje, não o amanhã, o homem egoísta não percebe que suas ações irão impactar o mundo e não apenas o seu umbigo.

Deus enfim estava protegendo o homem dele mesmo, de seu egoísmo, das consequências de sua própria maldade que ainda não havia germinado, e que de maneira nenhuma poderia sair impune; de fato, pelo pecado decorrente da maldade do homem vem a morte, a de Adão, a sua e a minha.

Não é bom estar só

E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele. – Gênesis 2:18

Na narrativa da criação, após cada ato criador Deus vê o que fez como bom.

No entanto, ao olhar para o homem, ser criado à sua imagem e semelhança, Deus sabe que ele nunca será perfeito só, a solidão de um ser criado à imagem e semelhança do Pai, do Filho e do Espírito Santo não poderia ser mesmo considerada boa.

Deus não estava desfazendo de sua própria relação com o homem, não!

O que Ele enxergava era a necessidade humana de relacionamento, de comunidade, algo que só outra pessoa ou pessoas poderiam proporcionar àquela criatura.

Vemos aqui a necessidade da mulher na vida do homem, e abstraindo mais, a necessidade que temos uns dos outros: matar a solidão, ajudar-nos mutuamente.

Como num prenúncio do evangelho que haveria de ser anunciado, Deus nos chama a uma religião comunitária, que não pode ser vivida escondida, à sós, enclausurados em mosteiros, mas voltados, jogados para o mundo, como luzes para ajudar pessoas que se encontram na escuridão das trevas.