Sobre o divórcio

A motivação para o tema dessa reflexão veio do estudo que levamos em nosso PG de casais e famílias na última reunião que tivemos, quando meditamos no texto de Marcos 10:2-12:

Alguns fariseus vieram e lhe perguntaram: “É permitido ao homem divorciar-se da sua mulher?” Naturalmente eles estavam tentando apanhá-lo numa armadilha.
“Que ordenou Moisés sobre o divórcio?”, perguntou-lhes Jesus.
“Ele permitiu o divórcio”, responderam. “Ele disse que tudo que um homem precisa fazer é mandar a esposa embora e entregar-lhe um documento de divórcio escrito”.
“E por que ele disse isso?”, perguntou Jesus. “Eu vou lhes dizer — era uma tolerância à maldade do coração endurecido de vocês.
Mas desde o princípio da criação Deus ‘os fez homem e mulher’.
‘Portanto o homem deve deixar o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’, e ele e a esposa estarão unidos de tal maneira que não serão mais dois, porém uma só pessoa. E nenhum homem deve separar o que Deus uniu”.
Mais tarde, quando ele estava sozinho com os discípulos em casa, o assunto surgiu outra vez.
Ele lhes disse: “Quando um homem se divorcia da esposa para casar-se com outra mulher, comete adultério contra ela. E se a esposa se divorciar do marido e se casar com outro homem, ela também comete adultério”.

Eu vou tentar trazer aqui alguns dos argumentos que utilizei pra explicar esse texto, mas, antes de mais nada, cabe salientar algumas coisas:

1) sempre que possível, vou me ater ao texto bíblico até porque neste, ainda mais do que outros temas, minha opinião é absolutamente irrelevante. A gente pode, em tese, discutir sobre uma possibilidade de interpretação de um texto bíblico assim ou assado, desde que o texto permita tal avaliação, mas a mera opinião, minha ou de quem quer que seja, sobre qualquer tema, se extrapolar, se for além do que o texto bíblico fala diretamente, ou permita inferir, não deve ser levado em consideração de forma autoritativa, ou seja, como se fosse Deus falando, ou no sentido de uma permissão ou ordem para fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

2) eu não estou me referindo em particular a nenhum caso específico, logo, não estou mandando indiretas para ninguém, mesmo que eu utilize exemplos para ilustrar algum ponto que possa refletir a realidade de vida de alguma pessoa.

3) admitidamente esse assunto é muito mais complexo do que poucos minutos poderiam dar conta.

4) esse texto de Marcos é apenas um de muitos outros que cobrem esse assunto, incluindo aí nuances não abordadas nesse texto.

5) o texto do estudo fala da “regra geral”, por assim dizer, e esse deve ser o foco, então situações excepcionais que a própria Bíblia pode mencionar devem ser tratadas desta maneira, como exceção, e não como a regra.

Tendo deixado isso claro, a gente já começa percebendo que os fariseus queriam apanhar Jesus numa armadilha. É o que diz o texto. Eles bem que tentaram, pois Jesus estava entrando na circunscrição do governo do rei Herodes Antipas, que havia se divorciado de sua primeira esposa e casado com a esposa de seu próprio irmão. Ele é o mesmo que, quando confrontado por essa situação anos antes havia mandado prender e, finalmente, decapitar João Batista, cf. vemos em Marcos 6:16-18:

“Não”, dizia Herodes; “é João, o homem cuja cabeça cortei. Ele ressuscitou dentre os mortos”.
Pois Herodes havia mandado que soldados prendessem João, o amarrassem e o colocassem na prisão, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, com a qual havia se casado.
João dizia a Herodes: “Está errado viver com a mulher do seu irmão”.

Então, os fariseus tentaram fazer Jesus ter o mesmo fim de João Batista, mas Jesus, como sempre, percebe a armadilha e faz o jogo virar, perguntando-lhes o que dizia a lei de Moisés, ao que os fariseus respondem citando Deuteronômio 24:1-4:

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não gostar de alguma coisa nela, poderá assinar um documento de divórcio e mandá-la embora.
Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher de outro homem, e se o segundo marido também encontrar algo nela que ele reprova, também pedir divórcio, ou morrer, o primeiro marido, que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela novamente, visto que ela foi contaminada. Isso seria uma ofensa ao Senhor. Não permitam que se cometa pecado tão grave na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança.

Jesus então passa a explicar exatamente o que Moisés quis dizer quando permitiu o divórcio, no sentido de regulamentar algo que estava absolutamente banalizado, e que isso era decorrente da dureza do coração humano, do egoísmo, da maldade, e não era essa a vontade nem o propósito de Deus para o casamento.

De fato, Deus cria a primeira mulher, Eva, da costela de Adão, e ao lhe dar em casamento, é como se, unidos em um só corpo, uma só carne, como diz a Escritura, eles voltam à unidade inicial, o corpo que falta uma parte passa novamente a ser completo, então, não há que se falar em amputar-lhe um membro, não faz sentido!

E aqui cabe uma das chaves interpretativas desse texto, e que serve também para todas as coisas que dizem respeito ao relacionado do homem com Deus e entre si, “nenhum homem deve separar o que Deus uniu”. Isso é verdade para o casamento, unidade básica constitutiva da sociedade, e fundamento da família que reflete o tipo de relacionamento que Cristo tem com a Igreja, chamada sua noiva, cf. Efésios 5:22-33:

Honrem a Cristo pela submissão uns aos outros.
Vocês, esposas, devem ser submissas à orientação de seus maridos, do mesmo modo como se submetem ao Senhor.
Porque o marido lidera a esposa da mesma maneira como Cristo lidera o seu corpo, do qual ele é o Salvador.
Portanto, vocês, esposas, devem atentar de bom grado para a orientação de seus maridos em tudo, tal como a igreja segue a direção de Cristo.
E vocês, maridos, mostrem pelas suas esposas o mesmo tipo de amor que Cristo mostrou pela igreja quando se entregou por ela, para fazê-la santa e purificada pelo lavar da água mediante a palavra; a fim de que ele pudesse apresentá-la a si mesmo como uma igreja gloriosa sem uma única mancha, ou ruga, ou qualquer outro defeito, mas sim, santa e sem nenhuma imperfeição.
É assim que os maridos devem tratar suas esposas, amando-as como aos seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama a si mesmo.
Ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, mas cuida dele com todo o amor, tal como Cristo cuida do seu corpo, a igreja, do qual nós todos somos membros.
“Por esta razão um homem deve deixar seu pai e sua mãe a fim de que possa estar perfeitamente unido à sua esposa, e os dois se tornarão uma só carne”.
Eu sei que isto é um mistério, porém é uma ilustração de Cristo e a igreja.
Portanto, eu torno a dizer: um homem deve amar sua esposa como a si próprio; e a esposa deve respeitar o marido.

Deixa eu dizer novamente, nosso casamento reflete, ou deveria refletir, o tipo de relacionamento que Cristo tem com a Igreja, não o contrário. Como assim? O relacionamento que Cristo tem com a Igreja é que serve de arquétipo, de modelo para a maneira com que devemos nos relacionar em nossos casamentos.

Gente, isso é muito importante. Quando o diabo quer atentar contra a institução do casamento, além de querer destruir a família, ele quer minar em nós a confiança de que Cristo ama sua Igreja e se relaciona com ela de maneira perfeita, que Ele nunca desiste dela, que Ele nunca a abandona, que mesmo que ela seja infiel muitas vezes, e é, reconheçamos isso numa esfera pessoal, individual, Cristo sempre permanece fiel, porque Ele não pode negar a si mesmo, a seu nome e à sua Palavra, cf. 2 Timóteo 2:13.

Mesmo quando formos infiéis, ele continua fiel para conosco, pois não pode negar-se a si mesmo. – 2 Timóteo 2:13

De fato, inúmeras vezes por meio dos profetas do Antigo Testamento Deus demonstra seu amor fiel mesmo em face a um povo infiel. Lembro-me do exemplo do profeta Oseias, que se casa com uma prostituta para mostrar ao povo de Israel essa verdade, cf. Oseias 1:2.

Esta é a primeira mensagem: O Senhor disse a Oseias: “Vá, e tome uma mulher adúltera, uma mulher que dará a você filhos de prostituta. Isso servirá para mostrar como o meu povo tem sido infiel a mim, cometendo adultério abertamente, por afastar-se do Senhor”. – Oseias 1:2

Então, voltando à chave interpretativa do texto, “nenhum homem deve separar o que Deus uniu”, isso significa que nenhum homem pode intentar desfazer o que Deus fez, achar que pode atrapalhar ou se insurgir contra seus planos e vontade soberana, e isso, por óbvio, vai além do casamento, serve para tudo na vida, e é por isso que eu temo profundamente ir contra a vontade do Senhor que muitas vezes trabalha por meios que me são mistério, mas, no tocante ao matrimônio, esta união não é só um contrato civil, e o divórcio não afeta apenas uma promessa e uma aliança feita entre duas pessoas e que tem como testemunhas a família, a sociedade e, no caso de cristãos, a comunidade em que congregam e o próprio Deus.

O divórcio, a Palavra deixa claro, é uma abominação aos olhos do Senhor (cf. Malaquias 2:16) e Ele não trata de maneira leve quem faz pouco caso do casamento e do divórcio que é algo que deveria ser excepcionalíssimo. Ele é, na verdade e no frigir dos ovos, consequência de a mulher não ter sido sábia (cf. Provérbios 14:1), não ter se sido submissa ao esposo, não lhe honrando e respeitando, mas, também e principamente, de o homem não ter amado sua esposa de maneira sacrificial, dando sua vida por ela, à semelhança de Cristo pela Igreja.

Pois o Senhor, o Deus de Israel, diz: “Eu odeio o divórcio e os homens violentos”. Então, tenham cuidado em seu espírito e não sejam infiéis! – Malaquias 2:16

A mulher sábia edifica o seu lar, mas a mulher sem juízo, sozinha, destrói a vida de sua família. – Provérbios 14:1

O espírito da Lei de Moisés, como era o anterior código civil brasileiro a respeito da separação e do divórcio, era não incentivar ou banalizar o divórcio. Pelo contrário, era por meio da burocracia necessária, e do tempo requerido entre uma fase e outra do processo, tentar promover a união, retomar o convívio, desfazer a contenda, enfim, de maneira a ressucitar aquilo que parecia ter morrido, o sentimento, a decisão, o compromisso.

Aliás, só um parêntese, a questão do sentimento. Muitas pessoas ao se divorciar, e, depois, ao desejarem casar novamente, alegam que têm o direito de serem felizes. Meu irmão, minha irmã, isso talvez seja compreensível na mente pecadora do homem natural, mas não aos olhos do homem e da mulher convertidos ao Senhor e nascidos de novo.

De fato, o sentimento, embora importante, nunca deveria se sobrepor à aliança, ao compromisso mútuo, com a pessoa, com Deus, com a família, com a igreja e com a sociedade que o casamento representa. Sentimentos vêm e vão, há momentos numa corrida longa estilo “maratona” como é o casamento quando o cansaço parece prevalecer, quando o tédio reina, quando podemos estar mais “à flor da pele”, machucados, e qualquer palavra dirigida à nós terá uma compreensão prejudicada…

Mas, se soubermos reconhecer nossos pecados – e aqui fica a dica de um livro muito bom sobre esse assunto, “Quando pecadores dizem sim”, de Dave Harvey, que expressa essa realidade de que somos pecadores unidos com nossa bagagem emocional e nossas lutas individuais que o casamento pode acentuar – então poderemos aprender na jornada da vida a dois a pedir perdão, a abrir mão de nossos interesses egoístas imediatos em favor do nosso cônjuge… Dificilmente haverá uma situação que, aos olhos de Deus, seja absolutamente irreparável, irreconciliável, porque Deus é o Deus dos impossíveis, cf. Jeremias 32:27.

‘Eu sou o Senhor , o Deus de toda a humanidade! Por acaso haverá algo que seja impossível para mim?’ – Jeremias 32:27

Biblicamente falando, meus irmãos, não temos o “direito” à felicidade, especialmente não se considerarmos o conceito de felicidade que o mundo e a sociedade pregam, aquela conquistada a qualquer custo, não importando o outro. Aliás, até mesmo na cultura norte-americana, com seus defeitos e virtudes, a “felicidade” não é algo garantido, e sim, tão-somente, a busca pela felicidade. Percebem que há uma diferença? Mas, voltando às Escrituras Sagradas, Deus não tem compromisso nenhum com a minha felicidade individual momentânea, especialmente se aquilo que eu acho que me daria felicidade implicar em pecado, porque o divórcio é pecado, o adultério é pecado, que é o que Jesus fala posteriormente aos seus discípulos.

E, pra fechar esse longo parêntese, essa semana, por uma feliz “coincidência”, eu vi um vídeo no YouTube com um áudio do escritor cristão C. S. Lewis gravado, salvo engano, alguns anos depois do fim da segunda guerra mundial, onde ele comenta sobre a mudança comportamental que passava a sociedade inglesa de então, e cita esse tema do suposto direito à felicidade como algo não garantido, não natural, e até não legítimo do homem, e usa como exemplo justamente essa questão do divórcio e do novo casamento, dizendo ele que se um homem se divorcia de sua esposa porque os anos não lhe foram favoráveis e ela já não exibe a beleza da mocidade, para então se casar com outra mais jovem, o que por si só já é um absurdo em todas as razões, alegando que deseja ser feliz, o que lhe impediria de dali a dois ou três anos inventar outra desculpa, talvez não mais a beleza mas outra razão qualquer, para também desfazer esse segundo casamento e procurar uma terceira, e uma quarta, e uma quinta esposas tudo isso para “ser feliz”, à custa da infelicidade alheia? Que “direito” seria esse?

Se banalizarmos o casamento por meio de um divórcio livre e irrefletido, a própria sociedade desmorona, pois o casamento é ou deveria ser uma de suas instituições mais sagradas e fundamentais. Se a pessoa é infiel no casamento e justifica por qualquer besteira o divórcio, qual o pudor que lhe impedirá de fazer isso em seus negócios ou em outras relações que são bem menos importantes?

Pra concluir essa reflexão, meus irmãos, quando se fala do divórcio, logo surgem muitas perguntas, sobre situações “e se”. E se isso, e se aquilo outro, como se uma situação “A” ou “B” pudesse justificar o divórcio e, mais ainda, um novo casamento.

Eu não vou entrar em situações individuais pra não ser atraído ao mesmo tipo de armadilha que os fariseus lançaram sobre Jesus. Se a Palavra fala ou se cala sobre um determinado assunto, e lembro que esse tema do divórcio em Marcos é resumido e parcial com relação aos demais evangelhistas e ao restante da Escritura Sagrada, então não devo emitir opinião. Além disso, meu irmão e minha irmã, há algo muito importante que devo tocar antes de terminar, que é sobre o pressuposto do casamento versus o pressuposto do divórcio.

O que vem a ser isso?

Vou usar uma analogia pra tentar explicar. Quando me perguntam se é possível haver espaço para dúvida no nosso relacionamento com o Senhor, eu costumo dizer que depende. Depende de que? Se o nosso pressuposto quando nos aproximamos do Senhor é o pressuposto da fé ou da dúvida, ou seja, se buscamos a Deus com intenção genuína de coração, querendo crer, querendo conhecê-lO melhor, querendo sanar a dúvida e construir em cima disso um relacionamento mais estável, ou se a dúvida é só a desculpa para a descrença, para a falta de fé, quando agimos como os fariseus na época de Jesus que utilizavam a dúvida como uma ferramenta para tentar desacreditá-lo.

É parecido com o pressuposto do casamento x o pressuposto do divórcio.

Muitas pessoas, quando perguntam sobre o tema do divórcio à luz das Escrituras, buscam sanar dúvidas sinceras a respeito da Palavra, de como Deus enxerga o casamento e o divórcio, enfim. Por outro lado, outras pessoas já buscam as “possíveis brechas” que possam achar nas entrelinhas, nas letras miúdas, querendo não a salvação do seu casamento mas a desculpa que faltava para “chutar o pau da barraca” uma vez que descobriu aquela “possibilidade” respaldada pela religião e pela “lei”.

Então, se você me perguntar “mas, Eliade e se isso e isso e aquilo outro”, como se fosse uma justificativa válida para o divórcio, e depois me vem com a pergunta se pode ou não casar de novo, eu mando você voltar às Escrituras e avaliar o seu coração e o seu relacionamento com Deus primeiro.

Deixa eu contar uma história, baseada em fatos reais como diz no começo de alguns filmes… Vez por outra, em momentos em que o casamento parece não ter solução e o desespero toma conta de nossas almas, mas sendo servos do Senhor e não desejando o divórcio, podemos ser tentados a fazer uma oração como essa: “Deus, leva o teu servo (ou a tua serva) porque eu não aguento mais!” ou ainda “Leva a mim, Senhor, porque eu não aguento mais!”, sendo que nossas orações deveriam ser no sentido de pedir a Deus que convertesse os nossos corações a Ele e ao nosso cônjuge, e o do nosso esposo ou esposa a nós, e nos ajudasse a andar a segunda, a terceira, a quarta milha…

Eu não tenho como dar soluções a respeito de todos os casos em concreto que alguém poderia me lançar, exceto apontar para as Escrituras, naquilo que o Senhor falou, relembrar o que falei acima de nos entregarmos mais a Deus clamando por ajuda, e questionar o real motivo de acharmos que o divórcio, algo que tem consequências físicas, emocionais e espirituais, pode ser a solução do problema, e não piorá-lo mais ainda.

“Eliade, mas eu já me divorciei, não tenho o direito de recomeçar e reconstruir a minha vida?”

Meu irmão, minha irmã, eu não posso julgar você, mas pense naquilo que falamos antes. Será que posso colocar minha felicidade pessoal acima de tudo, acima inclusive da Palavra de Deus? Será que justifica? “Direito”, não temos. Deus é o Senhor da nossa satisfação, já falei sobre isso aqui em outro vídeo do canal, então a nossa alegria deve começar e terminar nEle.

Pode ser que Deus faça isso em sua vida? Talvez…

Talvez Ele derrame graça e apague a maldição e a vergonha que o divórcio traz, mas no que depender de você, não deposite sua alegria e confiança nessa possibilidade, ou melhor em sentimentos, pessoas ou circunstâncias, mas confie e descanse no Senhor e no Senhor somente.

Por fim, se você que está ouvindo/lendo essa reflexão se encontra numa encruzilhada enfrentando um processo de divórcio, ou considerando essa possibilidade, eu rogo a Deus e a você que se coloque novamente de joelhos no chão e clame ao Senhor para que mude sua mente e coração e o de seu cônjuge se for o caso; que repreenda toda seta inflamada do maligno que procura desmerecer ou diminuir a importância e o valor do casamento, não só genericamente falando, mas o seu próprio casamento, sua história de vida a dois; e que reconsidere seriamente essa decisão, por mais dolorosa e “justificada” que tenha sido.

A minha oração hoje é para que Deus retire do nosso vocabulário como cristãos a palavra divórcio; que Ele possa converter os nossos corações pecadores diariamente; nos dar força para suportarmos uns aos outros, buscarmos ajuda enquanto é tempo oportuno em casais mais experientes e que sejam servos do Senhor, em vez de em coleguinhas de trabalho, faculdade ou academia que nem sempre darão os melhores conselhos e terão os melhores interesses em mente; ou que Ele possa nos perdoar, caso isso já seja um fato consumado e irreversível.

Deus nos abençoe.

Sobre Inveja Ministerial

Há cerca de um mês nós, no nosso PG, estudamos o capítulo 9 de Marcos. Nesse capítulo 9, nós vimos a inveja que os fariseus e demais líderes religiosos nutriam com relação a Jesus, de sua popularidade perante o povo, o que ofuscava seu “brilho”.

Antes do ministério de Jesus os fariseus e os outros líderes, os escribas, os sacerdotes, por exemplo, gozavam de uma popularidade muito grande perante o povo, eram considerados como homens de Deus, tinham fama e uma alta estima perante o povo.

Mateus 27:18, na ocasião do julgamento de Jesus por Pilatos, o texto diz assim:

Pois ele sabia muito bem que os líderes dos judeus tinham prendido Jesus por inveja. – Mateus 27:18

Ele, quem? Pilatos.

E aí, o tema da nossa reflexão de hoje, inveja ministerial. Sobre inveja ministerial.

“Mas, Eliade, não seria melhor falar sobre inveja em geral, que seria mais abrangente e trataria de tudo logo sobre esse assunto”?

Primeiro que esse assunto é muito amplo, na daria pra gente estudar sobre inveja de modo geral em uma pequena reflexão. Talvez eu faça outra reflexão, ou mais de uma, sobre esse assunto.

Segundo que essa tem sido a orientação que recebi do Espírito Santo desde esse mês, mais ou menos, quando fizemos esse estudo no PG da gente.

Terceiro que é algo que falou profundamente comigo, que vez por outra, sendo bem honesto com vocês, me sinto tentado por esse pecado em particular.

A inveja daqueles homens não era qualquer inveja, era uma inveja específica.

Uma das coisas que pode levar à inveja ministerial é aquele sentimento que vem logo antes, de “eu posso”, “eu sei”, “eu sou capaz”, “eu faço”, “por que ele, não eu?”…

Marcos 9:38-41 diz o seguinte:

João disse-lhe certa vez: “Mestre, nós vimos um homem utilizando o seu nome para expulsar demônios; nós o proibimos, porque ele não é do nosso grupo”.
“Não o proíbam”, disse Jesus, “porque ninguém que faça milagres em meu nome se voltará contra mim em seguida.
Todo aquele que não é contra nós está a favor de nós.
Eu afirmo a vocês a verdade: Se alguém lhes der um copo de água em meu nome, porque vocês são de Cristo, eu afirmo que de modo nenhum perderá a sua recompensa.

Perceba que os discípulos nesse mesmo capítulo acabaram de receber uma reprimenda de Jesus por causa de uma discussão entre eles sobre quem seria o maior, possivelmente por Jesus ter chamado para o monte apenas Pedro, Tiago e João, que testemunharam sua transfiguração, e isso pode ter gerado talvez um sentimento de superioridade entre esses com relação aos demais, ou, o contrário, um sentimento de inferioridade nos demais com relação a esses.

Em outra situação semelhante a essa, quando a mãe de Tiago e João pede ao Senhor por posições honrosas para seus filhos, causando indignação nos demais discípulos, o Mestre responde:

Mas entre vocês deve ser diferente. Todo aquele que quiser ser importante entre vocês deverá ser um servo. – Mateus 20:26

A inveja ministerial, sentida pelos religiosos em relação a Jesus e seus discípulos, e entre os próprios discípulos entre si, é algo que infelizmente pode nos afetar hoje.

Em vez de olharmos para homens e mulheres de Deus com admiração, e orarmos por suas vidas, nós cobiçamos a sua fama, o seu status, o seu poder, o facínio que exercem sobre muitas pessoas…

Desejamos ter a mesma capacidade de oratória, a mesma voz, a mesma presença de palco, enfim, muitas vezes nós olhamos para cantores, pregadores, pastores e outros líderes com algo negativo em nosso coração.

A inveja simplesmente não possui nenhum ponto positivo que se possa salvar. É como se desejássemos para nós a glória que é de Deus. É isso mesmo!

O irmão ou irmã que são vasos de honra, instrumentos nas mãos de Deus para alcançar os perdidos, para edificação do seu povo, e que muitas vezes passam por lutas que desconhecemos, abrem mão de coisas que não estaríamos dispostos ou preparados física, emocional ou espiritualmente para abrir mão, depois de passar por uma caminhada de muito tempo, mas nós queremos agora, como um passe de mágica, que Deus nos use da mesma maneira…

Aí talvez você que me leia diga, “poxa, eliade, mas você está sendo muito radical. Não é como se eu desejasse tomar o lugar do irmão…”, mas não precisa!

Deus é soberano e usa quem Ele quer, quando Ele quer, do jeito que Ele quer, para cumprir o seu propósito, e importa que Ele cresça e que eu diminua, que Ele apareça e eu me constranja, como diz aquela música baseada nas palavras de João Batista em João 3:25-30. Vamos ao texto.

Um dia alguém começou uma discussão com alguns dos discípulos de João sobre a cerimônia da purificação.
Eles foram falar com João e lhe disseram: “Mestre, o homem que o senhor encontrou no outro lado do rio Jordão, aquele do qual o senhor testemunhou, também está batizando, e todos estão indo atrás dele, em vez de virem a nós aqui”.
João respondeu: “O homem não pode receber nada se do céu não lhe for concedido.
Vocês são testemunhas de que eu disse: Eu não sou o Cristo. Eu estou aqui para preparar o caminho para ele; isso é tudo.
A noiva irá para onde o noivo está! Os amigos do noivo alegram-se com ele. Eu sou o amigo do noivo, e estou cheio de alegria com o sucesso dele.
Ele deve tornar-se cada vez maior, e eu devo diminuir cada vez mais.

João reconheceu o seu lugar e o privilégio de ser pequeno, de ser insignificante.

A inveja ministerial pode nos levar a um lugar de desobediência, de tentarmos fazer a obra de Deus pelo nosso próprio esforço, segundo a nossa vontade, conforme os nossos métodos e valores, tentando aparecer mais do que a obra em si ou pior, do que o dono da obra.

Muitas vezes nos escoramos no trabalho e no ministério de outro tentando fazer a obra de Deus para conseguir vantagens pessoais, conseguir novos clientes ou parceiros comerciais…

Vamos dar uma olhada em outra situação de inveja ministerial, que a Bíblia nos traz em Atos 19:13-17.

Um grupo de judeus viajantes que ia de lugar em lugar expulsando espíritos imundos tentou usar o nome do Senhor Jesus, dizendo: “Em nome de Jesus, a quem Paulo prega, eu lhes ordeno que saiam!”
Quem estava fazendo isso eram os sete filhos de Cevá, um dos sacerdotes principais dos judeus.
Mas quando eles tentaram isso com um homem dominado com um espírito imundo, o espírito respondeu: “Eu conheço Jesus e conheço Paulo, mas quem são vocês?”
Então o homem dominado pelo espírito mau saltou em cima deles e os espancou, de modo que fugiram da casa dele, nus e feridos.
A história do que tinha acontecido espalhou-se rapidamente por toda a Éfeso, tanto entre os judeus como entre os gregos; e um grande temor desceu sobre a cidade, e o nome do Senhor Jesus era grandemente reverenciado.

Aqui, meus irmãos, cabe um parêntese. A prática do exorcismo era comum naquela época, pessoas tentavam ganhar dinheiro utilizando mandingas, rituais, como a gente vê em filmes, e esses judeus ouviram falar do poder de Paulo e do poder de Cristo e, sem ter um relacionamento pessoal com o Senhor, tentaram usar de seu nome e até do nome de Paulo para realizar aquele milagre que, obviamente, não saiu como esperado e deu muito mal pra eles.

A inveja ministerial não traz o respaldo espiritual, a autoridade, que só o tempo de intimidade com o Pai e joelhos no chão são capazes de trazer. Nesse caso, a rebordosa espiritual do reino das trevas foi imediata e tremenda.

Caminhando pra o final dessa reflexão, queria deixar dois textos inseridos num contexto de uma igreja problemática, pois era uma comunidade dotada de muitos dons espirituais, mas pouca maturidade. Nesse caso, a inveja gerou partidarismo e divisão, em vez da unidade que os dons devem proporcionar ao corpo que deles usufrui. O primeiro encontra-se em 1 Coríntios 3:1-9.

Queridos irmãos, estou-lhes falando como se vocês ainda fossem apenas criancinhas, que não estão seguindo ao Senhor como deveriam, mas os seus próprios desejos; não posso falar-lhes como falaria a homens fortes, cheios do Espírito.
Eu os tenho nutrido com leite, e não alimento sólido, pois vocês não podiam digerir nada mais forte. E mesmo agora vocês ainda precisam ser alimentados com leite.
Vocês ainda são homens de primeira infância, controlados por seus próprios desejos e não pelos de Deus. Quando vocês sentem inveja uns dos outros e se dividem em grupos que guerreiam entre si, isso não é uma prova de que vocês ainda são crianças que só querem fazer a sua própria vontade?
Pois se entre vocês há pessoas que dizem: “Eu sou de Paulo”, ou: “Eu sou de Apolo”, estão agindo como pessoas mundanas.
Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Ora, nós somos apenas servos de Deus. E com nossa ajuda é que vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor deu a cada um de nós.
Meu trabalho foi o de plantar, o de Apolo foi regar, porém foi Deus, e não nós, quem fez crescer.
De modo que a pessoa que planta ou rega não é muito importante, mas sim Deus é que é importante, porquanto é ele que realiza o crescimento.
O que planta e o que rega têm o mesmo alvo, e cada um será recompensado pelo trabalho que cada um realizou.
Pois somos apenas colaboradores de Deus. Vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus. – 1 Coríntios 3:1-9

Paulo aqui trata a quem age dessa maneira como criança, bebezinhos de leite, porque, movidos por inveja, passam a se alinhar a um ou a outro, no mal sentido (se é que existe algum sentido bom nisso), e a menosprezar, a caluniar, a mentir e a brigar mesmo por causa de besteiras, de coisas superficiais…

Eu penso muito em como nós damos muito valor a placas de igreja, tipo “ah, eu sou batista”, “ah, eu sou presbiteriano”, “ah, eu sou pentecostal”, e nada contra celebrarmos nossa história, nossa doutrina e nossos valores, mas não como se isso garantisse um selo de qualidade “do INMETRO”, ou me tornasse melhor que o irmão de outro lugar, ou mais preparado, e quem não está comigo está errado, é infiel, indo contra os ensinos de Paulo e do próprio Jesus!

Nós somos, ou deveríamos ser, colaboradores, não competidores até porque, afinal, como disse o Senhor, a Seara é grande e poucos são os ceifeiros (Mateus 9:37), então se eu ou você achamos que não há espaço para cantarmos, ou pregarmos, ou pastorearmos, ou liderarmos, ou fazermos algo que desejamos tanto em nossa comunidade local na qual congregamos, meu irmão, minha irmã, há falta de bons obreiros em muitas igrejas pequenas de periferia ou no interior que eu e você podemos ajudar, e se a vontade é tão grande assim, há muitos outros lugares onde a Palavra de Deus ainda não chegou, cidades inteiras a conquistar para o Senhor, mas não com esse espírito de inveja e desunião.

O segundo texto encontra-se em 1 Coríntios 12:11-26.

É o mesmo e único Espírito Santo que dá todos esses dons, e ele os distribui individualmente, a cada um como quer.
Nossos corpos têm muitos membros, porém esses muitos membros formam um só corpo. Assim acontece com Cristo.
Cada um de nós é um membro desse corpo único de Cristo. Alguns de nós são judeus; outros, gentios; alguns são escravos, e outros, livres. Entretanto, o Espírito Santo encaixou-nos todos juntos num só corpo. Todos nós fomos batizados no corpo de Cristo pelo único Espírito, e a todos nós foi dado beber do mesmo Espírito Santo.
Ora, o corpo não é feito de um só membro, mas de muitos.
Se o pé disser: “Não sou membro do corpo porque não sou mão”, nem por isso deixa de ser um membro do corpo.
E que pensariam vocês se ouvissem uma orelha dizer: “Não sou membro do corpo, porque sou apenas orelha, e não olho”? Será que isso a faria menos parte do corpo?
Suponhamos que o corpo inteiro fosse olho — então como é que vocês ouviriam? Ou, se o corpo todo fosse orelha, como é que vocês poderiam sentir o cheiro de alguma coisa?
Entretanto, Deus criou muitos membros para os nossos corpos e colocou cada um desses membros conforme ele quis.
Que coisa esquisita seria um corpo, se tivesse somente um único membro!
Assim foi que ele fez muitos membros em um só corpo.
O olho não pode dizer à mão: “Não preciso de você”. A cabeça não pode dizer aos pés: “Não preciso de vocês”.
E alguns dos membros que parecem ser os mais fracos e menos importantes são, na realidade, os mais necessários.
E aqueles membros que achamos ser menos honrosos, nós os protegemos, com todo o cuidado. E os membros que parecem ser feios recebem um tratamento especial, enquanto outros membros não exigem esse cuidado especial. Assim, Deus armou o corpo de maneira tal que se dão cuidado e honra maiores àqueles membros que, de outro modo, poderiam parecer menos importantes.
Isso produz harmonia entre os membros, não havendo divisão no corpo. Todos os membros têm o mesmo interesse uns pelos outros.
Se um membro sofrer, todos os outros sofrem com ele, e se um membro for honrado, todos os outros se alegram com ele. – 1 Corintios 12:11-26

Paulo sabia bem o que era lidar com inveja ministerial. Em Filipenses 1:15-18 ele narra uma situação de sua vida quando isso ocorreu.

Alguns, naturalmente, estão pregando o evangelho por inveja e rivalidade. Eles querem ter também a reputação de pregadores destemidos! Outros, porém, têm motivos puros, e pregam por amor, pois sabem que o Senhor me trouxe até aqui a fim de me usar para defender a verdade do evangelho.
Alguns pregam a Cristo para fazer-me inveja, pensando que seu êxito aumentará minhas tristezas aqui no cárcere! Mas não importa a razão pela qual eles o estão fazendo, por motivos falsos ou verdadeiros; o que importa é que o evangelho de Cristo está sendo pregado, e eu fico alegre. – Filipenses 1:15-18

Meus irmãos, por que Deus resolve nos usar mesmos quando motivados pela inveja ministerial é algo que vai além do que posso compreender. Deus escolhe levar a cabo seus propósitos mesmo a despeito da maldade humana, isso é verdade. Mas não deveria ser isso o que nos motiva e, de fato, a pessoa alvo de nossa inveja muitas vezes não é impactada (graças a Deus!) nem uma vírgula, nem uma ruga lhe nasce, nenhum cabelo branco. Só em nós…

Pra concluir, reflita nesse segundo texto. É engraçado como a gente sente inveja de grandes expoentes do meio Evangélico nessa ou naquela área, eu citei algumas, mas não consigo imaginar ninguém sentindo inveja do ministério de Madre Teresa de Calcutá, de abrir mão de sua vida e se entregar completamente em favor de pobres e marginalizados, sujos e doentes… Ou ainda inveja do ministério do irmão que varre a igreja com toda alegria porque com isso está adorando ao Senhor…

Percebe onde quero chegar? Esse texto nos deixa claro que os dons espirituais, que são para edificação do corpo, é o próprio Espírito Santo quem dá. Se você acha que gostaria de ter um dom que não tem, ore, peça a Deus, pode ser que Ele dê. Agora perceba que a caminhada para que você seja trabalhado ao ponto de receber tal dom deve ser medido e bem medido porque nenhum dom vem sem luta, no sentido de que nossa vida não será a mesma uma vez que Deus nos capacita e chama para trabalhar. O dom não será nosso nem para nosso benefício, mas do reino.

Se seu desejo é pregar, estude a Palavra, procure um discipulador ou mentor que possa lhe ajudar nesse processo, e pratique onde puder, falando com o motorista do uber, esperando ser atendido no consultório médico, no caixa do supermercado enquanto paga as compras, ou peça uma oportunidade de levar um estudo ao seu líder de pequeno grupo…

Entretanto, meus irmãos, como o texto deixa claro, nem todos foram chamados para serem grandes evangelistas como Billy Graham, por exemplo, nem todos foram chamados para cantar como Aline Barros, então, se você não possui uma voz minimamente afinada, seja humilde… Se o seu desejo é muito grande, e não é movido por inveja, ore e procure orientação profissional, Deus pode te usar na sua fraqueza e lhe conduzir de maneira surpreendente por lugares onde você não imaginaria chegar. Mas, pode ser que não, pode ser que Ele prefira usar você no seu trabalho, na sua faculdade, na sua profissão, na sua família, dando bom testemunho e falando do Seu amor a pessoas da sua convivência que artista famoso nenhum poderia, líder nenhum seria capaz.

A minha oração, hoje, é para que eu e você nos arrependamos de qualquer sentimento de inveja ministerial, confessemos e peçamos perdão a Deus. Se formos sinceros, pode ser que Deus nos abençoe com mais dons, conforme o seu propósito. De todo modo, recebendo ou não esses dons, que possamos ter prazer em realizar a obra para a qual já fomos chamados e exercitar os dons que já temos e, talvez, estejam enterrados precisando ser descobertos e postos a bom uso.

Deus nos abençoe.

Sobre Desculpas Esfarrapadas

Ontem na hora do almoço eu tava conversando com um colega do trabalho e ele me disse que um primo havia morrido, mas que, como a família dele tem muita confusão, não ia para o enterro, e emendou “afinal, deixa que os mortos enterrem os seus mortos, não é isso o que diz a Palavra?”…

Ele não é cristão, certamente não evangélico, mas alega viver uma vida religiosa, pelo que já conversamos outras vezes, num sincretismo entre catolicismo popular e espiritismo, e vez por outra trocamos uma ideia sobre religião, Bíblia, fé, cristianismo e onde mais o assunto levar.

Quando esse colega citou esse texto bíblico (de fato, a Palavra diz isso em Mateus 8:22), eu lhe retruquei com a seguinte pergunta: você sabe o que isso quer dizer?

“Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos.” – Mateus 8:22

Muitas vezes, de tanto ouvirmos textos bíblicos, versículos isolados, temos a impressão que conhecemos as Escrituras sagradas, o que nem sempre é o caso. E mesmo que conheçamos o texto impresso, as coisas espirituais somente discerne quem é espiritual, cf. 1 Coríntios 2:12-15.

“Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.
As quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.
Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.” – 1 Coríntios 2:12-15

Por essa razão, ele deu lá sua explicação para aquilo que considerava ser o significado desse versículo, que numa interpretação rasa (sem qualquer demérito seu) e desprovida do contexto e da iluminação do Espírito Santo, bem poderia ser válida, mas eu passei a explicar-lhe o que realmente significa esse texto, aproveitando a oportunidade que o Espírito havia me concedido de compartilhar um pouco de sua Palavra com alguém que não possui um relacionamento com o Pai, plantando assim, quem sabe, mais uma de muitas sementes que o tempo e as ocasiões me permitiram e espero sempre permitir fazê-lo.

Nesse sentido, eu disse ao colega que esse texto de Mateus 8:22 está num contexto onde há um aparente (subentendido) convite de Jesus para que pessoas o sigam. Num primeiro momento, um escriba, um religioso conhecedor da lei mosaica, apressadamente diz ao Senhor que O seguiria aonde quer que Ele fosse. Jesus lhe alerta que o caminho que Ele seguia era um caminho de imprevistos e necessidades, e que não devemos nos comprometer de maneira irrefletida com seu chamado, que é algo sério e custa caro, referente às coisas que deveremos abrir mão na caminhada.

Em seguida, vem o texto mencionado, quando expliquei ao colega que Jesus aqui fala sobre os mortos espirituais, querendo dizer “deixe que os mortos espirituais enterrem-se a si mesmos, mas vem, tu, e tenha vida Comigo”.

Jesus os (e nos) convida a receber a vida eterna, algo que quem é morto em seus delitos e pecados (cf. Efésios 2:1,5) não tem como discernir. Quem está morto não discerne as coisas da vida, não ouve o chamamento, não tem como responder, por isso inventa e dá desculpas esfarrapadas, porque não entende o que está ouvindo e menos ainda o que está dizendo, o peso e a profundidade das coisas espirituais para as quais ainda não foi iluminado a compreender nem vivificado a fazê-lo.

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados… Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)…” – Efésios 2:1,5

Continuei fazendo menção a outro texto semelhante a este, onde Jesus convida, por meio de uma parábola, as diversas pessoas a segui-Lo, cada uma das quais lhe apresenta uma desculpa. O texto é o de Lucas 14:16-33.

“Porém, ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos.
E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado.
E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado.
E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado.
E outro disse: Casei, e portanto não posso ir.
E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos.
E disse o servo: Senhor, feito está como mandaste; e ainda há lugar.
E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha.
Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.
Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando-se, disse-lhe:
Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.
Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.
Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.
Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” – Lucas 14:16-33

Por falta de tempo não irei entrar em detalhes sobre esse texto aqui, mas resumindo, o que eu disse a meu colega citando esse trecho da Palavra foi que Jesus convida a muitos, e, infelizmente, muitos dão desculpas esfarrapadas para não aceitá-lo, o convite mais importante da história da humanidade, feita a cada um de nós pelo nosso próprio Criador, o Rei e Soberano do Universo.

Mencionei-lhe o caso daquele que comprou a junta de bois e desejava experimentá-los. Ora, nem hoje e muito menos naquela época alguém faria uma transação como esta sem PRIMEIRO experimentar o que estava comprando, pra verificar, DE ANTEMÃO, se prestariam para o propósito almejado, se não havia nenhum defeito ou vício no contrato, no bem ou no serviço. Desculpa esfarrapada.

Com relação ao casamento, a pessoa poderia levar sua esposa ao evento social, mas preferiu esconder-se atrás das responsabilidades maritais. De fato, de acordo com a lei mosaica, o casamento recente, assim como uma casa recém construída, ou um campo de uvas recém plantadas, eram razões ou escusas válidas para que a pessoa não fosse à guerra quando convocado, para que pudesse, em primeiro lugar, cumprir seu dever conjugal para com sua esposa, e ter a oportunidade de produzir descendência (possível gravidez da esposa); e, em segundo lugar, em relação às outras coisas, desfrutar do fruto do seu trabalho. Escusas razoáveis pertencentes a uma lei justa que reflete os valores de um Deus justo.

“Então os oficiais falarão ao povo, dizendo: Qual é o homem que edificou casa nova e ainda não a consagrou? Vá, e torne-se à sua casa para que porventura não morra na peleja e algum outro a consagre.
E qual é o homem que plantou uma vinha e ainda não a desfrutou? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro a desfrute.
E qual é o homem que está desposado com alguma mulher e ainda não a recebeu? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro homem a receba.” – Deuteronômio 20:5-7

No tocante ao casamento, é por isso que o solteiro tem tempo suficiente para dedicar-se plenamente aos assuntos do Senhor, cf. 1 Coríntios 7:32-35, enquanto o casado divide-se entre as coisas de Deus e as lutas da vida doméstica, as responsabilidades de marido e mulher um para com o outro, bem como pai e mãe com relação aos seus filhos.

“E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.
Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido.
E digo isto para proveito vosso; não para vos enlaçar, mas para o que é decente e conveniente, para vos unirdes ao Senhor sem distração alguma.” – 1 Coríntios 7:32-35

Mas eis aqui alguém que é superior à Lei, e que é o próprio Deus. Jesus se coloca como acima do casamento, dos bens, do trabalho, do patrimônio e de todas as demais pessoas e coisas desta vida, e nos diz, convida e conclama: segue-Me. Segue-Me hoje! Hoje, como sem falta! Não apresentes tuas desculpas porque nada é suficiente.

Isso foi o que falei com meu colega, que desculpas temos apresentado perante tão valioso convite? Ele nos convida a tudo abandonarmos em favor deste precioso tesouro achado em um campo, cf. Mateus 13:44.

“Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.” – Mateus 13:44

Continuei, dizendo o seguinte: Cristo é de tal maneira que, em obedecendo ao seu convite, e O buscando em primeiro lugar, todas as demais coisas nos são acrescentadas, cf. Mateus 6:33, Ele faz questão de nos abençoar em todas as demais coisas que nossa alma anseia em conformidade à sua vontade, que são muitas vezes coisas boas e úteis da vida, que não serão para uso meramente egoístico nosso, mas que, novamente, vêm em segundo lugar frente o principal, o próprio Cristo.

“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” – Mateus 6:33

Meu colega, após essas palavras, me disse algo do tipo: “É muito bom seguir os ensinamentos de Jesus”. E eu concordei, mas advertindo: “Sim, é verdade, mas Jesus não se resume aos seus ensinos, porque Ele não era apenas um bom mestre ou professor”…

De fato, e encerrei nossa conversa chamando-o a uma decisão e a uma responsabilidade, em sua época muitos diziam a respeito de Jesus que Ele seria um profeta, um professor, talvez o messias, mas numa conotação política, reducionista daquilo que Ele tinha vindo fazer… Pedro, como sempre, toma a iniciativa entre os discípulos e, quando o Mestre lhes pergunta “E, vós, quem dizeis que eu sou?”, responde “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, algo que nem ele mesmo, humanamente falando, tinha a real compreensão do que significava, e que, por essa mesma razão, Jesus afirma “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus”, ou seja, que aquela verdade espiritual lhe havia sido revelada pelo próprio Deus, mesmo que suas repercussões só fossem plenamente entendidas tempos depois.

“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem?
E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas.
Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou?
E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.” – Mateus 16:13-17

A verdade é que damos desculpas bem mixurucas para assuntos sérios pelas razões as mais diversas possíveis que resultam da nossa dificuldade de tomarmos uma decisão, uma postura, e nos comprometermos com as coisas que deveríamos estar fazendo envolvendo a vida profissional – nossa carreira, a vida sentimental – nosso casamento e família, e tantos outros aspectos como saúde, finanças, enfim, mas, principalmente, a nossa vida espiritual, a nossa caminhada com Deus e a eternidade.

E então, depois de todas essas coisas, a ele (meu colega), a mim e a vocês, fica a pergunta e o desafio para reflexão: será que temos dado desculpas esfarrapadas à convocação feita por Jesus?

Ele não quer mais saber de nossas desculpas…!

A minha oração hoje é para que tenhamos coragem de, refletidamente, deixarmos tudo que nos atrapalha, desvia nosso foco, aprisiona, e, passemos a segui-lo sem reservas e sem desculpas ainda hoje.

Deus nos abençoe.

Sobre a Gula

Esses dias eu vi um vídeo na Internet contando um testemunho do pastor Luciano Subirá onde ele tava na fila da refeição com outra pessoa que eu não vou lembrar quem era, e essa outra pessoa falou com ele a respeito de tratar bem o corpo, que essa pessoa tinha tido uma experiência espiritual de morte e ressurreição. Olha aí, que tipo de experiência!

Nessa experiência, Jesus Cristo falou com essa pessoa “Olha, isso aqui foi ‘suicídio’ seu!”, a pessoa tinha morrido por excesso de jejum! Olha só, né… Então, Jesus ressucitou essa pessoa, e tal, mas ficou o alerta pra que ele não exagerasse na dose do jejum, e nós, como cristãos evangélicos, muitas vezes dizemos “ah, eu não bebo”, mas “tora o bagaço” a comer…

Então, a gente trata muito mal o nosso corpo, “reduzindo”, por assim dizer, em muito a nossa expectativa de vida que a gente poderia ter de pregar o evangelho, de servir a Deus, de abençoar nossa família…

E, mesmo que a gente não abrevie porque, na verdade – enfim, eu não vou entrar nesse mérito aqui, mas os nossos dias são contados, diz a Palavra, ninguém há que possa acrescentar um dia de vida ou um fio de cabelo – mas, qual a qualidade de vida que a gente vai levar? Será que vamos aproveitar bem a vida que Deus nos deu se a gente tiver descontando todos as nossas cargas em cima da comida?

“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?
Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” – Mateus 6:25-34

Aí você pode dizer, “ah, então vou malhar!”… É, mas se você não tratar o problema subjacente, você vai estar descontando numa coisa que é menos ruim, que é academia, mas que não deixa de ter os seus efeitos negativos também…

O mote da gula, então, como todo pecado, é: eu procuro na minha fraqueza respostas dentro de mim mesmo, em vez de recorrer ao meu Criador que possui resposta para todos os anseios e angústias da humanidade. Ele, que deveria ser minha resposta, é colocado de lado.

Essa questão da gula, a gente tem que lembrar que o nosso corpo é o templo do Espírito, é isso que diz a Palavra. Então, a gente trata o nosso corpo como? Como templo, ou como uma choupana abandonada?

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” – 1 Coríntios 6:19

Na verdade, a gula é um sintoma de um problema maior, de uma incapacidade pessoal de lidar com o estresse e a ansiedade da vida moderna.

Eu não sou psicólogo e não vou arriscar dizer qual o problema ou problemas que uma pessoa que sofre de gula pode estar enfrentando mas, para além da falta de domínio próprio com relação à comida, que é, nesse ponto, falta do fruto do Espírito, uma questão espiritual, pode haver problemas emocionais a tratar, como uma compulsão, por exemplo, onde a gula é uma válvula de escape para as questões não enfrentadas do dia a dia, um mecanismo de compensação, envolvendo então um aspecto emocional que serve de gatilho, e um componente fisiológico, uma descarga hormonal decorrente da comida que gera satisfação, prazer.

“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
Contra estas coisas não há lei.” – Gálatas 5:22,23

Mas, a gula pode ser também sintoma de idolatria no coração, idolatria da comida, idolatria desse “bem-estar” produzido, de dizer ao próprio corpo que ele pode tudo que quiser, no caso a comida, mas como eu falei acima, poderiam ser outros gatilhos e outros mecanismos de compensação, comportamentos mais ou menos socialmente aceitos, como ao invés de a pessoa descontar na comida, ao não lidar com suas frustrações, sua rejeição, não aceitação e não pertencimento, e não buscar no Senhor a solução para todos os seus e os nossos problemas, nós podemos descontar, por exemplo, no sexo casual, na pornografia, ou no materialismo, consumismo, apego excessivo aos bens que resulta em acumulação…

Basta lembrarmos daqueles programas de TV americanos que mostram pessoas emocionalmente doentes que vivem em verdadeiros chiqueiros onde suas casas parecem ferros-velhos ou depósitos de lixo, difíceis até de entrar e sair, dirá mesmo viver…

A gula, e só um parêntese, eu nem entrei no aspecto de “pecado capital”, segundo a teologia católico romana, tem cura, e, novamente, se você entende que precisa de tratamento para os sofrimentos e angústias da alma que podem te levar a comer em excesso, não deixe de procurar um profissional da saúde, e, outro parêntese, eu não estou falando da obesidade, um possível resultado da gula, mas voltando, a gula tem cura, e essa cura começa e termina em Jesus.

Quando Jesus é a fonte de nossa satisfação – e eu te convido a assistir o vídeo que tem aqui no canal sobre esse assunto – não será um alimento que irá saciar aquilo que só Ele é capaz de fazer. Só Ele pode preencher o vazio de nossa alma. Só por meio dEle somos capazes de trabalhar de maneira definitiva nossas limitações, vencer nossas lutas diárias e tentações, desenvolver disciplinas espirituais e mesmo físicas para ter domínio próprio em todas as áreas de nossa vida, inclusive no aspecto alimentar.

Pra concluir, eu lembro de uma das formas com que o diabo tentou Jesus, atacando as suas necessidades mais básicas que dizem respeito à fome, ao sustento físico, à alimentação. Será que a alimentação não tem sido uma forma de tentação em nossas vidas? A gula na teologia católica, eu não vou entrar em detalhes, é considerada um dos sete pecados capitais porque ela é a porta de entrada para outros pecados, outros vícios, é uma das razões. Então, que a gente tenha isso em mente.

“Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” – Mateus 4:4

A minha oração hoje, portanto, é para que eu e você possamos confiar completamente em nosso Mestre, sendo muito sinceros a esse respeito em nossas orações, de dizermos ao Pai o que está nos afligindo, as coisas e situações que podem estar fazendo a gente ficar ansiosos, pedindo libertação caso haja algum componente espiritual, e discernimento para entendermos quando talvez possamos estar precisando de ajuda médica, psicológica ou nutricional.

Deus nos abençoe.

Sobre Resoluções de Ano Novo

Eu tenho um amigo há trinta anos que, quando éramos jovens, costumava fazer o que ele chamava plano de metas de curto, médio e longo prazos, e também me incentivou a fazê-lo, sobre diversas áreas da vida, como por exemplo trocar de carro, fazer um curso de pós-graduação, casar e por aí vai.

E o que isso tem a ver com o tema da reflexão de hoje?

Bem, entra ano e sai ano, e sempre na virada de um ano para o outro, como num passe de mágica, fazemos toda espécie de promessas do gênero “agora vai”, “esse ano a coisa muda”, como fazer aquela dieta, “botar o shape“, e chegamos a nos matricular na academia – por isso os meses iniciais do ano são sempre os mais cheios- mas logo a disciplina acaba e depois do carnaval o Brasil começa a funcionar, e as promessas de ano novo logo são esquecidas…

Então, a reflexão sobre resoluções de ano novo e, nesse sentido, há três perspectivas que eu gostaria de compartilharn com vocês.

A primeira delas é sobre fazermos planos, planejarmos o ano que se inicia, termos sonhos e tirá-los do plano das ideias e transformá-los em realidade.

A Palavra de Deus diz que é do homem fazer planos, mas a resposta certa vem do Senhor (Provérbios 16:1-3), então devemos planejar. É bom fazermos planos. Aliás, não fazê-los é que é ruim, tipo “deixa a vida me levar, vida leva eu”… Mas, é igualmente ruim fazer planos e não submetê-los à vontade soberana do Senhor.

E essa é a segunda consideração a fazermos. Uma vez que planejamos, saímos da inércia, devemos, como cristãos, necessariamente submeter aquilo que pensamos e colocamos no papel à vontade soberana de Deus.

Sobre isso, vejamos o que diz Tiago 4:13-16.

Escutem, agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e faremos negócios, e teremos lucros.” Vocês não sabem o que acontecerá amanhã. O que é a vida de vocês? Vocês não passam de neblina que aparece por um instante e logo se dissipa. Em vez disso, deveriam dizer: “Se Deus quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo.” Agora, entretanto, vocês se orgulham das suas arrogantes pretensões. Todo orgulho semelhante a esse é mau.

Se Deus quiser… Isso é muito importante. Será que nossos planos são os planos de Deus para nossas vidas? Será que temos a coragem de aceitar ver nossos planos serem frustrados, na verdade, serem substituídos pelos planos de Deus que são muito melhores que os nossos, que são excelentes? Muitas vezes, sejamos honestos, nem sequer consideramos essa possibilidade. Somos teimosos, queremos fazer a nossa vontade, e mesmo seus servos, não temos orado ao Senhor perguntando qual a sua vontade, pedimos não a sua orientação, o seu cuidado, o seu discernimento, mas simplesmente os meios para alcançar nossos objetivos e que Ele vá, como criado em vez de Criador, limpando a rota à nossa frente… Que tristeza e que decepção.

A terceira e última reflexão sobre este assunto é se os planos que temos feito são planos meramente materiais, ou se envolvem valores e objetivos espirituais.

Será que temos planejado apenas para o aqui e o agora, nossa vida acadêmica, nossa carreira, nossas finanças, e temos esquecido ou deixado de lado aquilo que é mais importante, que é nossa vida espiritual, nosso relacionamento com Deus que pode e deve ser aprofundado no ano que inicia, nossa vida de oração, nossa leitura e meditação na Palavra de Deus, nossa atuação como servos no reino de Deus, se nos dedicaremos mais em um ministério formal na comunidade onde congregamos ou se nos aplicaremos com maior afinco a ganhar almas para Jesus?

“Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas vos serão acrescentadas”, é o que diz Mateus 6:33. Jesus nos diz para priorizarmos o nosso relacionamento com Deus sobre todos os outros. Nos diz ainda que devemos dar maior importância ao reino de Deus e a sua justiça sobre as nossas necessidades, que é disso que trata o contexto.

Isso significa que não daremos importância às nossas coisas, nossos planos e sonhos? Não, não é sobre isso. Jesus diz para não sermos ansiosos pelas coisas materiais, porque Deus é nosso provedor; e para não sermos egoístas, mas dedicarmos nossas vidas e nossos planos em favor do próximo, em favor do reino, da igreja, e da sociedade como um todo e, em fazendo isso, Deus irá caminhar conosco realizando em nossa vida aquilo que desejamos, aquilo que planejamos, que for compatível com seu projeto para nós e para o mundo, até porque, convenhamos, o mundo não gira em nosso redor.

A minha oração hoje, pra mim e pra você, é para que, nesse ano que se inicia:
1) a gente possa sair do marasmo e estabelecer planos, fazer resoluções de ano novo que sejam factíveis, não sejam mero devaneio;
2) dediquemos ao Senhor nossos planos e metas, desejando com sinceridade que sua vontade prevaleça, e ela sempre prevalece, mas que isso possa trazer paz ao nosso coração;
3) nossos planos não se resumam à nossa vidinha pequena, privada e individual, por melhor que sejam os planos, mas que eles possam ir além, que abracem a obra do Senhor, o seu Reino, o bem dos necessitados em todas as esferas ao nosso redor;
4) possamos contribuir com os planos que Deus têm a desenvolver em nós e através de nós em favor de outros.

Deus nos abençoe.

Sobre Fofoca Gospel

Como eu não assisto televisão, tem muitas “notícias” que me chegam bem atrasadas, mas eu fiquei chocado, por falta de outra palavra melhor, ou escandalizado, quando eu vi esses dias no meu feed do YouTube – eu acesso as notícias mais pelo YouTube agora – muitas pessoas, inclusive pastores que eu sigo, fazendo vídeos sobre um acontecimento do final do ano passado de uma moça que sofreu, parece-me, não sei os detalhes, mas parece que sofreu bullying virtual em sites ou perfis de fofocas em redes sociais que parece que inventaram uma estória envolvendo essa pessoa, e essa pessoa, que sofria de uma doença, depressão, algo assim, acabou por tirar a própria vida.

E aí, eu fiquei pensando, como as notícias, ou as redes sociais, se alimentam desse tipo de tragédia e, às vezes, procuram criar esse tipo de tragédia pra vender notícias, pra vender e ganhar dinheiro.

Mas, isso aí não deveria me chocar porque o mundo é assim, infelizmente. Desde que o mundo é mundo há pessoas que ganham dinheiro com a tragédia alheia, seja ou não verdade, não interessa.

Mas, o foco desse áudio, dessa publicação, na verdade, é sobre fofoca gospel. Por que? Porque o mundo fazer isso é horrível, não tem justificativa nenhuma, mas a gente que é cristão, a gente “entende”, porque o mundo jaz no maligno (1 João 5:19), mas dando uma pesquisada rápida nas redes sociais aqui, eu vi que tem muitos, muitos sites de fofoca gospel, e aí sim é um absurdo!

E, meus irmãos, a Palavra de Deus diz que “de uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim” (Tiago 3:10). Então, não faz sentido nenhum nós que somos cristãos participarmos desse tipo de comportamento, qual seja fofoca.

Diga-me uma coisa, em que isso engrandece a Deus? Em que isso colabora pra o seu reino? Em que isso nos aperfeiçoa, nos santifica? Em nada, em nada!

Então, assim, você participar de um site da Internet ou de um perfil de rede social direcionado a fofoca, meu irmão, diz muito a seu respeito, não a respeito de quem faz esse tipo de coisa – o dono do site ou perfil. O dono de um site desse, de um perfil de rede social desse, primeiro que não é cristão, porque o cristão que lê a Bíblia e tem o Espírito Santo, ele entende que fofoca não é do Senhor. Ele sabe disso.

Essa pessoa só quer gaanhar dinheiro em cima da tragédia alheia, da desgraça alheia, no caso da desgraça de pessoas do meio evangélico que, infelizmente a gente sabe que no nosso país, hoje em dia, têm alimentado esse tipo de coisa. Por que? Porque não vivem com domínio próprio, alimentam a própria soberba, a própria vaidade e a vaidade alheia, a cobiça alheia, a inveja alheia, que é isso que esses sites fazem, e as pessoas no meio “gospel” quando dão uma de estrela – e infelizmente é o que tem acontecido com muitas pessoas famosas, pregadores, cantores, principalmente – esquecem-se da humildade que deveriam ter, do domínio próprio que deveriam ter.

E eu acho incrível porque Paulo, quando escreve a Timóteo, em 1 Timóteo 5:13, ele, falando sobre viúvas, diz o seguinte:

E, além disto, aprendem também a andar ociosas de casa em casa; e não só ociosas, mas também paroleiras e curiosas, falando o que não convém.

Isso, ele está falando do comportamento inadequado de determinadas senhoras que, em vez de se empenhar na obra de Deus agora que eram viúvas, e que não tinham mais que cuidar da sua família, porque os filhos já eram criados, o marido já tinha morrido, em vez de estar se dedicando à obra de Deus, faziam o quê? Ficavam de casa em casa falando mal da vida alheia, basicamente, porque paroleira é isso que significa, fofoqueira.

Dificilmente alguém fala de outra pessoa para o bem, normalmente é para o mal, com inveja etc. E a Palavra de Deus também diz que “As más conversações corrompem os bons costumes” (1 Corintios 15:33), corrompem os bons costumes…

Então, o que é que acontece? Um site desse, um (perfil do) instagram desse não vai fazer propaganda… “Olha, gente, como ‘tá a vida de santidade do cantor fulano de tal…”, “Olha que benção que ‘tá o ministério de pessoa fulano de tal…”, não! É muito difícil! Eu não signo esses sites, então eu não sei exatamente o que eles postam, mas, pela lógica da coisa, eles propagam que tipo de “informação”, que tipo de “notícia”? “Ah, olha só, o pastor fulano de tal se separou!”, “Olha, pregador fulano de tal caiu no pecado!”, “Olha, fulano de tal divorciou e já casou de novo!”

Assim, eles exaltam notícias bombásticas que são, normalmente, notícias ruins e que exaltam o pecado, não a santidade, não a obra de Deus, não glorificam ao Senhor.

Gente, embora Paulo esteja falando aqui no contexto de 1 Timóteo especificamente sobre viúvas, infelizmente, no século XXI onde/quando nós estamos, é um comportamento que afeta muita gente, afeta mulheres e afeta, infelizmente, homens também. E eu não vou nem entrar no mérito “ah, eu não sigo redes sociais de fofocas…”, mas, às vezes, eu e você seguimos redes sociais de artistas que não glorificam a Deus e seguem o mesmo princípio, seguem a mesma lógica, propagam coisas que não convêm a gente se alimentar com essas coisas, porque a gente tem um tempo limitado.

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma. – 1 Coríntios 6:12

Eu até falei sobre isso num vídeo recente. Nós temos um tempo limitado aqui e a gente dedica o nosso tempo, mesmo o tempo de relaxamento e diversão – eu não condeno o tempo de relaxamento e diversão, se for santo, eu sou totalmente a favor do ócio produtivo, do ócio criativo, do ócio santo – mas até numa navegação de rede social, você pode escolher com o que você vai se alimentar, o que você vai receber de notícia, de informação e até de “meme”, digamos assim.

Na medida do possível, não siga pessoas famosas simplesmente pelo fato de serem famosas. Se for uma pessoa famosa que abençoa a sua vida, que glorifica a Deus e que edifica o seu reino, fantástico! Meu irmão, eu também sigo algumas pessoas, bons pregadores, enfim, não vou julgar ninguém mas eu até acho interessante porque a Palavra de Deus também diz (1 Tessalonicenses 5:22) “Abstende-vos de toda aparência do mal”.

Esses sites, e eu vou focar na questão do site, das redes sociais, eles procuram trazer a aparência do mal às vezes de coisa que não é necessariamente maligna, mas como é a maneira de eles ganharem dinheiro, gerar seguidores, gerar interações, enfim, se auto-promoverem, eles lucram em cima da aparência do mal.

E João 7:24 diz “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça”, então, muitas vezes, a gente olha pra vida alheia, a vida de artistas famosos, inclusive gospel, do meio “gospel”, e começa a julgar… julgar em nosso coração “ah, fulano de tal isso…”, “…fulano de tal aquilo outro…” e às vezes a gente não sabe nem se é verdade aquilo, e alimenta sentimentos em nosso coração que não deveriam estar ali, sentimento de inveja, de descontentamento com aquilo que Deus já nos deu, Deus nos proporcionou, as bênçãos de Deus, então a gente passa a desprezar as coisas boas que nós temos dentro de casa, porque, por exemplo, se uma mulher – vou citar aqui o caso de uma mulher, minha irmã, mas entenda-se que isso é homem, é mulher, é criança, é velho, enfim, vou generalizar aqui – mas se uma mulher olha pra rede social de um artista, olha pra uma rede social de fofoca dessas, e vê um casamento aparentemente perfeito de bodas, de champanhe, de viagem e tudo mais, e aí olha pro seu marido no dia-a-dia que não tem coragem de levar a mulher para um restaurante, que não tem coragem de ir com a mulher nem pra Caucaia, que é aqui do lado de Fortaleza, então a mulher começa a se sentir amargurada, se sentir menosprezada.

Por que?

Porque foca naquilo que um artista, numa vida de aparência, parece viver, parece demonstrar e não sabe, às vezes, a confusão que tem dentro na casa do artista… Exceto quando a rede social publica explicitamente essa confusão.

Pra concluir, vou deixar o exemplo do Salmo 1, versos 1 e 2 que diz:

Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.

Então, perceba que é o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, que é justamente o conselho desses sites de fofoca! O site de fofoca é um site de produzir ou de aconselhar com valores ímpios.

“…nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores…”

Escarnecedor é aquele que escarnece, aquele que fala mal da vida alheia, é aquele que zomba, o zombador, que é o que produz esses sites, eles ganham dinheiro e a vida deles é em cima disso, é de zombar, de zombaria, verdade ou não, e levar outros que querem participar disso, que querem se assentar na mesma roda, mas nós, que somos servos do Senhor, devemos ter o nosso prazer, mesmo nas nossas redes sociais, mesmo nos nossos momentos de lazer e entretenimento em coisas que edifiquem, em coisas que vizem o prazer na Lei do Senhor. Amém!

A minha oração é pra mim e pra você, nesse sentido, a gente vigiar mais com relação àquilo com o que a gente está se alimentando nas nossas redes sociais, de modo que a gente não seja co-participante desse tipo de pecado, que é um pecado muito sério, um pecado muito grave que, infelizmente, a gente não dá o valor devido, não expõe devidamente como o pecado que ele é. E nós, como seres espirituais, servos do Senhor, não deveríamos participar de perfis que promovam ou glorifiquem o pecado no meio evangélico, que é mais absurdo ainda, eu e você estarmos, digamos assim, sujando a reputação, ou alimentando o assassinato da reputação de uma pessoa que, a princípio, é um servo do Senhor, estamos manchando a noiva de Cristo, e não deveria ser esse o nosso comportamento, nem o meu nem o de vocês.

Amém, Deus nos abençoe.

Sobre o Tempo

Há duas maneiras, basicamente, de a gente entender a questão do tempo.

Eu não vou entar aqui em aspectos filosóficos, porque aí seriam inúmeras, mas eu penso na perspectiva de Deus e na perpectiva do homem, e pra Deus o tempo é uma dimensão criada como qualquer uma de suas criaturas. O tempo também é sujeito a Deus.

Deus é um ser fora do tempo. Deus é atemporal. Na verdade, Deus cria o tempo, e a partir de que Ele cria o tempo é que Ele cria as demais coisas, as demais entidadeas, as demais criaturas.

O tempo é uma dimensão física, na verdade, como o “x”, “y”, “z”, o tempo é uma quarta dimensão.

Então, pra Deus, e a palavra de Deus diz que pra Deus um dia é como mil anos, e mil anos é como um dia, pra demonstrar que Deus está fora dessa perspectiva humana, digamos assim, de tempo e é por isso que eu gosto da comparação da perspectiva divina com a perspectiva humana.

Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. – 2 Pedro 3:8

Pra o homem, o tempo é uma asbtração.

Eu até já falei sobre isso em escola bíblica, em pregação, porque aquilo que a gente conhece como o tempo, na verdade, o ciclo de dias e anos e estações, é o movimento da terra ao redor do prórpio eixo e ao redor do sol, basicamente é isso.

Então, a linha de tempo que a gente definiu como uma convenção, digamos assim, de segundos, minutos, horas, dias etc. é baseada na Terra que a gente vive, se a gente estivesse em outro planeta seria diferente.

E aí você pode alegar – eu nao vou entrar no mérito das questões científicas, porque eu nao sou cientista – mas você pode alegar “não, mas existe uma unidade de tempo padrão, o ano-luz, por exemplo, e frações do ano-luz”.

Enfim, eu nao vou entrar nesse mérito não. Mas, pro ser humano, é uma abstração.

Uma abstração em que sentido?

De que, na verdade, os marcos temporais que a pessoa vai envelhecendo são a evolução do corpo humano mesmo, enfim, os processos naturais biológicos que fazem com que a pessoa saia de bebezinho, vire menino, então adolescente, jovem, adulto e por aí vai até chegar à morte.

Mas, de fato, eu creio que Deus olha pra tudo isso de cima como uma pizza, alguém que está olhando uma pizza, não como a gente que vai experimentando sucessivos “agoras”. Porque, pro ser humano, só existe o agora. O tempo que passou é passado, já não existe mais, o tempo futuro é algo que a gente só tem na imaginação, o que pode ou não acontecer.

E só um parêntese sem entrar muito no aspecto teológico da coisa, Deus quando “olha a pizza de cima”, não o faz como mero espectador, como observador casual. Não! Ele é o próprio “pizzaiolo” dessa pizza chamada tempo e história da humanidade.

E aí, nesse ponto, eu creio que o Ricardo Gondim, por exemplo, e outras pessoas como ele erram ao querer subjugar Deus à esfera do tempo, ou que Deus esteja sujeito ao tempo, o que é um asbsurdo lógico, o criador ser sujeito à criatura, porque se você considerar o tempo algo a que Deus esteja sujeito, entao o tempo é pra ser preexistente ao próprio Deus, coexistente ao próprio Deus, então se ele for preexistente foi ele quem criou Deus, o que obviamente é um absurdo, e se ele for coexistente ele é um deus além de Deus, então já não é monoteísmo, é politeísmo.

E o cristianismo, obviamente, não é politeísta, é monoteísta, em que Deus consiste em uma única divindade, subsistindo em três pessoas diferentes: Deus pai, Deus filho e Deus espírito Santo, mas uma única divindade.

Então, pra o ser humano, a questão do tempo é muito relativa, é uma abstração.

Como eu falei, é relativo, é uma abstração, em que sentido? Pra Deus, o tempo é um absoluto. Passado, presente e futuro, pra Deus, é um momento só, é um instante só, é o presente, digamos assim.

Pro ser humano, já é diferente, porque existem essas concepções de passado e futuro, embora a gente só viva o presente.

Eu acho que está meio filosófico demais, ou muito viajante demais essa reflexão, mas isso é pra gente pensar em que aspecto nós, como seres humanos, essa abstração chamada tempo serve pra gente de duas finalidades, tem duas finalidades na minha percepção.

1) A primeira é pra nos dar esperança.

Imagine aí que você vivesse num dia infinito, um dia onde não existisse manhã, tarde e noite.

Imagine que você é uma pessoa que nasceu num bom lar, com boa família, com boas condições, então pra você talvez esse dia fosse excelente.

Mas, imagine que boa parte da população do mundo não vive nessas condições, nasceu numa família talvez desestruturada, numa condição financeira ruim, em um país não democrático, enfim, tudo que você mais quer é que o dia acabe…

Então, a Palavra de Deus diz que “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, elas se renovam a cada manhã”, então esse “a cada manhã”, que é o dia que vai nascer amanhã, ou os dias que vão nascer, os dias sucessivos, são pra nos dar esperança, então o passado ficou pra trás, as mazelas de ontem se acabaram, hoje há uma nova oportunidade de viver, viver bem, viver para a glória do Senhor.

As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade. – Lamentações 3:22,23

Então, até pra isso é interessante aquela palavra que diz “basta a cada dia o seu mal”, porque o mal ficou no passado, hoje eu já posso fazer o bem, o dia hoje pode ser bom, então eu não preciso ter ansiedade sobre o amanhã que é o que Jesus fala nesse sentido/texto.

Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. – Mateus 6:34

Pensando aqui a respeito do tempo como uma criatura de Deus e novamente na questão do erro que é considerar Deus sujeito a sua própria criatura, alguém poderia alegar “não, mas Deus às vezes se limita”…

Eu não vou entrar no mérito da predestinação, nem da preciência de Deus, ou da soberania de Deus, atributos de Deus, mas alguém poderia dizer “não, mas Deus às vezes se limita com relação à possibilidade de conhecer ou não o futuro”… É o que alguns desses pregadores que eu já citei alegam, que Deus se auto-limitaria.

Obviamente isso é um erro, mas em que sentido é um erro? Eu só vou fazer esse parêntese aqui pra falar a questão do tempo. Deus é onisciente, onipotente, onipresente. Em que sentido ele se limitaria? Por exemplo: a questão da onipotencia. Deus, ele é bom, perfeito e santo. São atributos de Deus conforme a Palavra, então Ele não pode pecar. Por que? Porque ao pecar, Ele negaria esses três atributos, então, nesse sentido, Ele não pode pecar. E aí você diria “poxa, mas Ele não é onipotente, Ele não pode tudo”?Ele pode tudo aquilo que não vai de encontro aos seus próprios atributos, aquilo que não contradiz a sua própria essência.

E aí eu digo novamente a questão do tempo. Deus, Ele não se sujeita a nenhuma de suas criaturas. Por que? Porque isso ofenderia o conjunto de demais atributos de quem Ele é. Deus é criador. Deus é soberano. Ele não pode se sujeitar a uma criatura, uma criação sua, no caso uma força da natureza que é o tempo, deixando de ser soberano sobre aquilo que ele mesmo criou. É o que alguns têm a dificuldade de crer. Por que? Porque têm a dificuldade de abrir mão do controle remoto de sua vida, porque creem que Deus é um mau deus, basicamente isso. E ao crer que Deus é um mau deus, preferem não crer em Deus ou não crer em Deus soberano, não crer no Deus das Escrituras, porque as Escrituras são fartas de exemplos onde a soberania de Deus se manifesta em situações onde a nossa ética humana, que é pequena, falha, ela não compreende a grandeza de Deus.

Na verdade, eu costumo dizer que tudo que nós temos, de bom obviamente, vem por herança, porque nós somos criados à imagem e semelhança de Deus, e por aproximação. Em que sentido?

O ser humano originalmente criado, Adão, foi a expressão mais perfeita da imagem e semelhança de Deus, enquanto criatura, porque obviamente Cristo é a perfeita expressão da glória de Deus, mas enquanto criatura, Adão foi a mais perfeita expressão. Nós hoje, como descendentes de Adão, e afetados pelo pecado, somos muito distantes dessa imagem de Deus criada, dessa manifestação gloriosa de Deus.

Certas coisas que o ser humano faz, como por exemplo a busca pelo conhecimento, a busca pela verdade, a busca por princípios éticos são tentativas de nos aproximarmos novamente dessa imagem de Deus, e nisso nós falhamos, embora nós tentemos chegar perto, nós falhamos (em decorrência da nossa natureza corrompida pelo pecado), então por exemplo nós não conseguimos compreender as dimensões da ética divina, dimensões que, por exemplo – aqui eu tou saindo muito da questão do tempo, mas só pra encerrar esse parêntese grande – a questão de um Deus justo.

Ora, como é que um Deus permanece justo oferecendo seu próprio filho pra morrer em nosso lugar? O justo pelos injustos, que é o que diz a Palavra? Por que? Porque um Deus justo não pode aceitar um pecado que não tenha consequências, que seria o nosso caso. A gente pecou, então a gente tem que ter a consequência que é o castigo pelo nosso pecado, e a Palavra de Deus diz que o castigo pelo pecado, o salário do pecado é a morte, mas Ele oferece Jesus Cristo pra pagar o castigo em nosso lugar, então numa questão de justiça humana, você pegar uma pessoa que é pura, santa, justa e sofrer as consequências do pecado alheio, é uma tremenda injustiça, mas isso porque a nossa justiça, a nossa ética, os nossos valores humanos, como eu falei, são falhos, são uma aproximação que é falha, limitada.

Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito – 1 Pedro 3:18

Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor – Romanos 6:23

Na questão da justiça de Deus é perfeito isso, e aí tudo que diz respeito a questão do tempo segue a mesma lógica. Então, o ser humano ele sofre as consequencias da ação do tempo, coisa que Deus não sofre. Por que? Porque o ser humano está limitado aos 120 anos que a Palavra de Deus diz que Deus concedeu ao homem viver. Até essa idade, né, porque é muito difícil alguém chegar a essa idade, e acho que na história recente pelo menos, poucas pessoas chegaram a essa idade se é que chegaram ou mesmo ultrapassá-la.

Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. – Gênesis 6:3

Então o tempo, ele serve de alívio para o ser humano em saber que as suas misérias do dia vão passar amanhã, ou têm a oportunidade de passar amanhã, mas ao mesmo tempo…

2) Em segundo lugar, serve de alerta muito grande.

Por que? Porque um dia haveremos de encontrar novamente o nosso criador, então o tempo designado para o homem aqui é muito pequeno e limitado frente à eternidade.

É muito pequeno e limitado.

A gente pensa que “ah, eu vou viver 80 anos”… Primeiro que ninguém sabe quanto tempo vai viver, né. Pode sair na rua, Deus o livre, e ser atropelado… Ou ser acometido de uma doença séria, enfim, e morrer rápido. Mas, ninguém sabe quanto tempo vai viver. E muitas pessoas passam seus 80, 90 anos quando muito e são abençoadas de viverem tanto, mas vivem distantes de Deus, sem pensar que isso aqui é uma fagulha frente à toda a eternidade. O tempo, na verdade, que nós temos aqui, é um tempo de preparação pra conhecermos aquele Deus com quem iremos conviver no restante da eternidade.

Essa eternidade, sim, é o tempo que a gente deve pensar, não é simplesmente o hoje – é claro que a gente deve viver o hoje, né, só esse parêntese aqui – mas não nos focarmos exclusivamente no “aqui” e “agora”, mas pensarmos no tempo com uma perspectiva da eternidade, de que Deus nos criou pra vivermos consigo por toda a eternidade, e se a gente não começar, desde agora, a meditar nessa perspectiva do tempo, nós passaremos a eternidade distantes do Senhor, que é algo que ninguém gostaria de passar, e infelizmente muitos ignoram essa possibilidade e essa terrível certeza.

Pra concluir, eu queria só ler o Salmo 90:12 que diz:

Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria. – Salmos 90:12

O tempo por si só não gera sabedoria em ninguém. Infelizmente há muitos velhos que são insensatos e a gente sabe que o tempo passado pode ser desperdiçado ou pode ser bem aproveitado, bem investido. O tempo que produz sabedoria, o tempo que é bem aproveitado, é aquele que a gente dedica na presença do Senhor, aquele que a gente ao nosso Senhor, aquele que a gente dedica aos seus valores, ao seu reino, e às pessoas e coisas que realmente importam nas nossas vidas.

A minha oração, hoje, é pra que eu e você saibamos aproveitar bem o nosso tempo, meditarmos nessas coisas que eu falei, hoje, nessa reflexão, e entendermos que nós não podemos estar perdendo tempo ou desperdiçando tempo, mas aproveitando bem o pouco de tempo que nós temos nessa terra em preparação para o futuro eterno junto do nosso Senhor.

Deus nos abençoe.

Sobre o Compromisso

Há dois textos que eu gostaria de deixar para nossa reflexão nesse início de ano, pensando no tema que escolhemos (sempre escolhemos um tema) que é compromisso.

Foi muito propício que o pr. Dino tenha falado essa palavra durante a reunião de líderes de departamento, porque senti como confirmação da parte de Deus a respeito desse tema.

O primeiro texto é o de Hebreus 10:35-39 que diz:
Haja o que houver, não deixem desfalecer a sua confiança no Senhor. Lembrem-se que vocês serão ricamente recompensados!
Vocês precisam continuar fazendo com toda a paciência a vontade de Deus, se quiserem receber tudo quanto lhes prometeu.
Pois, como ele diz nas Escrituras: “Um pouco mais de tempo, e virá aquele que há de vir; ele não vai demorar. E aqueles cuja fé os tornou justos aos olhos de Deus devem viver pela fé, confiando nele em tudo. Do contrário, se eles recuarem, Deus não terá prazer neles”.
Nós, porém, nunca demos as costas a Deus para decretarmos a nossa própria destruição. Nós somos dos que creem e são salvos.

O segundo texto encontra-se em Filipenses 3:12-16 que diz:
Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.

Então, com base nesses textos, tenho para minha família e estendo a vocês três desafios:

1) Desafio pessoal, individual, de um relacionamento mais profundo e íntimo com o Senhor.
Veja que tanto o autor aos Hebreus quanto o apóstolo Paulo usam muito os verbos flexionados na primeira pessoa, porque tudo começa em nós mesmos.
Nós só podemos almejar um 2024 melhor em termos do que quer que seja se tivermos nós a “iniciativa”, no sentido da predisposição e isso deve começar naquilo que é o principal que é o nosso relacionamento com Deus.
E eu escolhi bem o relacionamento com Deus porque muitas vezes em nossas metas para o ano seguinte, nossas resoluções de ano novo, colocamos um emprego melhor, carro novo, realização de sonhos, e nem sempre colocamos o plano de Deus, a vontade de Deus, seu propósito como algo a priorizarmos.
Nesse sentido, separe um tempo para fazer seu tempo a sós com Deus, nem que comece com 5 minutos diariamente até você desenvolver essa disciplina espiritual de leitura da Palavra e oração. Comece agradecendo a Deus por todos os seus benefícios que Ele tem lhe dado: sua vida, saúde, salvação, família, emprego; lembre-se de orar não apenas por você e pelos que lhe são próximos, mas pelos nossos líderes, da nação, estado, cidade, igreja. Ore também por seus amigos. Perceba o que diz o texto de Jó 42:10: “Depois que Jó orou por seus amigos, o Senhor o tornou próspero novamente. Na verdade, Deus deu a Jó duas vezes mais do que ele tinha antes!”. Medite naquilo que você leu, peça a Deus que lhe traga iluminação e aplicação para o dia a dia. Peça também oportunidades para testemunhar de Jesus na vida de alguém que talvez ainda não o conheça.

2) Desafio como família, de ter momentos juntos com o Senhor, de crescerem juntos, fazendo culto doméstico, louvando juntos enquanto brincam ou fazem tarefas do lar. E desafio de desapegarmos das redes sociais e vivermos mais a nossa família, marido e mulher, e pais com filhos. Não ceda à tentação de dizer que usa o Instagram, whatsapp ou o que for para trabalho, quando sabemos que muito mais é como ócio e entretenimento mesmo, e não estou dizendo que é pecado, muito embora possa estar se tornando em vício e até ídolo na vida de alguém que precisa reavaliar o tempo gasto nas redes e no celular. Como família, reavalie seu entretenimento, que tipo de programa estou vendo na televisão com meus filhos, que seriados na Netflix ou em qualquer outra coisa. Se puder, viva mais off-line, designe uma hora para desligar o celular. Faça suas refeições como família sentados à mesa, mas sem o uso desse aparelho.

3) Desafio como igreja: Mateus 6 nos diz que devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça e as demais coisas nos serão acrescentadas. Como as demais coisas acima, estabeleça um compromisso pessoal de participar dos cultos e demais programações que Deus tem preparado para edificar a sua vida, e usá-lo para edificar a vida de seus irmãos. Esforce-se para não faltar nem chegar atrasado aos encontros e reuniões. A sua falta será sentida.

Todas essas coisas requerem de nós compromisso. Compromisso não é coisa de criança, é coisa de adultos. Homens e mulheres que entendem seu chamado e sabem quem os convocou, quem os vocacionou.

A minha oração é por um 2024 prostrados aos pés da cruz, com compromisso pessoal com Deus, com a família e com a igreja.
Que o Senhor realize em nós o seu propósito e nos faça glorificar o seu nome, mesmo que pra isso precise nos humilhar, caminhar conosco pelo deserto ou nos negar as coisas que mais desejamos.
Espero que não chegue a tanto, ao contrario, que ache em nossos corações terrenos férteis para o frutificar do seu Espírito, para glória do seu nome e edificação do seu reino.
Que seja feita a Sua vontade, assim na terra como no céu e, se possível, que este finalmente seja o ano aceitável do Senhor, ano de salvação, ano de restauração de vidas e relacionamentos, ano de perdão, e ano da volta do nosso Rei e amado para nos buscar para desfrutarmos a eternidade junto de si.
Esse é o desejo e oração minha e de minha família, Talita, Benjamin e Abigail para todos nós.

Deus nos abençoe.

Sobre a Maldição Hereditária

Na comunidade local que frequento, Igreja de Cristo Salinas, possuímos grupos de estudo da Palavra (a que chamamos “pequenos grupos”, outros lugares chamam “células” ou “grupos de crescimento”, por exemplo), sendo que Talita e eu conduzimos ou facilitamos um deles. Durante o estudo da Palavra, há certos temas um pouco polêmicos que são recorrentes, como a predestinação, a possibilidade da perda da salvação, a continuidade ou não dos dons sobrenaturais do Espírito, e a maldição hereditária.

A maldição hereditária, como outras heresias oriundas do movimento neopentecostal, e já deixo claro que se trata de heresia, decorre de má interpretação ou má compreensão de certos textos bíblicos.

Mas, antes de avaliarmos um ou alguns desses textos que supostamente dariam fundamento teórico para essa doutrina, vamos entender o que se trata a maldição hereditária, resumindo como aqueles que nela acreditam a descrevem ou explicam. Consultando rapidamente a Internet, vi duas definições que me chamaram a atenção:

1: “…problemas que se arrastam entre gerações e que, por mais que a pessoa se esforce, eles parecem não se resolver”;
2: “Maldição hereditária é a ideia de que uma pessoa é penalizada pelas ações de suas gerações passadas”.

Mas, uma definição mais precisa eu tirei de um estudo do sítio “Coalizão pelo Evangelho”, e diz o seguinte:

“As maldições hereditária são conhecidas como sendo os pecados, ou consequências dos pecados, que herdamos de nossos pais. Isto é, que nós, como filhos, podemos estar praticando um pecado que veio até nós como um tipo de vínculo espiritual, ou que estamos sofrendo os efeitos de um pecado como herança de nossos pais. Essas consequências também podem vir na forma de vícios ou vários tipos de doença. […] Eles ensinam que esta pode ser a razão pela qual um pecado ou um padrão pecaminoso persista em suas vidas. Eles também ensinam que problemas constantes, doenças frequentes e crises financeiras permanentes podem ser expressões de uma maldição hereditária.

Dito de forma simples, uma maldição hereditária aponta para as consequências que podemos estar pagando pelos pecados de um antepassado.

Se esse for o caso, então o crente não será capaz de se livrar dessa condição a menos que algum tipo de libertação seja feita. Ou seja, uma sessão de oração, imposição de mãos, ou até mesmo uma confissão por parte da pessoa afetada, para quebrar o vínculo. Em alguns casos, essas libertações, que podem durar várias horas, ocorrem nos templos ao fim dos cultos dominicais, em retiros espirituais ou em lares como parte de um aconselhamento.”

Um dos textos bíblicos mal usados como amparo para essa teologia é aquele de Êxodo 20:5 que diz:
“Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.”

Vale salientar que essa teologia não é exatamente nova, sendo que em Israel nos tempos bíblicos e até os dias de Jesus, muitos judeus criam em alguma variante dessa doutrina.

Mas, de maneira a desmistificar o real significado desse texto, devemos verificar o seu contexto e compararmos a outros textos que a própria Escritura oferece para iluminar aquilo que pode trazer dúvida para o leitor mais apressado.

Em primeiro lugar, devemos deixar claro que NÃO é o diabo quem amaldiçoa o homem, então a ideia de que haja demônios que nos acompanham por gerações oferecendo tentações particulares ao avô, ao pai, ao filho etc. não é bíblica. Não há textos que suportem isso e, de fato, quem amaldiçoa alguém é o próprio Deus, não por um pecado específico, mas por nossa condição de pecadores, descendentes de Adão, o que nos torna malditos de Deus, cf. Gálatas 3:10, Romanos 5:12-17, entre outros textos.

Em segundo lugar, devemos perceber que o contexto imediato dessa aparente “maldição hereditária” de Deus que aparece em Êxodo 20, está no pecado específico da idolatria, e, não apenas isso, vejamos com calma que Deus, como Deus “zeloso”, ou seja, que sente “ciúmes”, não trata com desprezo aquele que, sozinho ou coletivamente, de maneira pessoal ou enquanto família, pratica a idolatria, ou seja, acrescenta algo a mais em seu coração e como fruto e destinatário de seu louvor e adoração à pessoa de Deus. Não vou me detalhar sobre isso, mas o texto diz claramente que Deus visita a iniquidade geracional, ou seja, aquela que persiste de pais para filhos e assim sucessivamente e isso é o ponto chave da correta avaliação desse texto.

Deus não visita com castigo e “maldição” pessoas inocentes que estejam numa prática sadia e correta de adoração. Deus visita a iniquidade daqueles que o odeiam, como diz o texto bíblico, e aqui é preciso entender o poder da influência da criação que alguém recebe.

Se eu, como pai, ensino a meu filho a amar a Deus e adorá-lo, dou bom testemunho, a tendência é que ele continue esse comportamento em sua vida. O contrário também é verdade, ou seja, se eu, por exemplo, me entrego à bebida e bato em minha mulher, mesmo inconcientemente os valores que estarei transmitindo serão maus, e a possibilidade dele também um dia se interessar pela bebida, e quem sabe acabar repetir os padrões de violência contra sua futura esposa, será grande.

Repetição de padrões, isso é diferente de tentações ou pecados geracionais.

Caminhando para a conclusão, como eu falei, essa ideia, contudo, não é nova, mas também não é nova sua refutação, tanto no antigo, quanto no novo testamento. É o que vemos, por exemplo, no texto de Ezequiel 18:2-4 (na verdade todo o capítulo fala sobre isso):

“Que pensais, vós, os que usais esta parábola sobre a terra de Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram?
Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que nunca mais direis esta parábola em Israel.
Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.”

Vejam bem: os filhos só recebem os mesmos castigos de seus pais se continuarem na prática dos mesmos pecados.

E, por fim, o texto de João 9:1-3:

“Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.”

Aqui, Jesus deixa claro que, para além do absurdo lógico contido na pergunta dos discípulos, qual seja alguém ter pecado antes mesmo de ter nascido (e eu não estou falando da natureza pecadora recebida de Adão, mas de pecados voluntários) para que ao nascer essa pessoa recebesse como castigo a deficiência física (era essa a “superstição” da época, que determinadas doenças, especialmente as mais graves, seriam castigo de Deus por pecados cometidos, e eu não vou entrar nesse mérito aqui), na verdade o que alguns consideram como “maldição hereditária”, como uma doença grave, pode ser manifestação da soberana vontade de Deus para demonstrar seu poder, e para requerer de nós, seu povo, misericórdia e compaixão por aqueles que sofrem.

Finalizando, entendo que muitos utilizam de doutrinas como a da maldição hereditária para tentar retirar de sobre seus ombros a culpa e a responsabilidade das consequências de seus atos, de seus pecados individuais, tentando transferi-las ao diabo, dando-lhe mais poder do que de fato possui, ou quem sabe até mesmo culpando a Deus, como desde Adão fazemos, mas sem reconhecer seu atributo da soberania.

Assim fica fácil culpar o “capiroto”, por exemplo, pela pobreza que decorre não de maldição, ou como castigo “sobrenatural”, mas da lei da semeadura, ou seja, a pessoa que é displicente e perdulária passará necessidade, e da mesma maneira para tantas outras aplicações para as quais utilizam de desculpas semelhantes a essa.

A minha oração, hoje, então, é para que nós possamos reconhecer a nossa parcela de culpa naqueles pecados que nós temos cometido e colhido suas consequências; que paremos de dar maus exemplos para nossos filhos, e depois que eles perpetuarem esses comportamentos ruins, alegarmos que era “maldição hereditária”; e, finalmente, reconheçamos que Cristo é poderoso para quebrar toda e qualquer maldição, não por meio de um ritual específico ou pela mediação de alguém em particular, mas por meio do arrependimento sincero e confissão de pecados, que nos levam a abandonar os maus caminhos que seguiamos, passando a colher, nós e as gerações vindouras, os bons frutos dessa conversão.

Deus nos abençoe.