Sobre o Tempo

Há duas maneiras, basicamente, de a gente entender a questão do tempo.

Eu não vou entar aqui em aspectos filosóficos, porque aí seriam inúmeras, mas eu penso na perspectiva de Deus e na perpectiva do homem, e pra Deus o tempo é uma dimensão criada como qualquer uma de suas criaturas. O tempo também é sujeito a Deus.

Deus é um ser fora do tempo. Deus é atemporal. Na verdade, Deus cria o tempo, e a partir de que Ele cria o tempo é que Ele cria as demais coisas, as demais entidadeas, as demais criaturas.

O tempo é uma dimensão física, na verdade, como o “x”, “y”, “z”, o tempo é uma quarta dimensão.

Então, pra Deus, e a palavra de Deus diz que pra Deus um dia é como mil anos, e mil anos é como um dia, pra demonstrar que Deus está fora dessa perspectiva humana, digamos assim, de tempo e é por isso que eu gosto da comparação da perspectiva divina com a perspectiva humana.

Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. – 2 Pedro 3:8

Pra o homem, o tempo é uma asbtração.

Eu até já falei sobre isso em escola bíblica, em pregação, porque aquilo que a gente conhece como o tempo, na verdade, o ciclo de dias e anos e estações, é o movimento da terra ao redor do prórpio eixo e ao redor do sol, basicamente é isso.

Então, a linha de tempo que a gente definiu como uma convenção, digamos assim, de segundos, minutos, horas, dias etc. é baseada na Terra que a gente vive, se a gente estivesse em outro planeta seria diferente.

E aí você pode alegar – eu nao vou entrar no mérito das questões científicas, porque eu nao sou cientista – mas você pode alegar “não, mas existe uma unidade de tempo padrão, o ano-luz, por exemplo, e frações do ano-luz”.

Enfim, eu nao vou entrar nesse mérito não. Mas, pro ser humano, é uma abstração.

Uma abstração em que sentido?

De que, na verdade, os marcos temporais que a pessoa vai envelhecendo são a evolução do corpo humano mesmo, enfim, os processos naturais biológicos que fazem com que a pessoa saia de bebezinho, vire menino, então adolescente, jovem, adulto e por aí vai até chegar à morte.

Mas, de fato, eu creio que Deus olha pra tudo isso de cima como uma pizza, alguém que está olhando uma pizza, não como a gente que vai experimentando sucessivos “agoras”. Porque, pro ser humano, só existe o agora. O tempo que passou é passado, já não existe mais, o tempo futuro é algo que a gente só tem na imaginação, o que pode ou não acontecer.

E só um parêntese sem entrar muito no aspecto teológico da coisa, Deus quando “olha a pizza de cima”, não o faz como mero espectador, como observador casual. Não! Ele é o próprio “pizzaiolo” dessa pizza chamada tempo e história da humanidade.

E aí, nesse ponto, eu creio que o Ricardo Gondim, por exemplo, e outras pessoas como ele erram ao querer subjugar Deus à esfera do tempo, ou que Deus esteja sujeito ao tempo, o que é um asbsurdo lógico, o criador ser sujeito à criatura, porque se você considerar o tempo algo a que Deus esteja sujeito, entao o tempo é pra ser preexistente ao próprio Deus, coexistente ao próprio Deus, então se ele for preexistente foi ele quem criou Deus, o que obviamente é um absurdo, e se ele for coexistente ele é um deus além de Deus, então já não é monoteísmo, é politeísmo.

E o cristianismo, obviamente, não é politeísta, é monoteísta, em que Deus consiste em uma única divindade, subsistindo em três pessoas diferentes: Deus pai, Deus filho e Deus espírito Santo, mas uma única divindade.

Então, pra o ser humano, a questão do tempo é muito relativa, é uma abstração.

Como eu falei, é relativo, é uma abstração, em que sentido? Pra Deus, o tempo é um absoluto. Passado, presente e futuro, pra Deus, é um momento só, é um instante só, é o presente, digamos assim.

Pro ser humano, já é diferente, porque existem essas concepções de passado e futuro, embora a gente só viva o presente.

Eu acho que está meio filosófico demais, ou muito viajante demais essa reflexão, mas isso é pra gente pensar em que aspecto nós, como seres humanos, essa abstração chamada tempo serve pra gente de duas finalidades, tem duas finalidades na minha percepção.

1) A primeira é pra nos dar esperança.

Imagine aí que você vivesse num dia infinito, um dia onde não existisse manhã, tarde e noite.

Imagine que você é uma pessoa que nasceu num bom lar, com boa família, com boas condições, então pra você talvez esse dia fosse excelente.

Mas, imagine que boa parte da população do mundo não vive nessas condições, nasceu numa família talvez desestruturada, numa condição financeira ruim, em um país não democrático, enfim, tudo que você mais quer é que o dia acabe…

Então, a Palavra de Deus diz que “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, elas se renovam a cada manhã”, então esse “a cada manhã”, que é o dia que vai nascer amanhã, ou os dias que vão nascer, os dias sucessivos, são pra nos dar esperança, então o passado ficou pra trás, as mazelas de ontem se acabaram, hoje há uma nova oportunidade de viver, viver bem, viver para a glória do Senhor.

As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade. – Lamentações 3:22,23

Então, até pra isso é interessante aquela palavra que diz “basta a cada dia o seu mal”, porque o mal ficou no passado, hoje eu já posso fazer o bem, o dia hoje pode ser bom, então eu não preciso ter ansiedade sobre o amanhã que é o que Jesus fala nesse sentido/texto.

Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. – Mateus 6:34

Pensando aqui a respeito do tempo como uma criatura de Deus e novamente na questão do erro que é considerar Deus sujeito a sua própria criatura, alguém poderia alegar “não, mas Deus às vezes se limita”…

Eu não vou entrar no mérito da predestinação, nem da preciência de Deus, ou da soberania de Deus, atributos de Deus, mas alguém poderia dizer “não, mas Deus às vezes se limita com relação à possibilidade de conhecer ou não o futuro”… É o que alguns desses pregadores que eu já citei alegam, que Deus se auto-limitaria.

Obviamente isso é um erro, mas em que sentido é um erro? Eu só vou fazer esse parêntese aqui pra falar a questão do tempo. Deus é onisciente, onipotente, onipresente. Em que sentido ele se limitaria? Por exemplo: a questão da onipotencia. Deus, ele é bom, perfeito e santo. São atributos de Deus conforme a Palavra, então Ele não pode pecar. Por que? Porque ao pecar, Ele negaria esses três atributos, então, nesse sentido, Ele não pode pecar. E aí você diria “poxa, mas Ele não é onipotente, Ele não pode tudo”?Ele pode tudo aquilo que não vai de encontro aos seus próprios atributos, aquilo que não contradiz a sua própria essência.

E aí eu digo novamente a questão do tempo. Deus, Ele não se sujeita a nenhuma de suas criaturas. Por que? Porque isso ofenderia o conjunto de demais atributos de quem Ele é. Deus é criador. Deus é soberano. Ele não pode se sujeitar a uma criatura, uma criação sua, no caso uma força da natureza que é o tempo, deixando de ser soberano sobre aquilo que ele mesmo criou. É o que alguns têm a dificuldade de crer. Por que? Porque têm a dificuldade de abrir mão do controle remoto de sua vida, porque creem que Deus é um mau deus, basicamente isso. E ao crer que Deus é um mau deus, preferem não crer em Deus ou não crer em Deus soberano, não crer no Deus das Escrituras, porque as Escrituras são fartas de exemplos onde a soberania de Deus se manifesta em situações onde a nossa ética humana, que é pequena, falha, ela não compreende a grandeza de Deus.

Na verdade, eu costumo dizer que tudo que nós temos, de bom obviamente, vem por herança, porque nós somos criados à imagem e semelhança de Deus, e por aproximação. Em que sentido?

O ser humano originalmente criado, Adão, foi a expressão mais perfeita da imagem e semelhança de Deus, enquanto criatura, porque obviamente Cristo é a perfeita expressão da glória de Deus, mas enquanto criatura, Adão foi a mais perfeita expressão. Nós hoje, como descendentes de Adão, e afetados pelo pecado, somos muito distantes dessa imagem de Deus criada, dessa manifestação gloriosa de Deus.

Certas coisas que o ser humano faz, como por exemplo a busca pelo conhecimento, a busca pela verdade, a busca por princípios éticos são tentativas de nos aproximarmos novamente dessa imagem de Deus, e nisso nós falhamos, embora nós tentemos chegar perto, nós falhamos (em decorrência da nossa natureza corrompida pelo pecado), então por exemplo nós não conseguimos compreender as dimensões da ética divina, dimensões que, por exemplo – aqui eu tou saindo muito da questão do tempo, mas só pra encerrar esse parêntese grande – a questão de um Deus justo.

Ora, como é que um Deus permanece justo oferecendo seu próprio filho pra morrer em nosso lugar? O justo pelos injustos, que é o que diz a Palavra? Por que? Porque um Deus justo não pode aceitar um pecado que não tenha consequências, que seria o nosso caso. A gente pecou, então a gente tem que ter a consequência que é o castigo pelo nosso pecado, e a Palavra de Deus diz que o castigo pelo pecado, o salário do pecado é a morte, mas Ele oferece Jesus Cristo pra pagar o castigo em nosso lugar, então numa questão de justiça humana, você pegar uma pessoa que é pura, santa, justa e sofrer as consequências do pecado alheio, é uma tremenda injustiça, mas isso porque a nossa justiça, a nossa ética, os nossos valores humanos, como eu falei, são falhos, são uma aproximação que é falha, limitada.

Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito – 1 Pedro 3:18

Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor – Romanos 6:23

Na questão da justiça de Deus é perfeito isso, e aí tudo que diz respeito a questão do tempo segue a mesma lógica. Então, o ser humano ele sofre as consequencias da ação do tempo, coisa que Deus não sofre. Por que? Porque o ser humano está limitado aos 120 anos que a Palavra de Deus diz que Deus concedeu ao homem viver. Até essa idade, né, porque é muito difícil alguém chegar a essa idade, e acho que na história recente pelo menos, poucas pessoas chegaram a essa idade se é que chegaram ou mesmo ultrapassá-la.

Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. – Gênesis 6:3

Então o tempo, ele serve de alívio para o ser humano em saber que as suas misérias do dia vão passar amanhã, ou têm a oportunidade de passar amanhã, mas ao mesmo tempo…

2) Em segundo lugar, serve de alerta muito grande.

Por que? Porque um dia haveremos de encontrar novamente o nosso criador, então o tempo designado para o homem aqui é muito pequeno e limitado frente à eternidade.

É muito pequeno e limitado.

A gente pensa que “ah, eu vou viver 80 anos”… Primeiro que ninguém sabe quanto tempo vai viver, né. Pode sair na rua, Deus o livre, e ser atropelado… Ou ser acometido de uma doença séria, enfim, e morrer rápido. Mas, ninguém sabe quanto tempo vai viver. E muitas pessoas passam seus 80, 90 anos quando muito e são abençoadas de viverem tanto, mas vivem distantes de Deus, sem pensar que isso aqui é uma fagulha frente à toda a eternidade. O tempo, na verdade, que nós temos aqui, é um tempo de preparação pra conhecermos aquele Deus com quem iremos conviver no restante da eternidade.

Essa eternidade, sim, é o tempo que a gente deve pensar, não é simplesmente o hoje – é claro que a gente deve viver o hoje, né, só esse parêntese aqui – mas não nos focarmos exclusivamente no “aqui” e “agora”, mas pensarmos no tempo com uma perspectiva da eternidade, de que Deus nos criou pra vivermos consigo por toda a eternidade, e se a gente não começar, desde agora, a meditar nessa perspectiva do tempo, nós passaremos a eternidade distantes do Senhor, que é algo que ninguém gostaria de passar, e infelizmente muitos ignoram essa possibilidade e essa terrível certeza.

Pra concluir, eu queria só ler o Salmo 90:12 que diz:

Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria. – Salmos 90:12

O tempo por si só não gera sabedoria em ninguém. Infelizmente há muitos velhos que são insensatos e a gente sabe que o tempo passado pode ser desperdiçado ou pode ser bem aproveitado, bem investido. O tempo que produz sabedoria, o tempo que é bem aproveitado, é aquele que a gente dedica na presença do Senhor, aquele que a gente ao nosso Senhor, aquele que a gente dedica aos seus valores, ao seu reino, e às pessoas e coisas que realmente importam nas nossas vidas.

A minha oração, hoje, é pra que eu e você saibamos aproveitar bem o nosso tempo, meditarmos nessas coisas que eu falei, hoje, nessa reflexão, e entendermos que nós não podemos estar perdendo tempo ou desperdiçando tempo, mas aproveitando bem o pouco de tempo que nós temos nessa terra em preparação para o futuro eterno junto do nosso Senhor.

Deus nos abençoe.