Hoje, como de costume, fui almoçar num restaurante "a kilo" no bairro da Graça. Diferentemente do usual, no entanto, e não sei se já escrevi sobre isso, tenho a impressão que sim, fiquei observando as pessoas que entravam e saiam do lugar, fazendo suas refeições, conversando etc.
Logo peguei meu prato de comida e sentei-me à mesa, ao lado de uma senhora bastante idosa, pois o restaurante, sempre cheio, dificilmente oferece um lugar vago para sentar-se sozinho. Quando estava sentado, e mal deu tempo, a senhora ao lado puxou papo, e começou a divagar sobre como beber refrigerante era ruim, como a família dela tinha sido criada desde ela até os netos sem beber refrigerantes e eram todos atletas, como se uma coisa tivesse necessariamente a ver com a outra, ou como se eu tivesse qualquer intimidade com ela para ela compartilhar tudo isso, mas deixa pra lá, e disse que se possível fecharia todas as fábricas de refrigerante… eu ein. Eu achei que ela não ia me deixar comer, de tanto que ela falou, fiquei até pensando se ela não seria como aqueles velhinhos abandonados pela família que a gente vê na televisão, apesar de ser bem apessoada e estar bem vestida, ou pelo menos carente de ter alguém com quem conversar. Na verdade, foi mais um monólogo da parte dela, porque eu precisava comer e voltar para o trabalho, mas sinto que ela ficou satisfeita de "conversar comigo". Inclusive, rio só de lembrar, ela perguntou porque meu prato estava tão vazio, se eu estava fazendo alguma dieta, ao que respondi que sim, de certa forma, porque ainda estou me recuperando da semana passada que passei hospitalizado.
Bem, fiquei "conversando" e comendo com a velhinha e depois que ela terminou de comer, ela se despediu e saiu, deixando-me a continuar a observar as pessoas ao redor. Percebi a variedade dos tipos ali presentes. Como é sortida a humanidade, como são diferentes as pessoas que frequentam aquele restaurante "a kilo". Cores diversas, negros, morenos, brancos, pálidos, vestidos de todas as maneiras possíveis e imagináveis, uns notadamente "à trabalho" e outros de sua maneira particular. Fiquei pensando na diversidade de religiões e credos, ou ausência dos mesmos, ali presentes, filosofias de vida, orientação política, vi gente saída da faculdade, tem algumas nas redondezas, e nas "quadradezas" também, e também garotos indo ou voltando do colégio. O tempo passa, alguns anos atrás era eu que ia e vinha da escola, sem o mínimo de preocupação senão que jogo de videogame eu iria jogar mais tarde, ou o quanto iria dormir depois do almoço…
Posteriormente sentaram-se à mesa que eu estava outras três pessoas. Sim, o restaurante é tão cheio assim, e a rotatividade é alta. Um deles, pelo menos, era de Juazeiro, interior da Bahia. Então fiquei pensando em quantas pessoas de locais diferentes estariam ali. Lembro que até turista estrangeiro já vi por lá, e na época da confusão da imigração dos espanhóis repatriados até um senhor espanhol estava sendo caçoado pelo seu amigo brasileiro, ambos à minha frente na fila do caixa. Sim, mas voltando à pessoa de Juazeiro, um conhecido seu, também sentado, estava falando muita besteira, não pude deixar de ouvir pois éramos quatro na mesa e ele ficou falando aos outros num volume que talvez até as mesas ao lado pudessem ouvir, fazendo piadinhas sem graça e até meio impróprias, e até fez menção de contar uma piada de cunho racista, que quase eu peço para ele esperar eu sair da mesa para não ouvir a "pérola", mas felizmente acho que ele percebeu o meu olhar e mudou de assunto.
Bem, depois de comer levantei-me e mais uma vez fui à fila do caixa, pagar os cerca de oito reais que gasto com meu almoço, até razoável pela qualidade do serviço, sempre no cartão de crédito pois além das milhas que ganho no programa de relacionamento do banco, doce ilusão, nunca ando com dinheiro mesmo… Entreguei à moça que estava à porta controlando o acesso das pessoas o cupom escrito "pago", ou melhor, hoje era outro carimbo que lia-se "kuei", parte do nome do restaurante, e fui-me embora, de volta ao meu carro, de volta ao meu trabalho, de volta ao restante do meu dia, rotina de todo santo dia.
Agora, escrevendo esse texto antes de ir escovar os dentes e voltar a trabalhar, fiquei pensando que sou, também, uma dessas pessoas sortidas, como uma jujuba ou um chocolate MMs entre os demais, bem parecido com os outros em muita coisa, mas também tão diferente que às vezes até nos chocamos uns com os outros, eu pelo menos.