“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo” Salmos 23:4a
Vivemos num mundo cercado de violência. Violência tal que em meio a tantos meninos João Hélio e meninas Isabela Nardoni já não vemos as crianças que batem na janela do nosso carro pedindo esmolas. São apenas estatísticas, números, e pouco nos importa, se é que importa quando ouvimos na televisão que morreram mais dez em uma favela no subúrbio, afinal, morre gente todo dia, e enquanto não nos afeta pessoalmente, particularmente, parece uma mera abstração de um filme hollywoodiano e não a realidade que estamos inseridos.
Eu já experimentei diversos momentos de violência cotidiana. Já fui assaltado duas vezes, uma delas com arma de fogo e em pleno acampamento da igreja que freqüento, o que demonstra claramente que ninguém está à salvo da criminalidade, nem mesmo os servos do Senhor, nem mesmo no momento em que O estão buscando.
Esse salmo de Davi muito me fala ao coração em tantos aspectos, mas quero me focar na questão da violência.
A primeira coisa que vemos nesse texto é que nem sempre estamos às voltas com a violência, mas ela existe. “Ainda que eu andasse”, ou “ande” como traz algumas traduções, não significa necessariamente “quando eu andar”, ou “como estou andando”. É uma hipótese válida, uma possibilidade, mas não uma realidade constante e imperiosa pelo menos.
A violência é traduzida como vale da sombra da morte, ou seja, um lugar em posição militar de desvantagem geográfica frente aos perigos situados nas bordas, nos morros (e não apenas nos morros reais das favelas brasileiras, mas nas situações que nos sobrevêm, ou seja, parecem cair por cima da gente), nos lugares altos e inacessíveis, inalcançáveis. É um lugar que a morte pode ainda não estar presente, mas a sua sombra já é sentida. O sol da vida se esvai e permanece apenas a sombra, a desilusão, o desespero.
Isso caracteriza a nossa vida, onde passamos o tempo todo com medo, trancados em nossas casas, fugindo do próprio mundo que deveríamos usufruir. Se o salmo parasse por aí seria uma triste constatação.
No entanto, temos a alegria de continuar lendo que não precisamos ter medo e que diferença isso faz. Afinal, a realidade continua sendo a mesma, mas se permanecermos com medo de enfrentar a vida, passamos a ser reféns não apenas da violência real, mas também do medo muitas vezes desproporcional e irreal que sentimos.
É importante saber por que não sentimos medo, embora todas as circunstâncias determinem que deveríamos senti-lo. Isso acontece porque Deus, o SENHOR, está conosco. Ele não simplesmente nos guia de longe, Ele não nos envia ao vale da sombra da morte e fica olhando, Ele vai e fica conosco até que a situação, que a circunstância mude, ou se ela não muda, Ele permanece conosco.
O cristão passa pelas mesmas dificuldades da vida urbana que qualquer outra pessoa. A diferença reside no fato de que o próprio Deus está com ele. Deus esteve com Daniel na cova dos leões e eles não o fizeram mal algum. Também estava presente na fornalha com os três moços e eles nada sofreram. Não quero dizer que o crente não é acometido de males, não é isso, até porque a própria bíblia afirma que faz sol e chove tanto para ímpios quanto para justos, demonstrando claramente que todos estamos sujeitos às mesmas condições da vida, e no caso, à mesma violência.
No entanto, e concluindo, não precisamos temer a violência, ainda que estejamos diretamente no meio dela, ou mesmo que ela nos alcance, porque a violência atinge apenas o nosso corpo mortal, no máximo traz traumas emocionais temporários que cessarão com o término da nossa existência. Deus pode escolher muitas vezes não nos livrar do problema, da violência, mas nos livrar NO problema, ou NA violência, ou ainda que não nos livre, estará lá presente, segurando a nossa mão. Acima de tudo, confio em Deus porque o maior medo de todos, o medo da morte, não possuo pois sei para onde vou, com quem passarei minha eternidade. Isso não é uma dúvida, não é um anseio, é uma certeza. Assim, se não temo a morte, por que temeria a vida?
Deus nos abençoe.