Responsabilidade pessoal

Aquele que pecar é que morrerá. – Ezequiel 18:4c

Desde o Antigo Testamento os judeus, e depois alguns de nós cristãos também, interpretaram errado quando Deus afirmou que visitaria a iniquidade dos pais nos filhos (Êxodo 20:5) imaginando que seria alguma forma de maldição hereditária. Não.

Esse texto de Ezequiel traz à luz o real significado do pecado, que é a morte, conforme Paulo bem nos relembra em Romanos 6:23, e não que pelo meu pecado meu descendente vá necessariamente pecar, ou que o resultado do meu pecado seja sua morte, mas que eu sou o primeiro afetado pelo pecado, ainda que este seja direcionado a outra pessoa, ainda que somente Deus seja o ofendido.

Devemos prestar atenção que, apesar do meu pecado ter consequências nocivas para minha vida, a responsabilidade pessoal para com Deus a respeito do meu pecado é somente minha, eu não tenho como culpar um terceiro pelo meu erro.

O que a gente não entende que pode acontecer, muitas vezes, é essa pessoa ser influenciada negativamente pelo meu mau exemplo e por decisão pessoal sua também vir a pecar, sofrendo ela mesma na pele as consequências da sua própria falha.

Embora eu seja o primeiro afetado pelo meu pecado, alguns tipos de pecado nós sabemos que seus efeitos se estendem àqueles que estão ao nosso redor, então a “sombra da morte” tem uma área de abrangência, por assim dizer, que vai além da nossa própria vida e atinge pais, irmãos, filhos, amigos, colegas de trabalho por causa de pecados que nós cometemos.

Quando o primeiro homem, Adão, pecou, ele imbuiu em nossa natureza a tendência para o pecado, mas não podemos em sã consciência dizer que pecamos “só” porque ele pecou, já que não somos robôs ou animais irracionais cujas decisões dependem apenas de um instinto biológico.

Não, a decisão para o pecado é tomada dia após dia, assim como a opção por não pecar que também nos é oferecida. Isso é para que nenhum de nós possa dizer que não teve escolha, para que não possamos tirar de nossos ombros a responsabilidade pessoal pelos erros e acertos que cometemos.

Pensando sobre Neemias

Meditando ontem nas coisas da vida, lembrei-me da história de Neemias, um grande empreendedor, que se revoltou contra a situação absurda que afligia sua nação e seus conterrâneos, mesmo morando fora do país, e teve coragem de enfrentar a tudo e a todos para ver Israel restaurada, a começar pelos muros, que significava segurança e auto-estima enquanto povo, e depois pela limpeza da casa do Senhor, demonstrando arrependimento genuíno e sincero e retorno a um relacionamento espiritual com Deus.

Mas em que contexto pensei nisso? Num contexto aparentemente besta, das obras do Transfor, em que a prefeitura está padronizando as calçadas, mas cuja responsabilidade de manutenção recai sobre o proprietário. Fiquei pensando que infelizmente as calçadas logo estarão do jeito que eram, pois as pessoas aqui não possuem esse senso de responsabilidade pessoal com aquilo que é seu, que dirá com o que é público e coletivo.

A lição que tirei de Neemias durante a reconstrução do muro era que assim como cada israelita tinha a responsabilidade de reparar a parte do muro que estava em frente a sua casa, e enquanto fazia isso trazia consigo a espada para defender-se dos inimigos, assim devemos ser nós também, zelando pelo que é público, pelo que é comunitário, sabendo que cuidando do coletivo estaremos necessariamente protegendo e cuidando do nosso, enquanto o inverso nem sempre é verdade.

É uma pena existirem hoje tão poucos Neemias, e muito mais Sambalates, que preferem ver a ruína da nação desde que o seu esteja garantido.

Deus nos abençoe a que sejamos nós os Neemias de nossa cidade, estado e nação.