Sobre o divórcio

A motivação para o tema dessa reflexão veio do estudo que levamos em nosso PG de casais e famílias na última reunião que tivemos, quando meditamos no texto de Marcos 10:2-12:

Alguns fariseus vieram e lhe perguntaram: “É permitido ao homem divorciar-se da sua mulher?” Naturalmente eles estavam tentando apanhá-lo numa armadilha.
“Que ordenou Moisés sobre o divórcio?”, perguntou-lhes Jesus.
“Ele permitiu o divórcio”, responderam. “Ele disse que tudo que um homem precisa fazer é mandar a esposa embora e entregar-lhe um documento de divórcio escrito”.
“E por que ele disse isso?”, perguntou Jesus. “Eu vou lhes dizer — era uma tolerância à maldade do coração endurecido de vocês.
Mas desde o princípio da criação Deus ‘os fez homem e mulher’.
‘Portanto o homem deve deixar o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’, e ele e a esposa estarão unidos de tal maneira que não serão mais dois, porém uma só pessoa. E nenhum homem deve separar o que Deus uniu”.
Mais tarde, quando ele estava sozinho com os discípulos em casa, o assunto surgiu outra vez.
Ele lhes disse: “Quando um homem se divorcia da esposa para casar-se com outra mulher, comete adultério contra ela. E se a esposa se divorciar do marido e se casar com outro homem, ela também comete adultério”.

Eu vou tentar trazer aqui alguns dos argumentos que utilizei pra explicar esse texto, mas, antes de mais nada, cabe salientar algumas coisas:

1) sempre que possível, vou me ater ao texto bíblico até porque neste, ainda mais do que outros temas, minha opinião é absolutamente irrelevante. A gente pode, em tese, discutir sobre uma possibilidade de interpretação de um texto bíblico assim ou assado, desde que o texto permita tal avaliação, mas a mera opinião, minha ou de quem quer que seja, sobre qualquer tema, se extrapolar, se for além do que o texto bíblico fala diretamente, ou permita inferir, não deve ser levado em consideração de forma autoritativa, ou seja, como se fosse Deus falando, ou no sentido de uma permissão ou ordem para fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

2) eu não estou me referindo em particular a nenhum caso específico, logo, não estou mandando indiretas para ninguém, mesmo que eu utilize exemplos para ilustrar algum ponto que possa refletir a realidade de vida de alguma pessoa.

3) admitidamente esse assunto é muito mais complexo do que poucos minutos poderiam dar conta.

4) esse texto de Marcos é apenas um de muitos outros que cobrem esse assunto, incluindo aí nuances não abordadas nesse texto.

5) o texto do estudo fala da “regra geral”, por assim dizer, e esse deve ser o foco, então situações excepcionais que a própria Bíblia pode mencionar devem ser tratadas desta maneira, como exceção, e não como a regra.

Tendo deixado isso claro, a gente já começa percebendo que os fariseus queriam apanhar Jesus numa armadilha. É o que diz o texto. Eles bem que tentaram, pois Jesus estava entrando na circunscrição do governo do rei Herodes Antipas, que havia se divorciado de sua primeira esposa e casado com a esposa de seu próprio irmão. Ele é o mesmo que, quando confrontado por essa situação anos antes havia mandado prender e, finalmente, decapitar João Batista, cf. vemos em Marcos 6:16-18:

“Não”, dizia Herodes; “é João, o homem cuja cabeça cortei. Ele ressuscitou dentre os mortos”.
Pois Herodes havia mandado que soldados prendessem João, o amarrassem e o colocassem na prisão, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, com a qual havia se casado.
João dizia a Herodes: “Está errado viver com a mulher do seu irmão”.

Então, os fariseus tentaram fazer Jesus ter o mesmo fim de João Batista, mas Jesus, como sempre, percebe a armadilha e faz o jogo virar, perguntando-lhes o que dizia a lei de Moisés, ao que os fariseus respondem citando Deuteronômio 24:1-4:

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não gostar de alguma coisa nela, poderá assinar um documento de divórcio e mandá-la embora.
Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher de outro homem, e se o segundo marido também encontrar algo nela que ele reprova, também pedir divórcio, ou morrer, o primeiro marido, que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela novamente, visto que ela foi contaminada. Isso seria uma ofensa ao Senhor. Não permitam que se cometa pecado tão grave na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança.

Jesus então passa a explicar exatamente o que Moisés quis dizer quando permitiu o divórcio, no sentido de regulamentar algo que estava absolutamente banalizado, e que isso era decorrente da dureza do coração humano, do egoísmo, da maldade, e não era essa a vontade nem o propósito de Deus para o casamento.

De fato, Deus cria a primeira mulher, Eva, da costela de Adão, e ao lhe dar em casamento, é como se, unidos em um só corpo, uma só carne, como diz a Escritura, eles voltam à unidade inicial, o corpo que falta uma parte passa novamente a ser completo, então, não há que se falar em amputar-lhe um membro, não faz sentido!

E aqui cabe uma das chaves interpretativas desse texto, e que serve também para todas as coisas que dizem respeito ao relacionado do homem com Deus e entre si, “nenhum homem deve separar o que Deus uniu”. Isso é verdade para o casamento, unidade básica constitutiva da sociedade, e fundamento da família que reflete o tipo de relacionamento que Cristo tem com a Igreja, chamada sua noiva, cf. Efésios 5:22-33:

Honrem a Cristo pela submissão uns aos outros.
Vocês, esposas, devem ser submissas à orientação de seus maridos, do mesmo modo como se submetem ao Senhor.
Porque o marido lidera a esposa da mesma maneira como Cristo lidera o seu corpo, do qual ele é o Salvador.
Portanto, vocês, esposas, devem atentar de bom grado para a orientação de seus maridos em tudo, tal como a igreja segue a direção de Cristo.
E vocês, maridos, mostrem pelas suas esposas o mesmo tipo de amor que Cristo mostrou pela igreja quando se entregou por ela, para fazê-la santa e purificada pelo lavar da água mediante a palavra; a fim de que ele pudesse apresentá-la a si mesmo como uma igreja gloriosa sem uma única mancha, ou ruga, ou qualquer outro defeito, mas sim, santa e sem nenhuma imperfeição.
É assim que os maridos devem tratar suas esposas, amando-as como aos seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama a si mesmo.
Ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, mas cuida dele com todo o amor, tal como Cristo cuida do seu corpo, a igreja, do qual nós todos somos membros.
“Por esta razão um homem deve deixar seu pai e sua mãe a fim de que possa estar perfeitamente unido à sua esposa, e os dois se tornarão uma só carne”.
Eu sei que isto é um mistério, porém é uma ilustração de Cristo e a igreja.
Portanto, eu torno a dizer: um homem deve amar sua esposa como a si próprio; e a esposa deve respeitar o marido.

Deixa eu dizer novamente, nosso casamento reflete, ou deveria refletir, o tipo de relacionamento que Cristo tem com a Igreja, não o contrário. Como assim? O relacionamento que Cristo tem com a Igreja é que serve de arquétipo, de modelo para a maneira com que devemos nos relacionar em nossos casamentos.

Gente, isso é muito importante. Quando o diabo quer atentar contra a institução do casamento, além de querer destruir a família, ele quer minar em nós a confiança de que Cristo ama sua Igreja e se relaciona com ela de maneira perfeita, que Ele nunca desiste dela, que Ele nunca a abandona, que mesmo que ela seja infiel muitas vezes, e é, reconheçamos isso numa esfera pessoal, individual, Cristo sempre permanece fiel, porque Ele não pode negar a si mesmo, a seu nome e à sua Palavra, cf. 2 Timóteo 2:13.

Mesmo quando formos infiéis, ele continua fiel para conosco, pois não pode negar-se a si mesmo. – 2 Timóteo 2:13

De fato, inúmeras vezes por meio dos profetas do Antigo Testamento Deus demonstra seu amor fiel mesmo em face a um povo infiel. Lembro-me do exemplo do profeta Oseias, que se casa com uma prostituta para mostrar ao povo de Israel essa verdade, cf. Oseias 1:2.

Esta é a primeira mensagem: O Senhor disse a Oseias: “Vá, e tome uma mulher adúltera, uma mulher que dará a você filhos de prostituta. Isso servirá para mostrar como o meu povo tem sido infiel a mim, cometendo adultério abertamente, por afastar-se do Senhor”. – Oseias 1:2

Então, voltando à chave interpretativa do texto, “nenhum homem deve separar o que Deus uniu”, isso significa que nenhum homem pode intentar desfazer o que Deus fez, achar que pode atrapalhar ou se insurgir contra seus planos e vontade soberana, e isso, por óbvio, vai além do casamento, serve para tudo na vida, e é por isso que eu temo profundamente ir contra a vontade do Senhor que muitas vezes trabalha por meios que me são mistério, mas, no tocante ao matrimônio, esta união não é só um contrato civil, e o divórcio não afeta apenas uma promessa e uma aliança feita entre duas pessoas e que tem como testemunhas a família, a sociedade e, no caso de cristãos, a comunidade em que congregam e o próprio Deus.

O divórcio, a Palavra deixa claro, é uma abominação aos olhos do Senhor (cf. Malaquias 2:16) e Ele não trata de maneira leve quem faz pouco caso do casamento e do divórcio que é algo que deveria ser excepcionalíssimo. Ele é, na verdade e no frigir dos ovos, consequência de a mulher não ter sido sábia (cf. Provérbios 14:1), não ter se sido submissa ao esposo, não lhe honrando e respeitando, mas, também e principamente, de o homem não ter amado sua esposa de maneira sacrificial, dando sua vida por ela, à semelhança de Cristo pela Igreja.

Pois o Senhor, o Deus de Israel, diz: “Eu odeio o divórcio e os homens violentos”. Então, tenham cuidado em seu espírito e não sejam infiéis! – Malaquias 2:16

A mulher sábia edifica o seu lar, mas a mulher sem juízo, sozinha, destrói a vida de sua família. – Provérbios 14:1

O espírito da Lei de Moisés, como era o anterior código civil brasileiro a respeito da separação e do divórcio, era não incentivar ou banalizar o divórcio. Pelo contrário, era por meio da burocracia necessária, e do tempo requerido entre uma fase e outra do processo, tentar promover a união, retomar o convívio, desfazer a contenda, enfim, de maneira a ressucitar aquilo que parecia ter morrido, o sentimento, a decisão, o compromisso.

Aliás, só um parêntese, a questão do sentimento. Muitas pessoas ao se divorciar, e, depois, ao desejarem casar novamente, alegam que têm o direito de serem felizes. Meu irmão, minha irmã, isso talvez seja compreensível na mente pecadora do homem natural, mas não aos olhos do homem e da mulher convertidos ao Senhor e nascidos de novo.

De fato, o sentimento, embora importante, nunca deveria se sobrepor à aliança, ao compromisso mútuo, com a pessoa, com Deus, com a família, com a igreja e com a sociedade que o casamento representa. Sentimentos vêm e vão, há momentos numa corrida longa estilo “maratona” como é o casamento quando o cansaço parece prevalecer, quando o tédio reina, quando podemos estar mais “à flor da pele”, machucados, e qualquer palavra dirigida à nós terá uma compreensão prejudicada…

Mas, se soubermos reconhecer nossos pecados – e aqui fica a dica de um livro muito bom sobre esse assunto, “Quando pecadores dizem sim”, de Dave Harvey, que expressa essa realidade de que somos pecadores unidos com nossa bagagem emocional e nossas lutas individuais que o casamento pode acentuar – então poderemos aprender na jornada da vida a dois a pedir perdão, a abrir mão de nossos interesses egoístas imediatos em favor do nosso cônjuge… Dificilmente haverá uma situação que, aos olhos de Deus, seja absolutamente irreparável, irreconciliável, porque Deus é o Deus dos impossíveis, cf. Jeremias 32:27.

‘Eu sou o Senhor , o Deus de toda a humanidade! Por acaso haverá algo que seja impossível para mim?’ – Jeremias 32:27

Biblicamente falando, meus irmãos, não temos o “direito” à felicidade, especialmente não se considerarmos o conceito de felicidade que o mundo e a sociedade pregam, aquela conquistada a qualquer custo, não importando o outro. Aliás, até mesmo na cultura norte-americana, com seus defeitos e virtudes, a “felicidade” não é algo garantido, e sim, tão-somente, a busca pela felicidade. Percebem que há uma diferença? Mas, voltando às Escrituras Sagradas, Deus não tem compromisso nenhum com a minha felicidade individual momentânea, especialmente se aquilo que eu acho que me daria felicidade implicar em pecado, porque o divórcio é pecado, o adultério é pecado, que é o que Jesus fala posteriormente aos seus discípulos.

E, pra fechar esse longo parêntese, essa semana, por uma feliz “coincidência”, eu vi um vídeo no YouTube com um áudio do escritor cristão C. S. Lewis gravado, salvo engano, alguns anos depois do fim da segunda guerra mundial, onde ele comenta sobre a mudança comportamental que passava a sociedade inglesa de então, e cita esse tema do suposto direito à felicidade como algo não garantido, não natural, e até não legítimo do homem, e usa como exemplo justamente essa questão do divórcio e do novo casamento, dizendo ele que se um homem se divorcia de sua esposa porque os anos não lhe foram favoráveis e ela já não exibe a beleza da mocidade, para então se casar com outra mais jovem, o que por si só já é um absurdo em todas as razões, alegando que deseja ser feliz, o que lhe impediria de dali a dois ou três anos inventar outra desculpa, talvez não mais a beleza mas outra razão qualquer, para também desfazer esse segundo casamento e procurar uma terceira, e uma quarta, e uma quinta esposas tudo isso para “ser feliz”, à custa da infelicidade alheia? Que “direito” seria esse?

Se banalizarmos o casamento por meio de um divórcio livre e irrefletido, a própria sociedade desmorona, pois o casamento é ou deveria ser uma de suas instituições mais sagradas e fundamentais. Se a pessoa é infiel no casamento e justifica por qualquer besteira o divórcio, qual o pudor que lhe impedirá de fazer isso em seus negócios ou em outras relações que são bem menos importantes?

Pra concluir essa reflexão, meus irmãos, quando se fala do divórcio, logo surgem muitas perguntas, sobre situações “e se”. E se isso, e se aquilo outro, como se uma situação “A” ou “B” pudesse justificar o divórcio e, mais ainda, um novo casamento.

Eu não vou entrar em situações individuais pra não ser atraído ao mesmo tipo de armadilha que os fariseus lançaram sobre Jesus. Se a Palavra fala ou se cala sobre um determinado assunto, e lembro que esse tema do divórcio em Marcos é resumido e parcial com relação aos demais evangelhistas e ao restante da Escritura Sagrada, então não devo emitir opinião. Além disso, meu irmão e minha irmã, há algo muito importante que devo tocar antes de terminar, que é sobre o pressuposto do casamento versus o pressuposto do divórcio.

O que vem a ser isso?

Vou usar uma analogia pra tentar explicar. Quando me perguntam se é possível haver espaço para dúvida no nosso relacionamento com o Senhor, eu costumo dizer que depende. Depende de que? Se o nosso pressuposto quando nos aproximamos do Senhor é o pressuposto da fé ou da dúvida, ou seja, se buscamos a Deus com intenção genuína de coração, querendo crer, querendo conhecê-lO melhor, querendo sanar a dúvida e construir em cima disso um relacionamento mais estável, ou se a dúvida é só a desculpa para a descrença, para a falta de fé, quando agimos como os fariseus na época de Jesus que utilizavam a dúvida como uma ferramenta para tentar desacreditá-lo.

É parecido com o pressuposto do casamento x o pressuposto do divórcio.

Muitas pessoas, quando perguntam sobre o tema do divórcio à luz das Escrituras, buscam sanar dúvidas sinceras a respeito da Palavra, de como Deus enxerga o casamento e o divórcio, enfim. Por outro lado, outras pessoas já buscam as “possíveis brechas” que possam achar nas entrelinhas, nas letras miúdas, querendo não a salvação do seu casamento mas a desculpa que faltava para “chutar o pau da barraca” uma vez que descobriu aquela “possibilidade” respaldada pela religião e pela “lei”.

Então, se você me perguntar “mas, Eliade e se isso e isso e aquilo outro”, como se fosse uma justificativa válida para o divórcio, e depois me vem com a pergunta se pode ou não casar de novo, eu mando você voltar às Escrituras e avaliar o seu coração e o seu relacionamento com Deus primeiro.

Deixa eu contar uma história, baseada em fatos reais como diz no começo de alguns filmes… Vez por outra, em momentos em que o casamento parece não ter solução e o desespero toma conta de nossas almas, mas sendo servos do Senhor e não desejando o divórcio, podemos ser tentados a fazer uma oração como essa: “Deus, leva o teu servo (ou a tua serva) porque eu não aguento mais!” ou ainda “Leva a mim, Senhor, porque eu não aguento mais!”, sendo que nossas orações deveriam ser no sentido de pedir a Deus que convertesse os nossos corações a Ele e ao nosso cônjuge, e o do nosso esposo ou esposa a nós, e nos ajudasse a andar a segunda, a terceira, a quarta milha…

Eu não tenho como dar soluções a respeito de todos os casos em concreto que alguém poderia me lançar, exceto apontar para as Escrituras, naquilo que o Senhor falou, relembrar o que falei acima de nos entregarmos mais a Deus clamando por ajuda, e questionar o real motivo de acharmos que o divórcio, algo que tem consequências físicas, emocionais e espirituais, pode ser a solução do problema, e não piorá-lo mais ainda.

“Eliade, mas eu já me divorciei, não tenho o direito de recomeçar e reconstruir a minha vida?”

Meu irmão, minha irmã, eu não posso julgar você, mas pense naquilo que falamos antes. Será que posso colocar minha felicidade pessoal acima de tudo, acima inclusive da Palavra de Deus? Será que justifica? “Direito”, não temos. Deus é o Senhor da nossa satisfação, já falei sobre isso aqui em outro vídeo do canal, então a nossa alegria deve começar e terminar nEle.

Pode ser que Deus faça isso em sua vida? Talvez…

Talvez Ele derrame graça e apague a maldição e a vergonha que o divórcio traz, mas no que depender de você, não deposite sua alegria e confiança nessa possibilidade, ou melhor em sentimentos, pessoas ou circunstâncias, mas confie e descanse no Senhor e no Senhor somente.

Por fim, se você que está ouvindo/lendo essa reflexão se encontra numa encruzilhada enfrentando um processo de divórcio, ou considerando essa possibilidade, eu rogo a Deus e a você que se coloque novamente de joelhos no chão e clame ao Senhor para que mude sua mente e coração e o de seu cônjuge se for o caso; que repreenda toda seta inflamada do maligno que procura desmerecer ou diminuir a importância e o valor do casamento, não só genericamente falando, mas o seu próprio casamento, sua história de vida a dois; e que reconsidere seriamente essa decisão, por mais dolorosa e “justificada” que tenha sido.

A minha oração hoje é para que Deus retire do nosso vocabulário como cristãos a palavra divórcio; que Ele possa converter os nossos corações pecadores diariamente; nos dar força para suportarmos uns aos outros, buscarmos ajuda enquanto é tempo oportuno em casais mais experientes e que sejam servos do Senhor, em vez de em coleguinhas de trabalho, faculdade ou academia que nem sempre darão os melhores conselhos e terão os melhores interesses em mente; ou que Ele possa nos perdoar, caso isso já seja um fato consumado e irreversível.

Deus nos abençoe.

Aviso aos navegantes: sobre o amor

Mulheres de Jerusalém, eu as faço jurar pelas gazelas e pelas corças do campo: não despertem nem provoquem o amor enquanto ele não o quiser. – Cânticos 2:7

Cânticos é um dos livros poéticos do Antigo Testamento que narra, em forma de poesia, o amor romântico do rei Salomão por sua esposa mais preciosa, a Sulamita, a quem ele se derrama de paixão e amor em todas as esferas em versos até bem explícitos, embora não vulgares, falando sobre muitos temas afetos ao relacionamento conjugal.

Nesse contexto, não deixa de ser um pouco “estranho” Salomão por três vezes recomendar às mulheres de Jerusalém que não despertassem o amor antes da hora adequada, o que nos indica claramente pelo menos três lições:

  1. há uma hora adequada para o amor, e cada tipo específico de amor (amizade, namoro e casamento) possui um contexto específico que não deve ser atropelado sob pena de perder-se o melhor de cada etapa, antecipando dificuldades que a falta de maturidade, experiência e intimidade não permitirão administrar com sabedoria;
  2. o amor é algo que deve vir naturalmente, mas também pode ser buscado, despertado, provocado. Em Cantares 3:5, a segunda vez que aparece esse conselho, Salomão diz para não incomodar o amor, e é curioso essa expressão “incomodar”, como algo que traz um certo desconforto, e não deixa de ser verdade, se meditarmos no aviso do homem mais sábio que já viveu, o amor na hora errada traz uma série de inconvenientes, seja no contexto familiar, responsabilidades laborais ou acadêmicas, e até no âmbito mais pessoal, onde a pessoa precisa dedicar tempo que talvez não possua a sentimentos que talvez não poderá corresponder. É estranho mas é verdade, muitas vezes o amor nasce de um “incômodo”, e dificilmente um amor com semelhante início terá um fim aprazível;
  3. o amor “meio que” tem vida própria, ou seja, tem o tempo certo de nascer, de crescer, de amadurecer, a forma própria de tudo acontecer, e não adianta “forçar a barra”. O conselho é claro, não despertar o amor enquanto ele mesmo não quiser, ou seja, ele não deve ser instigado, de maneira afobada ou por desespero, e os sentimentos que o cercam, embora possam ser nutridos (para que cresçam) ou sufocados (para que diminuam e morram), devem surgir de modo espontâneo, voluntário, com mutualidade e naturalidade.

A forma literária judaica utiliza da repetição para denotar gravidade e importância de determinado assunto. Então, considerando que por três vezes Salomão faz menção a esse tema, é de nossa responsabilidade parar e pensar se não estamos pondo o carro na frente dos bois muitas vezes, provocando sentimentos em outras pessoas de forma inadequada, de maneira inconsequente, os quais, vindos na hora e da forma errada, trarão mais aborrecimentos e sofrimento do que a alegria, paz e regozijo que Deus criou para nosso desfrute.

Nesse sentido, fiquemos com um último alerta, ainda nas palavras do rei Salomão (embora num contexto ligeiramente diferente mas que também serve a este propósito), se esses não foram suficientes, de quão sério é este assunto:

Pode alguém colocar fogo no peito sem queimar a roupa?
Pode alguém andar sobre brasas sem queimar os pés? – Provérbios 6:27-28

Esse é o risco de quem desperta, provoca, incomoda o amor antes da hora, antes que ele mesmo, sentindo-se preparado, acorde por livre e espontânea vontade: por fogo nas próprias roupas, caminhar sobre brasas, ou seja, praticamente atear fogo em si mesmo, no próprio corpo, e como sairá dessa sem se queimar, sem ter um enorme prejuízo?

Deus nos abençoe.

Esaú, um trapalhão (fazendo as escolhas certas)

Ora, sendo Esaú da idade de quarenta anos, tomou por mulher a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu.
E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito. – Gênesis 26:34-35

Esaú definitivamente foi um trapalhão.

Vez após outra tomava más decisões que afetavam negativamente a si e a quem estava a seu redor.

Não bastasse a venda do direito de primogenitura, que carregava inúmeras bênçãos, vemos agora ele realizar a segunda decisão mais importante da vida de um homem, que é casar (a primeira sendo entregar o coração ao senhorio de Jesus), e fazê-la mal feito.

O texto diz que ele escolheu duas esposas filhas dos homens da terra e estas muito desagradaram seus pais, e isso nos ensina uma lição preciosa, de que os genros ou noras que escolhemos para nos relacionar podem ser uma bênção ou uma vergonha para nós como cônjuges, para nós em nossa família pregressa (muito embora nossa nova família seja com quem escolhemos casar), e mesmo para nós em sociedade.

A Bíblia não entra em detalhes do que elas fizeram, mas para estar registrado que elas foram uma amargura de espírito, certamente boa peça não eram, e com muita razão devem ter feito por merecer serem lembradas dessa forma.

A pergunta que fica é: temos sido prudentes e sábios na escolha da pessoa com quem iremos passar o resto de nossas vidas (pelo menos essa é a ideia quando resolvemos nos casar, e não pensar em se não der certo ir cada um para seu canto)?

Temos ouvido o conselho e a direção de Deus por meio de nossos pais, que possuem mais experiência e nos conhecem bem o suficiente para olhar para as pessoas por cima da paixão que porventura sentimos, de maneira a discernir se ela/ele é a pessoa certa (embora não perfeita), principalmente, a pessoa que nos conduzirá para mais perto de Deus, em um relacionamento de companheirismo, amizade, não somente conosco, mas com nossa família?

Pense nisso, e Deus nos abençoe.